quarta-feira, 16 de novembro de 2011

SER MULTIPLICADOR DOS DONS DE DEUS NA PASSAGEM NESTE MUNDO


Quarta-feira, 16 de Novembro de 2011

Texto de Leitura: Lc 19,11-28

A parábola lida no texto do evangelho de hoje é semelhante à parábola dos talentos na versão de Mateus sobre a qual refletimos no domingo passado (cf. Mt 25, 14-30) embora cada evangelista tenha sua própria acentuação. Lucas fala de “mina” (“mina” equivale a 571 g). Mateus fala de “talento” (“talento” equivale a 34,272 kg). Mas ambos os evangelistas querem nos alertar que, um dia, cada ser humano prestará contas dos dons e talentos recebidos que deveriam ser frutificados através da vivência do amor fraterno (cf. Mt 25,31-46). O encontro derradeiro com Deus será inevitável. O critério do julgamento será a vivência do amor fraterno. O amor é a moeda do reino que precisamos fazer circular. Se um dia nós formos condenados, não por termos amado demais e sim por termos amado de menos. Tudo será revelado e nada será escondido sobre tudo que fizemos, cometemos, praticamos, falamos e comentamos durante nossa passagem neste mundo. Precisamos ter temor do Senhor e não medo, pois o temor do Senhor é o início da sabedoria. O temor de Deus nos faz respeitarmos a vida e a dignidade do outro. O temor de Deus orienta nosso tratamento para com os demais: tratamento mais respeitoso por causa da vivência profunda do mandamento do amor fraterno (cf. Jo 13,34-35; 15,12).


O evangelista Lucas nos relatou que um homem nobre entregou cem moedas de prata cada empregado para que eles pudessem multiplicá-los. A palavra “entregar” nos faz pensarmos no dom. Isto significa que ninguém escolhe os dons recebidos. Simplesmente cada um recebeu os dons. Eles são fruto da benevolência divina e não por nossos méritos. Ao Deus nos dar os talentos conforme a capacidade de cada um de nós, o evangelho quer nos dizer que Deus nos ama, tem confiança em nós, nos estima, e por isso, deu-nos uma missão a realizar na vida. Diante da confiança depositada em mim por Deus, eu tenho que ter uma justa confiança em mim mesmo, porque, se assim não for, não posso revelar os meus dons ou talentos, não posso pôr a render os talentos que Deus me deu, não posso agir e produzir e fecho-me em mim mesmo, triste, na minha árida esterilidade e terminarei minha passagem neste mundo como pessoa ressentida pela vida vivida pela metade.


Se os dons são dados por Deus para cada um de nós gratuitamente, isto significa que estamos no mundo de gratuidade. Viver no mundo de gratuidade nos faz vivermos na constante gratidão e na permanente ação de graças. Viver na gratidão e na permanente ação de graças é uma grande revelação de que somos capazes de olhar para a vida e seus acontecimentos com o olhar positivo, com o olhar do Senhor. Quem vive na constante gratidão suas forças se renovam, sua auto-estima aumenta e seu ânimo de viver se dobra cada dia. E se tudo que temos e somos é o fruto da generosidade de Deus, cada um precisa ser prolongamento dessa generosidade divina partilhando e dividindo com os outros o que se tem. A generosidade é o caminho de libertação das garras do apego das coisas terrenas. Mesmo que tenhamos dificuldade de largar o apego, um dia, quando chegar nosso momento seremos obrigados a renunciar a tudo que temos.


Para o evangelista Lucas, a história da salvação é dividida em três partes. Primeiro, o tempo de Israel. A história da salvação tem suas raízes no passado representado pelo Antigo Testamento, isto é, no tempo de Israel e em suas promessas. Segundo, o tempo de Jesus. Para Lucas, Jesus e seu ministério público representam o centro do tempo. Terceiro, o tempo da Igreja. O Espírito Santo (Pentecostes) funda a missão da Igreja.


Lendo a parábola dentro dessa divisão de tempo entendemos que o tempo da Igreja, isto é, o espaço da vida terrena é um tempo de plantio, floração, frutificação. Ninguém pode esperar trigo, se na vida vive plantando o joio que só danifica o que é bom. Mas a bondade triunfará, pois Deus é o Supremo Bem. Nós não somos os donos do espaço e do tempo de nossa vida. somos criaturas de Deus. O documento Lúmen Gentium do Concílio Vaticano II afirma: “Todos os fieis cristãos são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade” (LG 40). Ou na linguagem de São Paulo: “A caridade é o pleno cumprimento da lei” (Rm 13,10).


O que eu tenho multiplicado nos meus dons até agora é a pergunta que cada um deve fazer diariamente, especialmente neste momento.


Na Eucaristia o Senhor nos entrega sua Palavra, sua Vida que nos salva, e a comunhão fraterna no amor. Este grande tesouro certamente deve ser aproveitado primeiramente por cada um de nós. Nós somos os primeiros beneficiados pelo Senhor, e Sua presença em nós há de ser uma presença transformante, transfigurante, de tal modo que, dia a dia, vamos não somente sendo iluminados pela Luz do Senhor e sim que nos convertamos em luz que ilumine o caminho daqueles que nos rodeiam. Não podemos deixar que o Senhor acende sua Luz em nós para depois apagarmos d’Ele. Sua presença em nós há de ser contínua, unidos a Ele mediante a oração e a escuta de Sua Palavra, pois a salvação não é obra do homem e sim de Deus no homem.

P. Vitus Gustama,svd


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