SEGUIMENTO E SEU PREÇO
SER CRISTÃO CONVICTO E
CONSCIENTE
Sexta-Feira
da XVIII Semana Comum
08 de Agosto de 2014
Evangelho: Mt 16,24-28
Naquele
tempo, 24 Jesus disse aos discípulos: “Se alguém quer me seguir,
renuncie a si mesmo, tome sua cruz e me siga. 25 Pois quem quiser salvar
a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la.
26 De fato, de que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro mas perder a sua
vida? Que poderá alguém dar em troca de sua vida? 27 Porque o Filho do
Homem virá na glória do seu Pai, com os seus anjos, e então retribuirá a cada
um de acordo com a sua conduta. 28 Em verdade vos digo: Alguns daqueles
que estão aqui não morrerão antes de verem o Filho do Homem vindo com seu
Reino”.
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As
exigências do seguimento de Jesus das quais fala o evangelho deste dia são
repetidas seis vezes com variantes maiores e menores nos quatro evangelhos (Mt
16,24ss; Mc 8,34ss; Lc 9,23s; Jo 12,24ss; Lc 14,27; Mt 10,38s). Essa repetição
nos indica a importância dada pela Igreja dos apóstolos a essas exigências.
Os
discípulos já fizeram uma opção inicial por Jesus. Agora, diante das
implicações do seguimento se encontram diante de uma situação da escolha
definitiva. Para ser discípulo de Jesus não é suficiente a chamada; é
necessária uma resposta clara depois de ter consciência das condições que a
chamada impõe.
Ao
apresentar para os discípulos as condições do seguimento, Jesus não impõe, mas
propõe: “Se alguém quer...”. São João
Crisóstomo comentou: “Ele disse: Eu não forço nem obrigo ninguém a me seguir,
deixo a cada um dono de sua própria escolha; por isso, digo: Se alguém quer...”.
O seguimento não é uma imposição. Todos têm a liberdade de aceitar ou de
recusar. Mas quem quer seguir verdadeiramente a Jesus, tem que assumir as
exigências propostas por ele. Tudo tem que ser tomado na base da liberdade, da
obediência da fé e por amor.
A
primeira condição é a renúncia a si mesmo: “Se
alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo...” (v.24).
Pela renúncia
e pela cruz, Jesus não propõe uma destruição e sim um desenvolvimento, uma expansão
total e eterna. Por isso, renunciar a si mesmo ou negar-se a si mesmo significa
que a pessoa deixa de encontrar em si mesma “seu centro” (egoísmo), mas aberta
diante de Deus e do próximo. A renúncia não tem seu fim em si mesma. A renúncia
é a condição de uma vida em plenitude. A própria vida se converte em uma vida
de entrega com a possibilidade de sofrimento (cruz) sem nenhum tipo de
gratificação humana, pois a vida se entrega unicamente Àquele que é capaz de
dar sentido. Somente a pessoa que não se fecha ou não se encerra em si mesma
pode verdadeiramente realizar em plenitude sua própria vida em Deus.
Por
isso, renunciar a si mesmo não significa uma resignação cansada diante da vida
nem uma “entrega dos pontos” nem por falta de opções. Antes de tudo significa a
libertação da própria liberdade do egoísmo a que estava atada e que agora se
entrega inteiramente a Deus. O seguidor é chamado a colocar o próprio eu no
centro do interesse do Reino de Deus. O centro de sua vida está doravante na
vontade de Deus, manifestada para ele na pessoa e na missão de Jesus Cristo. E
esta entrega tem de ser livre para poder ser feita na alegria, no entusiasmo e
na generosidade. O seguidor é chamado à renúncia, a arriscar a própria vida,
porque só assim poderá, como Cristo, chegar à glória que é a meta de todo
caminho da cruz. Mas toda renúncia deve ter como base o amor. O sacrifício, a
renúncia de si mesmo que não seja animado pelo amor, que não seja uma
manifestação de amor, que não seja uma expressão de doação de si mesmo, que não
leve à comunhão com os outros é apenas uma tortura auto-infligida. A renúncia
que Jesus pede não é uma ação negativa. Ele pede amor, doação de si mesmo. Tudo
tem que ser feito por amor. Sem o amor, viveremos uma vida dupla. E este tipo
de vida, não traz a alegria verdadeira nem para si nem para os outros.
Renunciar a si mesmo é que faz qualquer um discípulo ou seguidor de Jesus.
A
segunda condição é o “carregar a sua cruz”:
“Se alguém quer me seguir, tome a sua cruz e me siga” (v.24b). Ser
cristão não significa curtir a dor. “Carregar a cruz” é uma expressão que os
primeiros cristãos utilizaram muito para expressar sua união com Jesus na sua
morte e ressurreição. É uma expressão relacionada ao mistério pascal de Jesus
Cristo. A cruz de Jesus é o maior sinal de seu amor por nós.
Viver fielmente os ensinamento de Jesus pode ter
conseqüências de sofrimento. Quem vive de acordo com a justiça e a honestidade,
será perseguido por quem vive na corrupção, na desonestidade e na injustiça. Ser
verdadeiro seguidor de Jesus jamais será isento de sofrimento ou cruz. Não dá
para parar de sofrer. A Igreja de Jesus é a Igreja dos mártires. A cruz é a
conseqüência de colocar o bem acima de qualquer interesse pessoal. É uma morte
do eu para que o outro possa viver. Jesus pede ao seguidor o esvaziamento total
de si mesmo, até a morte física, se for preciso. Quem não tiver esta disponibilidade,
ainda não é verdadeiramente seguidor de Cristo. Todo aquele que quer seguir a
Jesus incondicionalmente deve estar pronto para percorrer todos os passos da
Paixão, pois o “mundo” tenta crucificar e eliminar os seguidores de Cristo por
todos os meios, como aconteceu com Jesus.
Depois
dessas condições, Jesus mostra os motivos em forma de ditos paradoxais.
Em
primeiro lugar Jesus afirma que quem busca egoisticamente, a todo custo, usando
quaisquer meios, aproveitar, gozar e conservar a própria vida acaba
desperdiçando-a e perdendo-a: “Pois quem
quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de
mim, vai encontrá-la”. (Mt 16,25; cf. Mt 10,39; Mc 8,35; Lc
9,25;17,33; Jo 12,25).
Nossa vida
não é feita para ser guardada e sim para ser entregue e doada. Amar não é “sentir
emoção”, não é desejar possuir o outro. Amar é esquecer-se de si mesmo para
dar-se ao outro. Isso supõe muita renúncia. Toda vez que alguém tomar para si o
outro, ele deixa de amá-lo. Não podemos dizer que amamos o outro quando
queremos dizer somente para desfrutar do outro. Isso seria apenas amar a nós
mesmos. Amaremos de verdade quando formos capazes de nos renunciar, de nos
esquecer, de morrer a nós mesmo em beneficio daqueles aos quais amamos. Quem amou
muito e até o fim foi Jesus (cf. Jo 13,1; 15,13). E somos chamados de
seguidores de Jesus. Somos cristãos, isto é, somos de Cristo.
Querer
guardar para si a própria vida é o caminho mais seguro para perdê-la. Pelo
contrário, quem vive em função do serviço desinteressado aos outros na bondade
e no amor, ele acaba encontrando a vida na sua plenitude, acaba ganhando a vida
eterna. A vida só se encontra, doando-a. O próprio Jesus é o exemplo desta
doação. Ele se doou até o fim a Deus e aos homens. O homem muitas vezes somente
dá um pouco de sua vida. O verdadeiro cristão se doa tudo por amor.
No v. 26
Jesus repete o paradoxo anterior: “De
fato, que adianta ao homem ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua vida? O que
poderá alguém dar em troca de sua vida?” Possuir os bens deste mundo não
seria um mal em si mesmo, mas torna-se o maior dos males quando, por causa de
tais posses, o cristão é impedido de seguir a Cristo ou de viver os valores do
Reino de Deus. Jesus, certamente, rejeitou o “mundo inteiro” que o Tentador lhe
oferecera, pois o preço da oferta era a idolatria (Mt 4,8s). “Desapeguemos
o coração de todas as criaturas. Quem está agarrado a alguma coisa da terra,
ainda que mínima, nunca poderá voar e unir-se todo a Deus” (S. Afonso
de Ligório). Ainda que alguém ganhasse o mundo inteiro (riqueza, glória,
poder), a vida é efêmera. Na ótica da fé, todas as riquezas do mundo são
insignificantes quando o que está em jogo é a vida em plenitude (eterna) que
Jesus oferece aos que o seguem.
Jesus
nos ensina o caminho do amor. Não há amor verdadeiro sem renúncia. Para amar
tem que aprender a sacrificar-se. Quem busca a si mesmo e seus próprios
interesses, nunca experimentará o verdadeiro amor que faz feliz a alma. Somente
poderemos ser cristãos se nos amarmos uns aos outros (cf. Jo 15,12). Amar de
verdade supõe o sofrimento, supõe cruz. uma boa maneira de fazê-lo é servir aos
outros ao meu redor com pequenos detalhes e não queixando-me diante dos
inconvenientes típicos de cada jornada.
O
fundamento último da nossa opção pelo seguimento incondicional de Cristo é a
certeza, dada pela fé, de que o Filho do Homem virá um dia na sua glória
(v.27). Ele terá a última palavra sobre o homem. Essa palavra será uma palavra
da graça divina para quem segue a Jesus incondicionalmente por amor. O juízo
final torna-se, então, a medida para avaliar a existência histórica e ao mesmo
tempo a bússola que orienta a vida do cristão nas escolhas justas e sensatas na
vida diária neste mundo.
P.
Vitus Gustama,svd
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