Lc 2,1-14; Jo 1,1-18
1. Natal (O nascimento de Jesus) é uma mensagem de fé .
Ao escrever seu evangelho Lucas tem por objetivo de dar a conhecer a mensagem cristã e não de fazer uma crônica exata do que aconteceu naquele tempo . Dentro deste objetivo pode-se entender também que o relato do nascimento de Jesus foi escrito à luz da fé pascal com o objetivo de alimentar a fé das comunidades cristãs. Ele não estava preocupado se Jesus nasceu no dia 25 de Dezembro ou em outra data (ninguém sabe uma data exata , mês exato de seu nascimento). Na perspectiva da história da salvação, o importante e decisivo é que o Filho de Deus entrou realmente em nossa história para salvar a humanidade . E ele nasceu num tempo determinado (e não data exata ), sendo imperador Augusto ; em determinado lugar , Belém; de determinada mulher , Maria de Nazaré. O nascimento de Jesus é a proclamação de um acontecimento salvífico, que , como tal , podemos contemplar com os olhos da fé .
2. Jesus é o nosso Salvador e o nosso Príncipe da paz
No relato do nascimento de Jesus menciona-se o edito de César Augusto que ordena o recenseamento de todo o mundo habitado (v.1). Ao mencionar o imperador Otávio com o nome de Augusto , Lucas quer nos transmitir uma verdadeira mensagem de que o verdadeiro “Salvador ” e “Senhor ” (v.11), aquele que traz a verdadeira paz para o mundo não é o Imperador Augusto , que foi aclamado como “salvador do mundo ” e “pacificador”, mas é Jesus Cristo . Mais tarde Jesus nos oferecerá a paz : “Deixo-vos a paz , dou-vos a minha paz . Não é à maneira do mundo que eu a dou” (Jo 14,27ab). Quem trouxe a salvação foi Jesus Cristo , nosso Salvador . A verdadeira paz para o mundo não é a paz do Imperador Augusto que usa força e arma para conquistá-la, mas a paz de Cristo que usa o amor para alcançá-la. A paz é o dom de Deus a todos os homens que têm a boa vontade e por isso , são objeto do bem-querer de Deus . Essa paz , que une o céu e a terra , foi cantada pelos anjos na noite em que Jesus nasceu: “Glória a Deus no mais alto do céus , e na terra , paz aos homens que Deus ama ”(v.14).
3. Deus pode usar até os meios absurdos , no julgamento humano , para salvar o mundo .
Acentua-se também no relato a obediência de José e Maria ao edito do Imperador . Eles não fogem da história , mas eles a vivem como justos (aqueles vivem de acordo com a vontade de Deus ) sem serem contaminados pelo poder mundano . Certamente o filho do Reino é chamado a iluminar o mundo e salgar a terra (cf. Mt 5,13-14). Ao José (e Maria) obedecer ao edito do Imperador o texto quer nos mostrar que Deus realiza seu desígnio de salvação servindo-se até da ambição de poder e de dominação dos que se julgam senhores deste mundo , pois “para Deus nada é impossível ” (Lc 1,37). O plano de salvação de Deus se realiza, não pela fuga da história , mas pela fidelidade a Deus na história concreta das pessoas . É, por isso , que cada história ou experiência , por escura que ela pareça ser , se for olhada e refletida sob a luz divina , ela se transformará em uma história de salvação. Eu sou como sou neste exato momento também por causa do meu passado , seja alegre seja triste . Tudo se torna uma história de salvação, porque vejo tudo a partir de Deus . O dom da fé abre novas perspectivas à vida daquele que crê em Deus . A fé nos aproxima do conhecimento de Deus . A fé transforma os nossos limites em forças . A fé transforma os pontos escuros de nossa vida em história de salvação.
4. Deus não poupa ninguém do sofrimento, nem seu Filho , Jesus.
O nosso sofrimento nos leva ao nosso limite para nos fazer descobrir novas forças e a força de Deus dentro de nós . “Cada dificuldade na vida nos oferece uma oportunidade para nos voltarmos para dentro de nós mesmos e recorrermos aos nossos recursos interiores escondidos ou mesmo desconhecidos . As provações que suportamos podem e devem revelar-nos quais são as nossas forças ....Você possui forças que provavelmente desconhece” (Epicteto, em A Arte de Viver , p.37, Sextante ,2000). Sob a luz de nossa fé , o sofrimento brilha de forma diferente , mas não desaparece.
