26/12/2017
26 de Dezembro
Primeira Leitura: At 6,8-10;
7,54-59
8
Naqueles dias, Estêvão, cheio de graça e poder, fazia prodígios e grandes
sinais entre o povo. 9 Mas alguns membros da chamada Sinagoga dos Libertos,
junto com cirenenses e alexandrinos, e alguns da Cilícia e da Ásia, começaram a
discutir com Estêvão. 10Porém, não conseguiam resistir à sabedoria e ao
Espírito com que ele falava. 7,54 Ao ouvir essas palavras , eles ficaram enfurecidos e rangeram os
dentes contra Estêvão. 55 Estêvão, cheio do Espírito Santo, olhou para o céu e
viu a glória de Deus e Jesus, de pé, à direita de Deus. 56E disse: “Estou vendo
o céu aberto, e o Filho do Homem, de pé, à direita de Deus”. 57 Mas eles, dando
grandes gritos e, tapando os ouvidos, avançaram todos juntos contra Estêvão; 58
arrastaram-no para fora da cidade e começaram a apedrejá-lo. As testemunhas
deixaram suas vestes aos pés de um jovem, chamado Saulo. 59 Enquanto o
apedrejavam, Estêvão clamou dizendo: “Senhor Jesus, acolhe o meu espírito”.
Evangelho: Mt 10,17-22
Naquele
tempo , disse Jesus aos seus apóstolos :
17“Cuidado
com os homens ,
porque eles
vos entregarão aos tribunais
e vos açoitarão nas suas
sinagogas . 18Vós sereis levados
diante de governadores
e reis , por
minha causa , para dar testemunho
diante deles e das nações .
19Quando
vos entregarem, não
fiqueis preocupados como falar
ou o que
dizer . Então
naquele momento vos
será indicado o que deveis dizer . 20Com efeito , não sereis vós que havereis de falar , mas sim o Espírito do vosso
Pai é que
falará através de vós .
21O irmão
entregará à morte o próprio
irmão ; o pai
entregará o filho ; os filhos se levantarão contra
seus pais ,
e os matarão. 22Vós
sereis odiados por todos ,
por causa do meu nome . Mas quem perseverar até o fim , esse será salvo .
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“Que tua conduta e tua palavra
possam significar um
chamamento de Deus à mente e ao coração
dos que d’Ele
estão longe ” (Pio
XII, Papa ).
Neste dia a Igreja celebra o martírio de São
Estevão. Estevão é chamado de “protomártir” porque teve a honra de ser o
primeiro mártir que derramou seu sangue por proclamar sua fé em Jesus Cristo.
Depois de Pentecostes (cf. At 2,1-13), os
apóstolos dirigiram o anúncio da mensagem cristã aos mais próximos: aos
hebreus, despertando o conflito e a fúria por parte das autoridades religiosas
do judaísmo. Como Cristo, os apóstolos foram imediatamente vitimas da
humilhação e de cárcere, mas assim libertados, continuavam a pregação do
Evangelho. Quando a comunidade cristã começou a crescer, os apóstolos confiaram
o serviço da assistência diária para sete ministros da caridade, chamados
diáconos. Estevão fazia parte desse ministério.
O texto do discurso com que Estevão encerrou
seu fulgurante ministério e motivou sua bárbara lapidação é um dos mais
veneráveis monumentos da literatura cristã (cf. At 7,1-60). É a primeira das
homilias. Mais do que uma autodefesa é
um didaché. No seu discurso, Estevão passa de acusado para ser
acusador, contundente como um martelo. Enquanto falava, seu rosto resplandecia
com brilho purpúreo de juventude como brilho de um anjo.
“Irmãos e pais, escutai!”. Com estas
palavras, as mais ternas do vocabulário humano, Estevão quer recordar a sua
comunidade de origem de que Estevão fazia parte dela. Estevão não é desconhecido
entre sua comunidade, não é um alienado. Ele é da etnia de Abraão, partícipe
das mesmas promessas e das mesmas esperanças. Estevão quer dizer a sua
comunidade de origem: “Como pode acontecer que um irmão mata outro irmão”. Trata-se
de uma fratricida.
O martírio
de São Estevão é celebrado logo depois de
a Igreja celebrar
o nascimento do Filho de Deus como nosso irmão , e nosso Salvador . O martírio de Estevão quer
nos revelar que o Menino
Jesus recém-nascido em Belém é o mesmo
que mais
tarde , por
fidelidade à sua
missão , entregará sua
vida na Cruz
para salvar a humanidade . Os anjos
do Natal anunciaram o nascimento do Salvador : “Hoje
nasceu para vós
um Salvador ”.
É pela cruz
que Jesus nos
salva .
Jesus será o primeiro mártir ,
testemunha do amor
de Deus vivido
até o fim ,
até as ultimas conseqüências
(Jo 13,1; 3,16). Estevão será logo o primeiro entre os seguidores que
imitam Jesus no martírio . Em outras palavras ,
Estevão é chamado de “proto-mártir” porque
teve a honra de ser
o primeiro mártir
que derramou seu
sangue por
proclamar sua
fé em
Jesus Cristo . Mas
o próprio Jesus será o primeiro
mártir , por
excelência .
Estevão é o verdadeiro
reflexo do próprio
Jesus porque ele
acreditava e vivia totalmente a mensagem de Jesus. Ele ,
como Jesus, fez aquilo
que é tão
difícil para
a vida normal :
amar e rezar pelos inimigos .
