26/09/2015
SACRIFICAR-SE
PELO BEM E SALVAÇÃO DE TODOS
Sábado
da XXV Semana Comum
Evangelho: Lc 9, 43b-45
Naquele tempo, 43bTodos estavam
admirados com todas as coisas que Jesus fazia. Então Jesus disse a seus
discípulos: 44“Prestai bem atenção às palavras que vou dizer:
O Filho do Homem vai ser entregue nas mãos dos homens”. 45Mas
os discípulos não compreendiam o que Jesus dizia. O sentido lhes ficava
escondido, de modo que não podiam entender; e eles tinham medo de fazer perguntas
sobre o assunto.
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Nós nos encontramos
no quadro de instruções finais de Jesus na Galileia. Jesus mostra claramente
aqui o sentido da própria missão e a daqueles que querem segui-Lo. Segundo
o plano do seu evangelho, o evangelista Lucas termina assim as atividades de
Jesus na Galiléia (Lc 4,14-9,50). Daqui em diante Jesus vai começar seu caminho
ou seu êxodo para Jerusalém onde ele será crucificado, morto e glorificado.
“O Filho do Homem vai ser entregue nas
mãos dos homens”. O título “Filho do Homem” se encontra seu sentido em Dn
7,13-14 e “vai ser entregue” em Is 53,2-12. O sofrimento de Jesus é causado
pelos homens do templo e do poder.
Para o evangelista Lucas, este é o segundo
anúncio da Paixão de Jesus e o situa no momento em que “Todos estavam
admirados com todas as coisas que Jesus fazia”. Esta admiração surge no
momento em que Jesus curou um menino da epilepsia (Lc 9,37-43) e fez outros
sinais. E Lucas registrou que esse menino era filho único. Esse filho único se
refere a Jesus, Filho único do Pai (cf. Mt 21,33-46). Através desse menino
Jesus está falando de Si próprio. A cura do menino antecede o segundo anúncio
da Paixão do Filho único do Pai.
Neste anúncio Jesus quer nos revelar que sua
vida é um sacrifício para o bem de todos. A palavra “sacrifício” provem do
latim “sacrum” (=sagrado) e “facere” (=fazer). “Sacrifício”
literalmente significa fazer algo sagrado. Lexicalmente “sacrificar” significa
oferecer-se em sacrifício à divindade; dedicar-se totalmente. Jesus é admirado
porque ele só faz algo sagrado, isto é, cuidar da vida do ser humano onde ela é
ameaçada, mesmo que para isso ele tenha que “transgredir” as leis por “sagradas”
que elas pareçam ser. A vida é sagrada, pois é dada por Deus. Ninguém dá vida a
ninguém. Ele se sacrifica como uma vela que se consome aos poucos iluminando
seu redor. Qualquer pessoa que fizer o que Jesus fazia, sempre causa a admiração
de outras pessoas sem perguntar sua ideologia, religião, crença. O bem não tem
religião, e por isso, pode ser feito por qualquer um. E os que são chamados
religiosos ou fieis devem ter mais consciência disso.
Lucas nos relatou
que os discípulos não entenderam o sentido desse anúncio. Em outras ocasiões os
evangelistas descrevem os motivos dessa incompreensão: os seguidores de Jesus
tinham em sua cabeça um messianismo político, com vantagens materiais para eles
mesmos, e discutiam sobre quem ia ocupar os postos de honra e quem ficaria do
lado direito ou do lado esquerdo de Jesus. A cruz não entrava em seus planos.
Eles queriam seguir a Jesus pelas próprias vantagens e não pela vida dedicada
em prol da salvação de todos.
A vida vivida pelo
bem de todos vale a pena a ser vivida. Ao contrário, a vida vivida pelo egoísmo
é uma vida deteriorada lentamente e deteriora também a vida alheia, pois um egoísta
suga tudo que o outro tem. O objetivo de todos os atos de um egoísta é seu próprio
interesse. O egoísta se esquece de que o seu desenvolvimento só será possível quando
for fruto do equilíbrio entre vida individual e a vida em comum. Para um egoísta,
amigo não é alguém a quem se dá, e sim, alguém a ser utilizado em proveito próprio.
Entre os apóstolos podemos perceber tudo isso na vida de Judas Iscariotes. O egoísta
nunca entende que a essência do amor é gratuidade. E que o verdadeiro amor é
feito de doação, sem cálculos e sem interesses a exemplo de Jesus Cristo.
Os discípulos não entendem que a vida vivida
pelo bem e pela salvação de todos é o maior ato de amor e o maior sentido da
vida. O resultado dessa incompreensão será contado no seguinte episódio em que
haverá a disputa sobre a primazia no grupo (Lc 9,46-48).
Por isso, podemos
fazer outra leitura da seguinte afirmação: “Todos estavam admirados com
todas as coisas que Jesus fazia”. Jesus desperta realmente admiração
por seus gestos milagreiros e pela profundidade de suas palavras. Deste tipo de
Jesus gostamos também e não somente os primeiros discípulos de Jesus. Mas não
entendemos, como os primeiros discípulos, o Jesus Servidor, o Jesus que lava os
pés dos discípulos, o Jesus que se entregou à morte para salvar a humanidade, o
Jesus que se aproxima do pecador para dialogar, o Jesus que faz refeição com os
pobres e pecadores, o Jesus que vai atrás das pessoas excluídas e abandonadas. Queremos
apenas o consolo e o prêmio e não o sacrifício e a renúncia. Preferiríamos que
Jesus não nos dissesse: “Quem quer me seguir renuncie a si mesmo, tome sua cruz
de cada dia e me siga”.
Mas ser seguidor de
Jesus pede a radicalidade e não podemos crer num Jesus que O fazemos a nossa
medida. Ser colaborador de Jesus na salvação do mundo exige seguir Seu mesmo
caminho que passa através da cruz e da entrega e da doação pelo bem e salvação
de todos. É sofrer com Jesus para salvar o mundo.
Vale a pena cada um
fazer um exame sério de consciência sobre o texto do evangelho de hoje a partir
da vocação e da função que cada um tem na Igreja ou em uma comunidade. Como
sacerdote ou religioso/ religiosa, qual meu motivo para ser sacerdote ou para
ser religioso/religiosa? Será que eu procuro a vocação religiosa e sacerdotal
em função da segurança institucional e não como paixão pela vida de Cristo
dedicada pela salvação de todos? Será que o pensamento de querer ser sacerdote
ou religioso (a) carreirista serve como motor da minha ambição? Como leigo ou
leiga, qual meu motivo verdadeiro para trabalhar na minha comunidade? Há alguma
vantagem pessoal escondida atrás dessa atividade, ou por que eu quero ser outro
Cristo na minha comunidade? Mas será que eu levo a sério o motivo de ser outro
Cristo com todas as suas conseqüências na minha comunidade?
É preciso que não
tenhamos medo de nos gastar pelas causas e pelos grandes ideais de Jesus, pois
por este caminho haverá a vida glorificada, a vida ressuscitada. Como cristãos,
não podemos viver e conviver inutilmente nem podemos, consequentemente, morrer
inutilmente. A vida dedicada pelo bem de todos jamais morre. É estar com
Cristo. E estar com Cristo significa não parar de existir. Este
é o ideal do ser do cristão.
Para Refletir
“Há ideais que nos ajudam a viver e a crescer,
Porque nos aproximam do melhor de nós mesmos,
E há ideais que nos paralisam
Porque nos fazem correr atrás de miragens inalcançáveis.
Um verdadeiro ideal nunca é plenamente alcançado,
Mas ajuda a caminhar toda a vida.
Viver sem um ideal é como viver sem sentido
E caminhar sem objetivos.
Muito homens correm toda a vida para ter coisas,
Porque não sabem o que querem ser.
E você, sabe?”
(Autor: René Juan
Trossero)
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