ESTAR VIGILANTE E
PREPARADO PARA A VINDA DO SENHOR
I DOMINGO DO ADVENTO DO
“ANO A”
01 de Dezembro de 2013
Texto de Leitura: Mt 24,37-44
Naquele tempo, Jesus disse aos seus
discípulos: 37 “A vinda do Filho do Homem será como no tempo de Noé. 38 Pois
nos dias, antes do dilúvio, todos comiam e bebiam, casavam-se e davam-se em
casamento, até o dia em que Noé entrou na arca. 39 E eles nada perceberam, até
que veio o dilúvio e arrastou a todos. Assim acontecerá também na vinda do
Filho do Homem. 40 Dois homens estarão trabalhando no campo: um será levado e o
outro será deixado. 41 Duas mulheres estarão moendo no moinho: uma será levada
e a outra será deixada. 42 Portanto, ficai atentos, porque não sabeis em que
dia virá o Senhor. 43 Compreendei bem isto: se o dono da casa soubesse a que
horas viria o ladrão, certamente vigiaria e não deixaria que a sua casa fosse
arrombada. 44 Por isso, também vós ficai preparados! Porque, na hora em que
menos pensais, o Filho do Homem virá”.
____________
Com este primeiro domingo do
Advento começamos o Ano Novo na liturgia: Ano A durante o qual refletimos sobre
as mensagens do Evangelho de Mateus. Cada Ano Novo litúrgico começa no primeiro
domingo do Advento e termina na festa de Cristo, Rei do Universo (XXXIV Domingo
do Tempo Comum).
Antes de refletirmos sobre o texto
do evangelho deste primeiro domingo, vamos olhar um pouco para o Tempo do
Advento e seu sentido.
SENTIDO DO ADVENTO
O termo “Adventus” é tirado do
vocabulário pagão que significa “chegada, vinda; aniversário de uma chegada, de
uma vinda. O tempo do Advento possui dupla característica:
·
Um tempo de preparação para as solenidades do Natal,
em que se comemora a primeira vinda do Filho de Deus entre os homens: Deus se
doa totalmente. É uma festa de doação total. Natal não é presente que você
compra, não é luzes luminosas, não é árvore, mas doar-se uns aos outros. Plante
árvore no seu coração onde você possa pendurar, em vez de cartões, os nomes das
pessoas próximas e distantes, os que você ama bastante e os que você ainda não
ama bastante, os que não o amam etc...
·
Um tempo em que, por meio desta lembrança, voltam-se
os nossos corações para a expectativa da segunda vinda de Cristo(parusia) no
fim dos tempos. Por este duplo motivo, o tempo do Advento se apresenta como um
tempo de piedosa e alegre expectativa.
Em relação a esta dupla
característica todos nós somos chamados a viver algumas atitudes essenciais:
·
A atitude
da espera vigilante: Por que espera ? Porque o Deus da revelação é o Deus da
promessa que em Cristo manifestou toda a sua fidelidade. Ele prometeu e cumpriu
porque Ele é fiel a si mesmo. O próprio nome dele é fidelidade. Esta atitude
deve ser acompanhada pela vigilância. Vigiar é ser capaz de detectar tudo
quanto possa desviar nossa atenção de nosso fim, de nossa meta, acabando por
nos afastar dos caminhos de Deus; colocar-se em contínua ligação com Deus de
Quem recebemos luz, força, consolo e firmeza.
·
A
esperança: O Advento celebra o Deus da esperança e vive a alegre esperança(Rm
5,13; 8,24s). A esperança é a característica dos que crêem em Deus
independentemente das circunstâncias. A esperança é aquela atitude que olha,
primordialmente, o ser das coisas e o agir humano, o bom; descobrir no negativo
o que há de positivo; transforma cada sofrimento em crescimento. Como diz um
dito popular: Não se queixe de que as
rosas têm espinhos, porque há consolo em pensar que até entre os espinhos há
rosas. Esta possibilidade nos permite que nos tornemos esperançosos. O
motivo profundo de nossa esperança é este: Deus vem nos salvar(Sl 84).
·
Conversão: O Deus que entra na
nossa história põe em causa cada um de nós. Questiona a nossa vida: atos e
atitudes, critérios e visão sobre todas as coisas. Ele nos chama ao bem, a Ele
e aos próximos. Que esta conversão seja sincera: passa do coração às obras e
isto acontece durante a vida inteira de um cristão; é uma tarefa silenciosa de
cada dia.
LITURGIA DO ADVENTO
O conteúdo das leituras bíblicas,
sobretudo do Evangelho, focaliza para cada domingo do Advento um tema
específico:
· 1º Domingo: A vigilância na espera do Senhor.
