domingo, 24 de dezembro de 2017

26/12/2017

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SER MÁRTIR DE CRISTO
Festa de Santo Estevão
26 de Dezembro


Primeira Leitura: At 6,8-10; 7,54-59
8 Naqueles dias, Estêvão, cheio de graça e poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo. 9 Mas alguns membros da chamada Sinagoga dos Libertos, junto com cirenenses e alexandrinos, e alguns da Cilícia e da Ásia, começaram a discutir com Estêvão. 10Porém, não conseguiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que ele falava. 7,54 Ao ouvir essas palavras, eles ficaram enfurecidos e rangeram os dentes contra Estêvão. 55 Estêvão, cheio do Espírito Santo, olhou para o céu e viu a glória de Deus e Jesus, de pé, à direita de Deus. 56E disse: “Estou vendo o céu aberto, e o Filho do Homem, de pé, à direita de Deus”. 57 Mas eles, dando grandes gritos e, tapando os ouvidos, avançaram todos juntos contra Estêvão; 58 arrastaram-no para fora da cidade e começaram a apedrejá-lo. As testemunhas deixaram suas vestes aos pés de um jovem, chamado Saulo. 59 Enquanto o apedrejavam, Estêvão clamou dizendo: “Senhor Jesus, acolhe o meu espírito”.


Evangelho: Mt 10,17-22
Naquele tempo, disse Jesus aos seus apóstolos: 17Cuidado com os homens, porque eles vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas. 18Vós sereis levados diante de governadores e reis, por minha causa, para dar testemunho diante deles e das nações. 19Quando vos entregarem, não fiqueis preocupados como falar ou o que dizer. Então naquele momento vos será indicado o que deveis dizer. 20Com efeito, não sereis vós que havereis de falar, mas sim o Espírito do vosso Pai é que falará através de vós. 21O irmão entregará à morte o próprio irmão; o pai entregará o filho; os filhos se levantarão contra seus pais, e os matarão. 22Vós sereis odiados por todos, por causa do meu nome. Mas quem perseverar até o fim, esse será salvo.
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Que tua conduta e tua palavra possam significar um chamamento de Deus à mente e ao coração dos que d’Ele estão longe (Pio XII, Papa). 


Neste dia a Igreja celebra o martírio de São Estevão. Estevão é chamado de “protomártir” porque teve a honra de ser o primeiro mártir que derramou seu sangue por proclamar sua fé em Jesus Cristo.


Depois de Pentecostes (cf. At 2,1-13), os apóstolos dirigiram o anúncio da mensagem cristã aos mais próximos: aos hebreus, despertando o conflito e a fúria por parte das autoridades religiosas do judaísmo. Como Cristo, os apóstolos foram imediatamente vitimas da humilhação e de cárcere, mas assim libertados, continuavam a pregação do Evangelho. Quando a comunidade cristã começou a crescer, os apóstolos confiaram o serviço da assistência diária para sete ministros da caridade, chamados diáconos. Estevão fazia parte desse ministério.


O texto do discurso com que Estevão encerrou seu fulgurante ministério e motivou sua bárbara lapidação é um dos mais veneráveis monumentos da literatura cristã (cf. At 7,1-60). É a primeira das homilias.  Mais do que uma autodefesa é um didaché. No seu discurso, Estevão passa de acusado para ser acusador, contundente como um martelo. Enquanto falava, seu rosto resplandecia com brilho purpúreo de juventude como brilho de um anjo.


“Irmãos e pais, escutai!”. Com estas palavras, as mais ternas do vocabulário humano, Estevão quer recordar a sua comunidade de origem de que Estevão fazia parte dela. Estevão não é desconhecido entre sua comunidade, não é um alienado. Ele é da etnia de Abraão, partícipe das mesmas promessas e das mesmas esperanças. Estevão quer dizer a sua comunidade de origem: “Como pode acontecer que um irmão mata outro irmão”. Trata-se de uma fratricida.


