Segunda-feira da XXXIII
Semana Comum
18 de Novembro de 2013
Texto de leitura: Lc
18,35-43
35 Quando Jesus se
aproximava de Jericó, um cego estava sentado à beira do caminho, pedindo
esmolas. 36 Ouvindo a multidão passar, ele perguntou o que estava acontecendo.
37 Disseram-lhe que Jesus Nazareno estava passando por ali. 38 Então o cego
gritou: “Jesus, filho de Davi, tem piedade de mim!” 39 As pessoas que iam na
frente mandavam que ele ficasse calado. Mas ele gritava mais ainda: “Filho de
Davi, tem piedade de mim!” 40 Jesus parou e mandou que levassem o cego até ele.
Quando o cego chegou perto, Jesus perguntou: 41 “Que queres que eu faça por
ti?” O cego respondeu: “Senhor, eu quero enxergar de novo”. 42 Jesus disse:
“Enxerga, pois, de novo. A tua fé te salvou”. 43 No mesmo instante, o cego
começou a ver de novo e seguia Jesus, glorificando a Deus. Vendo isso, todo o
povo deu louvores a Deus.
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Continuamos escutando as ultimas e importantes lições dadas
por Jesus no seu caminho para Jerusalém (Lc 9,51-19,28).
No Evangelho deste dia o evangelista Lucas conta como
Jesus, depois de anunciar sua Paixão e ressurreição, curou um cego dentro do
contexto de uma subida para Jerusalém. A incredulidade dos apóstolos é um tema
freqüente nos anúncios da Paixão e da subida para Jerusalém. Os apóstolos ficam
como que cegos diante deste anúncio. Jesus não para de dar lições para que os
apóstolos possam entender o sentido da missão de Jesus que, um dia, eles devem
levá-la adiante.
A intenção do evangelista Lucas é, por isso, clara ao
colocar este episódio aqui: para compreender o mistério da Paixão, Morte e
Ressurreição de Jesus é preciso abrir os olhos da fé para poder entender as
Escrituras. Os meios humanos são inadequados. É preciso deixar-se conduzir por
outro para descobrir a Luz.
Como Deus é Luz, ele colocou seus olhos nos olhos de Jesus
para poder olhar para nosso mundo como ninguém neste mundo. E como Jesus é a
Luz do mundo (cf. Jo 8,12), ele devolveu a visão para o mendigo cego: “Enxerga,
pois, de novo. Tua fé te salvou!”, disse Jesus ao cego.
Um provérbio árabe diz: “Vem a mim com teu coração e eu te
darei meus olhos”. Jesus também nos diz: “Vem a mim com teu coração!”. Temos
que nos aproximar de Jesus com nosso coração, com nossa coragem de ver, de
vê-Lo todo e de ver o mundo e os outros homens como Deus os vê: com amor e
compaixão. A fé também é um grito de socorro: “Jesus, tem piedade de mim!”.
Jamais podemos desistir de gritar a Jesus para pedir socorro, como pediu o cego
mendigo. Somente os olhos de Jesus podem nos fazer ver com alegria a vida apesar
de tudo.
Não há nada que seja mais belo ou formoso na vida do que
poder ver: ver o rosto da mãe ou do pai, ver o sorriso de uma criança, ver os
olhos da pessoa amada, ver uma paisagem, ver o sol, a natureza, a obra dos
homens, ver “as obras dos dedos de Deus” (Sl 8,4) e assim por diante. Jesus nos
chamou para ver: “Venham e vejam!” (Jo 1,39), disse Jesus aos dois discípulos
de João que mais tarde se tornarão discípulos seus. É para ver a vida a partir
de uma perspectiva especial para poder caminhar na direção certa.
O olhar é um dom precioso e fascinante legado pelo Criador.
É uma das áreas humanas que mais chama a atenção das pessoas. O olhar é como
uma bússola a guiar nossos passos, nossos gestos, nossas atitudes. O olhar
sempre está aí atento a um ou outro detalhe. Os olhos determinam um pouco ou
muito do que somos. E o olhar é sempre anterior às nossas palavras.
