terça-feira, 15 de novembro de 2011

DEIXAR A SALVAÇÃO ENTRAR EM NOSSO LAR

Terça-feira, 15 de Novembro de 2011


Texto de Leitura: Lc 19,1-10

O encontro de Jesus com Zaqueu nos mostra as etapas da conversão até chegar à salvação: “Hoje a salvação entrou nesta casa”.


O primeiro passo consiste no desejo de ver Jesus. O verbo “VER” é muito importante neste relato. O episódio que precede a nossa narrativa é a cura de um mendigo cego (=não pode ver) às portas da cidade (Lc 18,35-43). É claro que a graça de Deus faz surgir esse desejo de ver Jesus. O “ver” e o “subir” (em uma árvore) indicam aqui mais do que curiosidade: indicam uma procura intensa, uma vontade firme de encontro com algo novo, uma ânsia de descobrir o “Reino”, um desejo de fazer parte dessa comunidade de salvação que Jesus anuncia.


Zaqueu tem uma vontade intensa e imensa em ver Jesus a ponto de subir em uma arvore por causa de sua estatura pequena. Em vez de ver Jesus, é o próprio Jesus quem quer ver Zaqueu: “Zaqueu, desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa”. Jesus chama Zaqueu pelo nome. Deus nos conhece e nos chama pelo nome (cf. Is 43,1), pois nosso nome está gravado na palma da mão de Deus (cf. Is 49,16).


O segundo passo exige a superação de todos os obstáculos. Para Zaqueu o maior obstáculo é sua baixa estatura. Não se trata de uma informação sem importância sobre o aspecto físico de Zaqueu. A intenção do evangelista é a de nos mostrar que, aos olhos de todos, Zaqueu é muito pequeno, insignificante, quase imperceptível por ser considerado um pecador público. É um pequeno ponto perdido numa sociedade que se considera sem mancha e sem falha. Zaqueu não é um simples publicano, mas é o “Chefe dos publicanos”, um gerente de ladrões, por isso é um grande pecador público.


Zaqueu resolve o obstáculo de baixa estatura ao subir numa árvore. Este homem tem tudo na vida, mesmo assim ainda está insatisfeito. É tão profunda, irreprimível, avassaladora a necessidade de ver Jesus que para satisfazê-la, está até disposto a expor-se ao ridículo diante de uma multidão que com certeza não tem simpatia por ele. Um dito popular diz: “Para quem faz o melhor ou quere melhorar a vida tanto material como espiritual não existe o ridículo nem medo nem vergonha”. Assim deve ser a nossa busca de Deus: nem falsa vergonha nem medo ao ridículo devem impedir que ponhamos os meios para encontrar o Senhor. Zaqueu procura ver aquele que tem condições de compreender o seu drama interior, mas alguém quer impedi-lo. São os “grandes”, as pessoas “de elevada estaturaque cercam Jesus e não toleram que “os pequenos”, “os impuros” entrem em contato com Ele. Também na narrativa anterior a multidão agiu da mesma maneira: os que seguiam Jesus repreendiam o cego rudemente para que se calasse, mas a vontade de querer ficar curado era tão grande a ponto de o cego gritar a Jesus. Em Zaqueu os que se acham “puros e santos conseguem ver o publicano, o pecador, o aproveitador, nada mais. Não reconhecem nele nada de bom, nada de positivo. É como se estivessem usando óculos escuros: estão enxergando tudo escuro. Mas Jesus os anseios de Zaqueu e quer conversar com ele. Jesus dedica seu tempo para conversar com Zaqueu.


Um verdadeiro cristão jamais opta por um caminho de condenação ou de julgamento, mas por um caminho que facilite a chegada dos outros próximos de Deus. Quem condena o outro, se condena. Quem salva o outro, se salva também: “Saiba”, diz São Tiago, “aquele que fizer um pecador retroceder do seu erro, salvará sua alma da morte e fará desaparecer uma multidão de pecado” (Tg 5,20).        


O terceiro passo comporta deixar-se amar por Jesus sem restrições nem desconfiança, abrindo-lhe as portas do coração. 


De seu posto de observador (árvore), não é Zaqueu quem vê Jesus. É Jesus quem o vê e o chama pelo nome e se autoconvida para hospedar-se na casa dele: “Zaqueu, desce depressa! Hoje eu devo ficar na tua casa”. Para Zaqueu tudo isto é uma grande surpresa. Deus é surpresa para quem tem o profundo desejo de encontrá-Lo. Como resposta Zaqueu desceu depressa da árvore para receber Jesus em sua casa, com alegria. A salvação entrou assim em sua casa.

          
O quarto passo é uma mudança radical de vida. Radical significa deixar de lado os esquemas e mentalidades antigos, para adequar-se às exigências do Reino de Deus. Isto não se faz com palavras ou com boas intenções, mas com gestos concretos: “Senhor, eu dou a metade dos meus bens aos pobres e, se defraudei alguém, vou devolver quatro vezes mais”.  Zaqueu dispõe-se a dar metade de seus bens aos pobres e a indenizar, quatro vezes mais, aquilo que roubou. Desta forma ele prova que, realmente, a salvação tem entrado em sua casa. Aqui Zaqueu nos mostra de que maneira a conversão influi em nossa relação com os bens materiais. O encontro verdadeiro com Cristo faz abrir o coração e as mãos. O gesto de Zaqueu nasce da conversão interior, da mudança de vida, provocada pelo encontro com Jesus.


Zaqueu abandonou sue velho estilo de vida, evidentemente perdeu seu dinheiro, mas encontrou sua honradez humana, o sentido da justiça e o amor para com seu próximo, especialmente para com os necessitados e os explorados por ele durante o exercício de sua profissão. Se ontem Jesus devolveu a vista a um cego, hoje ele devolveu a paz para uma pessoa de vida complicada.


Na casa de Zaqueu entrou a salvação de Deus e Jesus mesmo se encontra dentro dela. Podemos dizer que a verdadeira casa de Jesus é aquela onde o pai e a família, em conjunto, cumprem a exigência representada e resumida na atitude de Zaqueu.

       
Será que a salvação também entrou na minha casa como entrou na casa de Zaqueu?


P. Vitus Gustama,svd

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