O martírio de São Estevão é celebrado logo depois de a Igreja celebrar o nascimento do Filho de Deus como nosso irmão, e nosso Salvador. O martírio de Estevão quer nos revelar que o Menino Jesus recém-nascido em Belém é o mesmo que mais tarde, por fidelidade à sua missão, entregará sua vida na Cruz para salvar a humanidade. Os anjos do Natal anunciaram o nascimento do Salvador: “Hoje nasceu para vós um Salvador”. É pela cruz que Jesus nos salva.  Jesus será o primeiro mártir, testemunha do amor de Deus vivido até o fim, até as ultimas conseqüências (Jo 13,1; 3,16). Estevão será logo o primeiro entre os seguidores que imitam Jesus no martírio. Em outras palavras, Estevão é chamado de “proto-mártir” porque teve a honra de ser o primeiro mártir que derramou seu sangue por proclamar sua em Jesus Cristo. Mas o próprio Jesus será o primeiro mártir, por excelência.


Estevão é o verdadeiro reflexo do próprio Jesus porque ele acreditava e vivia totalmente a mensagem de Jesus. Ele, como Jesus, fez aquilo que é tão difícil para a vida normal: amar e rezar pelos inimigos. “Senhor, não lhes leves em conta este pecado”, assim ele rezou pelos inimigos que o apedrejaram até a morte (At 7,60; cf. Lc 23,34; Mt 5,44-48). Esta é a novidade do Evangelho, capaz de suscitar uma pergunta, pois aquele que vive profundamente o Evangelho de Jesus Cristo é capaz de orar e amar aquele que o destrói. Por isso, viver de acordo com o Evangelho não é tão fácil como se imagina.


Mas a celebração do martírio de santo Estevão é uma festa gozosa porque sua morte é um novo nascimento, é a participação da Páscoa de Jesus. O longo discurso de Estevão em At 7, de puro conteúdo pascal, expressa claramente a conflitividade da pregação da ressurreição de Jesus que levou Estevão ao martírio.  Como Jesus Cristo e o seu proto-mártir, Estevão, todos os cristãos são chamados a serem testemunhas/mártires da boa Noticia com a totalidade de sua vida.


Na parte central dos grandes discursos que dão ritmo a Atos, Pedro repete: “Nós somos testemunhas” (cf. At 2,32;3,15;10,41). Ser testemunha era a identidade dos discípulos de Jesus. O anúncio da palavra de Deus e o testemunho de vida são palavras-chaves e inseparáveis na obra de Lucas, de modo especial na segunda obra (Atos). Testemunhar significa provar com a própria vida aquilo que se fala, se professa e no que se acredita, assumindo todas as conseqüências.


Mas não se trata de testemunhar uma idéia, um conjunto de verdades; mas trata-se de testemunhar o próprio Jesus Cristo Ressuscitado. Por isso, o anúncio pode ser feito por todos e para todos, porque não pressupõe nem culturas nem diplomas. Sendo o próprio Jesus Cristo, é suficiente tê-Lo encontrado como aquele quesentido a toda a vida. Para anunciar Jesus Cristo Ressuscitado não se requerem qualidades específicas, mas uma fidelidade. Testemunhar Jesus é provar com a própria vida que é ele o sentido profundo de nossa vida e da vida do mundo e a garantia nossa tanto no presente como no futuro (cf. Jo 14,6). Não se trata de testemunhar Jesus Ressuscitado temporariamente. Temos que ser perseverantes no nosso testemunho em qualquer circunstância. Na escolha de um caminho de vida, não basta o entusiasmo do primeiro momento nem as afirmações exaltadas de amor a Jesus. A salvação para cada um de nós e para melhorar o mundo, depende da nossa perseverança na vivência dos ensinamentos de Cristo.


No evangelho lido neste dia, Jesus não esconde a verdade aos cristãos: o evangelho provoca, muitas vezes, a oposição e perseguição. Isto não espanta Jesus. Ele pede aos cristãos para se manterem valentes como Ele até o fim (cf. Jo 16,33). Jesus salvou a humanidade comportando-se como ovelha ou na linguagem do evangelista João como cordeiro: simples e manso (Mt 11,28-30).


A oposição e a perseguição vêem, muitas vezes, da própria família: “O irmão entregará seu irmão à morte. O pai, seu filho. Os filhos levantar-se-ão contra seus pais e os matarão”. O ódio pode nascer em qualquer pessoa e em qualquer lugar. Jesus nos sugere uma solução: “Permanecei fieis!”. É conservar a firmeza e o valor, contra toda decepção, contra toda oposição e contra todo fracasso. O que conta é a salvação eterna. Precisamos saber que Jesus está conosco (Mt 28,20). Na obscuridade do fracasso estamos seguros de que Jesus, com toda certeza, virá e salvará os seus. Mas Jesus nos alerta e nos afirma: “Aquele que perseverar até o fim, será salvo”. Será que sou perseverante em tudo como cristão? 


Meditemos a seguinte reflexão do Papa Bento XVI sobre Santo Estêvão:


No dia seguinte ao Natal, a liturgia faz-nos celebrar o "nascimento para o céu" do primeiro mártir, Santo Estêvão. "Cheio de fé e do Espírito Santo" (At 6, 5), ele foi escolhido como diácono na Comunidade de Jerusalém, juntamente com outros seis discípulos de cultura grega. Com a força que lhe vinha de Deus, Estêvão realizava numerosos milagres e anunciava nas sinagogas o Evangelho com "sabedoria inspirada". Foi lapidado às portas da cidade e morreu, como Jesus, invocando o perdão para os seus algozes (cf. At 7, 59-60). O vínculo profundo que une Cristo ao seu primeiro mártir Estêvão é a Caridade divina: o mesmo Amor que levou o Filho de Deus a despojar-se a si mesmo e a fazer-se obediente até à morte de cruz (cf. Fl 2, 6-8), estimulou depois os Apóstolos e os mártires a dar a vida pelo Evangelho.


É preciso ressaltar sempre esta característica distintiva do martírio cristão: ele é exclusivamente um ato de amor, para com Deus e para com os homens, incluídos os perseguidores. Por isso nós hoje, na Santa Missa, rezamos ao Senhor para que nos ensine "a amar também os nossos inimigos a exemplo de [Estêvão] que, ao morrer, rezou pelos seus perseguidores" (Oração da coleta).


Quantos filhos e filhas da Igreja, no decorrer dos séculos, seguiram este exemplo! Desde a primeira perseguição em Jerusalém até às dos imperadores romanos, às multidões dos mártires dos nossos tempos. De facto, com frequência também hoje chegam notícias de várias partes do mundo de missionários, sacerdotes, bispos, religiosos, religiosas e fiéis leigos perseguidos, aprisionados, torturados, privados da liberdade ou impedidos de a exercer porque são discípulos de Cristo e apóstolos do Evangelho; por vezes sofre-se e morre-se também pela comunhão com a Igreja universal e a fidelidade ao Papa. Na Carta Encíclica Spe salvi (cf. n. 37), recordando a experiência do mártir vietnamita Paulo Le-Bao-Thin (falecido em 1857), faço notar que o sofrimento é transformado em alegria mediante a força da esperança que provém da fé. O mártir cristão, como Cristo e mediante a união com Ele, "aceita no seu íntimo a cruz, a morte e transforma-a numa ação de amor. O que externamente é violência brutal, a partir de dentro torna-se um ato de amor que se doa totalmente. A violência assim transforma-se em amor e, portanto, a morte em vida" (Homilia em Marienfeld, Colónia, 21 de Agosto de 2005). O mártir cristão actualiza a vitória do amor sobre o ódio e a morte (ANGELUS: Praça de São Pedro, Quarta-feira, 26 de Dezembro de 2007)
P. Vitus Gustama, svd

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