22/09/2015
SER MEMBRO DA FAMÍLIA DE
JESUS, ESCUTANDO E VIVENDO CONFORME A PALAVRA DE DEUS
Terça-feira da XXV Semana
Evangelho: Lc 8,19-21
Naquele tempo, a mãe e os irmãos de Jesus aproximaram-se, mas
não podiam chegar perto dele, por causa da multidão. 20 Então anunciaram a
Jesus: “Tua mãe e teus irmãos estão aí fora e querem te ver”. 21 Jesus
respondeu: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles que ouvem a Palavra de Deus, e
a põem em prática”.
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“Tua mãe e teus irmãos estão aí fora e
querem te ver”.
Nesta frase os familiares de Jesus não são mencionados
por seus nomes: “Tua mãe e teus irmãos” (cf. também Mt 12,46-50) e querem “ver” Jesus.
Por não citar os
nomes, “a mãe” aqui representa Israel enquanto origem de Jesus. “Os irmãos”
representam o mesmo Israel enquanto membros do mesmo Povo eleito. Israel (mãe e
irmãos) fica “fora” em vez de estar com Jesus.
A resposta de Jesus é
esta: “Minha mãe e meus irmãos são aqueles, que ouvem a Palavra de Deus e a
põem em prática”. Sua nova família está aberta à humanidade inteira para
quem quer escutar e viver de acordo com a Palavra de Deus.
Diante do velho
parentesco de sangue, Jesus funda, esntão, as bases da nova família de Seu
Reino, no qual fazem parte aqueles que recebem e cumprem Sua Palavra com dois
traços. Primeiro, é preciso “escutar a Palavra”, isto é, estar aberto
diante da graça recebendo o dom de amor que Deus ofereceu em e através de
Jesus. Para escutar bem a Palavra de Deus temos que nos esvaziar de tudo para
que nossa vida seja plenificada pela Palavra Divina. Segundo, há que cumprir a
Palavra. Somente aquele que traduz a Palavra de Deus em sua vida, que vive de
acordo com a Palavra de Deus, faz parte da família de Jesus. Neste sentido, ser
cristão significa viver no mistério do amor que Deus nos comunica como nova
possibilidade de existência. E este amor se torna um princípio de nossa existência:
Devemos ser pontes do amor de Deus para que ele chegue aos outros. Em Jesus e
por Jesus, encarnação do amor de Deus, os homens, que escutam Sua Palavra e a
vivem conforme essa Palavra, constituem uma mesma família com Jesus.
“Minha mãe e meus irmãos são aqueles,
que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática”.
A comunidade com Jesus consiste no ouvir e
no tornar realidade a Palavra de Deus. Maria é a mãe de Jesus por causa do seu
“sim” total e absoluto, dado um dia à Palavra de Deus. “Faça-se em mim
segundo a Tua Palavra” (Lc 1,37), disse Maria, a mãe de Jesus na Anunciação.
Maria guarda cada Palavra e a medita em seu coração (Lc 2,19). Ela leva a
Palavra a Isabel, e seu anúncio é tão rico que transborda em um cântico chamado
“Magnificat” (Lc 1,46-55). Maria é o coração bom que retém para irradiar a
Palavra de Deus e produz fruto com constância. Maria foi um “sim” à Luz e deu a
luz a Luz do mundo (Jo 8,12). Por isso, o texto do evangelho deste dia é um
grande elogio de Jesus a Maria, sua mãe que entregou totalmente sua vida e sua
vontade a Deus para o bem de todos. Maria escuta a Palavra de Deus, medita-a e
vive de acordo com esta Palavra. Maria é de Deus e está cheia da graça de Deus
(cf. Lc 1,28) e por isso, ela é do povo e para o povo. Ela é espelho no qual
podemos nos espelhar na vivência da Palavra de Deus.