O primeiro domingo anuncia o retorno do Senhor (O dia está próximo: Ano A;
quando vier, tudo será restaurado, o universo e cada um de nós: Ano B; É
preciso vigiar e estar pronto para comparecer de pé diante do Filho do Homem, a
justiça será instaurada no fim dos tempos: Ano C).
· 2º Domingo: convite para a conversão. Se o
Reino de Deus está próximo, é necessário preparar os caminhos: conversão. É o
tema específico do II Domingo do Advento. O Espírito está sobre o Senhor e nele
as promessas são confirmadas (Ano A). Preparar os caminhos significa preparar
um mundo novo, uma terra nova(Ano B). Devemos saber ver a salvação de Deus,
cobrir-nos com o manto da justiça e revestir-nos do esplendor da Glória do
Senhor (Ano C).
· 3º Domingo: o testemunho dado a Jesus pelo
Precursor (João Batista). O III domingo apresenta os tempos messiânicos. Deus
vem salvar-nos, a sua vinda está próxima, as curas são o sinal da sua presença (Ano
A). No meio de nós está alguém que não conhecemos. Exultamos pela presença de
quem está marcado pelo Espírito (Ano B). Um mais poderoso que João Batista deve
chegar. Já está aqui. É este o tempo de fraternidade e da justiça (Ano C).
· 4º Domingo: o anúncio do nascimento de Jesus.
No quarto domingo todos os textos são de caráter mariano: destacam-se a relação
e a cooperação de Maria no mistério da redenção. José foi pre-advertido. Uma
virgem conceberá o Filho de Deus, Jesus Cristo, da descendência de Davi (Ano
A). A notícia é comunicada a Maria (Ano B). Ele vem para cumprir a vontade de
Deus (Ano C).
PARA REFLETIR
“Uma menina estava fazendo suas
orações algumas noites antes do Natal. Repentinamente ela parou e perguntou à
sua mãe sobre um problema que a fez preocupada: ‘O que estamos dando de
presente a Deus neste Natal? O que é que Deus quer, realmente, neste Natal?’
Sorrimos, mas esta é a grande questão. Será que Deus está na lista do seu
Natal?” (Frank
Mihalic,SVD: 1000 Stories You Can Use vol.1)
O Advento coincide com o lançamento
comercial da “operação natal”. Os comerciantes se preocupam mais em vender mais
e os consumidores se preocupam com um melhor presente para alguém. Justamente,
por isso, deve comprometer-se a transmitir os valores e as atitudes que estejam
de acordo com a visão escatológica transcendental desta vida. O Advento, com
sua mensagem de espera e de esperança diante da vinda do Senhor, deve formar
comunidades cristãs e crentes que se proponham como sinais alternativos para
uma sociedade em que as áreas do desespero parecem mais vastas do que as da
fome. A dimensão escatológica desta vida não deve diminuir, mas aumentar cada
vez mais o compromisso e a responsabilidade da parte que se declaram cristãos
através do serviço aos homens prestado aqui na terra.
REFLETIR SOBRE O EVANGELHO DESTE DOMINGO: Mt 24,37-44
Os capítulos 24-25 de Mateus (Mt 23
faz uma retrospectiva e a ruptura com o judaísmo), onde se encontra o nosso
texto deste domingo, constituem o quinto e último grande discurso de Jesus no
evangelho de Mateus (o 1º Mt 5,1-7,29: o Sermão da Montanha onde
Jesus proclama o Reino dos Céus e suas exigências; o 2º Mt
9,35-10,42: o discurso missionário; o 3º Mt 13,3b-52: o discurso
sobre a natureza do Reino dos Céus em parábolas; o 4º Mt 18,3-34: o
discurso eclesiológico onde se fala de como viver como uma comunidade que
aceita o Reino dos Céus). Para compor este último discurso, Mateus elaborou
notavelmente o chamado “discurso escatológico” de Marcos (Mc 13) e o ampliou
com uma série de três parábolas e uma impressionante descrição do juízo final
cuja principal intenção é orientar os cristãos sobre como devem preparar a Segunda
Vinda do Senhor (Parusia).
Neste discurso, fala-se da vinda do
Filho do Homem e das atitudes com que os discípulos devem preparar para essa
vinda. A intenção de Mateus é responder à situação que vivia sua comunidade.
Por um lado, os membros da comunidade de Mateus perceberam que a segunda vinda
do Senhor estava se atrasando. Mas diante deles aparecia a história como espaço
para o compromisso. Por outro lado, o evangelista contempla com preocupação os
sinais de abandono, de negligência, de rotina e de esfriamento que começaram a
aparecer na comunidade. Nessa situação Mt descobriu que aquelas palavras de
Jesus contém uma exortação dirigida aos cristãos que se fundamenta numa
profunda convicção: a vinda do Filho do Homem é um fato certo, no entanto, não
se sucederá em seguida. Por isso, é necessário preparar esse grande
acontecimento vivendo segundo os ensinamentos de Jesus.
