04/01/2018
COM
JESUS NA BUSCA DO ESSENCIAL
O4 de Janeiro
7
Filhinhos, que ninguém
vos desencaminhe. O que pratica a justiça é justo, assim como ele é justo. 8 Aquele que comete o pecado é do diabo, porque o
diabo é pecador desde o princípio. Para isto é que o Filho de Deus se
manifestou: para destruir as obras do diabo. 9
Todo aquele que nasceu de Deus não comete pecado, porque a semente de Deus fica
nele; ele não pode pecar, pois nasceu de Deus. 10
Nisto se revela quem é filho de Deus e quem é filho do diabo: todo o que não
pratica a justiça não é de Deus, nem aquele que não ama seu irmão.
Naquele
tempo, 35 João estava de novo com dois de seus
discípulos 36 e, vendo Jesus passar, disse: “Eis
o Cordeiro de Deus!” 37 Ouvindo essas palavras,
os dois discípulos seguiram Jesus. 38 Voltando-se
para eles e vendo que o estavam seguindo, Jesus perguntou: “Que estais
procurando?” Eles disseram: “Rabi (que quer dizer: Mestre), onde moras?” 39 Jesus respondeu: “Vinde ver”. Foram pois ver onde
ele morava e, nesse dia, permaneceram com ele. Era por volta das quatro da
tarde. 40 André, irmão de Simão Pedro, era um
dos dois que ouviram as palavras de João e seguiram Jesus. 41 Ele foi logo encontrar seu irmão Simão e lhe disse:
“Encontramos o Messias (que quer dizer: Cristo)”. 42
Então André conduziu Simão a Jesus. Jesus olhou bem para ele e disse: “Tu és
Simão, filho de João; tu serás chamado Cefas” (que quer dizer: Pedra).
--------------------------
1. “Aquele Que Nasceu De Deus Não Comete
Pecado”
Ontem ficamos felizes com a grande afirmação
de que somos filhos de Deus. Hoje a Carta de João insiste nas consequências
dessa filiação: aquele que está consciente de ser filho de Deus não deve pecar.
Agora o autor da Carta contrapõe os filhos de Deus aos filhos de diabo. “Filhos
de Deus” ... “Filhos de diabo”. Essa expressão nos estremece.
“Aquele
que comete o pecado é do diabo, porque o diabo é pecador desde o princípio”,
escreveu o autor da Carta. Os filhos de
Deus e os filhos do diabo se opõem. O diabo divide e desune. O filho de Deus une
e cria uma comunhão fraterna no amor mútuo. Este é o critério de sua identificação:
ou filho de Deus ou faz parte do diabo.
"Aquele
que comete pecado é do diabo", porque o pecado é a marca do maligno,
desde o início. Enquanto que “a semente de Deus fica no filho de Deus; ele não
pode pecar, pois nasceu de Deus”.
O pecado é totalmente incompatível com a fé e
a comunhão com Jesus. Como o pecado pode reinar em nós se nascemos de Deus e a
sua semente permanece em nós? Os nascidos de Deus hão de viver e praticar a
justiça como Deus é justo, e como Jesus é o Justo. Enquanto que “todo o que não pratica a justiça não é de
Deus, nem aquele que não ama seu irmão”.
Assim como se pode viver "em comunhão
com Deus", também pode-se "viver com o diabo". Podemos unir-nos
a Deus e podemos encadear-nos ao mal.
Mas não esqueçamos que isso não determina em
primeiro lugar duas categorias de homens. De fato, a fronteira que separa os
filhos de Deus dos filhos do diabo, passa por nossos próprios corações. Na vida
cotidiana sabemos pela experiência que para alguns aspectos da minha vida, eu
sou "de Deus". Para os outros,
eu sou "do diabo". A conversão permanente faz parte de ser filho de
Deus.
2. Amor: Ensinamento Central de Jesus
A primeira leitura tirada da Primeira Carta
de João repete o que João escreveu previamente, intentando dizer novamente que
o central nos ensinamentos de Jesus Cristo é amor. É um amor revelado em ações
e não simplesmente em palavras ou profissões de fé. Nossas ações e obras
revelam se realmente somos filhos de Deus e santos ou se somos gerados pelo
diabo (aquele que desune) e pelos pecadores. Não temos que nos deixar enganar
pelas palavras ou por qualquer coisa que não atue de acordo com o amor de Deus:
“Todo aquele que nasceu de Deus não comete pecado, porque a semente de Deus
fica nele; ele não pode pecar, pois nasceu de Deus. Nisto se revela quem é
filho de Deus e quem é filho do diabo: todo o que não pratica a justiça não é
de Deus, nem aquele que não ama seu irmão”.
