sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

18/12/2017
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ENTRE A VONTADE DE DEUS E O QUERER HUMANO
 
NOITES DE DISCERNIMENTO DE SÃO JOSÉ
18 de Dezembro


Primeira Leitura: Jr 23, 5-8
5 “Eis que virão dias, diz o Senhor, em que farei nascer um descendente de Davi; reinará como rei e será sábio, fará valer a justiça e a retidão na terra. 6 Naqueles dias, Judá será salvo e Israel viverá tranquilo; este é o nome com que o chamarão: ‘Senhor, nossa Justiça’. 7 Eis que virão dias, diz o Senhor, em que já não se usará jurar ‘Pela vida do Senhor que tirou os filhos de Israel do Egito’ 8 mas sim: ‘Pela vida do Senhor que tirou e reconduziu os descendentes da casa de Israel desde o país do norte e todos os outros países’, para onde os expulsará; eles então irão habitar em sua terra”.


Evangelho: Mt 1, 18-25
18A origem de Jesus Cristo foi assim: Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo.19José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria, em segredo. 20Enquanto José pensava nisso, eis que o anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho, e lhe disse: “José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. 21Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados”. 22Tudo isso aconteceu para se cumprir o que o Senhor havia dito pelo profeta: 23“Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho. Ele será chamado pelo nome de Emanuel, que significa: Deus está conosco”. 24Quando acordou, José fez conforme o anjo do Senhor havia mandado, e aceitou sua esposa.
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Em toda esta última semana do Advento as leituras dos textos evangélicos se concentram nos relatos que precedem imediatamente ao nascimento de Jesus: o anúncio do Anjo a José num sonho, a chegada do Anjo Gabriel a Zacarias, a chegada do Anjo a Maria, a visitação de Maria e Jesus a Isabel e João, o nascimento e o nome de João, o Batista, e o cântico de Zacarias conhecido como “Benedictus”.


O Povo Espera Um Messias, Novo Rei Da Justiça e Da Retidão


Eis que virão dias em que farei nascer um descendente de Davi; reinará como rei e será sábio, fará valer a justiça e a retidão na terra” (Jr 23.5).


Esse oráculo de Jeremias está inserido em um contexto de severas condenações pelos reis de Judá. A dinastia davídica está em decadência total e aumenta a cólera de Deus (Jr 21 e 22): incapacidades, injustiças sociais, alianças idólatras, crimes políticos, má conduta pessoal. Por isso, o panorama é bastante negativo. Os reis governaram mal o povo e causaram a dispersão.


Diante da situação de injustiça em que as pessoas viviam constantemente e que parecia irremediável, os profetas enfatizam sempre em suas palavras que o esperado Messias restaurará a justiça. É uma nova ordem, novas relações com Deus e com os outros. A justiça como os profetas entenderam era uma condição indispensável para a paz. É por isso que Jeremias, depois de falar sobre o rei justo, acrescenta como uma consequência natural: Israel viverá em paz. Os frutos da justiça serão: a cessação da opressão e da violência; a abundância de trigo e a prosperidade das nações como enfatiza o Salmo Responsorial (Sl 71): “Libertará o indigente que suplica, e o pobre ao qual ninguém quer ajudar. Terá pena do indigente e do infeliz, e a vida dos humildes salvará”. Assim, na dinastia de Davi, tão condenável por causa da decadência total, existe um germe de Messias.


Não é este tipo de líder que a humanidade está aguardando HOJE e sempre? Espera-se que a sabedoria, a prudência, a justiça e a retidão governem os responsáveis pela sociedade em todos os níveis! Espera-se que o direito e a justiça presidam as relações entre os homens! Espera-se que soluções sensatas sejam aplicadas para os problemas humanos.


Conhecendo o curso da história e o progresso da revelação, sabemos que esta esperança e promessa de Jeremias somente em Cristo foram cumpridas e ultrapassaram infinitamente todas as expectativas humanas. Deus não só foi nossa justiça, mas também inclui presença e ação salvadora. Ele se fez "Deus conosco", Emanuel (Cf. Mt 1,23; 28,20).


O tema de Emanuel, o Deus-Conosco, se conecta com o de "Filho de Deus com pleno poder". Os exegetas observam no Evangelho do Mt o paralelismo entre este anúncio do anjo a José e a conclusão do Evangelho: "Eis que Eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt 28,20). Falar de Cristo como Emanuel é conotar, no presente, o mistério pascal de Cristo e de sua presença na Igreja, pelo poder do Espírito Santo. E nós pertencemos a este Messias. Logo, a vida e a missão de Cristo Jesus são também nossa vida e missão.


Anunciação Do Anjo a José e Sua “Fiat” à Vontade De Deus


No evangelho de Lucas lemos a anunciação do Anjo do Senhor a Maria (Lc 1,26-38). O Evangelho de Mateus nos relata a anunciação do Anjo do Senhor a José, como lemos no texto do evangelho de hoje.


1. Maria e Ação do Espírito Santo


“Maria, sua mãe, estava prometida em casamento a José, e, antes de viverem juntos, ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo”, assim começa o texto do evangelho de hoje.


 O matrimônio judeu é celebrado em duas etapas: o contrato e a coabitação. Entre o contrato e a coabitação transcorre um intervalo que pode durar um ano. O contrato já pode ser feito quando a moça tem doze anos de idade. O intervalo (antes da coabitação) dá espaço para a maturidade física da esposa. Maria está unida a José por contrato, mas ainda não há coabitação como mostra a frase citada acima (v.18). Mas, mesmo não havendo a coabitação a esposa em contrato deve ser fiel ao seu marido como se fosse uma casada. Consequentemente, a infidelidade é, nessa etapa, considerada como adultério.


“Ela ficou grávida pela ação do Espírito Santo”, assim o texto nos diz em seguida. Esta frase nos mostra que o Pai de Jesus é o próprio Deus. Sua concepção e nascimento não são casuais, mas tem lugar pela vontade e obra de Deus. Assim o evangelista expressa a eleição de Jesus para sua missão messiânica e a novidade absoluta na história (Nova criação. A desobediência de Adão causou o novo caos. A chegada de Jesus ordena tudo para uma nova criação).


2. José/Israel e a Ruptura Com o Passado


“José, seu marido, era justo e, não querendo denunciá-la, resolveu abandonar Maria, em segredo”.          


José é o homem justo e reto.  Ao usar o termo “justo” (cf. Mt 13,17; 23,29: em ambos os casos “justo” são associados a “profetas”), Mateus quer nos mostrar que José é protótipo de israelita fiel aos mandamentos de Deus. A fidelidade a Deus através do cumprimento da Lei obriga José a repudiar Maria. Consequentemente, Maria seria culpada como adúltera. No entanto, o amor ao próximo como a si mesmo (cf. Mt 22,39) impedia José de difamar Maria. Daí sua decisão de repudiar Maria em segredo e não quer expô-la para a vergonha pública ou para o pudor público.


Porém o Anjo do Senhor intervém: “Enquanto José pensava nisso, eis que o anjo do Senhor apareceu-lhe, em sonho, e lhe disse: “José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados”. E José que encarna o resto de Israel é dócil à voz de Deus e quer cumprir aquilo que Deus quer que ele realize para Jesus salvar a humanidade. E o uso da expressão “Filho de Davi” aplicada a José indica a relação com Mt 1,1 para sublinhar que o direito à realeza para Jesus vem pela linha de José (cf. Mt 12,23; 20,30).


Percebe-se aqui o significado que o evangelista Mateus atribui à figura de Maria. Ela representa a comunidade cristã em cujo seio nasce a nova criação pela obra do Espírito Santo. A dúvida de José reflete, por isso, o conflito interno dos israelitas fiéis diante da nova realidade: a comunidade cristã. Pela ruptura com a tradição que percebe nessa comunidade (nascimento virginal sem pai ou sem modelo humano), José (=Israel) deve repudiá-la para ser fiel à tradição. Por outro lado, José (=Israel) não tem motivo real algum para difamá-la, pois sua conduta irrepreensível é patente ou óbvia. O Anjo do Senhor, que representa o próprio Deus, resolve o conflito convidando Israel fiel a aceitar a nova comunidade, porque o que nasce nela é obra de Deus. Esse Israel compreende a novidade do messianismo de Jesus e aceita a ruptura com o passado.


2. Noites de Discernimento de José: Mensagem Para Nós


O evangelho deste dia nos coloca em destaque José em relação a Maria encontrada grávida sem nenhum contato com ele. É claro que José passa noites para um discernimento para procurar entender o acontecimento. Sabemos muito bem que discernir é fatigoso. Lançam-se muitas perguntas tais como: O que quer Deus de mim? Por que me põe nessa situação tão inédita? Como é que posso aceitar uma mulher já grávida que não é o fruto do meu ato para ser minha mulher? Na sua cabeça surge uma idéia descrita por Mateus da seguinte maneira: “José, seu esposo, sendo justo e não querendo denunciá-la publicamente, resolveu repudiá-la em segredo” (Mt 1,19).


Não há duvida de que o caminho de São José até a decisão final foi escuro e doloroso, pois no processo de discernimento a pessoa tem que distinguir entre o que é bom e o que não o é; o que Deus quer e o que Ele não quer. O objeto preciso do discernimento é a vontade de Deus e comporta uma grande visão de fé. Somente na fé é que posso descobrir que Deus me ama, pensa em mim, me chama, tem uma opção particular para mim, minha vida tem um sentido no plano de Deus e eu tenho meu nome gravado na palma da mão de Deus (Is 49,16), que Deus quer se revelar a mim. Discernimento é uma purificação do coração, um ato de amor ao Senhor, um reconhecer que na minha vida eu estou em dialogo com uma Palavra mais forte que eu, que me criou e redimiu, me sustenta, guia e acompanha. No discernimento, diante de Deus eu me conheço e conheço o desígnio de Deus sobre mim.


Durante o processo de discernimento em que é dada a oportunidade para Deus falar é que se encontra a solução: “José, Filho de Davi, não tenhas medo de receber Maria como tua esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e tu lhe darás o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados”. O plano e a vontade de Deus são muito maiores e mais fortes do que a própria vontade de José. Na fé em Deus José recebeu Maria


São José revive a dos patriarcas. Como Abraão, pai na , José está disposto a seguir o caminho confiado do projeto de Deus. No evangelho deste dia ele é chamado de um homem justo, isto é, aquele que crê nas promessas de Deus inclusive quando estas parecem estranhas e impossíveis. O justo na Bíblia é aquele que permanece firmemente ancorado em Deus apesar dos pesares, ainda que tenha que ficar . A aparece como a condição na qual descobrimos com nova luz o sentido das coisas e das reações mais preciosas que vivemos.


José não é uma pessoa que fala ou ajusta as coisas para a vantagem própria. Ele é uma pessoa de ação. Ele se limita a escutar o que lhe revela o anjo. Para José a verdade de Deus é mais importante do que seu próprio interesse. Maria e José renunciaram à sua verdade para entrar na verdade de Deus.


Aceitar ou receber o mistério de Deus é uma das grandes tarefas que todos nós temos ao longo de nossa vida. Aceitar o que o Senhor quer para nós é o principal objetivo da existência; porque detrás do que Deus quer para nóssempre um mistério muito grande que somente é entendido e alcançado/obtido por meio da , da confiança em Deus e através de um coração generoso. Sem este tipo de coração é impossível aceitar o mistério do Senhor.


E nós? Nós não podemos ser felizes se não conseguirmos ler em profundidade os acontecimentos de nossa existência. Deus está presente em nossa existência: em cada uma de suas vicissitudes aparece o plano de Deus e Sua intenção de nos dizer algo. É uma verdade que devemos descobrir em cada momento de nossa vida. Quando cada um descobre sua própria impotência e sua pequenez diante da própria existência, então, deve voltar à memória deste relato para descobrir dentro de si a presença de Deus. Deus cumpre Sua promessa e a faz, muitas vezes, em forma desconcertante. Emanuel, Deus-Conosco é a fortaleza feita debilidade. Em uma humilde casa de Nazaré, no seio de uma jovem, chega, discretamente, Aquele que estabelece nossa amizade com Deus. A esse dom contribui a simplicidade de José. Quando pensarmos que tudo discorre “normalmentenós não seremos capazes de perceber o novo no imprevisto.


José aceita o desafio de Deus apesar de sua vontade de abandonar Maria. Como na vida de José, também às vezes nos são apresentadas situações difíceis e obscuras. Mas elas servem para nos purificar, para purificar nossa visão desta vida, para ampliar nosso horizonte e para nos aproximar de Deus e dos seus mistérios.


Precisamos contemplar a delicadeza deste homem simples e justo, São José. Ele é capaz de entrar nos segredos de Deus, como a própria Maria. Aqui neste texto encontramos um casal que recebeu uma responsabilidade excepcional: ser instrumento de Deus pelo qual a salvação chega aos outros homens.


Não sou eu também responsável de um certo “Nascimento” de Deus, HOJE?


Além disso, quando uma comunidade cristã de hoje, como no tempo de Mateus, descobre sua impotência e sua pequenez, como José, ela deve voltar à memória desse relato para descobrir dentro de si a presença de Deus que sempre se conecta com ela para a realização da salvação. E como na vida de José, também, às vezes, são nos apresentadas situações difíceis e obscuras. Sabemos muito bem que dentro dos planos de Deus encaramos com freqüência as provas e as tribulações, as quais servem para nos purificar e nos aproximarmos mais de Deus e de Sua vontade.
P. Vitus Gustama,svd

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