ESTEJAMOS VIGILANTES
Quinta-Feira Da XXI Semana Comum
28 de Agosto de 2014
Festa de Santo Agostinho
Evangelho:
Mt 24,42-51
Naquele
tempo disse Jesus aos seus discípulos: 42 “Ficai atentos! porque não sabeis em
que dia virá o Senhor. 43 Compreendei bem isso: se o dono da casa soubesse a
que horas viria o ladrão, certamente vigiaria e não deixaria que a sua casa
fosse arrombada. 44 Por isso, também vós ficai preparados! Porque na hora em
que menos pensais, o Filho do Homem virá. 45 Qual é o empregado fiel e
prudente, que o senhor colocou como responsável pelos demais empregados, para
lhes dar alimento na hora certa? 46 Feliz o empregado, cujo senhor o encontrar
agindo assim, quando voltar. 47 Em verdade vos digo, ele lhe confiará a
administração de todos os seus bens. 48 Mas, se o empregado mau pensar: ‘Meu
senhor está demorando’, 49 e começar a bater nos companheiros, a comer e a
beber com os bêbados; 50 então o senhor desse empregado virá no dia em que ele
não espera, e na hora que ele não sabe. 51Ele o partirá ao meio e lhe imporá a
sorte dos hipócritas. Ali haverá choro e ranger de dentes”.
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“Não enganes a ti mesmo. Gostes ou não, não és
mais que um convidado, um transeunte, um peregrino neste mundo. Podes, pois,
adoçar teu caminho; porém, por mais que queiras, não poderás converter-te em
residente” (Santo
Agostinho. In ps. 120,14)
O
conjunto de Mt 24,1-25,46 forma o quinto Discurso de Jesus no evangelho de
Mateus: o Discurso sobre o fim do mundo. Trata-se de um discurso
apocalíptico-escatológico.
O termo “apocalipse” é muito
longe da linguagem moderna que suscita imediatamente idéias de catástrofe, de
desastre total, de comoções cósmicas aterradoras. No entanto, a linguagem
apocalíptica quer expressar a fé e a esperança numa orientação divina da
história humana e da criação. Os autores de apocalipses, diante do
desenvolvimento de fatos inevitáveis, de catástrofes, de ruínas e de mudanças
históricas, cantam sua esperança no cumprimento das promessas movidos pela fé
no triunfo de Deus, aparentemente impossível, porém seguro: Deus triunfará
sobre o mal. Conseqüentemente eles querem transmitir a força, o ânimo e a
perseverança em seguir os mandamentos do Senhor, pois no fim a última palavra
será a Palavra de Deus e não a do homem.
Na
primeira parte do quinto discurso de Jesus (Mt 24,4-41), ao revelar o futuro
dos discípulos, um futuro “presente”, Jesus quer ajudá-los a entender como
devem viver na história a missão que lhes é confiada para pregar o Evangelho do
Reino a todas as nações (24,14; 28,18-20), confiando em Sua Palavra (Mt 24,25).
O quinto
discurso é chamado também de “o discurso escatológico”. “Escatologia” é o
discurso sobre o que ocorrerá no fim. Quando falamos de realidades futuras e
finais (escatologia), o texto assinala duas expressões: “Vinda do Senhor” e
“Fim do mundo”. Quando intentamos a viver à espera do encontro com o Senhor,
que terá lugar para o final da história, então dizemos que estamos dando um “sentido
escatológico” para nossa existência. O
mandato será: “Vigiai porque não conheceis nem o dia nem a hora”. O discurso
termina falando do “encontro” com o Senhor glorioso (Mt 25,31-46).
O texto
do evangelho de hoje começa com a seguinte ordem: “Ficai
atentos! Porque não sabeis em que dia virá o Senhor”. Esta é a mensagem que a Palavra de Deus dirige a cada um de nós hoje.
“Ficai atentos! Estejais vigilantes!”. Por um lado, é a certeza da
vinda-regresso do Senhor. Por outro lado, a incerteza do “quando” desta vinda. Esse
fato põe, de manifesto, a importância do tema sobre a vigilância. São João Crisóstomo dizia: “Se os homens
conhecessem o momento de sua morte, eles se preparariam com grande empenho e
cuidado para essa hora”. Jesus nos disse isto com parábolas que encontramos neste quinto
discurso.
“Ficai atentos! Porque não sabeis
em que dia virá o Senhor”. Ficai atentos! Estejam vigilantes! Velar ou vigiar,
em sentido estrito, significa renunciar ao sono da noite para terminar um
trabalho urgente e importante ou para não ser surpreendido pelo inimigo. Em um
sentido mais simbólico significa lutar contra a negligência para estar sempre
em estado de disponibilidade. É viver uma vida atenta à voz do Senhor e
vigilante diante dos sinais da realidade.
Vigiar
significa não distrair-se, não adormecer-se. Vigiar faz parte inseparável da
própria atenção. O cristão não pode ser alienado. Ser vigilante faz parte do
discipulado. Quem é vigilante nota com facilidade o que está acontecendo ao
redor. A vigilância é a atitude própria do amor que vela. O amor mantém o
coração alerta e a disponibilidade para ajudar. No meio de uma sociedade que
parece muito contente com os valores que tem, o cristão é convidado a viver na
esperança vigilante. Vigiar significa ter o olhar posto nos “bens de cima”.
Vigiar é viver despertos, em tensão, mas não com angústia e sim com seriedade.
O cristão precisa se esforçar por buscar sempre as “coisas do alto”, os valores
que o edificam e salvam, como a fraternidade, o amor, a solidariedade, o
projeto de Deus, entre “as coisas de baixo”, como egoísmo, ganância,
exploração, arrogância, ódio e assim por diante. Em outras palavras, nós
cristãos temos que ser protagonistas não somente da espera do Reino, mas também
de sua construção desde agora neste mundo.
A vigilância
perseverante nos leva a ser considerados bem-aventurados pelo Senhor quando
vier: “Feliz o empregados cujo senhor o encontrar agindo assim quando
voltar” (Mt 24,46). Será que o Senhor vai me considerar bem-aventurado
quando ele chegar? É a pergunta que nos faz vigilantes e nos faz revermos
nossas atitudes. Estou suficientemente atento e disponível para escutar os
sinais, através dos quais Deus me apresenta as suas propostas?.
A vigilância, para um cristão, não
é opcional. O futuro de cada homem é imprevisível. A imprevisibilidade do
futuro reclama vigilância. O homem prudente, sensato não considera a atitude
vigilante como algo simplesmente possível, uma entre outras muitas opções. A
vigilância é a melhor opção. Vigiar para ser capazes de dominar os
acontecimentos, no lugar de ser dominados por eles. Vigiar para não perder
jamais a paz. Vigiar para descobrir a escritura de Deus nas páginas da
história. Vigiar para saber descobrir a ação do Espírito no nosso interior.
Vigiar para manter íntegras a fé, a esperança e a caridade. A vigilância não é
um opcional e sim uma necessidade vital. Vigiar é viver como o lavrador que
semeia e está sempre pensando em ter boa colheita, e como o desportista que,
desde o primeiro esforço, sonha em chegar primeiro à meta.
Um cristão não pode ser nem estar
alienado. Ele deve estar em alerta constante, sempre pronto para a ação, e
preparado para servir dia e noite. Servir para o cristão não é opcional, é lei
constitutiva da vida cristã. O Senhor voltará com toda segurança no nosso
encontro derradeiro. O discípulo não pode ficar adormecido. Ele deve permanecer
alerta, sempre em tensão e em atenção. Somente assim ele assegurará a comunhão
com o Senhor no gozo e no amor.
É sábio quem vive na vigilância
permanente e sabe olhar para o futuro. Não é porque não saiba gozar da vida
presente e cumprir suas tarefas de hoje e sim porque sabe que é peregrino nesta
vida e o importante é assegurar-se sua continuidade na vida eterna. É viver com
uma meta e uma esperança. Por isso, o trabalho neste mundo para o cristão é um
compromisso pessoal para transformar-se a si mesmo e para transformar o mundo
em que vive.
A fé é
sempre um êxodo, uma saída, o começo de um caminho até o futuro de Deus que nos
traz a salvação. Quem crê está sempre de passo, vive como um estrangeiro, como
um nômade. Assim viveu Abraão, inclusive na terra que Deus lhe havia prometido
(Gn 17,8; 20,1; 21,23; 24,37). A “terra prometida” é o símbolo da cidade
futura, da cidade que Deus constrói para os que a buscam e põem nela toda sua
esperança. No campo aberto pela promessa de Deus, o homem de fé se arrisca
investindo toda sua vida e gera nova vida sobre sua debilidade ou fraqueza.
O cristianismo não está preocupado
pela futurologia que se sustenta nas possibilidades humanas, nas previsões e
tendências atuais para prever o futuro, e sim radicalmente pelo futuro que
provém da promessa de Deus. Para Deus promessa significa certeza: “As minhas
Palavras não passarão”, disse Jesus (Mc 13,31). Para Jesus o depois se inicia
como algo já presente no agora. Isto que dizer que já agora temos que viver
como viveremos depois, como rezamos no Pai-Nosso: “assim na terra como no
céu”.
P.
Vitus Gustama,svd
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SANTO AGOSTINHO
(28/08)
Neste dia celebramos a festa de
Santo Agostinho. Santo Agostinho nasceu em Tagaste (África) em 354. Depois de
uma juventude conturbada, converteu-se aos 33 anos em Milão, onde foi batizado
pelo bispo Ambrósio. Regressando à sua pátria e eleito bispo de Hipona,
desenvolveu uma enorme atividade por meio da pregação e dos seus escritos
doutrinais em defesa da fé. Ele é um dos grandes Doutores da Igreja. E é um
mestre, teólogo, filósofo, moralista e apologista. Morreu em 430.
Não é fácil falar de nossos próprios
defeitos e fraquezas para os outros, muito menos publicá-los. Mas acontece o
contrário com o Santo Agostinho. Agostinho é um santo que não tem medo nem
vergonha de falar com sinceridade e simplicidade de suas fraquezas e que os
publicou como uma confissão num livro se chama “Confissões” de Santo Agostinho. Neste livro Santo Agostinho mostra a
realidade nua e crua de sua alma com sinceridade e simplicidade.
Santo Agostinho recebeu uma educação
cristã de sua mãe, Santa Mônica. Mas essa educação materna e o amor à verdade,
que sempre existiu na alma de Agostinho, não o livraram de cair em graves erros
e de levar uma vida moral muito afastada de Deus. Mas ele confessou: “Ninguém
está tão só do que aquele que vive sem Deus. O homem, para onde se dirija, sem
se apoiar em Deus, só encontrará dor”. Por isso ele escreveu: “...fizeste-nos
para Ti, Senhor, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em Ti.
Dá-me, Senhor, saber e compreender qual seja o primeiro: invocar-te ou
louvar-te; conhecer-te ou invocar-te. Mas, quem te invocará sem te conhecer? Por
ignorá-lo, poderá invocar alguém em lugar de outro..... Quem o procura, o
encontra, e tendo-o encontrado, o louvará. Que eu te busque, invocando-te; e
que eu te invoque, crendo em ti: tu nos foste anunciado” (Confissões,I,1). “Quando
estiver unido a ti com todo o meu ser, não mais sentirei dor ou cansaço. Minha
vida será verdadeiramente vida, toda plena de ti” (X,39).
Depois de ter passado anos em busca
da verdade sem encontrá-la, chegou à convicção, com a ajuda da graça que a sua
mãe implorou constantemente, de que só em Cristo é que encontraria a verdade e
a paz para a sua alma. Finalmente ele se converteu. Ele se lamentou porque
tarde demais encontrou Deus: “Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova!
Tarde demais eu te amei! Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava do
lado de fora... Tu me chamaste, e teu grito rompeu a minha surdez. Tua luz
afugentou a minha cegueira. Tu me tocaste, e agora estou ardendo no desejo de
tua paz” (Confissões, X,27). “O céu e a terra estão gritando: “Fomos feitos
por Deus”.
Tudo isso quer nos ensinar que nada
e ninguém é perdido nesta vida, enquanto a nossa fé em Deus continua forte e
inabalável em qualquer situação. Santa Mônica e Santo Agostinho são grandes
provas de tudo isso. O senhor nunca nos nega a sua ajuda. E se tivermos a
desgraça de ofendê-lo gravemente, Ele nos esperará em cada instante, como
esperou durante tantos anos pelo regresso de Santo Agostinho a exemplo do filho
pródigo que voltou para sua casa.
Outros conselhos de Santo Agostinho:
·
“Escuta primeiro ao que
fala dentro e desde dentro, fala depois aos que estão fora” (In
ps. 139).
·
“A ignorância mais refinada é a ignorância da
própria ignorância” (Conf. 5,7). “Com relativa freqüência a
ignorância põe máscara e capa de simplicidade” (idem 2,9). “O
reconhecimento da própria ignorância é a primeira prova de inteligência” (Serm.301,4,3).
·
“Quanto mais curioso
torna-se o homem por conhecer a vida alheia, tanto mais relaxado se torna para
consertar a sua própria” (Conf.10,3). “Quanto menos atenção o homem presta aos seus próprios
pecados, tanto mais curioso ele se torna em relação aos alheios. Não podendo
desculpar-se a si mesmo, trata de salvar a pele acusando os outros”
(Serm.19,2). “Amando ao próximo tu limpas os
olho para ver a Deus” (In Joan.17,8). Quanto mais amas, mais alto tu sobes (In ps.
83,10)
·
Não Andes averiguando
quanto tens, mas o que tu és (Serm. 23,3). Dentro do coração sou o que sou (Conf. 10,3).
Conserve o que tens dentro e não terás de temer
nada de fora (In ps. 35,17). O
homem não se torna bom por possuir coisas boas. Ao contrário, o homem bom torna
boas as coisas que possui, ao usá-las bem (Epist. 130,2,3).
·
O homem não se
movimenta pelos pés, mas pelos afetos. Até os próprios pés ele move por afetos (In ps. 9,15). Quanto mais cresce teu amor, maior é tua perfeição. A
perfeição da alma é o amor (In epist. Joan. 9,2). Amando o próximo limpas os olhos para ver Deus (In
Joan. 17,8). Tempera tua ciência com amor e
tua ciência será útil. Não por si mesma, mas pelo amor (In Joan.
18,6). O homem novo canta um cântico novo
quando vive uma vida nova, a vida do amor. Cantar é sempre sinal de felicidade
e coisa de amantes (Serm. 34,1,1).
P. Vitus Gustama,svd
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