EPIFANIA, 03/01/2015
EPIFANIA
DO SENHOR E SUA MENSAGEM PARA NÓS
Primeira Leitura Is 60,1-6
1 Levanta-te, acende as
luzes, Jerusalém, porque chegou a tua luz, apareceu sobre ti a glória do
Senhor. 2 Eis que está a terra envolvida em trevas, e nuvens escuras cobrem os
povos; mas sobre ti apareceu o Senhor, e sua glória já se manifesta sobre ti. 3
Os povos caminham à tua luz e os reis ao clarão de tua aurora. 4 Levanta os
olhos ao redor e vê: todos se reuniram e vieram a ti; teus filhos vêm chegando
de longe com tuas filhas, carregadas nos braços. 5 Ao vê-los, ficarás radiante,
com o coração vibrando e batendo forte, pois com eles virão as riquezas de
além-mar e mostrarão o poderio de suas nações; 6 será uma inundação de camelos
e dromedários de Madiã e Efa a te cobrir; virão todos os de Sabá, trazendo ouro
e incenso e proclamando a glória do Senhor.
Segunda Leitura: Ef 3,2-3a. 5-6
Irmãos: 2 Se ao
menos soubésseis da graça que Deus me concedeu para realizar o seu plano a
vosso respeito, 3ª e como, por revelação, tive conhecimento do mistério.
5 Este mistério Deus não o fez conhecer aos homens das gerações passadas,
mas acaba de o revelar agora, pelo Espírito, aos seus santos apóstolos e
profetas: 6 os pagãos são admitidos à mesma herança, são membros do
mesmo corpo, são associados à mesma promessa em Jesus Cristo, por meio do
Evangelho.
Evangelho: Mt 2,1-12
1 Tendo nascido Jesus na
cidade de Belém, na Judeia, no tempo do rei Herodes, eis que alguns magos do
Oriente chegaram a Jerusalém, 2 perguntando: “Onde está o rei dos judeus, que
acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo”. 3 Ao
saber disso, o rei Herodes ficou perturbado assim como toda a cidade de
Jerusalém. 4 Reunindo todos os sumos sacerdotes e os mestres da Lei,
perguntava-lhes onde o Messias deveria nascer. 5 Eles responderam: “Em Belém,
na Judeia, pois assim foi escrito pelo profeta: 6 E tu, Belém, terra de Judá,
de modo algum és a menor entre as principais cidades de Judá, porque de ti
sairá um chefe que vai ser o pastor de Israel, o meu povo”. 7 Então Herodes
chamou em segredo os magos e procurou saber deles cuidadosamente quando a
estrela tinha aparecido. 8 Depois os enviou a Belém, dizendo: “Ide e procurai
obter informações exatas sobre o menino. E, quando o encontrardes, avisai-me,
para que também eu vá adorá-lo”. 9 Depois que ouviram o rei, eles partiram. E a
estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até parar sobre o lugar
onde estava o menino. 10 Ao verem de novo a estrela, os magos sentiram uma
alegria muito grande. 11 Quando entraram na casa, viram o menino com Maria, sua
mãe. Ajoelharam-se diante dele, e o adoraram. Depois abriram seus cofres e lhe
ofereceram presentes: ouro, incenso e mirra. 12 Avisados em sonho para não
voltarem a Herodes, retornaram para a sua terra, seguindo outro caminho.
-----------------
Celebramos hoje a festa da epifania do
Senhor. Epifania significa manifestação de uma divindade ou de alguma
intervenção prodigiosa de uma divindade. Esta festa chama-se Epifania no seu
contexto de Natal porque Deus vem nos revelar quem nos criou e por quê. Nela
compreendemos o amor de Deus por nós. O nascimento de Jesus manifesta ou
epifaniza ao mundo a misericórdia, o amor que Deus é e com que nos ama. O amor
de Deus não tem limites e alcança a todos. E os Magos representam os povos de
todas as línguas e nações que se põem a caminho, chamados por Deus, para adorar
Jesus, Deus feito homem cujo nome é Amor.
Como já se sabe de que Mateus coloca essa
passagem no seu evangelho para expor a tese da universalidade da salvação. Jesus
inaugura o Reino aberto a todos. As interdições cultuais foram abolidas. Todos
os privilégios são abolidos. Os coxos, os cegos, os leprosos, os pobres são
convidados ao festim. Por isso, podemos entender que Jesus convive com os
publicanos e pecadores para salvá-los, pois para estes é que Deus se fez carne
em Jesus Cristo. O Reino de Jesus não é deste mundo (Jo 18,36). Ele desceu até
os homens, mas escapa totalmente a seu poder. A acesso à família de Deus
depende da total gratuidade de Deus e da fé da parte dos homens. Jesus é o eixo
para deste Reino (cf. Jo 14,6).
