VIVER
COERENTEMENTE E RESPONSAVELMENTE
Segunda-Feira
da XXI Semana Comum
25 de Agosto de 2014
Evangelho: Mt
23,13-22
Naquele tempo, disse Jesus: 13 “Ai
de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós fechais o Reino dos Céus
aos homens. Vós porém não entrais, 14 nem deixais entrar aqueles que o desejam.
15 Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós percorreis o mar
e a terra para converter alguém, e quando conseguis, o tornais merecedor do
inferno, duas vezes pior do que vós. 16 Ai de vós, guias cegos! Vós
dizeis: ‘Se alguém jura pelo Templo, não vale; mas, se alguém jura pelo ouro do
Templo, então vale!’ 17 Insensatos e cegos! O que vale mais: o ouro ou o Templo
que santifica o ouro? 18 Vós dizeis também: ‘Se alguém jura pelo altar, não
vale; mas, se alguém jura pela oferta que está sobre o altar, então vale!’ 19 Cegos!
O que vale mais: a oferta, ou o altar que santifica a oferta? 20 Com efeito,
quem jura pelo altar, jura por ele e por tudo o que está sobre ele. 21 E quem
jura pelo Templo, jura por ele e por Deus que habita no Templo. 22 E quem jura
pelo céu, jura pelo trono de Deus e por aquele que nele está sentado”.
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O capítulo 23 do Evangelho de
Mateus é, sem dúvida nenhuma, uma das páginas mais duras do Novo Testamento.
Quem o lê fica impressionado, sobretudo, com a linguagem dura de Jesus. Neste
capítulo, o evangelista Mt inicia com uma introdução (vv.1-12) para um extenso
discurso que Jesus pronuncia contra os líderes religiosos da sua época
(vv.13-36) como conseqüência de um longo enfrentamento com eles (Mt 21-22).
Estes ataques completam a obra dos profetas contra a falsa religiosidade. As
palavras são duras porque o perigo que é denunciado é grave. E a validade da
denúncia profética que ouvimos dos lábios de Jesus, neste capítulo, não perde
sua atualidade, pois seu alcance é universal. O “fariseu”, a quem Jesus dirige
suas palavras duras e sua denúncia, é personagem típico, representa um
paradigma de comportamento oposto ao Evangelho.
Neste capitulo 23 Mt nos apresenta
os chamados “ais” de Jesus contra os escribas e fariseus ou lamentações que
Mateus coloca depois de Jesus ter proclamado as bem-aventuranças no Sermão da
Montanha (cf. Mt 5,1-12).
“Ai de vós..!”, assim Jesus se
dirige aos escribas e fariseu neste capitulo. Entre os versículos 13 a 33 do
texto há sete “ais”. Nestes “AIS” Jesus denuncia a hipocrisia dos fariseus e
escribas. João Batista e Jesus anunciam o Reino de Deus (Mt 3,2; 4,17), mas os
letrados (escribas e fariseus) usam sua autoridade para impedir que o povo de
Deus aceite a mensagem de João Batista e de Jesus, porque os próprios letrados
recusam toda a mensagem dos dois (cf. Mt 11,18-19). Jesus considera os escribas e
fariseus como “sábios e entendidos” para os quais se esconde o desígnio de Deus
(cf. Mt 11,25-26). Por sua responsabilidade, os escribas e os fariseus deveriam
facilitar o povo de Deus para entrar no Reino de Deus. Porém, de fato, eles estão
longe da prática. Como na sociedade, muitos são chamados de Vossa Excelência,
mas há poucos que têm o comportamento excelente (ética).
A palavra grega “Quai” (ai de vós) é uma
onomatopéia
(onomatopéia é a formação
de uma palavra a partir da reprodução aproximada, com os recursos de que a
língua dispõe; de um som natural a ela associado: p.ex.: pum, tiquetaque,
atchim, chuá-chuá, zunzum). “Quai” ou “ai de vós!” não é uma maldição e sim expressa
uma profunda dor, uma indignação, uma ameaça profética. Jesus está triste e
indignado com a atitude e o modo de viver incoerente dos fariseus e dos
escribas e que não levam em conta a importância da pessoa humana e os valores
essenciais da vida humana.
Jesus é “manso e humilde de
coração” (Mt 11,29). Mas quando se trata de defender um certo numero de valores
essenciais Jesus se faz bastante bravo, como uma mãe ou um pai que chama
atenção do filho ou da filha duramente quando este/esta não leva a sério as
coisas importantes para sua vida. Por isso, há que escutá-Lo.
Chama nossa atenção de que com as
pessoas normais, por humildes e pecadoras que elas sejam, Jesus não se
apresenta tão duro (cf. Mt 11,25-30 etc.). Mas com os que são guias do povo ou
constituídos em autoridade, a sentença de Jesus é mais severa pela falta de
autenticidade e da hipocrisia desses guias ou dirigentes: ”Ai de vós, mestres da
Lei e fariseus hipócritas! Ai de vós, guias cegos!”.
