SOMOS CONVIDADOS PARA O BANQUETE CELESTE
Terça-feira, 01 de Novembro de 2011
Texto de Leitura: Lc 14,15-24
Obs: Nesta página coloquei
duas reflexões:
1). No Brasil a festa de Todos os
Santos é comemorada no próximo domingo. Por isso, o texto do evangelho não
é o da festa, mas do dia do Tempo Comum para o dia 01 de Novembro
(Lc 14,15-24).
2. Em muitos países no dia 01 de
Novembro é comemorada a Festa de Todos os Santos. Por isso, o evangelho é o
da festa (a reflexão sobre o tema se encontra logo depois da primeira).
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O texto do evangelho lido neste dia
fala do banquete ou da comida comunitária. A comida, o banquete é, em todas as
culturas, um dos maiores símbolos de unidade comunitária e familiar. Na cultura
semita era símbolo da máxima comunhão. Participar do banquete significa
participar (fazer parte) da comunhão ou da comunidade ou da família em questão.
Jesus aproveita este valor cultural
para ressaltar os valores do Reino. Na verdade o Reino de Deus não é uma
realidade longe de nossa cotidianidade. O Reino de Deus é precisamente a máxima
realização dos ideais humanos de fraternidade, de solidariedade, de comunhão e
de justiça. E precisamente no comer comunitário ou na festa comunitária se
vivem os sinais que mostram como possível ou realizável o Reino de Deus entre
os seres humanos. Para isso, há que ter uma disponibilidade generosa e a
aspiração de construir algo maior do que os pequenos negócios e trabalhos
particulares ou individuais.
A parábola do banquete é muito
rica. Seus elementos recordam outros elementos. A recusa de alguns para o
convite do banquete e a aceitação de outros nos recordam, por exemplo, a
distinta sorte da semente na parábola do semeador (cf. Lc 8,4-8: algumas sementes
caíram à beira do caminho, outras no pedregulho, no meio de espinhos e em terra
boa). E
o convite que se estende aos pobres, aos cegos, aos coxos faz pensar na busca
dos perdidos. Na verdade, para o próprio Deus ninguém é perdido, pois Ele vai
atrás de cada um dos homens. Mas o homem precisa correr aos abraços de Deus
para sentir novamente a importância de uma comunhão no amor. O amor nos
humaniza e nos diviniza, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16).
Vamos destacar alguns pensamentos
ou alguns elementos sobre a parabola do convite ao banquete:
1. O Reino de Deus é festivo, precioso e alegre. Ele é
semelhante a um banquete, a um tesouro, a uma pérola maravilhosa. Por isso, ele
é superior a qualquer valor no mundo. É preciso aprender a dar lugar para o
valor superior e largar o inferior. Aquele que não sabe pensar e agir
prioritariamente só encontra confusão e cria confusão para os demais. Quem vive
de acordo com o escala de valores tem sempre coragem de tomar decisões corretas,
pois decidir significa escolher, abandonar e preferir.
2. A entrada no banquete não é livre, pois não se trata de
direito; requer-se um convite. Um patrão chama, um rei convida. E o convite é
um ato de graça, e quem convida quer difundir sua alegria, manifestá-la e quer
que os outros participem na mesma alegria. É um ato generoso. Cada generosidade
é criadora, pois prolonga o ato criador de Deus que criou e cria tudo para nós
graciosamente e gratuitamente.
3. O convite é sério e exige empenho. O acento é muito forte
sobre este aspecto. É um convite de amor que compromete a vida. É evidente,
aqui, o salto de qualidade entre o humano e o divino. Um convite humano pode
ser aceito ou recusado. Se for recusado não haverá nenhum prejuízo para quem
recusa o convite. Também se for aceito, não há comprometimento existencial. Mas
o convite de Deus é diferente. Deus é tão misterioso, maravilhoso que, ao
convidar, compromete, e é um compromisso que muda totalmente a vida, transfigura-a
e faz a vida nova e renovada. Se o convite de Deus tem como objetivo mudar de
vida para a melhor a fim de alcançar a salvação que é uma alegria sem fim,
então, aquele que o recusa é considerado como insensato e irracional. É como
aquele que quer agarrar um dólar e recusa uma oferta de um milhão de dólares
gratuitamente. Só poderia ser um irracional e insensato.
4. O convite é dirigido a todos e não apenas para os
privilegiados ou elites ou para os santos ou os certinhos. Aqui encontramos o
amor de Deus dirigido aos perdidos da vida, aos coxos, aos excluídos da
sociedade, a todos, pois todos são os filhos e filhas do mesmo Pai: “Tomai todos
e comei. Tomai todos e bebei!”, assim Jesus nos convida em
cada banquete eucarístico. Trata-se do banquete celeste já na terra. Isto significa que o rei que é Deus quer
todos, ama a todos cujo único objetivo é salvar. Então, eu não sou excluído
desse amor. O amor de Deus me alcança e me abraça. Por isso, não há uma Igreja
de elites, há sim uma Igreja para todos onde há espaço para todos. O convite se
faz na primeira hora, nas horas intermediárias e nas ultimas horas. A santidade
não depende dos anos na Igreja e sim depende da renovação da chamada em cada
instante. Por isso, a Igreja é chamada santa e pecadora.