Para escutar bem precisamos criar o silêncio
dentro de nós e ao nosso redor. O silêncio cria ressonância à Palavra. Para
escutar bem é necessário que estejamos vazios de nós mesmos: “Estar vazio de
toda criatura é estar cheio de Deus. E estar cheio de toda criatura é estar
vazio de Deus” (Meister Eckhart). O silêncio é um vazio em que a plenitude
se torna presente. O silêncio nos ajuda a calarmos em nós a fantasia, o nosso
rancor, o nosso ódio, o nosso medo, a nossa angústia, a nossa indiferença, o
nosso mau humor, a nossa inveja, o nosso orgulho, ou o nosso ser em geral, e a
limparmos da alma tudo quanto nos possa perturbar para ouvir a verdade de Quem
é maior que nós: Deus.
Cada um de nós é vítima da agressão externa
de hordas de palavras, de sons, de clamores, que ensurdecem o nosso dia e até
mesmo, às vezes, a nossa própria noite. Somos agredidos e envolvidos pelo
multilóquio mundano que, com mil futilidades, nos distrai e nos dispersa. Só
depois do amor ao silêncio é que despertará a nossa capacidade de escuta.
Quando compreendemos a Palavra de Deus como
um chamado urgente para ser escutada é que conseguimos perceber melhor o que
está em jogo na nossa vida. É a Palavra de Deus que nos mostra o que fazer e
como fazer.
Uma comunidade somente pode ser chamada de a
Igreja de Cristo, se cada um de seus membros souber viver de acordo com a Palavra
de Deus. O que nos une é a vivência da Palavra de Deus. O povo eleito foi
formado não por decreto, mas pela escuta e pela obediência à Palavra de Deus. A
Igreja de Cristo é edificada pela Palavra de Deus. Esta é a alma da Igreja e a
Igreja é seu fruto. Da Palavra de Deus brota sempre Igreja viva. Somos cristãos
não por decreto, mas pela convicção e pela opção. Ser cristão significa viver
no mistério de amor que Deus nos comunicou através de Jesus, Deus encarnado,
como nova possibilidade de existência. A partir desse amor de Deus que nos é
oferecido nós devemos ser ponte de amor para os outros. Os irmãos e as irmãs se
reconhecem mutuamente pela mesma prática do amor fraterno, pela disposição a
viver reconciliados e a trabalhar juntos pela causa de Jesus.
Além desse amor mútuo, outra característica
da comunidade de Jesus é o serviço mútuo. Quando um começar a servir o outro na
comunidade, todo tipo de rivalidade desaparece. Mas quando cada um começar a se
considerar como o mais importante do que os outros, a disputa e a briga vão
começar a acontecer na própria comunidade e a comunidade perderá sua força para
dar testemunho. Se cada membro deixar de cuidar do outro membro da comunidade,
a comunidade vai formar uma comunidade de traidores, como Judas que traiu o
próprio Mestre. E as palavras de Mahatma Gandhi vão ter que soar novamente nos
nossos ouvidos: “Aceito vosso Cristo, mas não aceito vosso cristianismo”.
Se o Senhor nos diz hoje: “Minha mãe e
meus irmãos são aqueles, que ouvem a Palavra de Deus e a põem em prática”,
cada um de nós precisa se perguntar: “Será que sou mãe, irmã ou irmão de Jesus?
Será que posso me dizer que sou um dos membros da comunidade de Jesus?”. Que
Deus nos conceda, por intercessão de Maria, nossa Mãe. A graça de viver de
acordo com a Palavra de Deus para que possamos, pela misericórdia divina,
alcançar os bens eternos.
A comunhão com Jesus
somente se alcança na aceitação de Seu projeto, de Sua vida e de Suas palavras
na própria vida e somente dele se pode construir um autentico vínculo familiar
que faça indissolúvel nossa união com Ele. A vida alimentada pela Palavra de
Deus cria laços estreitos entre nós e Deus (união-comunhão), que ninguém nem
nada pode romper ou quebrar (cf. Rm 8,31-39).
P. Vitus Gustama,svd
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