SOLIDARIEDADE E PARTILHA SÃO MILAGRES COTIDIANOS
1Naqueles dias , havia de novo uma grande multidão e não tinha o que comer . Jesus chamou os discípulos e disse: 2“Tenho compaixão dessa multidão , porque já faz três dias que está comigo e não têm nada para comer . 3Se eu os mandar para casa sem comer , vão desmaiar pelo caminho , porque muitos deles vieram de longe ”. 4Os discípulos disseram: “Como poderia alguém saciá-los de pão aqui no deserto ?” 5Jesus perguntou-lhes: “Quantos pães tendes?” Eles responderam: “Sete ”. 6Jesus mandou que a multidão se sentasse no chão . Depois , pegou os sete pães , e deu graças , partiu-os e ia dando aos seus discípulos , para que o distribuíssem. E eles os distribuíram ao povo . 7Tinham também alguns peixinhos. Depois de pronunciar a bênção sobre eles , mandou que os distribuíssem também . 8Comeram e ficaram satisfeitos , e recolheram sete cestos com os pedaços que sobraram. 9Eram quatro mil , mais ou menos . E Jesus os despediu. 10Subindo logo na barca com seus discípulos , Jesus foi para a região de Dalmanuta.
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No evangelho de Mc se relata duas vezes a multiplicação dos pães (Mc 6,30-44; 8,1-10). A segunda lemos neste dia e sucede em território pagão . Assim Jesus se apresenta como Messias para todos , judeus e outros povos da terra . Ele veio para todos e por isso , ninguém escapa de seu amor . No texto do evangelho deste dia o evangelista Marcos nos relata que Jesus dá de comer para uma grande multidão a partir dos pães em pequena quantidade oferecidos pelos discípulos (sete pães ).
Nesta segunda multiplicação , Jesus não manda os discípulos para que resolvam a fome da multidão como na primeira multiplicação (cf. Mc 6,37), mas Ele lhes manifesta a Sua preocupação : “Tenho compaixão dessa multidão , porque já faz três dias que está comigo e não têm nada para comer . Se eu os mandar para casa sem comer , vão desmaiar pelo caminho , porque muitos deles vieram de longe ”. “Tenho compaixão dessa multidão”. Nosso Deus é um Deus compassivo. Ele é “louco” de amor por nós todos: “Pode uma mulher esquecer-se daquele que amamenta? Não ter ternura pelo fruto de suas entranhas? E mesmo que ela o esquecesse, eu não te esqueceria nunca”, diz o Senhor (Is 49,15). Somos frutos deste amor “louco” de Deus.
Os discípulos pensam que deveria ter bastante dinheiro para comprar pão para alimentar o povo . O problema se torna grave ainda , pois o povo se encontra no deserto (longe dos povoados ): “Como poderia alguém saciá-los de pão aqui no deserto ?”. Mas Jesus encontra a solução no próprio povo que os próprios discípulos deixam de lado : “Quantos pães vós tendes?”. E os seus discípulos responderam: “Sete ”. Jesus resolve o problema da fome a partir da partilha e da solidariedade do próprio povo, a partir do amor mútuo. O amor que se faz piedade e compaixão tem uma força enorme que leva à ação concreta para resolver o problema existente. De fato, o evangelista nos relatou que houve “sete cestos com os pedaços que sobraram”.
“Tenho compaixão dessa multidão ”, disse Jesus aos discípulos . Aprendemos de Jesus seu bom coração , sua misericórdia diante das situações de fome e de outras necessidades da grande maioria . Não sabemos fazer milagres porque não temos poder para fazer isso . Mas há multiplicações de pães , de paz e de esperança , de cultura e de bem-estar que não necessitam do poder milagroso , e sim de um bom coração , semelhante ao de Jesus Cristo para fazer o bem . Através do milagre da multiplicação dos pães Jesus quer nos ensinar que a força de solidariedade não fará falta o essencial na vida de todos . O egoísmo , ao contrário , causa a fome da maioria , pois uns querem agarrar tudo . Onde há o acúmulo de bens , há a fome para a maioria .
Nas duas multiplicações Jesus faz o mesmo gesto: “Pegou os sete pães , e deu graças”. Esse gesto nos recorda a Eucaristia. A mensagem é, portanto, bastante clara para nós: aqueles que participam da Eucaristia devem ter o espírito de partilha e de doação. É ser pessoa eucarística. Além disso, nas duas multiplicações dos pães há sobras . Isto indica que o alimento distribuído é inesgotável . É o símbolo de um ato que terá que ser repetido constantemente pelos cristãos e pelas pessoas de boa vontade. Se cada um tirar um pouco de bom que tem para os outros , jamais faltará nada no mundo . Este é o grande desafio da espiritualidade eucarística. Viver eucaristicamente significa viver na permanente solidariedade e partilha. Sem tudo isto , a eucaristia da qual participamos carecerá de sentido . Partilha e solidariedade são formas de ação de graças a Deus por tudo que temos e recebemos de Deus .
Os que assumem a causa de Jesus devem viver continuamente a espiritualidade da partilha e da solidariedade . Nós cristãos temos que fazer possível o milagre da solidariedade, da partilha, da compaixão, do amor mútuo no meio de tantas pessoas governadas pelo egoísmo . O amor vencerá, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16).
P. Vitus Gustama,svd
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