segunda-feira, 4 de julho de 2011

FÉ QUE NOS CURA E SALVA

Texto de leitura: Mt 9, 18-26
04 de julho de 2011

1. Um chefe que suplica a Jesus pela filha morta

Os dois episódios no evangelho de hoje (uma menina morta que voltou a viver e uma mulher curada de sua hemorragia) se encontram também em Marcos (Mc 5,21-43) e em Lucas (Lc 8,40-56).

Em Mateus, no primeiro episódio, aquele que se aproxima de Jesus que suplica pela filha morta não tem nome. Simplesmente ele é “um chefe”. Não se diz que é um chefe da sinagoga como em Marcos e Lucas nos quais se fala de Jairo.

Quem é estechefe”? Pode ser qualquer um de nós, pois, de alguma forma, cada um é chefe seja dentro da família, seja fora dela (na sociedade). Uma pessoa pode ser muito importante (“chefe”) entre os homens ou muito poderosa do ponto de vista humano, mas ela precisa também de salvação. O poder humano não salva, pois diante da morte tudo que é humano cai no chão. O brilho falso tem seu fim. Somente Deus salva e nos garante a vida eterna. Do ponto de vista humano, paradoxalmente, o aparente superpotente ou super-poderoso é, na verdade, impotente. Masquando me sinto fraco, então é que sou forte”, escreveu São Paulo à comunidade de Corinto (2Cor 12,10).

Um ser humano precisa de outro ser humano para possibilitar seu crescimento como ser humano. Podemos possuir tudo que o mundo tem a oferecer em termos de status, realizações e bens, no entanto, sem nos sentirmos integrados, tudo isso parece vazio e inútil. A integração (viver em comunidade como irmãos/família) sugere calor, compreensão e abraço. Quando ficamos isolados, estamos propensos a ser prejudicados. Sentir-se integrada mantém a pessoa em equilíbrio. Sempre quedistância, há também anseio.

E o ser humano, enquanto criatura, precisa do Salvador quesentido para tudo na sua vida. Por isso, Santo Agostinho dizia: “Ninguém está tão do que aquele que vive sem Deus. E, o homem, para onde se dirija, sem se apoiar em Deus encontrará a dor”. Nas suas Confissões, Santo Agostinho rezou: “Fizeste-nos para Ti, Senhor, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em Ti. Dá-me, Senhor, saber e compreender qual seja o primeiro: invocar-Te ou louvar-Te; conhecer-Te ou invocar-Te. Mas quem Te invocará sem Te conhecer? (...) Que eu Te busque, Senhor, invocando-Te; e que eu Te invoque, crendo em Ti: Tu nos foste anunciado” (Conf. 1,1).

No primeiro episódio do evangelho deste dia Jesus se encontra diante da morte de uma menina e o pai desta pede a Jesus para impor sua mão sobre ela a fim de ela voltar a viver: “Minha filha acaba de morrer. Mas vem, impõe tua mão sobre ela e ela viverá”. Trata-se de um pobre chefe esmagado pela dor: a morte de sua filha. Há situações diante das quais a força humana fica impotente, como diante da morte. Nessas situações a é que pode nos ajudar, como fez o pai da menina falecida. É algo surpreendente a confiança posta por esse homem em Jesus. É uma verdadeira no impossível: no poder de Jesus de fazer sua filha voltar a viver. onde a força humana terminar, a a continuará. Jesus não se resiste a este tipo de oração. “Jesus se levantou e o seguiu junto com seus discípulos”, assim relatou Mateus.

Quando chegou na casa da menina morta, Jesus disse à multidão: “Retirai-vos porque a menina não morreu e sim está dormindo”.  Jesus quer dizer que para ele e para o poder de Deus a morte não significa mais que um sono ligeiro. Da mesma maneira Jesus também falou de Lázaro morto: “Nosso amigo Lázaro está dormindo e vou despertá-lo” (Jo 11,11). A morte para Deus não é um poder insuperável. As coisas têm um aspecto muito distinto diante do olhar de Deus e diante da experiência do homem. Mas se aprendermos a olhar tudo a partir de Deus, então a morte perderá seu caráter arrepiante. Para Jesus, a morte não tem o caráter temível e definitivo. Para ele, a morte é uma espécie de “sono” do qual Deus tem o poder de despertar. Se para Jesus a morte não tem nenhum caráter temível, pois é apenas uma passagem para uma vida eterna, deve ser também para quem quiser segui-lo. O cristão é chamado a proteger a vida no seu inicio, na sua duração e no seu término na história, pois Deus é a Vida por excelência e por isso, chama todos à vida, especialmente para aqueles que vivem no desespero e na falta de esperança. A menina morta voltou a viver por causa do poder de Jesus.

2. Mulher sofrida de hemorragia curada

Dentro do primeiro episódio Mateus insere outro episódio: uma mulher que sofria de hemorragia há doze anos. Doze anos de sofrimento! Essa mulher não pede nada e não diz nada a Jesus. Ela somente pensa e silenciosamente se aproxima de Jesus para tocar a barra do seu manto: “Se eu conseguir ao menos tocar no manto dele, ficarei curada”, pensou essa mulher.

A mulher que sofre de hemorragia se aproxima e toca a orla do manto de Jesus. Este gesto era proibido na cultura judaica. Uma mulher não podia olhar para um homem em publico, muito menos tocá-lo. A situação fica pior ainda porque a mulher está com a hemorragia que pode causar a impureza legal para a pessoa tocada. Por ser mulher e pela sua enfermidade essa mulher estava duplamente excluída. Mas ela não quer saber das proibições. Ela quer encontrar-se com Jesus e tocar seu manto. Ela não quer ser escrava das regras e dos costumes desumanos. Pois de fato, as regras culturais e de culto a afasta da convivência e da salvação. Quantas pessoas são escravas das regras. A graça produz as regras, mas as regras não produzem a salvação, pois elas são apenas meios e não o fim. Os costumes que não salvam, não podem ser mantidos. Jesus não a recusa. Jesus reconhece nela a que transforma sua situação triste em alegria por encontrar o Salvador, Jesus: “Coragem, filha! A tua te salvou”. A partir de então, a mulher voltou a viver sua vida saudavelmente.


Os dois (chefe cuja filha estava morta e a mulher que sofria de hemorragia há doze anos) se aproximam de Jesus com muita e obtêm o que pedem. Eles confiam, se apóiam e se abandonam totalmente em Jesus.  E receberam uma resposta adequada da parte de Jesus: a volta da filha para a vida e a cura da mulher sofrida de hemorragia de longos anos. Por causa da eu preparo o espaço necessário para que Deus possa atuar. A é sempre e continua sendo a condição e o fundamento da ação salvadora de Deus no homem. A novidade do Reino trazido por Jesus não é somente a cura, mas principalmente a ressurreição ou a salvação.

A dor daquele pai e o sofrimento daquela mulher podem ser um bom símbolo de todos os nossos males, pessoais e comunitários.  Também agora, como em sua vida terrena, Jesus nos quer atender e nos encher de sua força e de sua esperança. Na Eucaristia ele mesmo se dá como alimento, para que, quando nos aproximamos dele e o recebemos com , possa curar também nossos males. Mas a cura-salvação não é um toque mágico e sim um encontro de pessoas com Jesus. É o encontro com Jesus na que cura e salva e somente depois do encontro é que Jesus diz as seguintes palavras: “A tua te salvou!”.

Reflitamos as seguintes palavras de Santo Agostinho:
·        é crer no que não vemos. O prêmio da é ver o que cremos” (Serm. 43,1,1).

·        A é um grau de conhecimento. O conhecimento é o auge da ” (Serm. 126,1,1).

·        A abre a porta ao conhecimento. A incredulidade a fecha” (Epist. 136,4).

·        Tua é uma justiça, porque, se crês, evitas os pecados; se os evitas, praticas boas obras” (In ps. 32,2,1,4).

Rio de Janeiro, 04 de julho de 2011
Vitus Gustama, SVD

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