Mateus pretende nos dizer, então, que Jesus,
tendo nascido em Belém como menino judeu e para salvar os judeus, quer oferecer
também ao paganismo, logo desde o berço, a possibilidade de um encontro para o
que envia a luz da fé(estrela), cuja missão é guiar os pagãos(magos) até onde o
Salvador(Jesus) se encontra. Deste modo, cada um dos elementos da narrativa
simbolizaria uma realidade distinta: os magos representam os pagãos; Herodes,
os judeus; e a estrela, a fé. Por isso, a estrela dos Magos na narrativa de
Mateus é nenhum fenômeno celeste surgido realmente no firmamento, mas o símbolo
da luz da fé que brilha nas trevas do pecado quando o Salvador aparece no mundo.
Mateus desenvolve assim uma nova tese:
Jesus, embora judeu e descendente de Davi, é um Messias com força para
afugentar do mundo inteiro as trevas do pecado, por mais afastado que o homem
se encontre e seja em que deserto for. Para tal deve cumprir um único
requisito: deixar-se guiar pela luz da fé.
Como foi dito acima, a universalidade da fé
é um dos motivos dominantes da liturgia da Epifania. Que fazemos para que se
realize o desígnio salvífico de Deus, cuja meta é que todos os homens conheçam
e adorem Jesus como Salvador e Emanuel? Talvez as palavras de S. João
Crisóstomo possa nos despertar: ”Se os magos percorreram um caminho tão longo para vê-lo recém-nascido,
que desculpa terás tu se nem sequer fores ao bairro ao lado para visitá-lo enfermo
e encarcerado?”. Como cristãos, somos todos “apóstolos” ou “enviados”. E
o enviado deve ir aonde é chamado por Deus.
Além disso, a Epifania é também a festa de
Cristo, Luz dos povos/nações. Toda dinâmica da solenidade sublinha o fato de
que o mistério da epifania também é revelado aos gentios. Os magos do Oriente
são frutos amáveis da revelação. Eles vem de longe conduzidos pela Luz, símbolo
da fé (estrela) para encontrar e adorar o Rei dos judeus. Eles trazem para Ele
os dons. Mas o mais importante é o dom de seu coração sincero. E receberam a
luz da fé que os leva para o caminho da vida e não para o caminho da crueldade
de Herodes.
A exemplo dos magos, vale a pena descobrir o
caminho da fé que nos apresenta o Evangelho: Os magos descobrem um sinal (a
estrela), seguem a Luz de Deus, se informam, buscam, perguntam. E finalmente,
encontram o Salvador. De joelhos O adoram. Trata-se do símbolo do itinerário da
fé dos que são vistos como os primeiros entre os crentes não israelitas. É o
caminho que cada homem deve percorrer.
O evangelho de hoje interpela o homem
moderno. O homem moderno não pode ficar somente deslumbrado diante do progresso
da ciência e da técnica. Sob as estrelas que brilham no mundo moderno, o homem
moderno precisa buscar um sinal mais profundo e mais humanizador. Se não
encontrarmos Deus que dá sentido para nossa vida e nossa morte, seremos vítimas
da própria ciência e técnica, pois “ninguém está tão só do que aquele que vive
sem Deus” (Santo Agostinho).
Segundo o grande teólogo P. Tillich, a
grande tragédia do homem moderno é ter perdido a dimensão da profundidade. Já não
é capaz de perguntar de onde vem e para onde vai. Não sabe interrogar-se pelo
que faz e deve fazer de si mesmo neste breve lapso de tempo entre seu
nascimento e sua morte. Corremos o risco de perder nossa própria identidade e
de nos converter em uma coisa entre outras coisas e de não saber em que direção
devemos caminhar.
Por isso, nestes tempos, temos que voltar a
recordar que ser crente é, antes de tudo, perguntar apaixonadamente pelo
sentido de nossa vida e estar abertos para uma resposta e estar prontos para
nova pergunta a partir da resposta encontrada.
Outras Mensagens Do Texto:
1). Para encontrar Jesus, é necessário sair da própria terra
para ir ao encontro de Jesus.
