sábado, 23 de agosto de 2014

 
ESTEJAMOS VIGILANTES

Quinta-Feira Da XXI Semana Comum
28 de Agosto de 2014
 
 
Festa de Santo Agostinho
 

Evangelho: Mt 24,42-51

Naquele tempo disse Jesus aos seus discípulos: 42 “Ficai atentos! porque não sabeis em que dia virá o Senhor. 43 Compreendei bem isso: se o dono da casa soubesse a que horas viria o ladrão, certamente vigiaria e não deixaria que a sua casa fosse arrombada. 44 Por isso, também vós ficai preparados! Porque na hora em que menos pensais, o Filho do Homem virá. 45 Qual é o empregado fiel e prudente, que o senhor colocou como responsável pelos demais empregados, para lhes dar alimento na hora certa? 46 Feliz o empregado, cujo senhor o encontrar agindo assim, quando voltar. 47 Em verdade vos digo, ele lhe confiará a administração de todos os seus bens. 48 Mas, se o empregado mau pensar: ‘Meu senhor está demorando’, 49 e começar a bater nos companheiros, a comer e a beber com os bêbados; 50 então o senhor desse empregado virá no dia em que ele não espera, e na hora que ele não sabe. 51Ele o partirá ao meio e lhe imporá a sorte dos hipócritas. Ali haverá choro e ranger de dentes”.

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Não enganes a ti mesmo. Gostes ou não, não és mais que um convidado, um transeunte, um peregrino neste mundo. Podes, pois, adoçar teu caminho; porém, por mais que queiras, não poderás converter-te em residente (Santo Agostinho. In ps. 120,14)


O conjunto de Mt 24,1-25,46 forma o quinto Discurso de Jesus no evangelho de Mateus: o Discurso sobre o fim do mundo. Trata-se de um discurso apocalíptico-escatológico.


O termo “apocalipse” é muito longe da linguagem moderna que suscita imediatamente idéias de catástrofe, de desastre total, de comoções cósmicas aterradoras. No entanto, a linguagem apocalíptica quer expressar a fé e a esperança numa orientação divina da história humana e da criação. Os autores de apocalipses, diante do desenvolvimento de fatos inevitáveis, de catástrofes, de ruínas e de mudanças históricas, cantam sua esperança no cumprimento das promessas movidos pela fé no triunfo de Deus, aparentemente impossível, porém seguro: Deus triunfará sobre o mal. Conseqüentemente eles querem transmitir a força, o ânimo e a perseverança em seguir os mandamentos do Senhor, pois no fim a última palavra será a Palavra de Deus e não a do homem.


Na primeira parte do quinto discurso de Jesus (Mt 24,4-41), ao revelar o futuro dos discípulos, um futuro “presente”, Jesus quer ajudá-los a entender como devem viver na história a missão que lhes é confiada para pregar o Evangelho do Reino a todas as nações (24,14; 28,18-20), confiando em Sua Palavra (Mt 24,25).


O quinto discurso é chamado também de “o discurso escatológico”. “Escatologia” é o discurso sobre o que ocorrerá no fim. Quando falamos de realidades futuras e finais (escatologia), o texto assinala duas expressões: “Vinda do Senhor” e “Fim do mundo”. Quando intentamos a viver à espera do encontro com o Senhor, que terá lugar para o final da história, então dizemos que estamos dando um “sentido escatológico”  para nossa existência. O mandato será: “Vigiai porque não conheceis nem o dia nem a hora”. O discurso termina falando do “encontro” com o Senhor glorioso (Mt 25,31-46).


O texto do evangelho de hoje começa com a seguinte ordem: “Ficai atentos! Porque não sabeis em que dia virá o Senhor”. Esta é a mensagem que a Palavra de Deus dirige a cada um de nós hoje. “Ficai atentos! Estejais vigilantes!”. Por um lado, é a certeza da vinda-regresso do Senhor. Por outro lado, a incerteza do “quando” desta vinda. Esse fato põe, de manifesto, a importância do tema sobre a vigilância. São João Crisóstomo dizia: “Se os homens conhecessem o momento de sua morte, eles se preparariam com grande empenho e cuidado para essa hora”. Jesus nos disse isto com parábolas que encontramos neste quinto discurso.


“Ficai atentos! Porque não sabeis em que dia virá o Senhor”. Ficai atentos! Estejam vigilantes! Velar ou vigiar, em sentido estrito, significa renunciar ao sono da noite para terminar um trabalho urgente e importante ou para não ser surpreendido pelo inimigo. Em um sentido mais simbólico significa lutar contra a negligência para estar sempre em estado de disponibilidade. É viver uma vida atenta à voz do Senhor e vigilante diante dos sinais da realidade.


Vigiar significa não distrair-se, não adormecer-se. Vigiar faz parte inseparável da própria atenção. O cristão não pode ser alienado. Ser vigilante faz parte do discipulado. Quem é vigilante nota com facilidade o que está acontecendo ao redor. A vigilância é a atitude própria do amor que vela. O amor mantém o coração alerta e a disponibilidade para ajudar. No meio de uma sociedade que parece muito contente com os valores que tem, o cristão é convidado a viver na esperança vigilante. Vigiar significa ter o olhar posto nos “bens de cima”. Vigiar é viver despertos, em tensão, mas não com angústia e sim com seriedade. O cristão precisa se esforçar por buscar sempre as “coisas do alto”, os valores que o edificam e salvam, como a fraternidade, o amor, a solidariedade, o projeto de Deus, entre “as coisas de baixo”, como egoísmo, ganância, exploração, arrogância, ódio e assim por diante. Em outras palavras, nós cristãos temos que ser protagonistas não somente da espera do Reino, mas também de sua construção desde agora neste mundo.


A vigilância perseverante nos leva a ser considerados bem-aventurados pelo Senhor quando vier: “Feliz o empregados cujo senhor o encontrar agindo assim quando voltar” (Mt 24,46). Será que o Senhor vai me considerar bem-aventurado quando ele chegar? É a pergunta que nos faz vigilantes e nos faz revermos nossas atitudes. Estou suficientemente atento e disponível para escutar os sinais, através dos quais Deus me apresenta as suas propostas?.


A vigilância, para um cristão, não é opcional. O futuro de cada homem é imprevisível. A imprevisibilidade do futuro reclama vigilância. O homem prudente, sensato não considera a atitude vigilante como algo simplesmente possível, uma entre outras muitas opções. A vigilância é a melhor opção. Vigiar para ser capazes de dominar os acontecimentos, no lugar de ser dominados por eles. Vigiar para não perder jamais a paz. Vigiar para descobrir a escritura de Deus nas páginas da história. Vigiar para saber descobrir a ação do Espírito no nosso interior. Vigiar para manter íntegras a fé, a esperança e a caridade. A vigilância não é um opcional e sim uma necessidade vital. Vigiar é viver como o lavrador que semeia e está sempre pensando em ter boa colheita, e como o desportista que, desde o primeiro esforço, sonha em chegar primeiro à meta.


Um cristão não pode ser nem estar alienado. Ele deve estar em alerta constante, sempre pronto para a ação, e preparado para servir dia e noite. Servir para o cristão não é opcional, é lei constitutiva da vida cristã. O Senhor voltará com toda segurança no nosso encontro derradeiro. O discípulo não pode ficar adormecido. Ele deve permanecer alerta, sempre em tensão e em atenção. Somente assim ele assegurará a comunhão com o Senhor no gozo e no amor.


É sábio quem vive na vigilância permanente e sabe olhar para o futuro. Não é porque não saiba gozar da vida presente e cumprir suas tarefas de hoje e sim porque sabe que é peregrino nesta vida e o importante é assegurar-se sua continuidade na vida eterna. É viver com uma meta e uma esperança. Por isso, o trabalho neste mundo para o cristão é um compromisso pessoal para transformar-se a si mesmo e para transformar o mundo em que vive.


A fé é sempre um êxodo, uma saída, o começo de um caminho até o futuro de Deus que nos traz a salvação. Quem crê está sempre de passo, vive como um estrangeiro, como um nômade. Assim viveu Abraão, inclusive na terra que Deus lhe havia prometido (Gn 17,8; 20,1; 21,23; 24,37). A “terra prometida” é o símbolo da cidade futura, da cidade que Deus constrói para os que a buscam e põem nela toda sua esperança. No campo aberto pela promessa de Deus, o homem de fé se arrisca investindo toda sua vida e gera nova vida sobre sua debilidade ou fraqueza.


O cristianismo não está preocupado pela futurologia que se sustenta nas possibilidades humanas, nas previsões e tendências atuais para prever o futuro, e sim radicalmente pelo futuro que provém da promessa de Deus. Para Deus promessa significa certeza: “As minhas Palavras não passarão”, disse Jesus (Mc 13,31). Para Jesus o depois se inicia como algo já presente no agora. Isto que dizer que já agora temos que viver como viveremos depois, como rezamos no Pai-Nosso: “assim na terra como no céu”.

P. Vitus Gustama,svd

 
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SANTO AGOSTINHO

(28/08)

Neste dia celebramos a festa de Santo Agostinho. Santo Agostinho nasceu em Tagaste (África) em 354. Depois de uma juventude conturbada, converteu-se aos 33 anos em Milão, onde foi batizado pelo bispo Ambrósio. Regressando à sua pátria e eleito bispo de Hipona, desenvolveu uma enorme atividade por meio da pregação e dos seus escritos doutrinais em defesa da fé. Ele é um dos grandes Doutores da Igreja. E é um mestre, teólogo, filósofo, moralista e apologista. Morreu em 430.


Não é fácil falar de nossos próprios defeitos e fraquezas para os outros, muito menos publicá-los. Mas acontece o contrário com o Santo Agostinho. Agostinho é um santo que não tem medo nem vergonha de falar com sinceridade e simplicidade de suas fraquezas e que os publicou como uma confissão num livro se chama “Confissões” de Santo Agostinho.  Neste livro Santo Agostinho mostra a realidade nua e crua de sua alma com sinceridade e simplicidade.


Santo Agostinho recebeu uma educação cristã de sua mãe, Santa Mônica. Mas essa educação materna e o amor à verdade, que sempre existiu na alma de Agostinho, não o livraram de cair em graves erros e de levar uma vida moral muito afastada de Deus. Mas ele confessou: “Ninguém está tão só do que aquele que vive sem Deus. O homem, para onde se dirija, sem se apoiar em Deus, só encontrará dor”. Por isso ele escreveu: “...fizeste-nos para Ti, Senhor, e inquieto está o nosso coração, enquanto não repousa em Ti. Dá-me, Senhor, saber e compreender qual seja o primeiro: invocar-te ou louvar-te; conhecer-te ou invocar-te. Mas, quem te invocará sem te conhecer? Por ignorá-lo, poderá invocar alguém em lugar de outro..... Quem o procura, o encontra, e tendo-o encontrado, o louvará. Que eu te busque, invocando-te; e que eu te invoque, crendo em ti: tu nos foste anunciado” (Confissões,I,1). “Quando estiver unido a ti com todo o meu ser, não mais sentirei dor ou cansaço. Minha vida será verdadeiramente vida, toda plena de ti” (X,39).


Depois de ter passado anos em busca da verdade sem encontrá-la, chegou à convicção, com a ajuda da graça que a sua mãe implorou constantemente, de que só em Cristo é que encontraria a verdade e a paz para a sua alma. Finalmente ele se converteu. Ele se lamentou porque tarde demais encontrou Deus: “Tarde te amei, ó beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu te amei! Eis que habitavas dentro de mim e eu te procurava do lado de fora... Tu me chamaste, e teu grito rompeu a minha surdez. Tua luz afugentou a minha cegueira. Tu me tocaste, e agora estou ardendo no desejo de tua paz” (Confissões, X,27). “O céu e a terra estão gritando: “Fomos feitos por Deus”.


Tudo isso quer nos ensinar que nada e ninguém é perdido nesta vida, enquanto a nossa fé em Deus continua forte e inabalável em qualquer situação. Santa Mônica e Santo Agostinho são grandes provas de tudo isso. O senhor nunca nos nega a sua ajuda. E se tivermos a desgraça de ofendê-lo gravemente, Ele nos esperará em cada instante, como esperou durante tantos anos pelo regresso de Santo Agostinho a exemplo do filho pródigo que voltou para sua casa.


Outros conselhos de Santo Agostinho:

·        Escuta primeiro ao que fala dentro e desde dentro, fala depois aos que estão fora” (In ps. 139).

·        A ignorância mais refinada é a ignorância da própria ignorância” (Conf. 5,7). “Com relativa freqüência a ignorância põe máscara e capa de simplicidade” (idem 2,9). “O reconhecimento da própria ignorância é a primeira prova de inteligência” (Serm.301,4,3).

·        Quanto mais curioso torna-se o homem por conhecer a vida alheia, tanto mais relaxado se torna para consertar a sua própria” (Conf.10,3). “Quanto menos atenção o homem presta aos seus próprios pecados, tanto mais curioso ele se torna em relação aos alheios. Não podendo desculpar-se a si mesmo, trata de salvar a pele acusando os outros” (Serm.19,2). “Amando ao próximo tu limpas os olho para ver a Deus” (In Joan.17,8). Quanto mais amas, mais alto tu sobes (In ps. 83,10)

·        Não Andes averiguando quanto tens, mas o que tu és (Serm. 23,3). Dentro do coração sou o que sou (Conf. 10,3). Conserve o que tens dentro e não terás de temer nada de fora (In ps. 35,17). O homem não se torna bom por possuir coisas boas. Ao contrário, o homem bom torna boas as coisas que possui, ao usá-las bem (Epist. 130,2,3).

·        O homem não se movimenta pelos pés, mas pelos afetos. Até os próprios pés ele move por afetos (In ps. 9,15). Quanto mais cresce teu amor, maior é tua perfeição. A perfeição da alma é o amor (In epist. Joan. 9,2). Amando o próximo limpas os olhos para ver Deus (In Joan. 17,8). Tempera tua ciência com amor e tua ciência será útil. Não por si mesma, mas pelo amor (In Joan. 18,6). O homem novo canta um cântico novo quando vive uma vida nova, a vida do amor. Cantar é sempre sinal de felicidade e coisa de amantes (Serm. 34,1,1).

P. Vitus Gustama,svd

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