5. O Natal nos ensina a descobrir o inefável mistério divino no aspecto cotidiano da vida .
O nascimento de Jesus é atestado por Lucas quando escreve que Maria “envolveu seu filho com faixas de pano e reclinou-o numa manjedoura ...” (v.7). Esse detalhe é tão realístico a ponto de o anjo do Natal divulgá-lo entre os pastores como sinal para poder reconhecer o filho de Maria (v.12). E, de fato , é exatamente graças a esse sinal que “os pastores , às pressas , vão vê-lo”, reconhecem-no e encontram-no dessa maneira (vv.16s). Como vai fazer um pouco mais adiante , por meio de alguns detalhes alusivos , Lucas relaciona a figura de Jesus que nasce com aquela de Jesus que ressuscita (cf. Lc 23,52s). A repetição dos termos e dos gestos sintetiza em um início e em um fim a manifestação da humanidade de Jesus. O nascimento de Jesus, então , é descrito com a maior simplicidade e humanidade .
É o paradoxo de nossa fé ! Tudo isso é o mistério da nossa fé que proclamamos como cristãos : na criança-Jesus indefesa está o nosso Salvador ; na família simples de Maria e José está o maior sacrário do universo , pois o Salvador do mundo nela habita; nas coisas pequenas revelam-se as grandes ; na manjedoura onde é posta comida para os animais está o maior alimento para a humanidade ; no pequeno pão está presente o Filho de Deus , nosso verdadeiro alimento (cf. Jo 6,51). No cálice está presente o sangue de Jesus para remissão de nossos pecados (cf. Mt 26,27-28); na comunhão eucarística que recebemos, Deus nos abraça e vem ao nosso encontro e penetra até o fundo de nosso ser , lá onde nem nós mesmo podemos entrar nem pessoas amadas, somente Deus ; na doença que nos faz sofrer e na morte que nos impõe medo , há a presença misericordiosa do Filho de Deus que nos convida a entrarmos com ele em seu Reino (cf. Jo 16,33). Em todas as circunstâncias da vida do dia-a-dia , mesmo as mais infelizes , mediante as incompreensões , as doenças , a repetitividade e a monotonia da vida , está sempre presente o lado amoroso , o lado da alegria , do Espírito Santo , da abertura do coração .Deus está em tudo e eu preciso reconhecer e sentir Sua presença . A luz de Deus penetra por todas as frestas , em cada dobra da existência humana . Assim sendo, podemos viver uma vida diferente , mais elevada e mais digna de filhos de Deus . O fascínio do Natal , mais forte que todas as luzes multicoloridas acesas pelo consumismo , está aqui : encontra-se o sentido da vida , do homem , das coisas simples , sentido do qual ninguém deveria afastar-se, porque nele reside o verdadeiro , o autêntico . A encarnação de Deus transforma nosso tempo (Kronos) em tempo da graça (Kairós). Deus está aqui e agora . Basta parar para ouvir e sentir Sua presença bem silenciosa , mas marcante . O silêncio traz de volta a plenitude da eternidade . Quem souber olhar bem longe com os olhos do coração e com a inteligência da fé , ali encontrará um germe da Presença que situa o homem na plena verdade de si mesmo .
O Natal nos ensina a buscarmos e a vermos o inefável mistério divino não em coisas incomuns e maravilhosas, mas naquilo que tem o aspecto cotidiano , simples e terreno (cf. Mt 25,40.45; Lc 16,10). Isto quer nos dizer que , a partir do Natal , tudo que é humano simplesmente pode ser como que manifestação divina , sinal visível da presença de Deus . Uma flor não é Deus , mas ela fala da beleza do Criador . As plantas alimentares não são Deus , mas elas falam da providência divina em fornecer alimento para seus filhos e filhas nesta terra , apontando, ao mesmo tempo , para o Pão da vida , o verdadeiro alimento : “Eu sou o pão da vida : aquele que vem a mim não terá fome , e aquele que crê em mim jamais terá sede ” (Jo 6,35). A água não é Deus , mas ela fala de Deus capaz de satisfazer nossa sede mais profunda : “Se alguém tiver sede , venha a mim e beba. Quem crê em mim , como diz a Escritura : ‘Do seu interior manarão rios de água viva ” (Jo 7,37-38). Portanto , minha relação com o aspecto cotidiano desta vida será o critério para saber se eu descobri ou não o sentido do Natal e ao mesmo tempo o sentido da minha vida .