Os escribas e os sumos sacerdotes
esquadrinharam a Bíblia e encontraram pelo menos 466 profecias messiânicas e
mais de 550 conclusões tiradas da Sagrada Escritura. E até indicaram a Herodes
o lugar exato onde podia encontrar o Salvador, o verdadeiro Rei dos judeus. No
entanto, nenhum se pôs a caminho. Como comenta Santo Agostinho:” Ensinam a
outros a fonte da vida e eles morreram de sede”. E em outra passagem ele
acrescenta: ”Aqueles (os magos) buscavam na terra destes (dos judeus) o que
estes não reconheciam na sua terra...”.
Mateus sublinha, assim, o paradoxo entre a busca e a acolhida de Jesus
pelos “magos do Oriente”, que eram pagãos, e o seu não conhecimento por parte
do rei de Jerusalém, dos chefes dos sacerdotes, dos escribas e do povo.
Os magos puseram-se a caminho e deixaram sua
terra em busca do Rei recém-nascido. O texto nos diz: “Vimos sua estrela no céu
e viemos adorá-lo” (v.2). Guiados pela estrela no céu e pela estrela de uma
grande esperança no coração, os magos puseram-se a caminho. São João Crisóstomo
comentou: “Não se puseram a caminho porque viram a estrela, mas viram a estrela
porque se tinham posto a caminho”. Põem-se a caminho porque têm perguntas e
inquietações no coração. São o símbolo dos que buscam, como diz Santo
Agostinho: “Anunciam e perguntam, crêem e buscam; simbolizando aqueles que
caminham na fé e desejam a realidade”.
Somos peregrinos nesta terra. Mas para onde
caminhamos? Saibamo-lo ou não, caminhamos para Deus. Consciente ou inconscientemente,
no fundo todos procuram Deus. O destino do homem é, certamente, a união plena
com Deus. E na espera desse destino, o homem vive sobre a Terra com fé. A fé é
ter confiança em Deus apesar das próprias dúvidas, perguntas e interrogações,
queixas e murmurações; é ter a coragem de agir apesar dos próprios medos; é
esperar no amanhã apesar do sofrimento e dificuldades de hoje. Porque Deus veio
antes ao nosso encontro e semeou no nosso coração a fome e a sede da justiça e
da paz, da felicidade e da comunhão, enfim, da salvação que só podemos
encontrar nele.
Para chegar ao encontro de Deus é necessário
pôr-se a caminho e atravessar, como os magos, desertos escaldantes e noites
escuras, desinstalar-se e romper com o convencional, vencer novos obstáculos e
refutar argumentos velhos e novos. Quem quer encontrar a Deus, não pode ficar
preso ao passado. Precisa partir sempre de novo, com o coração cada vez mais
leve e livre, porque na nossa vida costumam acontecer fatos carregados de
sentido, que exigem a nossa atenção e o nosso êxodo. Mas se a pessoa não se põe
a investigar e a tentar perceber o que Deus lhe quer dizer, com certeza vive
mais tranqüilo, não se interroga, não levanta problemas. Conseqüentemente, não
avança, move-se num horizonte estreito, mesquinho, sem dimensões, e priva-se do
que as suas capacidades lhe proporcionam para progredir. E Deus, quando
queremos encontrá-lo de verdade, vem em nossa ajuda, indica-nos o caminho, às
vezes, através de meios menos aptos. Mas, com certeza, Deus não se encontra na
soberba que nos separa dele, nem na falta de caridade que nos isola.
Os magos iniciaram uma longa caminhada,
desejando encontrar Deus guiando apenas pela estrela. Na vida, é preciso seguir
uma estrela. Um ideal. Um modelo de santidade. Essa é a estrela que brilha para
nós no azul do nosso céu. E tem que se seguir, apesar de todos os sacrifícios.
Jesus, no fim, está à nossa espera.
2). Para encontrar Jesus é necessário discernir os sinais
Para encontrar Jesus é necessário, em
primeiro lugar, buscá-lo e querer encontrá-lo; e em segundo lugar, perceber e
discernir os sinais exteriores e interiores de sua manifestação. Para ver os
sinais é necessário estar com os olhos e o coração abertos para as realidades
que estão além do que vêem os olhos carnais e do que sente o coração de carne.
É necessário adquirir uma visão nova da realidade. Para isso, é importante sair
do pequeno mundo em que estamos instalados e empreender um caminho novo. Em
outras palavras, é preciso o êxodo interior e exterior. Se o nosso coração
inquieto, aberto e despojado, e se for generoso como o dos magos, saberemos
distinguir a voz de Deus das vozes que nos querem afastar do seu caminho.
3). Para encontrar Jesus é
necessário deixar-se comover
Para chegar ao encontro de Jesus é
necessário também deixar-se mover pelos sinais percebidos e discernidos; é
necessário deixar-se mover e guiar por eles ao longo de toda a caminhada. Quem
é movido por uma grande esperança ou por um grande amor, tem força e entusiasmo
para deixar tudo o que tinha até esse momento ao encontro do Senhor que é Tudo.
A “estrela” que guia nossa busca continua sempre apontando para mais verdade,
mais entrega, mais justiça, mais fraternidade, mais partilha, mais honestidade,
mais sinceridade e mais comunhão. Ela continua iluminando apesar das nuvens que
nos atrapalham passageiramente, das decepções, das noites que anunciam o dia,
dos sofrimentos etc.
4). Para encontra Jesus é
necessário caminhar juntos e perguntar.
A sabedoria antiga diz: “Estar juntos é
apenas o início; caminhar juntos é o progresso e trabalhar juntos é sucesso”.
Não sabemos por quanto tempo os magos caminharam. O que sabemos é que
caminharam juntos. O longo caminho da busca, enfrentando o cansaço, obstáculos
etc., só pode ser feito em comunidade. Só ajudando-se e animando-se mutuamente,
carregando o peso uns dos outros durante um longo caminho da busca, é possível
chegar à meta.
Quando parece que as nuvens atrapalham a
nossa vista ou visão, quando aparentemente Deus nos abandonou e sentimos que
não caminha mais ao nosso lado, é necessário pararmos para perguntar, como
fizeram os magos. Essas perguntas fazem parte da providência de Deus. Os
chineses até dizem: “Quem pergunta, é bobo por cinco minutos. Quem não
pergunta, é bobo para sempre”. Na verdade, Deus está também nas nossas
perguntas, porque são perguntas sobre ele e por ele.
5). No comum encontra-se o
extraordinário
Os magos não encontram a riqueza e a glória
do rei recém-nascido, mas um bebê numa casa pobre, filho de pais pobres,
pobremente vestido. Também não viram sua mãe coroada de pedras preciosas ou
reclinada num leito de ouro. Mas “sua fé (dos magos) foi mais penetrante que o
olhar, porque viram coisas humildes e entenderam coisas elevadas”, comenta S.
João Crisóstomo. A glória de Deus não está nos astros do céu, mas na
fragilidade dessa criancinha.
6). Quem encontra o que procura
tem algo a oferecer
Os magos encontraram Jesus e lhe ofereceram
presentes: ouro, incenso, mirra. Tradicionalmente esses presentes simbolizam a
identidade de Jesus: recebe ouro como rei, incenso como Deus e mirra como homem
mortal (mirra era utilizada no embalsamamento de cadáveres).
Sabemos que a entrega de nós mesmos na
adoração é o dom mais perfeito e mais agradável ao Deus que nos amou até o
extremo de querer viver nossa vida mortal, e morrer nossa morte, para fazer-nos
participantes de sua vida eterna. Mas o gesto de oferta pode nos recordar
também que aqueles que encontram Deus com sinceridade demonstram a profundidade
desse encontro concretamente através daquilo que se tornam capazes de
partilhar. Quem é de Deus, ajuda os outros, desenvolvendo a sensibilidade
solidária.
7). Epifania e Missão
Evangelizadora
Como foi dito acima, a universalidade da fé
é um dos motivos dominantes da liturgia da Epifania. Que fazemos para que se
realize o desígnio salvífico de Deus, cuja meta é que todos os homens conheçam
e adorem Jesus como Salvador e Emanuel? Talvez as palavras de S. João
Crisóstomo possa nos despertar: ”Se os magos
percorreram um caminho tão longo para vê-lo recém-nascido, que desculpa terás
tu se nem sequer fores ao bairro ao lado para visitá-lo enfermo e encarcerado?”
Como cristãos, somos todos “apóstolos” ou “enviado”. E o enviado deve ir aonde
é chamado pela missão.
P. Vitus Gustama,svd
Um comentário:
Gostei muito. Tirei algumas dúvidas e questionei-me sobre alguns pontos.
Postar um comentário