É tão natural olhar, que nem nos damos conta desse
misterioso gesto. Muitas vezes olhamos; poucas vezes, porém, nos encontramos. Alguns
se limitam a olhar os outros para anotar seus possíveis defeitos. Não deixa de
ser a mais trágica expressão de nossa crueldade. O olhar superficial jamais
enxerga alguém; os outros são objetos de curiosidade, de conversa.
Num diálogo público com o cego, Jesus pergunta ao cego
sobre o que ele quer: “O que queres que eu faça por ti?”. E o
cego sabe muito bem daquilo que ele quer: “Senhor, que eu veja!”.
“Enxerga, pois, de novo. Tua fé te salvou” é a resposta de Jesus. E aconteceu o
milagre. A Palavra de Jesus devolve ao cego a vista como símbolo da fé. Por
isso, o evangelista Lucas nota que esse homem, depois que ficou curado, “seguia
a Jesus”.
Uma das razões que nos impedem de sermos autenticamente nós
mesmos e encontrar nosso caminho é não compreender até que ponto estamos cegos.
Mas a tragédia está no fato de que não estamos conscientes de nossa cegueira.
Vivemos num mundo de coisas que captam ou chamam nossa atenção e se impõem. O
que é invisível, ao contrário, que não se impõe, nós devemos buscá-lo e
descobri-lo. O mundo exterior pretende nossa atenção. Enquanto que Deus se
dirige a nós com discrição.
Ser incapaz de perceber o invisível, ou ver somente o mundo
da experiência significa ficar-se fora do mundo da experiência, significa
ficar-se fora do pleno conhecimento, significa ficar-se fora da experiência da
realidade total que é o mundo de Deus e Deus no coração do mundo.
Além de ser incapaz de perceber o invisível, o egoísmo
reduz o homem a seus próprios desejos e interesses, lhe fecha os olhos e o
coração, o paralisa à margem do caminho por onde percorre a vida. O homem que
vegeta em seu egoísmo tem um coração demasiado estreito para acolher o próximo
e demasiado estreito para receber Deus.
O encontro com o próximo é indispensável para o encontro
com Deus, pois isto é o primeiro que cremos: que Deus se fez homem (Jo 1,14).
Não é possível escutar a Palavra de Deus, se não estamos dispostos a escutar os
homens. Por isso, a dificuldade da fé não é outra coisa que nosso próprio
egoísmo, nossa auto-suficiência, porque a fé é abertura, encontro, aceitação.
O cego que voltou a ver é o símbolo de todos os homens que
desejam ver, caminhar e viver. Sobretudo é um símbolo para todos em tempos de
crise, de obscuridade, de desorientação. É um símbolo para o homem que, apesar
de tudo, busca e continua buscando sua direção ou seu guia para sua vida. Junto
ao homem que busca, Jesus passa como a Vida, a Luz e o Caminho para o homem.
Com Jesus o homem se encontra consigo mesmo e com Deus que direciona a vida
para sua plenitude. A fé em Jesus é uma luz que ilumina a vida. A luz da fé
ilumina e dá sentido à nossa vida porque põe claridade na origem, de onde
viemos e no término, no fim de nosso destino.
O cego não pede outra coisa a não ser a capacidade de enxergar
de novo: “Senhor, que eu possa enxergar de novo”. A luz divina que opera nele
não lhe permite ver outra coisa na vida a não ser o caminho que Jesus traçou
que ele precisa trilhar para chegar à vida eterna.
E os nossos olhos servem para enxergar o caminho de Jesus
ou para ver os defeitos dos outros? Quem enxerga apenas os defeitos dos outros
é porque a luz divina ainda não operou na sua vida. Precisamos rezar com o cego
mendigo: “Senhor que eu possa enxergar de novo!”.
P. Vitus Gustama,svd
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