Cada um é chamado para o banquete
eterno, mas é tentado ao mesmo tempo pela aparência bela das atrações do mundo.
O pecado tem aspecto atrativo. Mas quando alguém estiver nos seus abraços, ele
o sufoca e o agarra. Para sair dos seus braços supõe a existência de uma força
maior e a vontade sem limite para sair desses abraços. Quem tem objetivo para
melhorar a vida, sempre arranja um jeito e somar forças para alcançá-lo. Como
quem ama loucamente encontra sempre jeito para agradar o outro.
Deus convida cada um de nós
diariamente à sua alegria que é redentora. Diante desse convite, você é
insensato e irracional ou sensato e racional?
P. Vitus Gustama,svd
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SOMOS CHAMADOS A CONTEMPLAR O DEUS SANTO PARA SERMOS SEUS REFLEXOS NA
TERRA
01 de Novembro: Festa de Todos os Santos
Textos da leitura: Ap 7,2-4.9-14; 1Jo 3,1-3; Mt 5,1-12
Hoje celebramos a festa de todos os
santos no dia 01 de Novembro. O culto aos santos é a conseqüência de nosso
Credo, conhecido como Símbolo Apostólico, onde professamos: “Creio...na
comunhão dos santos...”. Esta pequena frase nos indica e afirma que a nossa
relação com os santos é contínua porque acreditamos na não –interrupção da
comunhão eclesiástica pela morte e ao mesmo tempo acreditamos no fortalecimento
da mútua comunicação dos bens espirituais (LG [Lumen Gentium] no 49; compare
com Rm 8,38-39). A Igreja dos peregrinos (todos nós mortais na história) sempre
teve e continua tendo perfeito conhecimento dessa comunhão reinante em todo
Corpo Místico de Jesus Cristo que é a Igreja (LG 50). A Igreja venera os santos
como exemplos, pois eles são reflexos da santidade de Deus. Eles contemplam
tanto o Deus santo a ponto de transformá-los em verdadeiros reflexos do Deus
santo. O Culto aos santos une-nos a Igreja celestial, pois acreditamos na vida
sem fim, a vida eterna.
Os santos no Céu não se tornam uns
egoístas que gozam a merecida felicidade. Como irmãos que nos precederam, eles
ainda se lembram de nós, pobres mortais na história, como Cristo sempre se
lembra de nós. Os santos no Céu e os cristãos na terra são uma família única.
Assim como uma família, um irmão ajuda o outro irmão. Por isso é que pedimos a
ajuda dos santos.
Entendemos aqui por “santos” todos
os que já estão no céu e vêem o próprio Deus face a face. São aqueles que estão
na paz e na felicidade suprema (GS 93); aqueles que estão na comunhão perpétua
da incorruptível vida divina (GS 18). Esta vida perfeita chama-se “o Céu”. O
Céu é, certamente, o fim último e a realização das aspirações mais profundas do
homem, o estado supremo e definitivo de felicidade. O Céu é desejo de todos nós
que estamos peregrinando nesta terra. Participar da vida divina, a vida em sua
plenitude, a vida cheia de amor é o que queremos todos os dias, tanto para nós e
nossos familiares como para aqueles que nos precederam. O Céu conforme as
palavras de São Paulo, citando Is 64,4, podemos dizer de outra maneira: “O que
os olhos não viram, os ouvidos não ouviram, e o coração do homem não percebeu,
isso Deus preparou para aqueles que O amam” (1Cor 2,9).
É evidente que os santos, cuja
festa celebramos neste dia, não são somente aqueles que estão na lista oficial
da Igreja. De quantos santos nós não conhecemos nem a história nem o nome. O
livro de Apocalipse (Ap 7,2-14) fala de um desfile de 144 mil servos de Deus no
céu. 144 é um número simbólico (12 x 12) significa a unidade e totalidade do
povo eleito. Entende-se, por isso, uma grande multidão de pessoas de todos os
povos e religiões, culturas, de antes e depois de Cristo. Por isso, nunca
podemos nos esquecer que há exemplos de santidade e heroísmo cristãos em outras
Igrejas, religiões, povos e culturas. Reconhecer essa presença é uma ajuda para
superar os nossos seculares preconceitos e para acolher com alegria esses
parceiros na construção do Reino de Deus ou do mundo mais fraterno. O diálogo
cria o encontro, a guerra provoca o confronto.
Como filhos de Deus, estamos
conscientes de que Deus é o Único Santo e fonte de toda santidade. Por isso,
conseqüentemente, Ele é o Único que faz santos os participantes em sua vida por
fruírem de sua santidade, por cumprirem seus desígnios, por entrarem na esfera
vital de seu reinado, por viverem os ensinamentos de Jesus Cristo na vida
diária. A santidade é uma forma normal de viver conforme os ensinamentos de
Cristo. Quando o homem já participa em plenitude da vida de Deus no Reino dos
céus, então é santo por sua comunhão de vida com Deus, o Único Santo (cf. 1Jo
3,2).
Sabemos também que somente Deus pode
receber o verdadeiro culto de adoração.
Dá-se, porém, o culto de veneração aos servidores de Deus que já estão
unidos a Ele plenamente na glória e pela comunhão que mantém conosco, nos
atraem para Deus e nos ajudam a percorrer o caminho que trilharam e que nos
conduzem à meta na qual nos precederam. Eles são provas evidentes do amor de
Deus e neles Deus nos fala. Se veneramos os santos é porque descobrimos neles
mais vivamente a presença e o rosto de Deus, neles se manifesta a imagem de
Deus, o Único Santo.
Por isso, o culto aos santos não
rebaixa nem diminui a adoração a Deus, pelo contrário, enriquece-a intensamente
porque nos aproxima mais da única santidade de Deus que devemos imitar
pessoalmente como o fizeram homens como nós enquanto percorriam o mesmo caminho
que estamos percorrendo.
Do ponto de vista cristológico
sabemos que Cristo é o Santo de Deus (Mc 1,24). Ele é a imagem do Deus
invisível (Cl 1,15). A santidade do homem consiste em sua perfeita união com
Jesus (LG 50). Os santos são santos porque imitaram e viveram os ensinamentos
de Jesus, Senhor de todos os santos. Eles produziram em si mesmos, de forma
significativa, o mistério pascal de Jesus. Por isso, a união com os santos e
seu culto unem-nos a Jesus, de quem dimana toda a graça santificadora; eles são
seus amigos e co-herdeiros. Enfatiza-se muito, por isso, esse valor
cristológico do culto aos santos na celebração eucarística.
Quando nós veneramos os santos,
portanto, não somos idólatras. Se nós admirarmos e louvarmos um quadro de
valor, por acaso o pintor deste quadro se sentirá ofendido? Ao contrário, ele
não ficará feliz? Os santos são as obras artísticas de Deus, Aquele que
esculpiu e pintou o seu semblante na alma deles. Se admirarmos ou louvarmos os
filhos, por acaso o pai se ofenderá? O pai não ficará feliz pela admiração dada
aos seus filhos por outras pessoas? Os santos são os filhos prediletos do
Senhor, aqueles que mais se lhe assemelham.
Mas devemos reconhecer que há
pessoas que amam o santo ou a santa, mas não a sua santidade. São muitos
cristãos que recorrem aos santos somente para os interesses materiais ou só
para alcançar determinada graça e não para pedir a graça de seguir o exemplo
desses santos que viveram até o fim os ensinamentos de Jesus Cristo. Não
podemos abusar dos santos só para atender nossos desejos materiais,
esquecendo-nos que precisamos seguir seus exemplos de santidade. Devemos saber que não há devoção mais eficaz
do que a imitação das virtudes dos santos. Para que, seguindo o exemplo dos
santos que viveram segundo os ensinamentos de Cristo durante sua vida terrena,
possamos também alcançar a santidade para a qual todos nós somos chamados.
A vocação à santidade é universal.
Todos são chamados à santidade, segundo diz S. Paulo: “Pois esta é a vontade de
Deus, a vossa santificação” (cf. 1Ts 4,3;Ef 1,4). E o fundamento de nossa
santidade ou da nossa perfeição é Jesus Cristo, cumpridor fiel da vontade de
Deus. Como dizia Santa Teresa do Menino Jesus: “...Quem aspira à santidade deve fugir à tentação de querer
santificar-se ao seu modo, conforme a própria vontade, seu ponto de vista, seus
planos humanos, mas entregar-se inteiramente à vontade de Deus. Deus traça o
caminho e o homem deve segui-lo” (Santa Teresa de Jesus, Fd.5-10). E na
mesma perspectiva São João da Cruz ensinou: “A santidade, ou seja, a união autêntica com Deus consiste na total
transformação de nossa vontade na vontade de Deus, de tal modo que, em nós,
nada contrarie a vontade do Altíssimo, mas nossos atos dependem totalmente do
beneplácito divino” (Subida I-II,2).
Portanto, o culto verdadeiro de
veneração que prestamos aos santos não deve terminar neles. Ao contrário, deve
acabar em Cristo como fonte da missão, grandeza, dignidade e privilégios destes
santos. Os santos nos ajudam a termos fé firme em Jesus Cristo, mesmo que nos
encontremos numa situação sufocante. A Palavra de Deus será a ultima palavra
para a humanidade.
P. Vitus Gustama,svd
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