DECIFRANDO O SENTIDO DOS ACONTECIMENTOS
MANTENDO A VIGILÂNCIA NA ESPERA
DA VINDA DO SENHOR
28 de Novembro de 2013
Texto de Leitura: Lc
21,20-28
20“Quando
virdes Jerusalém cercada de exércitos , ficai sabendo que
a sua destruição
está próxima . 21Então , os que
estiverem na Judeia, devem fugir para
as montanhas ; os que
estiverem no meio da cidade , devem afastar-se; os que
estiverem no campo , não
entrem na cidade . 22Pois esses
dias são
de vingança , para que se cumpra tudo
o que dizem as Escrituras .
23Infelizes das mulheres
grávidas e daquelas que estiverem
amamentando naqueles dias , pois haverá uma grande
calamidade na terra
e ira contra
este povo . 24Serão mortos
pela espada
e levados presos
para todas as nações ,
e Jerusalém será pisada pelos infiéis, até
que o tempo
dos pagãos se complete. 25Haverá sinais no sol ,
na lua e nas estrelas .
Na terra , as nações
ficarão angustiadas, com pavor do barulho
do mar e das ondas .
26Os homens vão desmaiar de medo , só em pensar no que vai acontecer ao mundo , porque
as forças do céu
serão abaladas . 27Então eles
verão o Filho
do Homem , vindo numa nuvem com grande poder e glória . 28Quando estas coisas começarem a acontecer ,
levantai-vos e erguei a cabeça , porque a vossa libertação está próxima ”.
__________
Estamos ainda
no discurso escatológico (sobre o fim ) ou apocalíptico (porque
quer revelar algo além do acontecimento ) na versão
de Lucas. Desta vez o evangelista Lucas nos
descreve a destruição da cidade de Jerusalém e o Templo
e suas tremendas conseqüências .
A destruição de Jerusalém (e o Templo de Jerusalém) aconteceu em
70 d.C. “Quando virdes Jerusalém cercada de exércitos ...”.
A palavra “cercada ”
aqui literalmente
significa “acampamentos”. Os acampamentos que
cercam Jerusalém são os de Tito, comandante das legiões
romanas, enviadas para sufocar
e acabar com
a rebelião judaica .
O perigo é muito
grande porque
se trata de um
período designado como
“dias de vingança ”
(Lc 21,22. Alude ao Os 9,7). Essa guerra catastrófica
termina com a destruição
da cidade e do Templo
de Jerusalém em agosto
de 70 d.C. sob as legiões
romanas do imperador Tito (79 d.C.- 81
d.C.). E a segunda no ano 135 d.C. nos
tempos do imperador
Adriano (117 d.C. -138 d.C.). Segundo alguns especialistas ,
muitos cristãos
realmente conseguiram fugir
da cidade quando
as tropas romanas se aproximaram de
Jerusalém.
Segundo os exegetas o evangelho de
Lucas foi escrito depois dos anos 70. Isto significa que a destruição de
Jerusalém já tinha acontecido. Lucas considera a destruição de Jerusalém como o
fim de uma etapa da historia da salvação e por isso, não é o sinal da chegada
do momento final (escatologia).
Lucas aproveita o acontecimento da destruição
de Jerusalém para falar
da vinda do Filho
do Homem no fim
dos tempos (parusia) a fim de que todos vivam vigilantes
e preparados , pois
a segunda vinda
do Senhor (parusia) é certa ,
mas o momento
é incerto (ninguém conhece o momento da chegada ).
É preciso viver
o momento presente
com uma visão
do futuro . O próprio
futuro está no presente .
Nossa vida
se move no presente entre
uma história (passado )
e um projeto
(futuro ). Aprendemos das lições do passado
com otimismo
e desejo de superação .
Como escreveu o filósofo Sören
Kiekergaard: “A vida só pode ser compreendida
olhando-se para trás .
Mas só
pode ser vivida
olhando-se para frente ”.