Para João a linha divisória entre os que são
de Deus e não o são é o amor fraterno, pois o amor vem ou nasce de Deus. O amor
fraterno nos revela nossa pertence a Deus.
A partir de tudo isso ficamos nos
perguntando: Será que realmente amamos nossos irmão e irmãs para mostrar que
Deus em quem acreditamos é amor (cf. 1Jo 4,8.16)? Que tipo de Deus que
revelamos para os outros através de nossas ações?
3. João Batista: Apresentar o Cordeiro Que Tira o Pecado e Aceitar
Desaparecer da cena
O texto do Evangelho deste dia é a
continuação do texto do evangelho do dia anterior.
No evangelho deste dia João Batista é
apresentado como uma figura estática. Está no mesmo lugar do dia anterior: “...
estava lá de novo”. Isto significa que ele permanece no seu posto
enquanto dura sua missão, o que indica a fidelidade, compromisso e
responsabilidade até o fim. Só se retira quando começa a missão de Jesus no momento
em que ele dirá: “É necessário que Ele cresça e eu diminua” (Jo 3,30).
A palavra “compromisso” é cada vez mais cara
hoje em dia. O prazer, o hedonismo, o interesse individual e a liberdade sem
freio fazem com que muitas pessoas vivem apenas na superficialidade. Elas se
esquecem que a liberdade humana é sempre um cultivo e um crescimento interior.
A liberdade implica o desenvolvimento pleno do fazer e do ser.
A verdadeira liberdade supõe a existência da
responsabilidade. Responsabilizar-se é elevar a própria existência para uma
dimensão superior. Ter responsabilidade significa ser coerente com os próprios
atos, com os valores reconhecidos universalmente e, por extensão, ser
solidários com outras pessoas, tendo em vista os mesmos valores.
Se João Batista se mostra como uma figura
estática, Jesus é, pelo contrário, apresentado em movimento. Não se sabe de
onde vem nem é dito para onde vai. Mas João Batista, que sabe da origem de
Jesus, volta a olhá-lo e repete seu testemunho: “Eis o Cordeiro de Deus”.
João Batista “fixa o olhar em Jesus” e diz: “Eis o Cordeiro de Deus”. Saber olhar
faz parte da fé. O olhar do coração ou o olhar da fé ultrapassa a realidade
sensível em que penetra. O olhar superficial, ao contrário, jamais enxerga alguém,
pois ele somente quer se olhar e quer ser olhado. Quem se olha somente para si,
jamais percebe a presença do outro nem a de Deus. O olhar superficial reflete,
na verdade, a nossa pobreza espiritual. João Batista que vê Jesus que vem não
guarda para si como propriedade privada o que viu. Ele quer que os outros vejam
o que ele vê. Ele indica aos outros o Messias e aceita desaparecer, pois João
Batista é apenas uma “voz” que prepara o caminho do Messias (Jo 1,23). “Essa é
a minha alegria e ela é completa. É necessário que Ele cresça e eu diminua” (Jo
3,29-30), afirma João Batista com toda a humildade e com a plena consciência.
Toda vez que participamos da Eucaristia
ouvimos ou contemplamos a frase de João Batista: “Eis o Cordeiro de Deus que
tira o pecado do mundo”. Quem comunga o Cordeiro de Deus deve estar consciente
da missão de se identificar com o Cordeiro que se doa por amor para salvar os
irmãos. Quando a missa era celebrada em latim ouvia-se esta frase, certamente,
no fim da mesma: “Ite, missa est!”, “Ide, sois enviados!”. Enfatiza-se, assim,
o compromisso de cada participante como enviado de Deus ao sair da igreja ou
templo depois que comungou o Cordeiro de Deus. Em cada Eucaristia da qual
participamos ouvindo a Palavra do Senhor, nós sempre recebemos alguma missão a
ser cumprida. A pergunta é a seguinte: “O que é que a Palavra de Deus,
proclamada em cada Eucaristia da qual eu participo, quer que eu cumpra?”. Cada
Palavra de Deus proclamada sempre tem uma palavra para mim para que eu leve
adiante.
4. Buscar o Essencial Com Jesus
O testemunho de João Batista provoca uma
inversão no rumo da vida dos seus dois discípulos. Eles começam a seguir Jesus.
