07/09/2015
DIGNIDADE
DE UM SER HUMANO ESTÁ ACIMA DA LEI NO CRITÉRIO JESUS
SOMOS CHAMADOS A FAZER O BEM
Segunda-Feira
da XXIII Semana Comum
Evangelho: Lc 6,6-11
Aconteceu num dia de sábado que, 6 Jesus entrou na sinagoga, e começou a ensinar. Aí
havia um homem cuja mão direita era seca. 7 Os mestres da Lei e os fariseus o observavam,
para ver se Jesus iria curá-lo em dia de sábado, e assim encontrarem motivo
para acusá-lo. 8
Jesus, porém, conhecendo seus pensamentos, disse ao homem da mão
seca: “Levanta-te, e fica aqui no meio”. Ele se levantou, e ficou de pé. 9 Disse-lhes
Jesus: “Eu vos pergunto: O que é permitido fazer no sábado: o bem ou o mal,
salvar uma vida ou deixar que se perca?” 10 Então Jesus olhou para todos os que estavam
ao seu redor, e disse ao homem: “Estende a tua mão”. O homem assim o fez e sua
mão ficou curada. 11 Eles ficaram com muita raiva, e começaram a
discutir entre si sobre o que poderiam fazer contra Jesus.
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“Multiplicamos os lugares e coisas
sagradas para nos eximirmos de reverenciar o homem, que é o mais sagrado sobre
a terra. Rasgamos nossas roupas quando alguém profana um templo, e nos tornamos
insensíveis diante da profanação diária do homem. Não endeuse as pessoas
notáveis, esquecendo que toda pessoa é sagrada”
(René Juan Trossero, escritor e psicólogo
argentino).
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Estamos na parte do evangelho de Lucas onde
se encontram cinco discussões ou controvérsias entre Jesus, de um lado, e os
fariseus e escribas, do outro lado (Lc 5,17-6,11). Jesus é Aquele que vem para
dar o perdão àqueles que O acolhem com fé e simplicidade (Lc 5,17-26). Para os
fariseus e escribas quem pode perdoar é somente Deus. Ao perdoar o paralítico,
segundo eles, Jesus está blasfemando (Lc 5,21). Jesus é Aquele que vem como
“médico” que cura os males e acolhe os pecadores para mostrar-lhes o caminho de
Deus, possibilitando-lhes, assim, a conversão (Lc 5,27-32). Os fariseus e
escribas não aceitam o comportamento de Jesus ao comer e beber com os
cobradores de impostos e os pecadores (Lc 5,30), pois isso mostraria o
nivelamento das relações. Para eles os publicanos e os pecadores têm que ser
excluídos da convivência, pois são perdidos da Lei de Deus. Jesus é aquele que
vai ao encontro dos excluídos. Mas os fariseus e escribas querem manter a os
excluídos fora da comunidade. Nas outras três controvérsias Jesus mostra o
caminho da liberdade em oposição ao legalismo dos fariseus e escribas: Jesus
mostra qual é o significado do verdadeiro jejum (Lc 5,33-39), como deve se
comportar diante da vida em jogo (fome e doente) mesmo que esse comportamento
esteja contrário à lei sabático (Lc 6,1-11), mostrando que o sábado foi feito
para o homem e não o contrário (cf. Lc 6,5). Em nome do homem que necessita da
salvação Jesus é capaz de “transgredir” a lei por sagrada que ela pareça ser.
Outra vez Jesus vai à sinagoga com uma
finalidade bem precisa: para ensinar (cf. Lc 4,15.16-38; 6,6). Desta vez Jesus
encontra na sinagoga um homem com a mão direita seca. A “mão direita seca” é um
detalhe importante para o evangelista Lucas. Como em outras ocasiões também
desta vez Jesus toma a iniciativa para entrar em contato com o homem enfermo
(com a mão direita seca). Os fariseus ficam de olho em Jesus para ver se Jesus
ai curar o enfermo no dia de Sábado, dia sagrado para os judeus. Diante do seu
olhar incriminador e clínico Jesus lança a seguinte pergunta: “O que é permitido fazer no Sábado: o bem ou o mal, salvar
uma vida ou deixar que se perca?”. Os
fariseus sabiam das exceções nas quais a Lei pode ser violada quando a vida está
em perigo. Todos sabem que a omissão do bem é um mal. Não praticar o mal não
significa que alguém pratique o bem. Mas quem pratica o bem se afasta do mal. “É fácil odiar o mau por ser mau. O difícil é
amá-lo por ser homem” (Santo Agostinho. Epist. 153,3).
Não é fácil suportar na terra Aquele que
declara o fim da falsidade, da opressão, do legalismo, da exclusão, da religião
fácil e cômoda, da religião que se preocupa apenas com as regras ou com os
preceitos e não com a necessidade vital de um ser humano. É muito difícil
aceitar alguém como Jesus que coloca a pessoa humana acima de qualquer lei
religiosa e de qualquer atividade quando sua vida, principalmente está em
perigo ou está sendo ameaçada. O “defeito” de Jesus é fazer o bem para qualquer
pessoa e em qualquer situação e lugar sem se preocupar com a lei religiosa ou
comentários dos outros. Jesus passou a vida fazendo o bem, pois “Deus estava
com Ele”, assim disse Pedro na sua pregação (At 10,38). Em nome do bem que deve
ser realizado Jesus não quer saber das leis por sagradas que elas pareçam ser
nem quer saber se o dia é o de preceito ou não. Em nome de um ser humano
necessitado de libertação, Jesus não quer saber das conseqüências por graves
que elas sejam como a morte na cruz. Em nome de um ser humano necessitado de
libertação Jesus é capaz de “transgredir” uma lei que para o ser humano é
sagrada. Para Jesus o que é sagrado é o ser humano, pois ele é o filho de Deus
e é o templo do Espírito Santo (1Cor 3,16-17).
