28/09/2015
SERVIR
NO ESPÍRITO DE JESUS E SER PARCEIRO DO
BEM
Segunda-feira
da XXVI Semana Comum
Evangelho: Lc 9,46-50
Naquele tempo, 46 houve entre os
discípulos uma discussão, para saber qual deles seria o maior. 47 Jesus sabia o que
estavam pensando, pegou então uma criança, colocou-a junto de si 48 e disse-lhes: “Quem receber
esta criança em meu nome, estará recebendo a mim. E quem me receber, estará
recebendo aquele que me enviou. Pois aquele que entre todos vós for o menor,
esse é o maior”. 49 João disse a Jesus:
“Mestre, vimos um homem que expulsa demônios em teu nome. Mas nós lho
proibimos, porque não anda conosco”. 50 Jesus disse-lhe: “Não o proibais, pois
quem não está contra vós, está a vosso favor”.
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Estamos na parte final da atividade de Jesus
na Galileia. A partir de Lc 9,51-19,28 Jesus sairá da Galileia rumo a Jerusalém
onde será crucificado, morto e glorificado.
É Preciso Ter a Autoridade e Não o Poder
Na primeira parte do evangelho lido neste
dia o evangelista Lucas nos relatou que entre os discípulos houve uma discussão
sobre quem era maior ou quem tinha mais poder. Em outras palavras, eles tinham
ambição de ter o poder na mão. Isso significa que até então eles ainda não
captaram o essencial da mensagem de Jesus que é preciso pensar no outro e fazer
tudo pela sua salvação.
Quem tem o poder geralmente impõe aos outros
suas decisões, muitas vezes através dos meios injustos como opressão,
repreensão, tortura, ameaça, execução etc.. O poder não respeita a liberdade humana, por
isso ele não faz que os homens se tornem bons.
O poder obriga e impõe o silêncio. Quem tem poder geralmente não se
preocupa com a ética e com a humanidade. Aquele que tem poder sempre tem
tendência de manipular as pessoas e dirigi-las para seus próprios objetivos e
sua necessidade de poder. O ambicioso pelo poder, quando dominado pelo vício,
não suporta competidores, nem admite rivais e por isso, ele procura todos os
meios para humilhá-los e eliminá-los. Ele considera “justo” e “honesto” o uso
da violência para atingir seus objetivos. Ele não tem consciência de que o
poder é passageiro. Quem desejar ser o primeiro a todo custo não pensa na
justiça e na honestidade nem na necessidade dos outros. O respeito aos outros
está ausente na vida de um ambicioso.
O contrário do poder é a autoridade. A autoridade está ligada ao
crescimento. A palavra “autoridade” vem do latim “augere”, que quer dizer
“crescer”. Exercer a autoridade significa sentir-se realmente responsável pelos
outros e por seu crescimento sabendo que eles são pessoas que tem um coração,
nas quais existe o Espírito de Deus (cf. 1Cor 3,16-17) e que são chamadas a
crescer na liberdade da verdade e do amor. Na linguagem bíblica, a autoridade é
uma rocha que dá apoio. É o pastor que conduz o gado para o bom pasto (cf. Sl
23 sobre o bom pastor; cf. Jo 10). Os membros da comunidade são essencialmente
o rebanho de Jesus: “Apascenta as minhas ovelhas” (cf. Jo 21,15-17). Os membros de uma comunidade logo sentem
quando os responsáveis (autoridade) os amam e querem ajudá-los a crescer e não
quando estão presentes apenas para administrar, impor sua lei e sua própria
visão. A
autoridade é o autêntico serviço para a comunidade. A crise de liderança geralmente surge da
crise da autoridade.
A
Grandeza Consiste No Cuidado Dos Pequenos
“Jesus pegou, então, uma criança, colocou-a junto de si e disse-lhes:
´Quem receber esta criança em meu nome, estará recebendo a mim. E quem me
receber, estará recebendo aquele que me enviou. Pois aquele que entre todos vós
for o menor, esse é o maior´”.
Como se sabe que na época de Jesus criança (até 12 anos) não ocupava
nenhuma posição naquela sociedade, não contava, era insignificante, se podia
prescindir dela, não tinha direito a ser escutado, e diante da Lei não tinha méritos.
Desde o Antigo Testamento a criança, por sua fraqueza e fragilidade, aparece
como um ser privilegiado de Deus. O próprio Deus é protetor do órfão. Deus manifesta
sua ternura paternal para com os pequenos.
Jesus colocou uma criança no centro ou seja, no lugar de honra. Por estar
no centro todos os olhos são dirigidos a ela. Segundo Jesus a grandeza de
qualquer cristão consiste no serviço aos pequenos, aos marginalizados, aos
pobres, para aqueles cujos direitos não são respeitados. Quer ser grande? Dedique-se,
então, ao cuidado dos pequeninos. Servir aos pequeninos e aos desprezados
engrandece qualquer cristão diante de Deus. O grande não é, entoa, reinar e sim servir no
espírito de Jesus. Servir no espirito de Jesus faz diferença. Trata-se não apenas
de ato de humildade e sim um ato peculiar de um seguidor de Jesus Cristo. Servir
a um pequenino ou a um desprezado equivale a servir Jesus. E servir a Jesus é
servir a Deus. Para Jesus servir é coisa grande e faz quem serve grande diante
de Deus, pois servir o mais desprezado dos homens é servir a Deus (cf. Mt
25,40.45). É imitar o próprio Jesus. Nos pequenos e desprezados encontra-se o
próprio Jesus, o Deus-Conosco.
Os discípulos de Jesus, mesmo estando com
Ele, nunca abandonaram suas pretensões de poder. E nós, será que também nós não
abandonamos nossas pretensões de poder ao estar na Igreja? Ou usamos a Igreja
para facilitar o alcance de nosso poder?
Hoje necessitamos criar uma catequese que
realmente cultive o conhecimento de Jesus e a prática de suas atitudes, pois o
que Jesus queria era criar um grupo de pessoas que, ao atender a chamada de
Deus, proporcionam novas alternativas de vida.
É Preciso Ser Parceiro do Bem
A segunda parte do Evangelho de hoje nos
relata que o discípulo João se queixa por ter visto alguém “expulsando demônios”
em nome de Jesus, mas esse alguém não pertence ao grupo dos discípulos. A
reação de João é imediata: proibir que se faça o bem, pois não é membro da
comunidade dos seguidores de Cristo. Com essa proibição os discípulos mostram
seu comportamento incompatível com o Reino de Deus: arrogância, sectarismo,
intransigência, intolerância, ciúmes, mesquinhez, pretensão de monopolizar
Jesus e a sua proposta.
Diante desse comportamento dos discípulos
Jesus disse-lhes: “Não o proibais, pois quem não está contra vós está a vosso
favor”. Com esta exortação Jesus quer que os discípulos superem o sectarismo na
prática do bem. A comunidade cristã deve
ser colaboradora na prática do bem e acolher todas as pessoas que praticam o
bem independentemente de pertencer ou não à Igreja. Cada cristão deve ser
parceiro do bem e por isso, deve reconhecer o bem praticado por qualquer
pessoa. Se realmente alguém pratica o bem é porque tem algo de Deus dentro
dele, pois Deus é o Bem supremo. E tudo que Ele criou era bom (cf. Gn 1,1ss).
O Espírito de Deus é livre e atua onde quer
e como quer. Ele não está limitado por fronteiras, nem por regras, nem por
interesses pessoais, nem por privilégios de grupo. Nenhuma Igreja ou religião
ou grupo tem o monopólio do Espírito Santo, nenhuma instituição consegue
controlá-lo nem prendê-lo. O Espírito não é privilégio dos membros da
hierarquia; mas está bem vivo e bem presente em todos aqueles que abrem o
coração aos dons de Deus e que aceitam comprometer-se com Jesus e o seu projeto
de vida.
Somos convidados a abandonar atitudes como o
fanatismo, a intolerância, a intransigência, preconceitos, etc. , pois elas
fazem fechar os olhos e o coração diante da manifestação do amor de Deus em
tantas pessoas de boa vontade mesmo que se digam não acreditar em Deus, mas
Deus acredita nelas por causa do bem que elas praticam. Não temos que
sentir-nos ciumentos se Deus quer agir no mundo através de pessoas que não
pertencem à nossa Igreja. É preciso ser parceiro deste tipo de pessoa.
Os cristãos são chamados a constituir uma
comunidade sem arrogância, sem ciúmes, sem presunção de posse exclusiva do bem
e da verdade, pois estes sentimentos e atitudes são incompatíveis com a opção
pelo Reino: “Deus resiste aos soberbos, mas dá a sua graça aos humildes”
(1Pd 5,5b;Pr 3,34).
P.
Vitus Gustama,svd
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