VIVER COM O CORAÇÃO PURO
Quarta-Feira da XXI Semana Comum
27 de Agosto de 2014
Evangelho: Mt 23, 27-32
Naquele tempo, disse
Jesus: 27 “Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós sois
como sepulcros caiados: por fora parecem belos, mas por dentro estão cheios de
ossos de mortos e de toda podridão! 28 Assim também vós: por fora,
pareceis justos diante dos outros, mas por dentro estais cheios de hipocrisia e
injustiça. 29 Ai de vós, mestres da Lei e fariseus hipócritas! Vós
construís sepulcros para os profetas e enfeitais os túmulos dos justos, 30
e dizeis: ‘Se tivéssemos vivido no tempo de nossos pais, não teríamos sido
cúmplices da morte dos profetas’. 31 Com isso, confessais que sois
filhos daqueles que mataram os profetas. 32 Completai, pois, a medida de
vossos pais!”
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“Ai de vós, mestres da Lei e fariseus
hipócritas! Vós sois como sepulcros caiados: por fora aparecem belos, mas por
dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda podridão”.
Mais acusações de Jesus contra a
hipocrisia dos fariseus e escribas: aparecer por fora o que não é por dentro.
Antigamente, hipócrita era quem,
simulando virtudes, nobres sentimentos e boas qualidades, enganava as outras
pessoas no intuito de conquistar a estima delas. Um hipócrita sempre quer
parecer bom. Ele refugia na simulação de possuir virtudes. Ele não se preocupa
em ser bom, mas em parecer bom. “Onde não há virtude não há retidão”,
dizia Santo Agostinho. “A simulação de uma virtude é sacrilégio duplo: une à
malicia a falsidade”, acrescentou Santo Agostinho.
Jesus critica duramente a distância
que há em nós entre o “parecer” e o “ser”; entre o que deixamos que apareça de
nossa vida e o que ocultamos. Se alguém falar muito de si pode ser uma forma de
se ocultar. “Quem não sabe julgar o que merece crédito e o que merece ser
esquecido presta atenção ao que não tem importância e se esquece do essencial”
(Buda). Jesus quer que tenhamos o mesmo cuidado tanto de nossa aparência como
de nosso interior. A dignidade da pessoa humana não consiste em parecer bom,
mas em ser bom. De uma pessoa de bondade só saem as coisas boas. Mas um coração
não convertido nunca produz frutos bons para a convivência.
Para denunciar a hipocrisia dos
mestres da Lei e dos fariseus, Jesus serve-se, no evangelho de hoje, de uma
expressão forte. Ele chama os fariseus e escribas de “sepulcros caiados”: belos
por fora, cheios de podridão por dentro.
Os sepulcros, na cultura judaica,
eram cuidadosamente pintados de branco, de modo a serem bem visíveis. Desta
forma, evitava-se o contato das pessoas com o túmulo e, por extensão, com o
cadáver nele sepultado. Se os sepulcros fossem tocados por inadvertência,
impedia a pessoa de participar das atividades religiosas, pois ficou impura. É assim
o formalismo: pecar sem saber. O formalismo cobre a consciência de que a pessoa
está cometendo o pecado.
Jesus compara a vida dos mestres da
Lei e os fariseus a um sepulcro. Não adianta querer esconder cadáveres no
porão, porque eles acabam cheirando mal. Como sepulcros caiados, eles parecem
justos por fora, mas por dentro estão repletos de hipocrisia e de maldade. De
que adiantam a beleza exterior e esplendor externo quando há miséria interior?
Mas Jesus não se deixa enganar
porque ele conhece o coração de cada ser humano. O olhar de Jesus é o de Deus:
não fica na superfície, mas penetra profundamente, atinge o coração e vê o que
está no íntimo do homem, a parte mais recôndita da alma. É iníquo quem atua
contra a Lei de Deus e tem seu coração longe d’Ele.
O cristão que lê o texto do
evangelho de hoje precisa voltar a ler conjuntamente Mt 6,1-6.16-18 onde Jesus
disse três vezes aos seus discípulos que não vivam como hipócritas, e precisa
ler novamente Mt 7,1-5 onde Jesus chama “hipócrita” o discípulo que espera dos
demais o que ele mesmo não quer fazer. Isto significa que o perigo de ser como
os fariseus está sempre presente na comunidade.
Não estamos isentos do exibicionismo
e da hipocrisia dos escribas e fariseus. Se cada um de nós empregar na busca do
bem todo o tempo e todas as energias que desperdiça em mendigar os louvores dos
outros, talvez tenha a consciência tranqüila e a satisfação de ser admirado.
Mas, preferindo os louvores em vez do bem, ele está convulsionando a ordem das
coisas e acabará ficando com o coração vazio.
A dignidade da pessoa humana não
consiste em parecer bom/boa, mas em ser bom/boa. O verniz encobre o mal, mas
não o suprime; um sepulcro pintado de branco parecerá menos lúgubre, mas
continuará um sepulcro.
Nós andamos, muitas vezes, preocupados
com o que os outros pensam de nós. Mas na verdade devemos trabalhar pela pureza
de nosso interior para que nossos atos e ações também sejam puros e não
simplesmente para agradar ninguém. E nós mesmos também queremos, muitas vezes,
que os outros se comportem como desejamos. Na verdade precisamos estar em
sintonia com o querer de Jesus Cristo. Jesus quer que estejamos preocupados com
a justiça, a fidelidade e a misericórdia, como ele falou no evangelho do dia
anterior.
“Ai de vós, mestres da
Lei e fariseus hipócritas! Vós construís sepulcros para os profetas e enfeitais
os túmulos dos justos, e dizeis: ‘Se tivéssemos vivido no tempo de nossos pais,
não teríamos sido cúmplices da morte dos profetas’. Com isso, confessais que
sois filhos daqueles que mataram os profetas. Completai, pois, a medida de
vossos pais!”, assim terminou o texto do
evangelho de hoje.
Esta última acusação é o ato de
ruptura de Jesus com Israel e é um olhar panorâmico sobre toda sua história,
uma história de sangue e de recusa contínua de todos os enviados de Deus como
se manifestou na parábola dos vinhateiros assassinados (Mt 22,1-14). Mas os contemporâneos
de Jesus não se sentem responsáveis: “Se tivéssemos vivido no tempo de
nossos pais, não teríamos sido cúmplices da morte dos profetas”. No
entanto, sua atuação é uma hipocrisia total, pois eles repetem o passado e
enterram para sempre a voz dos profetas que se faz ouvir em Jesus e estão prontos
para enterrar a voz de todos os enviados de Jesus, matando-os. Desta maneira,
eles completam a obra de seus pais.Os contemporâneos de Jesus fingem ser bonzinhos,
mas seu coração está cheio de maldade que se manifesta no assassinato dos
enviados de Deus.
A pergunta que cada um de nós deve fazer,
como mensagem do evangelho deste dia: “Será que nossa aparência de piedade é
autêntica ou falsa?”. O nosso modo de viver é que vai dar a resposta exata para
esta pergunta. Porque é que você vira inimigo quando alguém fala a verdade? A
mentira dói, mas a verdade liberta. É tão prazeroso viver com o coração limpo,
pois podemos ter um sono sadio, a leveza para viver e lutar diariamente.
P. Vitus Gustama,svd
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SANTA MÔNICA
(27/08)
Também celebramos hoje a festa de
Santa Mônica, mãe de Santo Agostinho (a festa de Santo Agostinho no dia 28 de
agosto). Ela nasceu em Tagaste, África, em 331, de uma família cristã. Ainda
muito jovem casou-se com Patrício, legionário pagão, com quem teve três filhos:
Agostinho, Navígio e uma filha (que morreu como superiora do mosteiro de
Hipona, em 424).
A vida de Mônica não foi muito
tranqüila, mas terminou feliz. Em primeiro lugar, ela teve aflições pelo
marido. Ela suportou infidelidades conjugais, sem jamais hostilizar, demonstrar
ressentimento contra o marido por isso. Além disso, o marido era um homem de
comportamento esquentado. Mônica se mostrava calma e paciente por causa de sua
vida espiritual profunda. “Depois que ele se refazia e acalmava, ela
procurava o momento oportuno para mostrar-lhe como se tinha irritado sem
refletir”, escreveu Santo Agostinho sobre sua mãe, Mônica, diante do
marido, Patrício (Confissões, IX,19). Era assim que ela conquistava o
marido. O que tem por trás disso é a
fidelidade de Mônica a Deus dia a dia. Por isso, Mônica teve a consolação de
levar o marido à fonte batismal em 371, um ano antes da morte dele.
Após a morte do marido, Patrício,
Mônica se viu sozinha diante da conduta desordenada do filho Agostinho, que aos
16 anos abandonou a vida digna de um filho de Deus. Trata-se de outra aflição
que Mônica tinha. Agostinho era um filho rebelde à graça de Deus, inteligente,
mas indiferente. Por ele, Mônica rezou e chorou. Ela suplicou a Deus com
insistência e não cansou de pedir a ajuda das pessoas sábias. Um dia ela pediu
o conselho do bispo Ambrosio de Milão (festa 07/12). Dele ela recebeu esta
resposta: “Vai em paz, mulher, e continua assim; não te preocupes,
contenta-te com rezar por ele; é impossível que perca o filho de tantas
lagrimas”. Esse pensamento se expressa na coleta da festa: “Ó Deus,
consolação dos que choram, que acolhestes, as lagrimas de Santa Mônica pela
conversão de seu filho, Agostinho....”. Mônica mais uma vez alcançou a graça de
ter conseguido de Deus a conversão de Agostinho. Agostinho recebeu o batismo em
387.
Mônica e Agostinho passaram juntos
o verão na Itália, aguardando a partida de Mônica para a África. As últimas
palavras de Mônica para Agostinho eram estas: “Meu filho, quanto a mim, não
existe nada que me atraia nesta vida. Nem sei mesmo o que estou fazendo aqui, e
por que ainda existo. Uma única coisa que me fazia desejar viver ainda um pouco
era ver-te católico antes de eu morrer. Deus me concedeu algo mais e melhor:
ver-te desprezar as alegrias terrenas e só a Ele (Deus) servir. Por isso, o que
é que estou fazendo aqui?” (cf. Confissões, 25). “Maravilhados diante da
coragem dessa mulher (Mônica), dádiva tua, perguntaram-lhe se não tinha medo de
deixar o corpo longe de sua cidade natal. E ela respondeu: ‘Para Deus nada é
longe, nem devo temer que no fim dos séculos ele reconheça o lugar onde me
ressuscitará’”, recordou Santo Agostinho (Confissões, 28).
E dentro de pouco tempo ela morreu
(em Óstia) antes de embarcar de volta à pátria. Era o ano de 387 e tinha 56
anos de idade. “Pelo nono dia de doença, aos cinqüenta e seis anos de idade,
quando eu tinha trinta e três, essa alma fiel e piedosa libertou-se do corpo. Fechei-lhe
os olhos, e uma tristeza infinita invadiu-me a alma. Estava prestes a
transbordar em torrentes de lágrimas”, assim escreveu Santo Agostinho sobre
a morte de sua mãe, Mônica (Confissões, 28-29).
Agostinho ficou tão admirado pela
virtude de sua mãe, Mônica, até chegou a escrever: “Não quero calar os
sentimentos que me brotam na alma a respeito de tua serva, que me deu a vida
temporal segundo a carne e que, pelo coração, fez-me nascer para a vida eterna”.
(Confissões IX, 17). No seu livro “Confissões”, Agostinho dedicou o cap. IX
para falar da virtude de sua mãe, Mônica.
Creio que muitas mães de hoje, que
sofrem pela mesma causa ou outras causas, vêem-se em Santo Mônica e se
identificam com ela. Mônica quer dar a mensagem de esperança para todas as mães
sofredoras que continuem a acreditar em Deus e permaneçam na oração serena. Deus
pode tardar, mas nunca falha. É preciso aprendermos a viver ao ritmo de Deus,
pois com Sua sabedoria infinita Deus dá o que nos é digno no tempo certo. É importante
mantermo-nos fieis até o fim. E o próprio Jesus afirma: “E Deus, não faria
justiça a seus eleitos que clamam a Ele dia e noite, mesmo que os faça
esperar?” (Lc 18,7).
P. Vitus Gustama,svd
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