OLHAR AMOROSO DO PAI DO
CÉU PARA TODOS
Sábado da XIX Semana Comum
16 de Agosto de 2014
Evangelho: Mt 19, 13-15
Naquele tempo, 13 levaram crianças a
Jesus, para que impusesse as mãos sobre elas e fizesse uma oração. Os
discípulos, porém, as repreendiam. 14 Então Jesus disse: “Deixai as crianças e
não as proibais de vir a mim, porque delas é o Reino dos Céus”. 15 E depois de
impor as mãos sobre elas, Jesus partiu dali.
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Algumas mães apresentam a Jesus
seus pequenos filhos/crianças para serem abençoados (as) por ele. Os discípulos
não gostam e as repelem porque as crianças menos de doze anos eram tidas como
seres sem valor algum. Em outras palavras podiam atrapalhar os adultos. Os escribas
também não davam atenção para as crianças como também para as mulheres, pois são
propriedades de seus “donos” (pais e maridos respectivamente). Por isso, as
crianças representam todos os pobres, excluídos e insignificantes ou sem valor para
o olhar da sociedade.
Jesus se posiciona contra para esta
visão distorcida. Por isso, ele afirma: “Deixai as crianças e não as
proibais de virem a mim, porque delas é o Reino dos Céus”. Se a sociedade fica sem o olhar de estima para
elas, Deus os tem um olhar amoroso. Jesus exige aos discípulos para que as
crianças possam chegar até Jesus: Deixai elas virem a mim. Jesus também
aproveita nessa exigência a oportunidade para dar uma lição importante para os discípulos:
“Delas é o Reino dos céus”. Isso quer nos dizer, literalmente, que o apelo e as
promessas de Deus também são para elas. Ninguém está excluído das promessas (bênçãos)
de Deus. Deus quer salvar todos.
“Delas é o Reino dos céus”. Essa frase nos mostra
que Deus tem para as crianças ou para os pequeninos uma elevada conta. Além disso,
por serem puras, as crianças são o reflexo do Reino dos céus, segundo Jesus. As
crianças são tabernáculo vivo no qual o pecado e a maldade não entram.
Os pobres, isto é, os mais
carentes, os necessitados são objeto de particular predileção por parte do
Senhor (cf. Lc 4,16-21). As crianças, os pequeninos são mais pobres dos pobres:
são pobres de idade, de formação, de força (indefesos). A Igreja (todos os
batizados) como Mãe deve exercer sua maternidade acolhendo, abrigando e velando
sobre todos, especialmente sobre os mais necessitados.
“Deixai as crianças e não as proibais
de vir a mim, porque delas é o Reino dos Céus”. As palavras de Jesus soam como uma
reclamação ligeira. Para os adultos as “coisas de crianças” representam um
segundo plano. Quando avançamos na idade e com a experiência da vida, os
adultos começam a ver as “coisas de crianças” como comportamentos superados
esquecendo-nos de algo importante numa criança: a pureza, a simplicidade, a
sinceridade de sentimentos que são justamente as virtudes que Jesus valoriza
mais. Se nós somos complicados, ambíguos e pouco coerentes, tudo isso não será
uma conseqüência de não sabermos conservar as virtudes de nossa infância?
Seremos mais felizes e mais
serenos, se pusermos em Deus nossa confiança e segurança como uma criança nos
seus pais. Se tivermos fé firme em Deus e deixarmos Deus tomar conta de nossa
vida (com nossa colaboração), e se mantivermos a pureza, a simplicidade e a
sinceridade, nós encontraremos novamente a serenidade de nossa infância e
viveremos como mais alegria e leveza.
“Deixai as crianças e não as
proibais de vir a mim, porque delas é o Reino dos Céus”. O Reino anunciado por
Jesus se funda na igualdade das pessoas. É um reino de comunhão e fraternidade.
Portanto, não pode admitir a exclusão de quem quer que seja. Jesus diz que está
reservado um lugar especial no Reino de Deus para as crianças. O Reino de Deus
pertence a quem se pareça com as crianças. Não é que o ideal do discípulo seja
ser ingênuo e infantil, e sim, ser capaz de confiar plenamente em Deus, não
busca segurança por si mesmo, não ter o coração corrompido pela maldade. As
crianças são, com efeito, protótipo de pessoas que têm fé e confiança em Deus
muito mais que a inocência ou a pureza. Santo Ambrósio perguntou: “Por
que se diz que as crianças são aptas para o Reino dos céus? Talvez porque
geralmente não têm malícia, não sabem enganar nem se atrevem a enganar-se;
desconhecem a luxúria, não desejam as riquezas e ignoram a ambição”. Se
hoje em dia as criança têm o espírito de ganância é porque estão sendo
contaminadas por seus pais ou pelos adultos. Se assim for, é hora para reeducar
as crianças na graça e na sabedoria como foi educado Jesus por Sua mãe Maria (cf.
Lc 2,52)
Para sermos como crianças, é
necessário que nos disponhamos a mudar profundamente (conversão), e que
assimilemos o ensinamento divino. Para isso, temos de cultivar em primeiro
lugar uma firme vontade de nos comportarmos como filhos e filhas de Deus,
dóceis à vontade de Deus com humildade e simplicidade de espírito.
Na vida cristã, a maturidade se dá
precisamente quando nos fazemos crianças diante de Deus, filhos pequenos que
confiam e se abandonam nele como uma criança que se abandona nos braços de seu
pai. Então encararemos os acontecimentos do mundo como são, no seu verdadeiro
valor. Esta piedade filial fortalece a esperança e a certeza de chegar à meta,
e nos dá paz e alegria nesta vida. Perante as dificuldades da vida, não nos
sentiremos nunca sozinhos. Esta certeza será para nós como a água para o
viajante no deserto. Sem ela, não poderíamos prosseguir a viagem.
O texto do evangelho de hoje
convida cada um de nós a “vir a Jesus”, isto é a crer nele para que possamos
possuir o Reino, entrar nele e recebê-lo como uma criança: com sua pequenez.
“Deixem que as crianças venham a
mim” não é somente um convite a fazer-se como crianças e sim uma declaração e
uma verdadeira promessa feita a todos os que são como as crianças que fazem
parte do Reino de Deus.
Que tenhamos um coração de uma
criança diante de Deus, nosso Pai: uma confiança total e sem limite. Somente a
partir da própria debilidade assumida é que é possível reconhecer o senhorio de
Deus sobre a historia humana e sobre nossa vida. Os auto-suficientes e aqueles
que consideram que podem tudo estão impossibilitados de reconhecer a realidade
da graça de Deus. A qualidade essencial que nas crianças se destaca é a
humildade, a impotência diante da vida, a necessidade que tem de seus pais.
Tudo isto deve ser também nossa atitude diante de Deus. Sejamos como crianças
em espírito simples e humilde.
O Senhor Jesus nos reúne ao redor
da Mesa eucarística como irmãos seus (cf. Mt 12,48-50) para que juntos
celebremos o Banquete do Reino dos céus que se iniciou entre nós estando ainda
nós neste mundo. Para Jesus, nosso Senhor, não há espaço nenhum para qualquer
diferença social. Ele ama a todos igualmente e ninguém pode se sentir um
discriminado, um excluído, um desprezado por causa de sua pobreza, de seu
pecado, de sua etnia, de sua cultura ou de sua nação. O Senhor experimentou
nossas dores e fez suas nossas feridas (cf. Mt 8,17). Ele recorreu o caminho de
entrega no amor até as ultimas conseqüências.
Se quisermos dar-lhe um novo rosto
à humanidade devemos seguir seus passos, carregando nossa própria cruz de cada
dia até sermos glorificados junto com Ele. Na Eucaristia somos permanentemente
convidados a ser nossas as palavras de nova e eterna aliança: “Isto é meu Corpo
que se entregue por vós; isto é meu Sangue que é derramado para o perdão dos
pecados”. Em outras palavras, ser vida para os outros.
P.Vitus Gustama,svd
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