O estilo e as imagens desses
capítulos podem provocar temor. Trata-se, porém, de uma forma de falar que era
relativamente freqüente entre alguns grupos judeus e cristãos da época de
Jesus. Esta linguagem se conhece com o nome de apocalíptico, porque seu objetivo
é manifestar uma revelação escondida (apocalypsis). Em muitas ocasiões
esta revelação está dirigida a grupos e comunidades que vivem uma situação de
perseguição, com o objetivo de animá-los em suas tribulações. Por isso, não tem
que ver neste texto uma ameaça, mas sim uma mensagem de esperança.
Depois de descrever os sinais que
precederam a vinda do Filho do Homem (Mt 24,4-35), Jesus responde a outra
pergunta acerca do momento de sua vinda (24,3). A resposta é bem clara: ninguém
sabe, somente o Pai. Ante esse desconhecimento do dia e da hora, a única
atitude possível é a espera vigilante (v.42) e estar preparado (v.44).
A espera do Advento é pura
esperança. Espera-se Aquele que já está presente. Procura-se Aquele que deseja
ser encontrado. A atitude da espera caracteriza o cristão porque o Deus da
revelação é o Deus da promessa que em Cristo manifestou toda a sua fidelidade.
Tudo o que Deus prometeu através da boca dos profetas se cumpriu em Jesus
Cristo feito homem. Neste sentido o outro nome de Deus é FIDELIDADE. E todo o
caminho de fidelidade é sempre o caminho de felicidade.
Mas esta atitude de espera tem sua
característica vigilante (vv.42-44).
Vigiar é ser capaz de detectar tudo quanto possa desviar nossa atenção do fim
almejado, acabando por nos afastar dos caminhos de Deus. Inclusive ser vigilante no falar e nos
comentários: o que deve-se falar, o que não deve; no agir; no pensar , no
julgar e assim por diante. A vigilância tem a ver com a construção do Reino de
Deus na terra. Tem a ver com os pecados que devem ser superados e as virtudes
que devem ser vividas. Tem a ver com a prevalência dos critérios divinos cada
vez que eu confrontá-los com os meus. A
vigilância nos leva à idéia de estar acordado, atento e pronto para agir, seja
para construir uma obra de bem, seja para combater uma obra má. Sabemos que os
atrativos e prazeres passageiros do mundo, o acúmulo exagerado dos bens
materiais e a liberação dos instintos egoístas são todos elementos que corrompem
o coração humano, impedindo-o de se preparar para o encontro com o Senhor. O
homem que fica preocupado demais com viver e gozar o presente, acaba
esquecendo, muitas vezes, a dimensão futura da vida. Este é, certamente, o
problema da geração do dilúvio (vv.37-39): ela é tão imersa na vida do prazer
desenfreado a ponto de ficar cega diante do desastre iminente do dilúvio. A
maior crise é não reconhecer crise.
Ao mesmo tempo somos chamados a
lembrar Noé nesse dilúvio. Lembrar Noé é alimentar a esperança de que a
salvação é possível. Noé constrói um barco quando não há ainda sinal de chuva,
confiando na voz de Deus na sua consciência. Ele não constrói o barco só para
si, mas para os outros também. Ainda hoje, seguir a voz de Deus é alimentar a
esperança da salvação no meio de qualquer tipo de ameaça. Mas como Noé, deve-se
produzir um espaço de salvação onde outros podem e possam se abrigar. Onde há
amor, todo mundo tem lugar. Ninguém será agressivo, quando cada um tiver
espaço.
A vinda de Cristo é certa mas o
momento exato dessa vinda é incerto. Mas devemos estar conscientes de que a
vinda de Jesus é luz que afugenta as trevas de nossos corações, é purificação
de nossos pecados. Por isso mesmo é motivo de alegria e nos alcança bens para a
vida presente e a futura. Para isso, é necessário cada cristão ter a atitude de
abertura e de vigilância. Por isso, quem cochila, quem para de se colocar em
contínua ligação com Deus de quem recebemos luz e força, acaba caindo na
armadilha para pegar os incautos. Só os vigilantes conseguem afastar-se das
investidas do maligno.