“Senhor , não lhes leves em conta este pecado ”, assim ele rezou
pelos inimigos
que o apedrejaram até
a morte (At 7,60; cf. Lc 23,34; Mt 5,44-48). Esta é
a novidade do Evangelho ,
capaz de suscitar
uma pergunta , pois aquele que vive
profundamente o Evangelho
de Jesus Cristo é capaz
de orar e amar aquele que o
destrói. Por isso ,
viver de acordo
com o Evangelho
não é tão
fácil como
se imagina.
Na parte
central dos grandes
discursos que
dão ritmo a Atos ,
Pedro repete: “Nós somos testemunhas ” (cf. At 2,32;3,15;10,41). Ser
testemunha era
a identidade dos discípulos
de Jesus. O anúncio da palavra de Deus
e o testemunho de vida
são palavras-chaves e inseparáveis na obra
de Lucas, de modo especial
na segunda obra
(Atos ). Testemunhar
significa provar com
a própria vida
aquilo que
se fala , se professa
e no que se acredita, assumindo todas as
conseqüências .
No evangelho
lido neste dia , Jesus não esconde a verdade aos cristãos : o evangelho
provoca, muitas vezes , a oposição e perseguição. Isto
não espanta
Jesus. Ele pede aos cristãos
para se manterem valentes
como Ele
até o fim
(cf. Jo 16,33). Jesus salvou a humanidade
comportando-se como ovelha
ou na linguagem
do evangelista João como
cordeiro : simples
e manso (Mt 11,28-30).
A oposição
e a perseguição vêem, muitas vezes , da própria família :
“O irmão entregará seu irmão à morte . O pai , seu filho . Os filhos levantar-se-ão contra
seus pais
e os matarão”. O ódio pode nascer em qualquer pessoa e em qualquer lugar . Jesus nos
sugere uma só solução :
“Permanecei fieis !”. É conservar
a firmeza e o valor ,
contra toda
decepção , contra
toda oposição
e contra todo
fracasso . O que
conta é a salvação eterna .
Precisamos saber que
Jesus está conosco (Mt 28,20). Na obscuridade do fracasso
estamos seguros de que
Jesus, com toda
certeza , virá e salvará os seus . Mas Jesus
nos alerta
e nos afirma: “Aquele
que perseverar
até o fim ,
será salvo ”. Será que
sou perseverante em tudo
como cristão ?
Meditemos a seguinte reflexão do Papa Bento XVI sobre Santo Estêvão:
No dia seguinte ao Natal, a liturgia faz-nos
celebrar o "nascimento para o céu" do primeiro mártir, Santo Estêvão.
"Cheio de fé e do Espírito Santo" (At 6, 5), ele foi escolhido como
diácono na Comunidade de Jerusalém, juntamente com outros seis discípulos de
cultura grega. Com a força que lhe vinha de Deus, Estêvão realizava numerosos
milagres e anunciava nas sinagogas o Evangelho com "sabedoria inspirada".
Foi lapidado às portas da cidade e morreu, como Jesus, invocando o perdão para
os seus algozes (cf. At 7, 59-60). O vínculo profundo que une Cristo ao seu
primeiro mártir Estêvão é a Caridade divina: o mesmo Amor que levou o Filho de
Deus a despojar-se a si mesmo e a fazer-se obediente até à morte de cruz (cf.
Fl 2, 6-8), estimulou depois os Apóstolos e os mártires a dar a vida pelo
Evangelho.
É preciso ressaltar sempre esta
característica distintiva do martírio
cristão: ele é exclusivamente um ato de amor, para com Deus e para com os
homens, incluídos os perseguidores. Por isso nós hoje, na Santa Missa,
rezamos ao Senhor para que nos ensine "a amar também os nossos inimigos a
exemplo de [Estêvão] que, ao morrer, rezou pelos seus perseguidores"
(Oração da coleta).
Quantos filhos e filhas da Igreja, no
decorrer dos séculos, seguiram este exemplo! Desde a primeira perseguição em
Jerusalém até às dos imperadores romanos, às multidões dos mártires dos nossos
tempos. De facto, com frequência também hoje chegam notícias de várias partes
do mundo de missionários, sacerdotes, bispos, religiosos, religiosas e fiéis
leigos perseguidos, aprisionados, torturados, privados da liberdade ou
impedidos de a exercer porque são discípulos de Cristo e apóstolos do
Evangelho; por vezes sofre-se e morre-se também pela comunhão com a Igreja
universal e a fidelidade ao Papa. Na Carta Encíclica Spe salvi (cf. n. 37),
recordando a experiência do mártir vietnamita Paulo Le-Bao-Thin (falecido em
1857), faço notar que o sofrimento é transformado em alegria mediante a força
da esperança que provém da fé. O mártir cristão, como Cristo e mediante a união
com Ele, "aceita no seu íntimo a cruz, a morte e transforma-a numa ação de
amor. O que externamente é violência brutal, a partir de dentro torna-se um ato
de amor que se doa totalmente. A violência assim transforma-se em amor e,
portanto, a morte em vida" (Homilia em Marienfeld, Colónia, 21 de Agosto
de 2005). O mártir cristão actualiza a vitória do amor sobre o ódio e a morte (ANGELUS:
Praça de São Pedro, Quarta-feira, 26 de Dezembro de 2007)
P. Vitus Gustama, svd
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