Quinta-feira, 28 julho de 2011
Texto de leitura: Mt 13, 47-53
“Faze o que deves fazer. E faze-o bem. Esta é a única norma para alcançar a perfeição” (Santo Agostinho. In ps. 34,2,16)
“Amando ao próximo limpas os olhos para ver a Deus” (Santo Agostinho. In Joan. 17,8).
“Chamamos de mau a quem faz coisas más, mas não chamamos de bom a quem não faz coisas más e sim a quem faz coisas boas” (Santo Agostinho. De vit. Christ. 10)
Na vida cotidiana sempre selecionamos e escolhemos o que é bom. Selecionamos boas amizades. Selecionamos algo de bom para comer, para morar, e assim por diante. Vivemos selecionando o que é bom. O bom é sempre o objeto do apetite ou do desejo do homem, qualquer que seja esse objeto. O ruim é, ao contrário, o objeto de ódio ou de aversão do homem. Mas nem tudo o que desejamos é bom, mas tudo o que é bom sempre desejamos. A bondade atrai, pois ela agrada e edifica. A bondade é a própria perfeição possuída por um ser. Por possuir a bondade, um ser que a tem é capaz de dar a outro a perfeição que lhe falta.
Quando Jesus compara o Reino de Deus a uma rede que é lançada sobre todos, mas que só os peixes bons são selecionados, ele está dizendo que se trata de uma coisa seletiva, em que a bondade é que tem valor. A bondade é sinal de amabilidade. Quem ama porque é bom. Quem é bom, ama. A bondade é algo que em si tem algo divino, pois Deus é a Bondade por excelência. Por isso, a bondade tem uma marca de eternidade. Os maus, ao contrário, vão fazer parte de outro reino, onde as pessoas somente vão odiar-se, segundo Jesus. A expressão: “Chorar e ranger os dentes” mostra bem como é a pessoa que odeia: vive como que rangendo os dentes. Eternamente infeliz. A frustração definitiva do homem (pranto e ranger de dentes) é perder a vida para sempre.
Por isso, a parábola da rede se refere ao julgamento final. A imagem da pesca ilustra a dinâmica do Reino de Deus feita de perdas e ganhos. Uma vez a rede lançada ao mar, a pescaria já não depende da vontade do pescador. Cada lançada de rede é uma surpresa. A seleção será feita somente no final da pescaria, quando os peixes bons são colocados em cestas, enquanto os maus são jogados fora.
A parábola propõe a todos nós a sorte final, para orientar-nos na decisão presente. Os únicos que chegam à vida em plenitude são os que produzem fruto bom nesta vida; são os que em si tem a marca de eternidade como a bondade, o amor, a compaixão, a solidariedade e assim por diante. A sabedoria cristã consiste no discernimento dos verdadeiros valores do Evangelho como amor, partilha, solidariedade, compaixão, perdão, honestidade, justiça, paz etc., e em sua aplicação para as circunstâncias atuais. Há que estabelecer uma escala de valores para que cada cristão possa orientar sua maneira de viver no presente. Os outros valores devem estar subordinados em função dos valores superiores do Reino de Deus.
Mas ao mesmo tempo, esta parábola quer nos recordar que é a competência de Deus na seleção entre os bons e os maus no fim de cada história. Cristão nenhum pode se precipitar em classificar quem vai para o céu e quem não vai para lá, pois sua própria salvação ainda não está garantida. A conversão não é uma carreira acabada. A conversão é diária, pois somos capazes de optar por outros valores em nome de algum interesse não-cristão. Deixemos Deus determinar a qualidade de cada um e não nos arroguemos pelas qualidades que temos, pois tudo de bom em nós tem sua origem no Supremo Bem que é Deus. Tudo de bom em nós deve ser partilhado para com os outros. Somos prolongamento da generosidade do Deus-Criador que criou tudo para o bem da humanidade gratuitamente. Fazemos tudo de bom, porque Deus da bondade faz isso.
Deus tem paciência para esperar os frutos bons de cada um de nós. Primordialmente, somos bons porque tudo o que Deus criou era bom (cf. Gn 1,1ss). Deus aguarda a colheita, não diminuída por prematuras intervenções de escolha. Só então, no fim, haverá a colheita, com base na realidade de ser grão ou joio/cizânia, peixe bom ou mau, de ser caridoso ou egoísta. É uma advertência eficaz, embora tácita: Deus é paciente com todos e deixa aos pecadores, cada um de nós, tempo para amadurecer sua conversão; Deus sabe esperar a livre decisão do homem, cabe a cada um escolher ser bom grão e bom peixe e não peixe imprestável.
Portanto, é prudente premunir-se, pensar enquanto é tempo, decidir-se a fazer o bem, ser útil aos outros, ser peixe bom, ser selecionado por Deus no fim de nossa história.
Vitus Gustama, SVD
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