25/02/2015
CONVERTER-SE PARA VIVER NA ALEGRIA DIVINA
Lc 11,29-33
Naquele tempo ,
29quando as multidões se reuniram em
grande quantidade ,
Jesus começou a dizer : “Esta geração
é uma geração má. Ela
busca um
sinal , mas
nenhum sinal
lhe será dado ,
a não ser o sinal de Jonas. 30Com efeito ,
assim como
Jonas foi um sinal
para os ninivitas, assim
também será o Filho
do Homem para
esta geração . 31No dia do julgamento , a rainha do Sul se levantará juntamente com
os homens desta geração ,
e os condenará. Porque ela veio de uma
terra distante
para ouvir a sabedoria de Salomão. E aqui
está quem é maior
que Salomão. 32No dia do julgamento , os
ninivitas se levantarão juntamente com esta geração
e a condenarão. Porque eles se converteram quando
ouviram a pregação de Jonas. E aqui está quem
é maior do que
Jonas”.
----------------------------
No texto
do evangelho lido neste dia, Jesus
convida seus ouvintes para a conversão e a penitência na versão de Lucas. O
evangelista Lucas demonstra maior interesse na idéia da conversão do que Marcos
e Mateus juntos. As palavras básicas para a conversão em Lucas ocorrem com mais
freqüência (metanoia, 5x; metanoeo, 9x). O evangelista Lucas desenvolve o entendimento
da conversão, ligando-a explicitamente a outros temas como perdão e
reconciliação, a salvação, a misericórdia divina e a alegria. Lucas quer nos
mostrar que a conversão é algo prazeroso, pois nos traz a alegria de se
libertar de uma situação que não nos salva. A conversão nos faz voltarmos para
a comunhão (reconciliação). Consequentemente, o convite para a conversão é um
convite para a alegria.
Os seus
contemporâneos pedem a Jesus um sinal para demonstrar ou comprovar que Ele é
verdadeiramente Messias de quem
falavam Moisés e os profetas . Ao pedir um sinal , eles
renovam a tentação do deserto
(cf. Ex 16,1-17,7). Eles querem que Jesus proporcione uma prova
palpável , isto
é, a prova experimental que
se exige na ordem das coisas materiais ou físicas. É uma forma clara da
negação da messianidade de Jesus apesar das evidências. A exigência de uma
demonstração física, de um sinal que elimine toda dúvida esconde, no fundo, a
recusa da fé e, portanto, demonstra também a recusa do amor, pois o amor exige,
por sua mesma essência, um ato de fé, um ato de entrega de si mesmo.
Jesus é, mais
uma vez , tentado (cf. Lc 4,1-13). Diante desta tentação Jesus responde: “Esta geração
é uma geração má. Ela busca um sinal, mas nenhum sinal lhe será dado, a não ser
o sinal de Jonas. Com efeito, assim como Jonas foi um sinal para os ninivitas, assim também será
o Filho do Homem para esta geração”.
O livro
de Jonas (uma parte lemos na primeira leitura) no qual Jonas é protagonista
citado por Jesus não é um relato histórico e sim didático. Mediante esquemas e
repetições neste livro, o autor quer nos inculcar que Deus é, antes de tudo,
misericordioso, perdoa a todos, inclusive aos pagãos desde que se convertam.
Para nos inculcar esta mensagem tão extraordinária o autor nos apresenta neste
relato o protagonista Jonas.
Jonas não se dirige a Nínive como
missionário, e sim como executor do juízo implacável de Deus sobre os nivitas.
Sua expedição é, antes de tudo, punitiva: “Ainda quarenta dias, e Nínive
será destruída” (Jn 3,4). É assim que pensa Jonas que reflete o pensamento
dos judeus na época. Para os judeus (na época) o juízo consiste em fazer
justiça para Israel castigando e destruindo os pagãos. Pensam também que Deus
perdoa a Israel em vez de castigá-lo (cf. Jr 18,7-8). É claro que este
pensamento é inconcebível para os pagãos.
A conversão
imediata dos ninivitas diante da pregação de Jonas é, na verdade, uma crítica
para os próprios judeus na época, inclusive para seus reis. O rei de Nínive se
arrependeu diante da pregação de Jonas (Jn 3,5-8), enquanto que alguns reis de
Israel ou o rei de Judá se recusaram a se converter (cf. Jr 36,24). O autor
quer também envergonhar seus contemporâneos (os judeus) por sua lentidão em se
converterem (Jr 7,25-26; 25,4; 26,5 etc.), enquanto que Nínive se converteu
desde o primeiro sinal ou desde a primeira pregação de Jonas.
Não consideramos também que os
outros sejam pecadores que merecem castigo severo de Deus e nós próprios nos
esquecemos de nos converter? Não somos nós também novo Jonas que quer a
destruição dos outros ou sua eliminação desta terra em vez de torcer e rezar
pela sua conversão? No nosso coração não mora, de vez em quando, o desejo
vingativo e espera uma ação punitiva de Deus sobre nosso suposto inimigo ou
adversário? Se nós desejamos, assim, não devemos nós mesmos nos converter,
primeiro?