Além disso, o que nos chama a
atenção é a afirmação de Jesus neste discurso: ”Dois homens estarão trabalhando no campo: um será levado e o outro será
deixado. Duas mulheres estarão moendo no moinho: uma será levada e a outra será
deixada” (vv.40-41). Esta imagem nos apresenta como uma grande interrogação
para a consciência cristã. Primeiramente, porque o texto da Bíblia mostra que o
juízo de Deus tem em si uma real dimensão de surpresa. Existe em mim o que será
tomado e eternamente conservado por Deus? Ou toda a minha vida será deixada e
dolorosamente destruída? O homem ou a mulher ao meu lado, a mulher ou o homem
que passa à minha frente, quem são eles? Quem poderá afirmar com segurança que
será levado/eleito ou deixado/abandonado? A palavra de Jesus é tão grave, tão
franca, que nos coloca perante a real possibilidade duma perdição eterna.
Ninguém sabe quem é no pensamento de Deus, o seu próximo, que está ao seu lado.
A vigilância é, por isso, tão importante que é dela que depende de a sorte, de
perdição ou de salvação que vai tocar a cada indivíduo.
O sinônimo da vigilância é a atenção. Atenção é um comportamento
vigilante do eu sobre os outros porque os outros têm os mesmos sentimentos como
eu; atenção é uma transparência de olhar, uma prontidão em notar sinais de
sofrimento em volta de si, um doar-se; é a capacidade,antecipadamente, o que os
outros podem sentir. Desatenção é, ao contrário, fazer observação pungente, sem
pensar que alguém ao redor poderá se ferir; desatenção é não se dar conta do
que acontece com os outros. São tantas as desatenções que ferem e destroem as
mais belas amizades, que criam incompreensões nas famílias, noivos e esposos.
Ao contrário, quantos gestos de atenção reconciliam e reparam, entrelaçam
relações de paz. Atenção é um estremecer assustado do coração toda vez que se
viola a delicadeza, o respeito, o cuidado devido às pessoas. Atenção é evitar fumar quando isto
causa fastio aos outros. É saber tomar a devida distância de si e dos
acontecimentos para entender o que acontece. Atenção é, portanto, amor
verdadeiro, delicado, desinteressado, previdente. A atenção é uma qualidade
humana necessária e preliminar no caminho espiritual. A atenção é uma graça que
se pede e procura com meios adequados: estes não são somente a tensão do
espírito, mas também a oração insistente, a prudência de vida etc.
O Advento, por conseguinte, celebra
o “Deus da esperança”(Rm 15,13) e vive a alegre esperança. O homem de esperança
sempre acredita que tudo pode. Nesse “poder” há força. A esperança sempre
repousa num poder que possibilita a transformação da existência. O canto que
caracteriza o Advento é o do Salmo 25: “A ti, Senhor, eu me elevo. Eu confio em
Ti....pois os que esperam em Ti não ficam envergonhados”.
O conteúdo de toda esperança é
sempre a busca de libertação. Não se quer mudar pelo prazer de mudar. O que o
homem espera é “mudar de vida”, ou antes, transformar as condições inumanas da
existência humana. Não se pode dizer que há esperança, quando não se aspira a
transformar uma situação de servidão mais ou menos intolerável. Libertar-se
para viver vida verdadeiramente humana. Esperar é voltar-se para o futuro, é
recusar-se a ser bloqueado pelo imediato, resignando-se ao presente, às
insuficiências do agora.
Jesus revela que o verdadeiro poder
é uma presença, a presença de um amor, cuja força, o Espírito Santo, é capaz de
atender as aspirações da esperança, transformando a humanidade inteira e
libertando-a plenamente. E Jesus Cristo é o poder de nossos poderes, a
iniciativa de nossas iniciativas. Por isso, “tudo posso em Jesus Cristo que me
fortalece” (Fl 4,13).
Mas o Deus que entra na história põe
em causa o homem, questiona-o. Por isso, a vinda de Deus em Cristo requer
contínua conversão: a novidade do Evangelho é luz que exige despertar pronto e
decidido do sono, como diz São Paulo na segunda leitura deste domingo. O tempo
do Advento é o convite a deixar as trevas e ser iluminados pela luz de Jesus
Cristo. As palavras de São Paulo, na verdade, são um convite para a esperança,
para não deixar-se levar pelo desânimo, como acontece conosco freqüentemente.
Se abrirmos melhor nossos olhos, descobriremos também os sinais luminosos de um
mundo novo, de uma vida nova que já começou em Jesus Cristo.
O que Jesus quer dizer no Evangelho
é que ele vem continuamente para salvar-nos e trazer-nos felicidade, mas temos
que estar acordados e atentos para perceber cada vinda sua. Não importa tanto
se o dia de amanhã será o último; importa que seja um dia repleto de
eternidade. Todos os dias “tocamos o final dos tempos” (1Cor 10,11). Os
acontecimentos da vida são tanto de Deus quanto nossos. Nossa vida, a cada instante,
é julgada pela presença crescente de Deus em nós.
P. Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário