terça-feira, 12 de julho de 2011

DUREZA NA PALAVRA, AMOR NA INTENÇÃO

Texto de leitura: Mt 11,20-24

“Assim que se perde de vista a referência à moralidade, deixa-se de ser religioso” (Mahatma Gandhi. Princípios de Vida).

“Teme ao Senhor para não retroceder. Ama-O para seguir em frente” (Santo Agostinho. Epist. 144,2).

“Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betsaida! Porque se tivessem sido feitos em Tiro e em Sidônia os milagres que foram feitos em vosso meio, há muito tempo elas se teriam arrependido sob o cilício e a cinza. Por isso vos digo: no dia do juízo, haverá menor rigor para Tiro e para Sidônia que para vós!  E tu, Cafarnaum, serás elevada até o céu? Não! Serás atirada até o inferno! Porque, se Sodoma tivesse visto os milagres que foram feitos dentro dos teus muros, subsistiria até este dia. Por isso te digo: no dia do juízo, haverá menor rigor para Sodoma do que para ti!”
 
Nessa maldição Jesus cita as três cidades à beira do lago de Tiberíades: Corazim que fica no interior (três km ao norte de Cafarnaum); Betsaida fica à orla do lago ao leste do Jordão; e Cafarnaum, a residência habitual de Jesus (cf. Mt 4,13). Hoje não fica quase nada dessas cidades. Ficam somente poucas ruínas que podem levar ao visitante a pensar que elas realmente estariam amaldiçoadas por Jesus.

As três cidades tiveram mais ocasiões de ouvir o anúncio de Jesus e de ver os milagres operados por ele. Os milagres de Jesus são sinais que anunciam a chegada do Reino de Deus.  Os milagres são a assinatura de Deus sobre Sua existência. E a resposta do ser humano deve ser a conversão e a fé. No entanto, ninguém se converteu nessas três cidades. Continuavam a viver na injustiça e na arrogância. Jesus não agüentou mais a dureza do coração dos habitantes dessas cidades, e por isso, pronunciou as maldiçoes.

Mas, na verdade, o que tem por trás dessas maldições é o convite de Jesus para a conversão, pois Aquele que é o bondoso por excelência não amaldiçoa. As palavras duras de um pai ou de uma mãe para um filho que brinca com a própria vida e com o próprio futuro tem um tom de amor. Jesus atua aqui como profeta que quer salvar seu povo e faz um apelo duro para que volte para o caminho de retidão, o caminho da salvação e se converta. Converter-se significa deixar de praticar a injustiça e começar uma vida baseada na justiça. A verdadeira conversão deve mudar a qualidade das relações humanas. Aqui não fala o Jesus-Juiz e sim fala o Jesus-Salvador. Por isso, a palavra de Jesus, mesmo que seja dura, nunca tira a esperança. A sua Palavra ainda que seja dura, sempre soa a salvação.

Às vezes a Palavra de Jesus é ameaçadora, porque a vida humana não é um “jogo”; é algo muito sério onde há lugar para o juízo de Deus: nossa vida cotidiana é uma correspondência a Deus ou é uma recusa a Deus. Em todo momento nossos atos são uma escolha pró ou contra Deus. Infelizmente nem sempre pensamos nisso. Em todo momento Deus quer algo de nós. E em todo momento podemos saber qual é a vontade de Deus sobre nós. Quando pensarmos realmente em Deus em todo momento, e não só em algum momento de nossa vida, poderemos viver com Ele em correspondência à Sua vontade.

As maldições pronunciadas por Jesus no evangelho de hoje são as terríveis advertências para os que se gloriam de ser cristãos, mas não vivem os ensinamentos de Jesus. Basta substituir os nomes das cidades amaldiçoadas pelo nome de cada um de nós e ouvir estas palavras atentamente, creio que, logo cada um de nós dá a vontade de fazer o sinal da cruz e se benzer. E cada um de nós diria: “Deus me livre!”.

A vida nos chama diariamente a nos transformarmos permanentemente. Quando temos medo da transformação é porque temos medo da vida. O homem somente é fiel a si mesmo quando aceita transformar-se todos os dias. O sensato aceita tudo como é e procura transformar o que é possível. O conformista vive resignado com tudo e deixa tudo como está e não cresce nem avança na vida.

A nossa vida tem um fim e um sentido último. Se a vida tem um fim e um sentido ultimo, então nossas atitudes têm um peso para esse fim. Consciente ou inconscientemente pecar significa eliminar Deus de nossa vida e criar a ruptura da relação filial para com Ele.  Deus nos ama e continua estendendo sua mão para nos salvar. Dizia o Cura d’ Ars: “O bom Deus será muito mais rápido a perdoar um pecador que se arrepende do que uma mãe o será para tirar o filho do fogo”. Na conversão existem dois corações que se encontram: o coração de Deus que nos ama e o coração de quem se arrepende para voltar ao amor de Deus que salva. Dois amores se encontram: o amor de Deus por mim e meu amor por Deus. Para viver a fé cristã, temos necessidade de viver da superabundância da misericórdia de Deus. E ao acolher essa misericórdia infinita de Deus, teremos disponibilidade de perdoar também nossos irmãos.

O Reino de Deus certamente começa em nós pela nossa conversão aos valores do Reino de Deus tais como à verdade, à veracidade, à honestidade, à justiça, à paz, à fraternidade, ao respeito pela vida e dignidade dos outros e assim por diante. No coração de cada cristão deve germinar a semente dos valores do Reino de Deus, porque do coração humano brota tudo o que é bom e mau que vemos no mundo. Temos que lutar contra a armadilha do velho egoísmo que quer perpetuar o desamor e a falta de respeito pela dignidade dos outros. Viver em estado permanente de conversão e de transformação é a lei de crescimento.

Rio de Janeiro, 12 de julho de 2011
Vitus Gustama, SVD

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