Sobretudo , aprendemos a viver
intensamente o presente ,
o único instante
que temos em
nossas mãos para
construir . Não
podemos perder o presente
lamentando-nos pelos erros do passado
e muito menos
ainda , temendo o que
pode chegar a ser no futuro . O melhor
caminho para afrontar o futuro é aproveitar o momento
presente : “No mundo
tereis tribulações , mas
tende coragem : Eu
venci o mundo !”, diz-nos Jesus
(Jo 16,33b).
Outras mensagens do texto do
evangelho lido e meditado neste dia:
Um Alerta para Estar
Despojado
“Ai daquelas mulheres que estiverem
grávidas e que estiverem amamentando naqueles dias” (Lc 21,23), clama o
Senhor ao contemplar o fim do mundo.
Esta exclamação
significa muito mais
do que uma simples
compaixão humana
por aquelas mulheres
desamparadas. Para o Senhor
que contempla e adverte, elas se tornam imagem
e tipo daqueles que
para os quais
o fim do mundo
ou o fim
de uma história vai surpreender
no preciso instante
em que
não se sentirão livres
para poder seguir
a voz do Senhor
e sair ao encontro
da eternidade feliz .
Seus pés
não são
fortalecidos para seguir
o caminho da cruz
que termina na ressurreição .
Pesa sobre
seus ombros
a carga do falso
reino deste mundo .
Seus braços
abraçam as alegrias caducas de um mundo
condenado a perecer . Não
conhecem a linguagem dos sinais celestes .
São escravos
das próprias paixões que os fazem amarrados e cegos
diante da eternidade .
Vale a pena cada um se perguntar:
“O que é que me pesa no encontro derradeiro com o Senhor no fim da minha
história? E o que é que me amarra que dificulta minha caminhada ao encontro do
Senhor no fim da minha vida?”. Quem carrega coisas caducas acaba dificultando o
próprio vôo até Deus. É preciso ter as “asas” livres do Senhor para voar com
liberdade.
Uma Mensagem de Consolo
e de Esperança
“Quando essas coisas
começarem a acontecer, levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação
está próxima” (Lc 21,28).
O anúncio de Jesus sobre o fim do
mundo ou sobre o fim da história de cada um de nós não é um anúncio que quer
entristecer e sim animar: “… levantai-vos e erguei a cabeça, porque a
vossa libertação está próxima”. Todos nós somos convidados a ter
confiança na vitória de Cristo Jesus: “O Filho do Homem vem numa nuvem com
poder e glória” (Lc 21,27). Seja no momento de nossa morte, que não é final
e sim início de uma nova maneira de existir, muito mais plena. Seja no momento
do final da história, basta estar com Cristo e permanecer nele, ele virá não na
humildade e pobreza de Belém e sim na glória e majestade, sinal de sua vitória
sobre a morte. Ele já atravessou na sua Páscoa a fronteira da morte e inaugurou
para si e para nós a nova existência, os novos céus e a nova terra.
A glória de Jesus se irradia
através de todos os portadores da paz e da bondade, através de todos os homens
e mulheres que trabalham para construir uma sociedade mais justa e honesta, que
põem seus talentos e potencialidades a serviço dos marginalizados e
desamparados. É a outra História que se escreve dia após dia, não com letras de
molde nem com slogans televisivas, mas com atos de serviço. É a história de
salvação. É a história com Deus. É a historia que humaniza. E por isso, é a
história que diviniza o humano.
Precisamos fazer este tipo de
história para que o Senhor possa vir na sua glória ao nosso encontro. Neste dia
ouviremos o Senhor nos dizer: “… levantai-vos e erguei a cabeça, porque a
vossa libertação está próxima!” (Lc 21,28). Que Deus nos conceda a
graça de passar nossa vida fazendo sempre o bem para todos, e que isso façamos
não por simples filantropia e sim porque amamos nosso próximo, nosso semelhante
e imagem viva de Deus como o Senhor nos amou. “No entardecer de nossa
vida seremos julgados sobre o amor” (São João da Cruz).
P. Vitus Gustama,svd
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