11/09/2015
SER
AUTOCRÍTICO LEVA O CRISTÃO A SER BOM LÍDER
Sexta-feira
da XXIII Semana Comum
Evangelho:
Lc 6,39-42
Naquele tempo, 39
Jesus contou uma parábola aos discípulos: “Pode um cego guiar outro cego? Não
cairão os dois num buraco? 40 Um discípulo não é maior do que o mestre; todo
discípulo bem formado será como o mestre. 41 Por que vês tu o cisco no olho do
teu irmão, e não percebes a trave que há no teu próprio olho? 42 Como podes
dizer a teu irmão: Irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho, quando tu não vês
a trave no teu próprio olho? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e
então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão”.
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“Se queres conservar tua inocência, não
consintas nas más ações dos outros, nem julgues precipitadamente suas
intenções”
(Santo Agostinho. Epist. Ad cath. 2,4)
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O texto do
evangelho de hoje faz parte do Sermão da Planície de São Lucas (Lc 6,20-49).
Neste Sermão encontramos varias sentenças de Jesus sobre como devemos conviver
com os demais, como devemos tratar os outros? E de que maneira podemos olhar
para os defeitos dos outros e os nossos próprios defeitos. De que precisamos
para sermos bons guias para os demais?
Ser Líder
Autocrítico
“Pode um cego guiar
outro cego? Não cairão os dois num buraco?”, disse Jesus no
Evangelho de hoje.
Liderança não é um
cargo e sim uma responsabilidade, pois um líder tem entre tantas outras a
tarefa de guiar os outros. Trata-se de uma grande responsabilidade. Ter
responsabilidade significa ser coerente com os próprios atos, e com os valores
reconhecidos universalmente. Responsabilidade e vivência de valores andam
inseparavelmente. Guiar os outros significa envolver-se na vida deles. Por
isso, a liderança é uma missão sagrada. Um bom líder sempre se esforça para
aproximar-se do nível superior e evoluir na vivência de valores.
Por isso, o melhor
teste para você saber de sua boa liderança é através das seguintes perguntas: Você
deixou as coisas melhores do que as encontrou? As pessoas ficaram e ficarão felizes
por terem convivido com você como líder? As pessoas se aperfeiçoam por causa do
convívio com você? Liderança é a marca que você deixa na organização, no grupo,
na família, nas pessoas, e assim por diante.
No Evangelho de
hoje, Jesus pede uma autocrítica para qualquer liderança. Na ausência da
autocrítica qualquer líder é incapaz de reconhecer suas fraquezas e limitações
e ainda se arrogam o direito de ser juízes para os demais.
Um bom líder tem
um agudo senso de autocrítica. Ele reconhece seus pontos positivos e seus
pontos negativos. Ele aceita qualquer correção quando houver fundamentos. Ele
transforma as críticas em sugestões, pois no seu coração há misericórdia e
mansidão. Quanto mais transparente for o líder tanto mais estará capacitado
para ajudar o próximo. Um líder que ama, é respeitado. Um líber temido não é
respeitado, e ele cria muitos hipócritas e bajuladores ao seu redor. O medo que
os outros têm de um líder não mede a autoridade dele e sim seu poder
autoritário. Quando um líder apela para a força e o poder é porque não tem mais
autoridade nele.
Somente um ser humano livre e consciente é
capaz de guiar os demais. Enquanto a pessoa for dominada pelas ambições, pelo
egoísmo, pela arrogância, pelos interesses egoístas, ou pela violência será
incapaz de ver melhor e incapaz de guiar os outros. Jesus, precisamente, formou
seus discípulos em uma atitude crítica, serena e responsável que lhes permitem
ver e amar os outros e a realidade com benevolência. Quem quer conduzir seu
próximo pelo caminho do amor, da fidelidade, da retidão, antes deve deixar-se
conduzir por Cristo pelo mesmo caminho.
Ser
Pessoa Autocrítica
“Como podes
dizer a teu irmão: Irmão, deixa-me tirar o cisco do teu olho, quando tu não vês
a trave no teu próprio olho? Hipócrita! Tira primeiro a trave do teu olho, e
então poderás enxergar bem para tirar o cisco do olho do teu irmão”,
continuou Jesus no Seu Sermão da Planície.
Jesus quer nos
dizer de outra maneira: Abram os olhos sobre vocês mesmos! Critiquem-se! Sejam
vocês mesmos objeto de sua própria crítica! Vocês que percebem facilmente os
defeitos dos outros que não pensam como vocês, procurem também ter em conta seus
próprios defeitos. Que não condenem uns aos outros, que tratem os outros com
mais indulgência. Que vocês sejam compassivos e misericordiosos como Deus Pai
que é compassivo e misericordioso. Santo Agostinho dizia: “Quanto mais curioso torna-se o
homem por conhecer a vida alheia, tanto mais relaxado se torna para consertar a
sua própria” (Confissões,
10,3). De outra maneira Santo Agostinho dizia: “Quanto menos atenção o homem presta aos seus próprios
pecados, tanto mais curioso ele se torna em relação aos alheios. Não podendo
desculpar-se a si mesmo, trata de salvar a pele acusando os outros”
(Serm. 19,2). E o mesmo Santo
Agostinho nos deu o seguinte conselho: “Aceita tua imperfeição. É o primeiro passo para
alcançares tua perfeição (Serm.
142,10). Entra em
ti mesmo. Examina-te. Julga-te. Espero que tenhas capacidade suficiente para não
enganares a ti mesmo... Basta-me que ouças a ti mesmo, a sós, e sem testemunhas”
(Serm. 13,6,7).
As palavras de
Jesus são um chamado para que descubramos nosso próprio pecado, a “trave” que
há em nossos olhos. As palavras de Jesus nos chamam para a coerência e a
autoridade moral que devemos ter na correção fraterna. Se assim fizermos, nossa
correção fraterna será respeitada.
A revisão de vida
é um exercício espiritual eminentemente evangélico: trata-se de reconsiderar-se
a si mesmo, de revisar a própria vida e o próprio caminho e os próprios
compromissos. Não temos que nos fixar tanto nos defeitos dos demais e sim nos
nossos próprios defeitos. Se não, seriamos hipócritas.
O evangelho de
hoje nos convida a olharmos para o mundo e para os outros com o mesmo olhar de
Jesus: um olhar de benevolência. Os olhos são como um espelho no qual se
reflete o mundo e os outros. Há pessoas para as quais toda a realidade é triste
e está sujeita para lamentações. Como se tudo fosse mal. O mundo toma cor de
nosso olhar.
Jesus nos convida
a olharmos tudo com seu olhar: um olhar benévolo. Jesus quer nos dizer: “Sejam
pessoas consagradas à misericórdia! Sejam benévolos com vocês mesmos e com os
outros. Aprendam a olhar com menos severidade. Se tiver algum sentimento de
antipatia, que sua antipatia se transforme em humor. Sejam benévolos com o
mundo, pois foi Deus quem criou o mundo. E Deus foi o primeiro que se admirou
da obra saída de Suas mãos nos primeiros dias do universo: ‘Deus viu que tudo
era bom!’ (Gn 1,10b.12b.18b.21b.25b.31). Vivam bem a vida, pois Eu sou a vida
(Jo 14,6)”.
Ser benévolo não
significa ser indiferente nem ser ingênuo. A palavra “benévolo” deriva de duas
palavras: bem e querer. Ser benévolo significa querer sempre o bem para tudo e
para todos. Ser benévolo também significa ser responsável, ser bom, ser
vigilante, denunciar as ilusões, os valores falsos, e as palavras enganosas. A
benevolência é uma responsabilidade e a assunção de um dever. E a razão de
nossa benevolência é o próprio Deus da misericórdia que tem paciência para
conosco que mesmo que cometamos erros na vida Ele perdoa tudo e sua graça
jamais falha.
Enquanto não
adquirirmos um olhar misericordioso e benévolo, nós não estaremos em condições
de guiar os outros e nada mudará na nossa vida. O que se tem por guia deve
“ver” bem, assim também aquele que quer passar de discípulo para mestre.
Na verdade, o que
Jesus nos oferece é um processo educativo ético. Segundo Jesus, o mais urgente
é tomar consciência da própria hipocrisia e trabalhar sobre ela. Jesus nos
apresenta cinco etapas desta pedagogia ética, que para Lucas é uma pedagogia
eclesial:
1. Renunciar a ser juiz dos demais.
2. Abertura para as palavras de Jesus que me interpelam com amor e
esperança.
3. Reconhecimento dos meus próprios defeitos ou pecados.
4. Compromisso de ser um ser humano novo e renovado no espírito de Jesus.
5. Somente assim terei condições de ser guia ou mestre para os outros.
Na vida o viver para os demais, respeitando
e aprovando a verdade, não é somente um dever, mas é uma grande felicidade.
Somente ao fazer os outros felizes, seremos felizes também.
Através do evangelho de hoje Jesus nos
convida a fazermos revisão de nossa conduta, pois muitas vezes vemos e não
queremos saber o que vemos, entendemos e não queremos saber o que entendemos,
está diante de nós a verdade e retiramos o olhar para não sentir feridos. A
verdade liberta, a falsidade dói.
O Senhor nos reúne em torno da mesa eucarística
para nos libertar de nossas diversas escravidões. Ele quer nos enviar como
testemunhas suas, mas quer que façamos a experiência de seu amor
misericordioso. Ele entregou sua vida para o perdão de nossos pecados. Ele nos
fez partícipes de sua vida e derramou em nossos corações o dom de seu Espírito
Santo. Por isso, a participação na Eucaristia não é para nós somente um ato de
culto para Deus, mas também é a aceitação de nos fazer um com Cristo, de nos
identificar com Ele e de anunciá-Lo tanto com as palavras como com a própria
vida.
P.
Vitus Gustama,svd
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