“Seguir” Jesus é uma maneira bíblica de dizer “tornar-se discípulo”; e Jesus
será chamado de Rabi, Mestre.
Ao perceber que os dois estão O seguindo,
Jesus os interroga: “O que estais
buscando?”. “O que esperais de mim?”. São as primeiras palavras de Jesus no
quarto Evangelho. É uma pergunta ao mesmo tempo existencial e essencial. Esta
pergunta é dirigida a pessoas que estão em busca, que andam inquietas, que se
interrogam sobre o essencial nesta vida tanto para os religiosos como para os
leigos, tanto para os jovens como para os adultos. Afinal, o que você está
procurando nesta vida? Que sentido tem sua vida? Para onde a vida vai levá-lo?
O homem, enquanto estiver vivo, permanecerá um perguntador. Ninguém pode dar
sentido à própria vida a não ser interrogando-se sobre o seu estar no mundo e
ser interrogado pelos outros sobre o modo de viver, pois o homem não somente
vive, mas convive. Nossa vida está cercada por outras vidas. Viver significa
completar-se, desenvolver-se e crescer por meio de “algo outro”. Mas
paradoxalmente na hora de buscar respostas para suas perguntas, o homem acaba
encontrando novas perguntas. Nascer é vir ao mundo, ver o mundo; é
manifestar-se e abrir-se. Cada porta aberta somos acompanhados por uma serie de
perguntas e o desejo de ter respostas, embora, no fim, acabemos encontrando
novas perguntas.
Diante da pergunta de Jesus “O que estais
procurando”, em vez de responder, os dois discípulos lançaram uma pergunta: “Mestre,
onde moras?”. Onde vives, Rabi? Qual é o segredo de Tua vida? De onde vens?
O que é para Ti viver, Mestre?
“Vinde e o vereis” é a resposta de Jesus para
a pergunta dos dois discípulos de João. Fazei vós mesmos a experiência da minha
vida. Não busqueis outra informação. Vinde conviver comigo para saber quem sou
e o que estou fazendo e querendo alcançar e vós descobrireis que comigo vossas
vidas serão transformadas. O importante não é buscar algo e sim buscar Alguém
que dá sentido para nossa vida e para nossas lutas de cada dia apesar de tudo.
“O que estais buscando?”. No fundo,
todos nós estamos sempre em busca de algo mais e por isso sempre insatisfeitos.
Consciente ou conscientemente somos todos garimpeiros à procura do diamante da
felicidade, andarilhos à procura da pérola preciosa, pela qual estamos
dispostos a “vender”, com alegria, tudo o que possuímos (cf. Mt 13,44.46).
Jesus conhece nossos desejos mais profundos e sabe muito melhor das nossas
necessidades fundamentais mais do que nós mesmos sabemos. Quando nos interpela
com a pergunta essencial, “o que estais procurando?”, é para obrigar-nos a
expressá-lo. Jesus quer que seus seguidores explicitem, diante dele, os motivos
da sua busca e do seu seguimento. Esta explicitação é necessária porque as
motivações nossas podem ser equivocadas, precipitadas, imaturas ou ilusórias.
A busca pela vida mais significativa e
satisfatória é um dos temas mais antigos do homem e de qualquer religião. Ela
continua válida para qualquer tempo e tempo e para qualquer pessoa que vive
profundamente seu ser. No fundo percebemos que nossa vida não está sedenta de
fama, de conforto, de propriedades ou de poder. Estes supostos valores criarão
muitos problemas assim que os alcançarmos. Nossa vida tem fome do significado
da vida: o que é vida ou a vida? Por que e para que estamos vivos. Que sentido
tem minha vida? O que é essencialmente estou procurando nesta vida? Para onde a
vida vai me levar, enfim? O que nos frustra e rouba a alegria de viver é a
ausência do significado de nossa vida ou de nossa presença neste mundo.
Percebemos, pela experiência, que não passamos a ser felizes perseguindo ou
caçando a felicidade. Nós nos tornamos felizes vivendo e partilhando uma vida
que signifique alguma coisa. As pessoas mais felizes geralmente são pessoas que
se esforçam para ser generosas, prestativas, prontas para ajudar os outros na
sua necessidade. A melhor maneira de ser feliz e de conservar a felicidade é
partilhá-la. Quem ama, partilha. “Creio que os homens que vivem para os outros, chegarão um dia a
reconstruir o que os egoístas destruíram” (Martin Luther King).
Se neste momento Jesus lhe perguntar: “O que
estais procurando nesta vida e por quê?”, qual será sua resposta?
P. Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário