SER CIDADÃO CELESTE NA TERRA
DOS HOMENS
Segunda-Feira da XIX
Semana Comum
11 de Agosto de 2014
Evangelho: Mt 17,21-26
Naquele tempo, 22 quando Jesus e os seus
discípulos estavam reunidos na Galileia, ele lhes disse: “O Filho do Homem vai
ser entregue nas mãos dos homens. 23 Eles o matarão, mas no terceiro dia
ele ressuscitará”. E os discípulos ficaram muito tristes. 24 Quando chegaram a Cafarnaum, os
cobradores do imposto do Templo aproximaram-se de Pedro e perguntaram: “O vosso
mestre não paga o imposto do Templo?” 25 Pedro respondeu; “Sim, paga”. Ao
entrar em casa, Jesus adiantou-se, e perguntou: “Simão, que te parece: Os reis
da terra cobram impostos ou taxas de quem: dos filhos ou dos estranhos?” 26 Pedro respondeu: “Dos estranhos!”
Então Jesus disse: “Logo os filhos são livres. 27 Mas, para não escandalizar essa
gente, vai ao mar, lança o anzol, e abre a boca do primeiro peixe que pescares.
Ali encontrarás uma moeda; pega então a moeda e vai entregá-la a eles, por mim
e por ti”.
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O texto
do evangelho de hoje tem duas pequenas unidades literárias: a primeira unidade
fala de segundo anúncio da paixão, morte e ressurreição do Senhor (vv. 22-23). A
segunda unidade fala sobre o tributo pago para a manutenção do Templo (vv. 24-27).
As duas unidades aparentemente não tem ligação entre si. Mas, na verdade,
podemos descobrir seu ponto de encontro ou
de ligação no tema da perda da própria vida por causa das autoridades
civis e religiosas.
1. Sejamos Pontes Que unem o Humano e o
Divino e Não Muros Que Separam
No
primeiro tema o fio dos acontecimentos aponta para os últimos dias da vida de
Jesus em Jerusalém. É a morte inevitável pelo bem praticado. Trata-se da morte
do inocente, vítima do poder e dos interesses individualistas, da eliminação de
quem pratica o bem. O Apóstolo Pedro vai nos recordar na sua pregação nos Atos
com as seguintes palavras: “Vós sabeis como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com
o Espírito Santo e com o poder, como ele andou fazendo o
bem e curando todos os oprimidos do demônio, porque Deus estava com ele. E nós somos testemunhas de tudo o que fez na terra dos judeus e em
Jerusalém. Eles o mataram,
suspendendo-o num madeiro. Mas Deus o ressuscitou
ao terceiro dia e permitiu que aparecesse, não a todo o povo, mas às testemunhas
que Deus havia predestinado, a nós que comemos e bebemos com ele, depois que
ressuscitou” (At 10,38-41).
Jesus
anuncia, aos discípulos, sua morte iminente pelo bem praticado porque ele tem
clara consciência para onde se dirige. Jesus não tem medo de anunciar tudo isso
para seus discípulos. Ainda que Jesus tenha que sofrer e morrer o acento se põe
novamente na ressurreição: “... mas no terceiro dia ressuscitará”. Cada bem
praticado sempre tem um final feliz, pois Deus está com quem pratica o bem.
“O Filho
do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens”, disse Jesus aos discípulos. A
oposição entre os “homens” e o “Filho do Homem” é comum nos evangelistas. O
Filho do Homem se caracteriza por possuir o Espírito de Deus. Os “homens”, ao
contrário, são os que carecem do Espírito de Deus e, por isso, não compreendem
nem vivem segundo o plano de Deus (cf. Mt 16,13.23). Quem não possui o Espírito
de Deus não vê os outros como irmãos e sim rivais ou inimigos. Quem tem o espírito
de Deus, respeita os outros e os trata humanamente.
Como possuidor
do Espírito de Deus, por ser “Filho do Homem”, Jesus sabe que a vida dada pelo
bem e pela salvação dos homens é a vida recebida, é a vida ressuscitada. Jesus,
o Homem-Deus (Mt 1,23) leva em si a vida que lhe permite levantar-se da morte.
Para Jesus a morte não é definitiva, pois “no terceiro dia ressuscitará”. É
“perder” para ganhar. É morrer para ressuscitar. É morrer por amor aos homens
para estar com o Amor por excelência que é Deus. O amor jamais morre, pois é o
nome próprio de Deus: “Deus é Amor” (1Jo 4,8.16).
Neste
texto Jesus fala “dos homens” de maneira simples, porém com a maior
profundidade, pois na realidade são os homens os inimigos de Deus que devem ser
reconciliados com Ele, como escreveu São Paulo aos romanos: “Se quando
éramos inimigos fomos reconciliados com Deus pela morte do Seu Filho, muito mais
agora, uma vez reconciliados, seremos salvos por Sua vida” (Rm 5,10). Essa
é a finalidade da paixão: acabar com o abismo entre Deus e os homens e os
homens entre si para que estes possam ter acesso para Deus. mas Deus não impõe,
mas sempre propõe, Ele não obriga, mas convida. A decisão recai sobre os
homens.
Se os
homens criam muros e abismos de separação entre si, Jesus cria pontes entre os
homens e Deus para que os homens tenham um livre acesso para chegar até Deus,
para a vida eterna. Sejamos construtores de pontes e não de muros e de abismos
de isolamento. O homem existe para o outro homem. No âmago de nossa natureza,
como homens, está a ânsia de integração. Há no coração do homem uma faceta
infantil e inocente que sempre fica profundamente magoada quando somos
excluídos de um relacionamento ou de uma convivência. Ninguém foi criado para o
isolamento. Quando ficamos isolados, estamos propensos a ser prejudicados.
Sempre que há distância, há anseio. Se a distância suscita o anseio, a
proximidade cria a integração. Podemos possuir tudo que o mundo tem a oferecer
em termos de status, de realização profissional, de bens materiais, de cargos
sociais importantes e assim por diante, no entanto, sem nos sentirmos
integrados, tudo isso parece vazio e inútil.
2. Ser Cidadão Celeste na Terra dos
Homens: 100% Crente e Cidadão
No
segundo tema fala-se do imposto pago para a manutenção do Templo. A discussão
do tema parte de uma pergunta dos cobradores do imposto do Templo: “O vosso Mestre não
paga imposto do templo?”. A pergunta dos cobradores de impostos a Pedro
espera resposta afirmativa, mas deixando aberta a possibilidade contrária. Os
sacerdotes e alguns rabinos pretendiam isentos de pagar o imposto. Jesus era
chamado de Mestre e por isso, poderia ter o mesmo privilégio.
Desde tempos de Nehemias era costume
que os israelitas maiores de 20 anos pagavam, cada ano, uma pequena ajuda para
a manutenção do Templo de Jerusalém. O valor era de dois denários que
representam dois dias de trabalho (Ex 30,11-13;
38,26; cf. Neh 10,33s). Esse imposto era cobrado nos meses de março (Adar)
e de abril (Nisán) que assinalava o inicio do ano litúrgico na
época. Era um tributo que não tinha nada
a ver com o imposto que eles pagavam para o governo romano.
Jesus pagava cada ano esse tributo
para a manutenção do Templo, como afirma em seguida Pedro. Jesus cumpre as
obrigações do bom cidadão e do crente judeu para não dar motivo de escândalo e
de crítica, pois na verdade ele é o Filho de Deus por excelência e está na casa
do próprio Pai. Como Pedro é um pescador, Jesus pede para ele pescar para
depois vender os peixes a fim de pagar o tributo.
Este pequeno episódio nos recorda
como Jesus se encarnou totalmente em seu povo seguindo seus costumes e normas.
Mas ao mesmo tempo ele questiona os costumes que desumanizam, que excluem, que
favorecem à desigualdade e a injustiça. Ele foi morto por causa desse tipo de
luta. Jesus sabe discernir o que deve ser mantido (solidariedade, perdão,
fraternidade etc.) e o que deve ser eliminada (desigualdade, falta de
fraternidade etc.).
Todos nós precisamos cumprir também
as normas gerais de convivência social, não somente para evitar sanções e sim
porque “a co-responsabilidade no bem comum exige moralmente o pagamento dos
impostos, o exercício do direito ao voto e a defesa do país”, como diz o Novo
Catecismo (no. 2240).
Além das obrigações como cidadãos, é
útil recordar, a exemplo de Jesus, que todos nós deveríamos nos sentir
co-responsáveis das necessidades da comunidade eclesial, colaborando de
diversos modos que nos é proposto: nosso tempo, nosso talento, nossa ajuda
material, ajuda nas atividades benéficas, ajuda nas missões, nos trabalhos
pastorais e assim por diante. Precisamos ter um sentimento de pertença. A qual
comunidade/Igreja eu pertenço? Quais são meus direitos e deveres? Se eu faço
parte de uma comunidade cristã, então, eu sou co-responsável para seu
crescimento. Não podemos deixar este mundo sem esse sentimento de pertença.
Precisamos contribuir algo de bom de nossa vida para o crescimento da
comunidade. Cada um sempre tem algo de
bom para dar e para ajudar, de alguma forma, a comunidade. Dar e ajudar
manifestam nossa generosidade e nosso desprendimento. O homem novo nasce
daquilo que ele dá e renuncia àquilo que deveria possuir para o bem maior.
Santo Agostinho dizia: “O defeito moral não se define pelo mal que se
intenta, mas pelo bem que se abandona... Deus não condena quem não pode fazer o
que quer, mas quem não quer fazer o que pode” ( Serm. 54,2). De
que maneira você ajuda sua comunidade?
P. Vitus Gustama,svd
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