REZAR SEM CESSAR
ORAÇÃO NA VIDA E VIDA NA ORAÇÃO
Sábado da XXXII Semana
Comum
16 de Novembro de 2013
Texto de Leitura: Lc 18,1-8
Naquele tempo: 1 Jesus contou aos
discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, e
nunca desistir, dizendo: 2 'Numa cidade havia um juiz que não temia a Deus, e
não respeitava homem algum. 3 Na mesma cidade havia uma viúva, que vinha à
procura do juiz, pedindo: `Faze-me justiça contra o meu adversário!' 4 Durante
muito tempo, o juiz se recusou. Por fim, ele pensou: 'Eu não temo a Deus, e não
respeito homem algum. 5 Mas esta viúva já me está aborrecendo. Vou fazer-lhe
justiça, para que ela não venha a agredir-me!'' 6 E o Senhor acrescentou: 'Escutai
o que diz este juiz injusto. 7 E Deus, não fará justiça aos seus escolhidos,
que dia e noite gritam por ele? Será que vai fazê-los esperar? 8 Eu vos digo
que Deus lhes fará justiça bem depressa. Mas o Filho do homem, quando vier,
será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?'
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O evangelista Lucas é conhecido
como uma pessoa orante, e a sua comunidade é uma comunidade orante, porque ele
dá uma atenção particular à oração. Por isso, seu evangelho é chamado também de
o “Evangelho de Oração”. A oração envolve o
evangelho inteiro desde o primeiro capítulo que abre com uma solene liturgia no
Templo de Jerusalém (Lc 1,1-10) até a reunião dos discípulos, depois da
ascensão, novamente no Templo para louvar a Deus (Lc 24,53).
A oração é uma percepção da
realidade que logo se desabrocha em louvor, em adoração, em agradecimento e em
pedido de piedade Àquele que é a origem do ser. Por isso, quem sabe viver
conscientemente, sabe também rezar bem. E quem sabe rezar bem, também sabe
viver conscientemente. “Vive de tal modo que sua vida seja uma oração” (Santo Agostinho: In ps. 91,3). O homem que ora inspira o mundo,
olha para o mundo com compaixão e, nesse olhar, penetra a fonte de todo ser. A oração é mais do que recitar umas fórmulas, é, sobretudo, uma convicção
íntima de que Deus é nosso Pai e que quer nosso bem.
”Jesus contou aos discípulos uma
parábola para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, e nunca desistir...” (Lc 18,1), assim o evangelista
Lucas nos relatou sobre a importância da oração na vida de quem acredita em
Deus.
O advérbio “sempre” confere à
oração um duplo significado. O rezar “sempre” é o programa de quem crê, chamado
a aceitar, a cada dia, o desafio da história: convoca ao compromisso de colocar
a “prece na vida” e “vida na prece”. Oração e vida se fundem em uma recíproca
imanência. Uma é a vida da outra. A prece transforma em unidade os fragmentos
da existência quotidiana diante de Deus. Se a prece tem lugar na existência
quotidiana do cristão, a própria vida está na prece. Por isso, a prece não é
apenas um barco salva-vidas para quem estiver afundando. Para o cristão, falar
com Deus significa usar a linguagem da vida e da história na conversa com o Pai
do céu. Seria impossível imaginar um filho não conversar com seu pai morando na
mesma casa.
Este versículo introdutório (Lc
18,1) é seguido pela parábola sobre o juiz desonesto e a viúva insistente. Com a história da viúva,
que tão insistente, venceu, pelo cansaço, o juiz desinteressado que não estava
nem um pouco inclinado a atendê-la, Jesus quer nos recomendar a perseverança na
oração. São três as razões porque devemos ser perseverantes nas nossas orações:
Primeiro, a bondade e a misericórdia de Deus. Segundo, o amor de
Deus por cada um de nós (Deus ama cada um na sua individualidade). Terceiro,
o interesse que nos mostramos perseverantes na oração. Por isso, o modo como a
pessoa reza depende da imagem de Deus que traz no seu coração. Quanto mais
correta for esta imagem, mais disposição terá para a oração e mais confiante e
perseverante esta será.
A pessoa de fé é sempre
perseverante, porque ela sabe a quem recorrer e em quem acredita, sem se
importar com as circunstâncias. Aquele que crê, tem absoluta certeza de ser
atendido. A oração que não foi atendida é uma forma de Deus atender nosso
pedido, pois Deus tem a sabedoria infinita. Se Deus “não nos atender” é para o
nosso bem maior, pois Deus sabe muito bem de nossas necessidades. Se Ele
atender nosso pedido é para nossa salvação. E se Ele não atender nossa oração é
para nossa salvação também. Sem duvida nenhuma, Deus sempre nos atende, pois
Ele quer nossa salvação. “Quando a oração
brota da alma como uma necessidade da própria alma, converte-se em chave de
ouro, em santo e eficaz sinal que abre as portas do céu e torna possível um
encontro com Deus. O homem se eleva em oração e Deus se inclina em
misericórdia”, dizia Santo Agostinho (In ps. 85,7).
A vontade de Deus de querer nos
salvar é o motivo de nossa perseverança na nossa oração. E acabamos aprendendo
o que devemos pedir e o que não devemos pedir a Deus nas nossas orações. Neste
sentido, a oração não deixa de ser um caminho pedagógico.
“Jesus contou aos discípulos uma
parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, e nunca
desistir”. A oração perseverante é expressão e o alimento da fé em Deus. Fé e
oração estão sempre intimamente unidas. Para orar é preciso crer e para crer é
necessário orar. A oração é um exercício de fé. Se há quem consagre a sua vida
à oração, é para manter viva e ativa essa fé que Jesus deseja encontrar no
coração de todos (Lc 18,8). A oração deve ser como uma respiração permanente.
Ninguém sobreviveria sem respirar e sem o ar do qual ele respira. Assim também
um cristão: não viveria como bom cristão sem uma oração perseverante. E aquele
que crê não quer obrigar Deus a fazer a própria vontade, utilizá-lo para
realizar seus desejos, mas para obter a graça de conformar sua vontade à de
Deus.
Além disso, a parábola da viúva
insistente quer nos ensinar que, para atingir objetivos superiores às nossas
forças, precisamos orar sem cessar, pois há objetivos que não podem ser
alcançados sem a oração. Por exemplo: onde conseguir a força para perdoar quem
nos prejudicou, a não ser na oração? Ou, onde conseguir a força para não
fraquejar diante dos maus desejos da ambição, da inveja, da cobiça, do ódio, do
rancor, da vingança a não ser na oração? Se por um instante sequer deixarmos
cair os braços, isto é, se pararmos de rezar imediatamente as forças do mal
prevalecerão, seremos derrotados e os desastres que sofremos serão
assustadores. Se pararmos de rezar, erraremos o caminho.
P. Vitus Gustama,svd
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