Por isso, aquele que é marginalizado e
excluído é colocado no meio (Lc 6,8). Ao ser colocado no meio, o homem
necessitado se torna centro para todos. Como se Jesus quisesse dizer aos
presentes: “Em tudo o ser humano deve ser levado em consideração e deve ser o
foco de qualquer atividade. O ser humano está acima da lei. A leu existe para o
ser humano”. Aquele que estava à margem
segundo os critérios da sociedade, está no meio pelos critérios de Jesus. E
Jesus o curou mesmo sendo num sábado, o dia sagrado para os seus
contemporâneos. Para Jesus a libertação dos necessitados é mais importante do
que todas as regras sabáticas por mais sagradas que elas pareçam ser. O amor
pelo ser humano para Jesus é a exigência absoluta de sua vida (cf. Rm 13,10). “A falta de amor é a maior de todas as
pobrezas... Quem julga as pessoas, não tem tempo para amá-las” (Madre
Teresa de Calcutá). O amor é que norteia toda a atividade de Jesus mesmo que
ele seja odiado por isso. Podemos entender a pergunta feita por Jesus para
todos os presentes para que seja refletida: “O que é permitido fazer no Sábado:
o bem ou o mal, salvar uma vida ou deixar que se perca?” (Lc 6,9). O livro de
Provérbio diz: “Não negues um favor a quem necessita, se tu podes fazê-lo”
(3,27). ... “O desejo dos justos é somente o bem, a esperança dos ímpios é a
cólera” (11,23).
Dentro desse pensamento não é por acaso que o
evangelista Lucas coloca o seguinte detalhe: “Aí havia um homem cuja mão
direita era seca” (Lc 6,6b). Nas culturas antigas, a mão direita
simbolizava o poder de fazer o bem. E a mão esquerda simbolizava o poder de
fazer o mal. No julgamento final, segundo o evangelho de Mateus, os que
praticarem o bem (as ovelhas), ficarão do lado direito (cf. Mt 25,33-40) e os
cabritos (os que deixam de praticar o bem) ficarão do lado esquerdo (cf. Mt 25,41-45).
No Credo rezamos: “Jesus subiu aos céus e está sentado à direita
de Deus Pai todo-poderoso”. Até para cumprimentar alguém normalmente apertamos
a mão direita.
Ao dizer que aquele homem estava com a mão
direita seca, Lucas quer nos dizer que esse homem estava impossibilitado de
praticar o bem. Somente a mão esquerda é que
estava funcionando, isto é, as suas obras não eram boas do ponto de vista moral
e ético. É provável que as pessoas o evitassem. Ninguém quer se relacionar com
as pessoas más a não ser que tenha algum interesse mau também.
Mas em vez de afastar esse homem da
convivência, Jesus o chamou para ficar no meio de todos, não para envergonhá-lo
e sim para salvá-lo ou para libertá-lo de todas as obras de maldade e que todos
são chamados a ser parceiros do bem. Para isso, o ser humano tem que ocupar o
lugar central nas atividades e não os interesses mesquinhos muito menos usar a
religião para marginalizar os outros.
A partir do evangelho de hoje cada um de nós
precisa se perguntar: que lugar ocupa o ser humano nas minhas atividades
diárias, tanto pessoal como profissionalmente? Será que sou capaz de
“transgredir” uma norma religiosa em função da libertação de um ser humano, de
uma vida sem sentido? Se a mão direita
simbolizava o poder de fazer o bem e a mão esquerda, o poder de fazer o mal,
qual “mão” que está funcionando mais na minha vida: a mão direita ou a mão
esquerda? Você tem certeza de que você estará sentado à direita do Pai quando
chegar sua hora de partir deste mundo? “A
caridade cristã é tridimensional. Pratica-se na terra pelas boas obras e busca
ajudar a quem necessita: eis a sua profundidade. Sofre as adversidades
pacientemente e persevera na verdade: eis sua extensão. Tudo faz com vistas a
obter a vida eterna: esta é sua magnitude” (Santo Agostinho. Epist.
140,25).
Para Rezar e Refletir:
“Senhor, meu Deus! Quando contemplo o firmamento, obra de
vossos dedos, a lua e as estrelas que lá fixastes: Que é o homem, digo-me
então, para pensardes nele? Que são os filhos de Adão, para que vos ocupeis com
eles? Entretanto, vós o fizestes quase igual aos anjos, de glória e honra o
coroastes. Destes-lhe poder sobre as obras de vossas mãos, vós lhe submetestes
todo o universo. Rebanhos e gados, e até os animais bravios, pássaros do céu e
peixes do mar, tudo o que se move nas águas do oceano. Ó Senhor, nosso Deus,
como é glorioso vosso nome em toda a terra!” (Salmo 8, 4-10).
P.
Vitus Gustama,svd
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