Jesus critica duramente os dirigentes ou os
responsáveis pela vida do povo. Nós que temos alguma responsabilidade na vida
da família ou no campo da educação, da política ou da comunidade eclesial,
temos maior obrigação de dar exemplo aos demais, de não levar uma vida dupla (entre o que ensinamos e
o que logo fazemos), de não ser exigentes com os demais e tolerantes com nós mesmos (duas medidas para o
mesmo peso),
de não ser como os hipócritas que apresentam por fora uma fachada, mas por
dentro uma podridão.
As acusações de Jesus são muito
atuais. Por isso temos que aplicá-las para nós mesmos, pois dentro de cada um
de nós pode estar escondido um pequeno ou grande fariseu. Eu preciso fazer um
exame sério de consciência: Que atitudes farisaicas eu descubro em mim? Preciso
responder sinceramente se eu também entro na categoria de “guias cegos e
néscios”, se busco mais vaidade do que o bem de todos ou a glória de Deus, se
eu matei o Espírito com uma casuística exagerada?!
Através de muitos “ais”, Jesus critica
duramente a hipocrisia dos escribas e fariseus que dizem e não fazem, ensinam,
mas não praticam. A hipocrisia é complexa: os mesmos hipócritas são as primeira
vitimas de sua vaidade religiosa, caem na mesma armadilha de sua vanglória.
Jesus critica duramente os escribas e fariseus porque não convertem os homens
ao verdadeiro Deus e sim a suas próprias idéias fazendo deles fanáticos do
legalismo e impedindo os homens de entrar no Reino pela mesma intransigência
legalista.
A pessoa que tem a atitude de
hipocrisia, simulando virtudes, nobres sentimentos e boas qualidades, engana as
outras pessoas no intuito de conquistar a estima delas. O recurso ao fingimento
visa obter louvores por uma virtude que ela não possui. Ela é habilidosa em camuflar-se. Ela faz
questão de parecer boa. Ao constatar sua perversidade interior, incapaz
de confessá-la e corrigi-lá, ela se refugia na simulação de possuir a virtude.
Ela não se preocupa em ser boa, mas em apropriar-se daqueles indícios que a
fazem parecer como tal.
Uma das virtudes humanas mais
apreciadas pela maioria das pessoas é, sem dúvida nenhuma, a coerência de vida.
Na própria vida de Jesus podemos ver um grande exemplo de coerência humana,
pois Ele atua como prega. As palavras de Jesus não ultrapassam sua atuação. Vivamos
para que nossa palavra e a prática sejam niveladas. Será melhor, se tivermos
mais ação do que palavra, pois as palavras movem enquanto que o exemplo arrasta
(Verba movent, exempla trahunt, diz o ditado latim).
Os seguidores de Cristo são
alertados a considerar tal comportamento incompatível com a sua opção. O
exibicionismo e a hipocrisia devem ser combatidos com o espírito de simplicidade
e humildade. Isto exigirá de todos nós cultivar uma atitude de fraternidade e
igualdade. A atitude que convém ao discípulo consiste em fazer-se servidor de
seu semelhante, num gesto de amor de gratuidade.
Todos nós somos chamados a ser de
Cristo e a viver como Cristo. Não fechemos a porta do Reino para aqueles que
não são de nossa condição social, econômica ou cultural ou que não pensam como
nós. Nossas palavras não ultrapassem nossa atuação. Que seja mais ação do que
pregação. Não sejamos escândalos para os outros. Ganhemos todos para Cristo e
para ser novos parceiros do bem e não para que sejam de nosso grupo egoísta.
É curioso sentir o tom distinto que
tem as leituras deste dia. Na primeira (2Ts 1,1-5.11-12) São Paulo dá graças
pela fé dos tessalonicenses. No Evangelho (Mt 23,13-22) Jesus reprova a falta
da autenticidade, e a hipocrisia dos dirigentes religiosos de Israel. Na Igreja
e em cada um de nós, também há momentos, situações e atitudes que provocam as
duas coisas: dar graças por tudo de bom na nossa vida. E há momentos em que
precisamos parar para reconhecer nossos pecados antes que eles destruam nossa
vida. Esses dois momentos nos ajudam a crescer como ser humano, como irmão dos
outros e como filhos e filhas de Deus. Que bom seria recordarmos esses dois momentos
todos os dias. Nosso Deus, o Deus da vida, o Deus de Jesus Cristo, o Deus Pai
Nosso é glorificado quando vivemos de verdade sem medos nem mediocridades nem
retaguardas e assim por diante. Um cristão vivo nesta maneira será capaz de dar
vida ali onde se encontra. Somente assim se pode anunciar com verdade que temos
uma Boa Notícia para dar ao mundo, porque o Filho de Deus não veio para nos
julgar e sim para dar vida e a vida em abundância (cf. Jo 10,10).
Você tem seus momentos de ação de
graças e momentos de reconhecer suas fraquezas na sua vida diária?
P. Vitus Gustama,svd
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