SER GENEROSO É SER
PROLONGAMENTO DO AMOR GENEROSO DE DEUS
Segunda-feira da XXXI
Semana Comum
04 de Novembro de 2013
Texto de Leitura: Lc
14,12-14
Naquele tempo, 12 dizia Jesus ao
chefe dos fariseus que o tinha convidado: “Quando deres um almoço ou um jantar,
não convides teus amigos nem teus irmãos nem teus parentes nem teus vizinhos
ricos. Pois estes poderiam também convidar-te e isto já seria a tua recompensa.
13 Pelo contrário, quando deres uma festa, convida os pobres,
os aleijados, os coxos, os cegos. 14 Então serás feliz! Porque
eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos”.
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Continuamos a escutar atentamente
as ultimas e mais importantes ensinamentos de Jesus na sua ultima viagem para Jerusalém
(Lc 9,51-19,28). Trata-se das lições do caminho. Caminhando, aprendendo com o
Senhor.
Na passagem do evangelho deste dia
Jesus nos convida a sermos generosos e a não pensarmos nas vantagens daquilo
que fazemos ou fizermos para os outros, especialmente para os necessitados.
O texto do evangelho de hoje é a continuação
da passagem anterior que fala do convite dirigido a Jesus por um fariseu para
uma refeição. Os fariseus, como as pessoas em qualquer época e cultura,
escolhiam cuidadosamente os seus convidados para a mesa (almoço ou jantar).
Eles não convidavam pessoas de nível menos elevado. Os fariseus também
convidavam aqueles que podiam retribuir da mesma forma. Com isso, tudo se
tornava um intercâmbio de interesse e um jogo de favores. Dou para que tu me dês
(Do ut des).
Ao saber desse jogo de interesse
Jesus dá uma lição sobre a gratuidade e o amor desinteressado: “Quando deres
uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então tu serás
feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na
ressurreição dos justos” (Lc 14,13-14). A festa de que Jesus fala é a
partilha do que há de bom na vida, pois a partilha é a alma do projeto de Jesus
Cristo. Jesus nos convida a uma atitude de gratuidade ou generosidade, uma
atitude que é o exato contrário do cálculo interesseiro de quem vive se
perguntando: “Quanto é que eu levo nisso? Que vantagem isso me dá? Será que tem
retorno em fazer isso?”.
Ao falar da festa Jesus está
apontando para além da festa humana. Ele aponta para o Reino como um banquete
eterno onde os convidados estão unidos pelos laços de familiaridade, de
fraternidade e de comunhão diante do Pai comum que é Deus. As relações entre os
que querem participar da alegria eterna por tratar-se de um banquete não serão
marcadas pelos jogos de interesse e de intercâmbio de favores, mas pela
gratuidade e pelo amor desinteressado. Por viverem orientados pela gratuidade e
pelo amor desinteressado, os participantes do Reino estão bem distantes de
qualquer atitude de superioridade, de arrogância, de ambição para estarem numa
atitude de humildade, de simplicidade, de serviço por amor desinteressado.
Geralmente uma pessoa humilde é
generosa, repartindo o que tem para os que nada têm, pois ela é capaz de
receber, não só de Deus, mas também dos outros.
Porém, repartirá não para chamar a atenção para si, e sim, porque
agradecida, gosta de tornar seus irmãos partícipes dos dons que recebeu. A
pessoa humilde é que estabelece relações que trazem a felicidade, que acabam
com o egoísmo, com a competição, com a ostentação, e fazem reinar no mundo as
atitudes de intercâmbio generoso dos dons de Deus. O generoso é livre na medida
em que não procura o seu próprio proveito, mas o daqueles a quem favorece. E a
alegria que brota da generosidade de um doador nobre é um dos mais preciosos e
permanentes dons.
A generosidade é um sinal de
gratidão e de liberdade interior. Tudo o que somos, tudo o que podemos e temos
é precioso e libertador, se o reconhecermos e apreciarmos como um dom do amor
de Deus. Se percebermos e apreciarmos realmente que o esplendor daquilo que
temos e daquilo que possuímos vem de Deus, o Doador de todos os bens, então não
nos agarraremos às nossas riquezas e capacidades, nem as utilizaremos para nos
exibirmos, mas procuraremos ser cada vez mais generosos e livres, quer dando,
quer recebendo. Jamais podemos ajudar um necessitado para nos sentir bons e íntegros,
porque ofenderemos e humilharemos nosso irmão necessitado. A ajuda vale não pelo
valor daquilo que é dado e sim pelo amor com que o damos.
Para o generoso, todos os seus
bens, todas as suas capacidades e dons se transformam num tesouro que se
acumula no céu e que, entretanto, vai aliviando e tornando felizes os outros. E
o próprio Jesus anuncia que tudo que aqui gratuitamente fazemos, nos será
recompensado na vida eterna: “Tu serás recompensado na ressurreição dos justos”
(Lc 14,14). Para ser feliz aqui nesta terra e na vida eterna é necessário que
cada um de nós faça algo de bom pelos outros, gratuitamente, sem esperar uma
troca. E para ser infeliz, basta ser egoísta ou ser avaro. O avaro é o
protótipo dos sem-coração. O avaro é a pessoa mais pobre que existe.
Ser generoso significa dar-se a si
próprio por amor de Deus e do próximo, graças à intima liberdade que possuímos.
É ser prolongamento do amor generoso de Deus por nós todos. Esta virtude é
libertadora para ambas as partes: para o generoso e para quem é favorecido. O
generoso é livre na medida em que não procura o seu próprio proveito, mas o
daquele a quem favorece. Acreditamos que todos nós já fizemos alguma coisa por
alguém por pura generosidade e sabemos a alegria que isso traz ao nosso
coração. Quem de nós, ao prestar gratuitamente um favor ou uma ajuda, já não
ouviu a frase: “Deus lhe pague; Deus lhe abençoe?”. A alegria que brota da
generosidade de um doador nobre é um dos mais preciosos e permanentes dons.
Qualquer cristão não deve se deixar
mover pelo egoísmo, mas pelo amor fraterno. Somente assim se assegurará a única
recompensa do Pai que tem valor definitivo. Com essa conduta o cristão se faz
no mundo, para os homens, sinal do amor do Bom Deus, que beneficia aos justos e
ímpios (cf. Lc 6,36). Somente o Pai do céu é recompensa cabal para o serviço
desinteressado do cristão.
P. Vitus Gustama,svd
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