quarta-feira, 2 de novembro de 2011

DIA DE FINADOS
         
Quarta-feira, 02 de Novembro de 2011
 
O dia de finados é o dia de saudade e o dia da esperança. Por que saudade? Por que esperança?
        
Sabemos que morrer é o acontecimento universal; é algo a que todos nós teremos que chegar. Morrer é uma certeza para quem nasceu e vive. Mesmo sabendo disto, enquanto estivermos vivos nesta terra, temos bastante saudade dos que nos precederam.

O dia de finados é o dia de saudade porque ele nos leva às nossas raízes familiares. Ele leva as pessoas à memória familiar. Cada um de nós sempre tem algum lugar especial no coração para a lembrança daqueles que conviveram conosco, mas partiram antes de nós. Por isso, neste dia as lágrimas rolam dos olhos espontaneamente. A lágrima é a única linguagem que é capaz de expressar toda a nossa emoção. Neste dia, cada um leva as flores ao cemitério para enfeitar o túmulo do ente querido por um dia e acende umas velas. Levar flores aos túmulos é um rito muito significativo. Além de ser uma expressão de gratidão e de reconhecimento pelo que Deus realizou, por sua graça naqueles que nos precederam na fé, as flores simbolizam, principalmente, o jardim, o paraíso, a felicidade eterna, que todos desejam aos seus entes queridos, como também nós desejamos para nós mesmos que estamos peregrinando neste mundo.
        
Se a morte é a certeza, a imortalidade é a esperança. Por isso, o dia de finados é também, e principalmente, o dia da esperança. O filósofo Aristóteles chama a esperança como “sonho de quem está acordado”. De onde vem esta esperança? Ela vem das próprias palavras de Jesus Cristo: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crer em mim, ainda que esteja morto, viverá”(Jo 11,25) e da sua própria  ressurreição: “Se Cristo não ressuscitasse seria vã a nossa pregação e seria vã a vossa fé”(1Cor 15,14). Por isso, crer em Jesus Cristo, o Ressuscitado, significa jamais parar de existir. A partir da ressurreição do Senhor em quem acreditamos, não vivemos mais para morrer e sim morremos para viver. A vida não mais pertence à morte e sim a morte pertence à vida. A vida é real, enquanto que a morte é passageira. Temos que abraçar o que é real, e largar o que é passageiro. Dizia muito bem Tertuliano, um dos padres da Igreja dos primeiros séculos: “A esperança cristã é a ressurreição dos mortos; tudo o que somos nós o somos enquanto acreditamos na ressurreição”. A ressurreição de Cristo coloca o ser humano na dimensão de salvação, anunciando que a vida é mais forte do que a morte, que a nova vida nasce da morte, assim como cada dia é precedido pela noite.
         
Diante da morte o cristão é chamado a interpretar a vida, aceitando suas dores e alegrias, os apegos e as separações, as tristezas e as esperanças. O risco é de contentar-se em existir, em vez de celebrar a vida. Fomos criados para além dos horizontes materiais, pois somos o templo do Espírito de Deus(1Cor 3,16-17). A fé na ressurreição nos convida a valorizar o tempo, a fazer o bem para deixarmos marcas positivas no próximo, amar o que se é como dom daquele que nos criou e redimiu: Jesus Cristo, doador da vida: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância”(Jo 10,10).
        
A teologia da esperança nos leva à verdade que nós existimos no mundo, mas acima do mundo, no tempo, mas acima do tempo. O nosso Credo termina com uma afirmação de esperança: “Creio na ressurreição da carne e na vida eterna”. E o prefácio da missa destaca a crença cristã: “Senhor, para os que crêem em vós, a vida não é tirada, mas transformada...” Por isso, olhando para todos os túmulos, que possamos dizer: “Tudo isto vai ser vencido. Um dia, os túmulos se abrirão à voz de Deus. Mais do que para os cemitérios, caminhemos para Deus”
        
O destino do homem é a união plena com Deus. E na espera desse destino, o homem vive sobre a Terra com fé. A fé  é ter confiança em Deus apesar das próprias dúvidas, ter a coragem de agir apesar dos próprios medos, esperar no amanhã apesar do sofrimento de hoje. São Paulo adverte: “Não fiquem tristes como os outros que não têm esperança”(1Ts 4,13). Tudo isso partiu da ressurreição de Cristo.
        
A ressurreição de Cristo é o início de uma nova humanidade que olha as coisas e a vida com o conhecimento e os olhos de Deus. A partir dos olhos de Deus nada fica sem sentido.
          
Neste Dia de Finados, cada ser humano é convidado a considerar sua peregrinação terrena não como um fim em si, mas como caminho que guia à vida sem fim: a vida com Deus. Ele também é convidado a viver sua existência cotidiana como um mistério a ser descoberto e não apenas como um problema para resolver. Quanto mais se mergulha no mistério da vida, mais se descobre o mistério do homem e o mistério de Deus.
          
Para nós que ainda não partimos, vamos nos esforçar para ter um encontro feliz com o nosso Criador. Seguindo os passos de Jesus, cumprindo com fidelidade a nossa missão nesta Terra, unindo-nos aos que desejam uma sociedade com mais vida, mais fraternidade, mais amor e  mais justiça. Sejamos bênção para os outros: seja o marido bênção para a esposa e vice-versa; os pais para os filhos e vice-versa; o patrão para o funcionário e vice-versa, e assim por diante. Com tudo isso, estamos, na verdade, nos preparando para o encontro definitivo com Deus de Amor.
          
Por isso, olhando para todos os túmulos, que possamos dizer: “Tudo isto vai ser vencido. Um dia, os túmulos se abrirão à voz de Deus. Mais do que para os cemitérios, caminhemos para Deus”. Que assim seja!!!!!!!!!!!!!


Vitus Gustama,SVD

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