25/09/2015
JESUS
NOS INTERROGA E NOS ENSINA A ORAR
Sexta-feira da XXV Semana
Evangelho: Lc 9,18-22
Aconteceu que Jesus 18 estava rezando num
lugar retirado, e os discípulos estavam com ele. Então Jesus perguntou-lhes: “Quem diz o povo que eu sou?” 19 Eles
responderam: “Uns dizem que és João Batista; outros, que és Elias; mas outros
acham que és algum dos antigos profetas que ressuscitou”. 20 Mas Jesus
perguntou: “E vós, quem dizeis que eu
sou?” Pedro respondeu: “O Cristo de Deus”. 21 Mas Jesus proibiu-lhes
severamente que contassem isso a alguém. 22 E acrescentou: “O Filho do Homem
deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e
doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia”
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O evangelista Lucas volta ao tema do
evangelho do dia anterior sobre a identidade de Jesus (cf. Lc 9,7-9). No texto
do evangelho do dia anterior o interessado por saber quem era Jesus foi Herodes
Antipas, filho do rei Herodes, o Grande. No texto do evangelho de hoje é o
próprio Jesus quem dirige a pergunta a seus discípulos. Quem é Jesus para as
pessoas em geral e quem é Jesus para os próprios discípulos?
A Oração Na Vida De Jesus e Na Vida do Cristão
“Aconteceu
que Jesus estava rezando num lugar
retirado, e os discípulos estavam com ele”.
O primeiro ponto que Lucas quer nos
transmitir através do texto do evangelho de hoje é a importância da oração.
Lucas nos mostra Cristo em oração toda vez que ele toma uma decisão importante
ou quando se compromete em uma etapa de sua missão (Lc 3,21; 6,12; 9,29; 11,1;
22,31-39). Lucas é o único evangelista que menciona a oração de Cristo antes de
obter a profissão de fé nos seus e de anunciar-lhes sua Paixão. Assim cabe
pensar, como em cada uma das demais circunstâncias mencionadas por Lucas, que
Jesus reza pelo cumprimento de sua missão cujos contornos ele não vê mais que
na obscuridade. Através da oração vemos a realidade da humanidade de Jesus.
Oração é um dos temas preferidos do
evangelista Lucas. Lucas é o evangelista da oração. Ele é o único evangelista
que inicia e termina seu evangelho com o tema da oração: no início encontramos
o sacerdote Zacarias “diante de Deus”, no “Santuário do Senhor” (Lc 1,8-10); e
no final encontramos os discípulos “continuamente no Templo louvando a Deus”
(Lc 24,53).
Por que a oração é tão importante? Porque a
oração é a expressão mais viva da fé. Quem tem fé precisa orar e quem ora precisa
ter fé. Através da oração Deus se revela a quem reza ou a quem medita sua
palavra. Por isso, a oração é também o momento ou lugar da revelação de Deus.
Somente no diálogo é que conhecemos melhor nosso parceiro de diálogo. No
seguimento de Jesus a oração sustenta a caminhada cristã. Por isso, empobrecer
a oração significa empobrecer toda a teologia. Na medida em que o cristão reza,
sua vida se transforma de acordo com a vontade de Deus, pois rezar significa
estar em sintonia com Deus e Sua vontade. Podemos dizer que a oração nos faz
familiares de Deus. Dentro de uma família um conhece bem o outro membro por
causa de uma convivência permanente.
Se a oração de Jesus demonstra a realidade de
sua humanidade, não deixa de ser um sinal de sua divindade. Que Jesus pode
reunir em sua oração a profundidade de sua pessoa, onde se estabelece sua
vocação como o Ungido de Deus, é o indício de que dispõe do Espírito do Pai.
Com feito, a oração não é um discurso que se dirige a Deus como um objeto e sim
ter Deus por sujeito que conhece a profundidade de nosso ser. Não podemos
alcançar esta profundidade sem a ajuda do Santo Espírito (cf. Rm 8,26-27). Do
ponto de vista humano podemos dizer que somente aquele que reza profundamente é
que reconhece os próprios limites e fraquezas, pois diante de Deus tudo fica
iluminado.
Rezar é deixar Deus iluminar nossa vida e
nossas decisões de cada dia. Com efeito, sem oração a vida se torna escura.
Quem não reza, obscurece a própria vida. A história de nossa oração é a
história de nossa vida, pois na oração contamos para Deus tudo o que acontece
na nossa vida embora Ele saiba de tudo. Erraremos o caminho se pararmos de
orar, pois Deus é a Luz de nossa vida (Jo 8,12).
Perguntar Sobre Jesus É Perguntar Nosso Modo de Viver
“Quem
diz o povo que eu sou?” A pergunta de Jesus tem como objetivo avaliar
o resultado de sua atuação na Galileia. A resposta do povo é múltipla: Elias, João
Batista, um profeta que ressuscitou. Segundo o povo Jesus está entre os
profetas, especialmente como o profeta dos tempos finais.
“E vós, quem dizeis que eu sou?” . Segundo os
discípulos Jesus é o Messias. “Messias” é palavra hebraica que é em grego
“Christos” que significa “Ungido”. Jesus é o Ungido de Deus, ou seja, Aquele
sobre quem Deus derramou seu Espírito, ungindo-o com Sua força para que leve a
cabo uma missão. Jesus está totalmente aberto à vontade de Deus a ponto de o
Espírito divino repousar sobre Ele (cf. Lc 3,21-22; Mt 3,16-17) e se deixa
guiar completamente pelo mesmo Espírito (cf. Mc 1,12).
Mas que tipo de Messias Jesus é? Estamos
aqui no centro da fé: crer em um Messias que será crucificado. A cruz de Jesus
não é um incidente e sim uma conseqüência. A presença de Deus se manifesta no
caminho da cruz, isto é, na entrega de si mesmo, na recusa de toda imposição,
no amor que aceita ser contradito e aparentemente derrotado: “É necessário o
Filho do Homem sofrer muito e ser rejeitado pelos anciãos, sumos sacerdotes e
escribas, ser morto e, no terceiro dia, ressuscitar”.
Mas a cruz de Jesus é saborosa, pois
trata-se de uma vida vivida até o fim por amor aos homens como manifestação do
amor a Deus (cf. Jo 3,16). Por isso, na sua cruz vemos com clareza o amor de
Deus por cada um de nós. Deus encarnado é capaz de tudo, até o impossível, pois
cada um tem um valor incalculável diante de Deus. Por você e por mim Deus se
encarnou em Jesus e por amor a nós todos Jesus aceitou ser crucificado (cf. Mt
8,17; Jo 3,16). O caminho do amor é o caminho que nos leva à salvação. Fora do
amor não há a salvação independentemente de nossas práticas religiosas. Por
este caminho (amor) não há outro caminho para chegar até Deus que é Amor por
excelência (1Jo 4,8.16).
O amor transforma tudo. Com amor levamos a
carga sem carga, pois o amor torna tudo leve. O amor faz doce e saboroso o que
é amargo. O amor nobre de Jesus nos impulsiona a desejar sempre o mais perfeito
e a fazer o bem para todos. O amor não é detido por qualquer coisa deste mundo.
O amor quer ser livre. Não há nada que seja mais doce, mais forte, mais alto,
mais alegre, mais humano e mais divino do que o amor, pois o amor nasce de
Deus, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). O amor sempre vela, e dormindo não se
dorme; fatigado, não se cansa; angustiado, não se angustia; espantado, não se
espanta; é forte na sua fraqueza.
A pergunta de Jesus é repetida para nós em
todos os momentos: “Quem é Jesus para
nós?”. Não se trata de uma pergunta supérflua. É claro que “sabemos” já
quem é Jesus. Não somente cremos em Jesus como o Filho de Deus e Salvador da
humanidade, mas queremos segui-Lo com fidelidade na vida de cada dia. Mas temos
que refrescar ou renovar com freqüência esta convicção, pensando se realmente
nossa vida está orientada para Ele, se nossas opções de cada dia estão de
acordo com seus critérios. Quem é Jesus para mim agora, nesta etapa concreta da
vida que estou vivendo? Não podemos responder a esta pergunta com palavras
magistrais nascidas do estudo. Nossa resposta deve ser muito simples, nascida
da vida de cada dia com o próprio Senhor.
“Para ser um bom orador é necessário ser um bom orante”
(Santo Agostinho. De doc. christ. 4,15,32).
P. Vitus Gustama,svd
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