ESTEJAMOS VIGILANTES
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Naquele tempo , disse Jesus aos seus discípulos : 33 Cuidado ! Ficai atentos , porque não sabeis quando chegará o momento . 34 É como um homem que , ao partir para o estrangeiro , deixou sua casa sob a responsabilidade de seus empregados , distribuindo a cada um sua tarefa . E mandou o porteiro ficar vigiando. 35 Vigiai, portanto , porque não sabeis quando o dono da casa vem: à tarde , à meia-noite , de madrugada ou ao amanhecer . 36 Para que não suceda que , vindo de repente , ele vos encontre dormindo.
37Oque vos digo, digo a todos : Vigiai!”
37O
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Olhando Mc 13,1-37, onde se encontra o texto evangélico deste domingo , é conhecido como “Apocalipse de Marcos ” (quer revelar algo a mais ) ou “discurso escatológico” (sobre o fim ). É um discurso mais amplo de Jesus de todo o evangelho de Mc. Mc abre a seção com a admiração dos discípulos pelo esplendor do Templo (v.1), que recebe a resposta de Jesus sobre o desaparecimento iminente de todo esse esplendor (v.2). Por isso , surge a pergunta dos discípulos sobre o tempo em que tudo isso acontecerá e os sinais que anunciarão isso (vv. 3-4). Percebemos na seqüência da narrativa que a pergunta não se faz a respeito da destruição do templo , e sim a respeito dos últimos dias , pois o discurso vai falar dos acontecimentos dos últimos dias e dos sinais que precederão, e não da destruição de Jerusalém e do templo .
Neste capítulo 13, Mc une diversas matérias : algumas são propriamente apocalípticas que descrevem os acontecimentos dos últimos dias e a atitude requerida perante os mesmos (vv.7-8.14-20.24-27; e outro bloco : vv.5-6.21-23); outras têm o tom de consolação e conforto para os cristãos nos momentos de perseguição (vv.9-13). E no fim do discurso encontram-se outras matérias diversas: a parábola da figueira (vv.28-29); o momento da parusia (vv.30-32) e termina com a exortação para a vigilância (vv.33-37).
O ensinamento que nos oferece esta unidade narrativa tem como destinatários a um grupo restringido de discípulos (cf. Mc 13,3). Esta unidade se situa imediatamente antes dos acontecimentos da paixão e da morte de Jesus que pode nos induzir a pensar que nos encontramos diante de um discurso de despedida . Em seus últimos dias em Jerusalém, Jesus revelaria aos mais íntimos os sofrimentos e perigos que lhes aguardavam, exortando-lhes a fidelidade e a perseverança na missão que lhes havia confiada.. Sem dúvida , neste discurso faltam as marcas características dos discursos de despedida (cf. Jo 13-17). Por isso , este discurso deve-se considerar muito mais como um discurso escatológico, do que um simples discurso de despedida , que com uma linguagem profético- apocalíptica, descreve a missão da comunidade cristã no período intermédio , isto é, no presente .
A missão confiada à comunidade cristã não é fácil . Ela tem que seguir fielmente os ensinamentos de Jesus Cristo a ponto de ser crucificada como ele . Da comunidade cristã exigem-se a fidelidade , a coragem e a vigilância no presente , sublinhando o futuro que lhe aguarda. A vitória que lhe aguarda faz a comunidade lutar sem medo apesar de dificuldades que ela encontra no caminho .
Jesus nos dá este motivo : “Prestai atenção , vigiai, pois não sabeis quando será o tempo /momento ” (v.33). “Tempo ” ou “momento ” é uma tradução da palavra grega “kairós”. “Kairós” indica um tempo determinado e tem aqui uma conotação escatológica de tempo determinado por Deus para a vinda gloriosa do Cristo . Trata-se do tempo da graça de Deus . Esse “tempo determinado ” é desconhecido dos homens . Daí a necessidade de estar sempre vigilante à espera desse tempo determinado por Deus . Trata-se do tempo de Deus . Dentro do “kronos” (tempo medido pelos segundos ) encontra-se o “Kairós” (tempo de Deus ).
A exortação de Jesus à vigilância visa criar no nosso coração a atitude correta de quem deseja acolher o Senhor que vem ao nosso encontro . A exortação não fornece o temor e a angústia , pois , de fato , nós esperamos o que já temos garantido pela fé que é o fundamento de nossa esperança . E por sua vez , a esperança mantém e reaviva o nosso amor por Cristo que vem. Por isso , a espera cristã deve ser produtiva , alegre e serena .
A vigilância é a atitude própria do amor que vela . O amor sempre mantém o coração alerta . A chegada de Cristo exclui todo medo , pois não há medo no amor (cf. 1Jo 4,18). A vigilância nos ensina a ler a vinda do Senhor nos acontecimentos e nas pessoas .
P. Vitus Gustama,svd
Sabemos que , civilmente , o ano novo começa no dia primeiro de janeiro . Mas , na liturgia , o ano novo (um novo ano litúrgico ) começa no primeiro domingo do Advento e termina no XXXIV domingo do Tempo Comum , na festa do Cristo , Rei do Universo . Na liturgia , há três anos : o ano “A”, durante o qual refletimos sobre o evangelho de Mateus ; o ano “B”, o evangelho de Marcos ; e o ano “C”, o evangelho de Lucas. O evangelho de João é refletido durante as festas , como no Natal , no tempo da páscoa e em alguns domingos do Ano Marcos , pois o evangelho de Marcos é curto , só tem 16 capítulos .
O termo “Advento ” significa “vinda ” ou “chegada ”. O “Advento ” indicava, na linguagem pagã, a vinda periódica de Deus e sua presença teofânica no templo . Equivale a “retorno ” ou “aniversário ”. Do ponto de vista cristão , Advento era a última vinda do Senhor no final dos tempos . Mas , ao se instaurarem as festas do Natal e da Epifania , o Advento significou também a vinda de Jesus na humildade da carne .
A partir desse sentido , o Advento é tempo de fé na esperança , que nos prepara para a dupla vinda do Senhor : a vinda histórica , na encarnação , por meio de Maria (Natal ), e a vinda escatológica, ao final dos tempos (Parusia). Essas duas vindas são consideradas como uma só , desdobrada em duas etapas . Essa dupla dimensão caracteriza todo o Advento . São Bernardo acrescentou uma vinda : a vinda do Senhor às almas pela graça . Essa é a vinda principal , sem a qual as outras duas nos resultariam inúteis ou perigosas. Sem a graça na alma , torna-se inútil a primeira vinda de Cristo para nos redimir , pois a graça é o fruto da redenção . E sem a graça na alma , será terrível a segunda vinda de Cristo para nos julgar , porque seria, então , como uma vinda para nos condenar .
É preciso esperar a chegada do Senhor com humildade . Ser humilde significa aceitar a parte terrena que todos temos; significa descer , buscar e encontrar tudo o que somos, aceitando-nos tal como somos. Quando o coração se faz humilde , ele é capaz de amar em abundância . Ser humilde é deixar a luz de Deus entrar no nosso coração para fazer desaparecer os maus sentimentos que produzem nossas misérias . Nunca serei compassivo , se eu não admitir minha dureza interior . Nunca chegarei a ser criativo , se eu não for capaz de reconhecer toda a minha mesquinhez que se esconde no meu coração . “Humildade é a honesta confissão do ser pecador . É melhor um pecador humilde que um beato orgulhoso ” (Santo Agostinho).
P. Vitus Gustama,svd
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