“Chamamos de mau a quem faz coisas más, porém não chamamos de bom a quem não faz coisas más, e sim a quem faz coisas boas” (Santo Agostinho. De vit. Chris. 10).
A primeira parte do evangelho de hoje (Mt 9,32-34; veja também Mt 12,22-24) fala da cura de um mudo que logo em seguida começou a falar .
É bom notar que seremos também julgados pelas palavras que dizemos ou pronunciamos sobre os outros , além dos atos que praticamos. O livro de Provérbio nos alerta : “Nas muitas palavras não faltam ofensas ; quem retém os lábios é prudente ” (Pr 10,19). “A boca dos justos é fonte de vida , mas a boca dos ímpios encobre violência ” (Pr 10,11). Da mesma forma são Tiago nos diz: “Aquele que não peca no falar é realmente um homem perfeito , capaz de frear todo o seu corpo ” (Tg 3,2b). Que nossas palavras não ultrapassem nossos atos para não sermos chamados de mentirosos ou falsos . Por isso , São Tiago nos alerta : “Tornai-vos praticantes da Palavra (de Deus ) e não simples ouvintes , enganando-vos a vós mesmos ” (Tg 1,22).
A cura do mudo no texto do evangelho de hoje se refere àquele que não quer escutar a voz de Deus , que não quer seguir o projeto de Deus porque há outras coisas que o ensurdecem. Biblicamente o surdo-mudo (o termo grego “kôphos” significa surdo , mudo e surdo-mudo ) é aquele que perde o contato com sua própria realidade de filho de Deus . Ele vive paralisado porque está privado da comunicação com o único que o faz livre : Deus (através de Sua Palavra ).
Jesus veio ao mundo unicamente para fazer o bem , como pregou o Apóstolo Pedro: “Vós sabeis como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com o poder , como ele andou fazendo o bem e curando todos os oprimidos do demônio , porque Deus estava com ele ” (At 10,38). Mas sabemos muito bem que até para fazer o bem encontramos dificuldades e críticas como aconteceu com Jesus no texto do evangelho de hoje . Jesus libertou um surdo de sua mudez e começou a falar . Jesus foi criticado por causa disso: “Os fariseus , porém , diziam: É pelo príncipe dos demônios que ele expulsa os demônios ” (Mt 9,34). Mas “a acusação teológica (dos fariseus ) não é mais que um pretexto que apenas dissimula sua sede de autoridade sobre o povo ”, comentou P. Bonnard. Atrás de uma acusação ou crítica há interesse . Mas a questão é esta: que tipo de interesse ?
A segunda parte do texto do evangelho de hoje (Mt 9,35-38), na verdade , é uma introdução para o discurso de Jesus sobre a missão (Mt 9,35-10,16). A segunda parte do texto de hoje fala da compaixão de Jesus pela multidão : “Vendo Jesus as multidões , compadeceu-se delas...”. Jesus sempre se compadece pelos que sofrem como esse mudo . A compaixão é uma das características de Deus . A compaixão é comover-se até as entranhas , solidarizar-se profundamente , sentir-se a partir de outrem ; é sofrer com (Latim : pati + cum, compaixão = sofrer com ). A compaixão requer que estejamos com as pessoas que sofrem e dispostos a partilhar nosso tempo com elas . É estar no lugar do outro para sentirmos o que ele sente. Quando compartilhamos nosso coração e tempo com uma pessoa que sofre, uma parte do sofrimento dela será aliviada. O resto , vamos deixar com Deus desde que façamos nossa parte até o limite de nossa capacidade . Somos seguidores do Deus da Compaixão que se tornou carne em Jesus Cristo . A compaixão deve se tornar carne também em nós .
Vitus Gustama, SVD
· “Haverá juízo sem misericórdia para aquele que não usou de misericórdia . A misericórdia triunfará sobre o julgamento ” (São Tiago 2,13).
· “Buscas a Deus na Igreja , ou buscas a ti mesmo ?” (Santo Agostinho. Serm. 137,9). “Quando lhe convém, o homem esquece que é cristão ” (Santo Agostinho. In ps. 21,2,5).
· “Amando ao próximo , limpas os olhos para ver a Deus ” (Santo Agostinho. In Joan. 17,8).
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