6. Jesus nasceu como um excluído e nos chama a nos vestirmos de hospitalidade
“... porque não havia lugar para eles no alojamento (katályma, em grego )”. Na época em que foi escrito o Evangelho de Lucas, o dever sagrado da hospitalidade com relação aos estranhos tinha diminuído notavelmente. Ao relatar que “não havia lugar para eles no alojamento ”, o texto quer nos dizer que Jesus nasceu como um excluído , a ponto de ser deitado numa manjedoura de animais (cf. Lc 13,15). São Paulo chegou a dizer , embora não possa ser entendido materialmente ,: “Conheceis a generosidade de Nosso Senhor Jesus Cristo que por causa de vós se fez pobre , embora fosse rico , para vos enriquecer com a sua pobreza ” (1Cor 8,9; Gl 4,5;3,13s;2Cor 5,21;Rm 8,3s;Gl 2,19;Rm 7,4).
A hospitalidade , o bom acolhimento , o cuidado fazem parte do amor em ação . Eu posso fazer todas as coisas e todas as atividades , mas sem o amor tudo se torna inútil . São Paulo expressa isso de maneira precisa no hino de caridade (cf. 1Cor 13,1-13). E a hospitalidade entre nós , está diminuindo ou está aumentando? Acolher com hospitalidade é ir além da saudação formal . Significa disponibilidade de tempo para conversar e escutar o outro para não se precipitar em fazer conclusões ou julgamento . Significa atitude de respeito ao outro , vencendo preconceitos . Para podermos acolher os outros , devemos saber , primeiramente , acolher Jesus Cristo . Quem acolhe bem as pessoas , na verdade ele está fazendo isso por Jesus (cf. Mt 25,40.45).
7. Os excluídos são os primeiros destinatários da Boa Nova
Aos pastores o anjo dirige estas palavras : “Não tenhais medo ! Eu vos anuncio uma grande alegria ...: Hoje nasceu para vós um Salvador , que é Cristo Senhor “(vv.10-11). Justamente foram os pastores , desprezados e marginalizados que Deus escolheu para serem as primeiras testemunhas do nascimento do Messias e os primeiros destinatários do anúncio do Evangelho .
8. O Natal é uma mensagem da paz
“De repente juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste a louvar Deus dizendo: ‘Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens que ele ama ’ “ (vv.13-14). A distância entre o Criador e a criatura , simbolizada pela menção do “céu ” e da “terra ”, é superada pela nova e definitiva Aliança de Deus com os homens : o Deus “nas alturas ” inclina-se sobre a “terra ” dos “homens que são objeto de sua benevolência . Deus nos salvou, não por causa dos atos justos que tivéssemos praticado, mas por sua misericórdia (cf. Tt 3,4-5).
Ao terminar esta reflexão , podemos rezar a seguinte oração
E para nó s que ainda peregrinamos Te pedimos, ó Menino Jesus:
Se andarmos, ilumina-nos, pois Tu és a Luz do mundo .
Se estivermos cansados, fortifica-nos com sua força do alto .
Se pararmos no caminho por falta de perspectivas , força-nos e estimula-nos.
Se cairmos na caminhada desta vida , levanta-nos.
Se estivermos fracos , carrega-nos nos seus ombros .
Se formos atacados pelos inimigos , defende-nos.
Se estivermos perdidos nesta era de tecnologia , procura-nos e conduze-nos com Tua sabedoria . Abandonamo-nos ao Teu amor e à Tua providência no tempo e na Eternidade .
Olhando Maria,Tua mãe santíssima , rezamos pelas mulheres de todas as famílias , que cada uma delas acolha com amor a palavra de Deus para que possam acolher seus filhos com amor sem medo e sem reservas ;
que elas lutem pela harmonia e paz em sua casa .
Vendovosso pai adotivo , são José, pedimos,
óMenino Deus , pelos homens de todas as famílias ,
que eles transmitam segurança e proteção ,
estejamsempre atentos às necessidades mais essenciais ,
que saibam proteger seus lares de tudo que não provém de Ti.
Vendo
ó
estejam
Jesus querido , abençoa nossa família ,
cura os enfermos que houver,
cura as feridas de relacionamentos.
Fazemoshoje o propósito de nos amar mais .
Que neste Natal a bênção divina recaia sobre nós .
Que assim seja!
Fazemos
SHALOM!!!!!
P. Vitus Gustama,svd
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