O tema fundamental do livro de Jonas
é a conversão. O vocábulo grego para a conversão é metanoia. Metanoia quer
dizer literalmente mudança de mentalidade. A conversão envolve mudança. Quando a Bíblia fala de
conversão, isso envolve a pessoa toda: seu senso moral, sua capacidade
intelectual e sua vida espiritual. Na conversão corpo, mente e alma juntos são
afetados pelo ato da conversão, e as conseqüência são sentidas em todos os
aspectos da vida da pessoa (pessoal, familiar, social, político etc.). Por
isso, a conversão opõe-se à manutenção do status quo, ao
conservadorismo, pois sempre envolve movimento de uma dimensão para outra. Trata-se de abandonar as velhas categorias de
julgar e de pensar para tomar novos critérios para ver a vida crescer na
direção de Deus e do irmão. Converter-se é desandar o caminho, é pôr os pés
onde está a cabeça (isto é, viver de acordo com uma nova visão) e colocar a
cabeça onde estão os pés.
Lembremo-nos de que Deus, por causa
de sua misericórdia por nós, está contra a Si próprio, pois ele poderia usar de
justiça contra todos nós, pecadores diários (ninguém está livre de pecar com
pensamentos, palavras, atos, omissões etc. diariamente). A misericórdia de Deus
é maior do que sua justiça. Nem o próprio Jonas consegue escapar dessa
misericórdia. A misericórdia de Deus se estende a todos.
A raiz
da equivocada exigência de um sinal da
parte dos contemporâneos de Jesus não é outra coisa que o egoísmo , um coração impuro ,
um coração duro que unicamente espera de Deus o êxito pessoal ,
a ajuda necessária
para absolutizar
o próprio ego
(eu ). Esta forma
de religiosidade representa a recusa fundamental
da conversão .
Quantas vezes
nos tornamos escravos
do sinal do êxito !
Quantas vezes pedimos um sinal e nos fechamos diante
da chamada à conversão !
Nós queremos, muitas vezes, milagres de
Deus e Deus poderia dizer: “Me largue! Pois vocês devem ser a luz do mundo e o
sal da terra” (cf. Mt 5,13-16). Quantas vezes
esperamos a demonstração , o sinal
do êxito , tanto
na história universal
como em
nossa vida
pessoal ! E perguntamos até que ponto nós cristãos transformamos realmente
o mundo ? Até
que ponto nós cristãos
demonstramos os princípios cristãos e damos provas
de nosso êxito
criando o paraíso na terra !?
O próprio
Jesus, em sua
Palavra e em
sua inteira
personalidade é sinal
para todas as gerações .
Por isso ,
no evangelho de João, Jesus diz: “Quem me vê , vê o Pai ” (Jo 14,8s). O Pai
se faz visível no Filho .
É ver Jesus e aprender a
vê-Lo! Esta é a resposta . Para
isso , é preciso
que contemplemos Jesus em Sua Palavra inesgotável ,
em seus
mistérios : nos
mistérios de Seu
nascimento, nos mistério
de sua vida
oculta num vilarejo de Nazaré, nos mistérios
de sua vida
publica, no mistério pascal ,
nos sacramentos ,
na história da Igreja
com a qual
Ele caminha
(Mt 28,20).
O Senhor que é rico em misericórdia
quer que
também sejamos misericordiosos para com os demais (cf. Lc 6,36). A misericórdia é querer o bem
até para aqueles que nos machucaram, pois a misericórdia é amar até aqueles que
não merecem ser amados do ponto de vista humano a exemplo de Jesus (cf. Lc
23,34). A misericórdia tem sempre a grande
atração de fazer-nos semelhantes a Deus
e de sermos sinais de seu amor para este mundo (cf.
Mt 5,43-48).
O Senhor nos reúne na Eucaristia
para nos fazer conhecermos Sua
vontade . Não
viemos somente para rezar a fim de
expor-lhe nossas angustias e esperanças .
Viemos porque queremos entrar
em comunhão
de vida com
Ele para estar em comunhão de vida
com os demais .
Jesus se queixa
dos seus contemporâneos
porque eles
pedem um sinal
do céu para comprovar que ele é o Messias . Mas Jesus recusa qualquer
tipo de sensacionalismo .
Será que Jesus tem motivos
para queixar-se de nós ? Sim , se não nos
convertermos.
A Quaresma é um tempo oportuno para
a conversão e a confissão. A confissão é o momento do encontro de dois amores:
o amor misericordioso de Deus por mim que não se esgota jamais, e meu amor por
Deus no próximo (cf. Jo 15, 12). A confissão sincera deixa no nosso coração uma
grande paz e alegria.
P. Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário