Domingo,03/11/2017
VIGILÂNCIA
CRISTÃ É ESTAR PREPARADO PARA ACOLHER O SENHOR QUE VEM NOS SALVAR
I DOMINGO DO ADVENTO DO ANO “B”
I Leitura: Is 40,1-5.9-11
1 “Consolai o meu povo,
consolai-o! — diz o vosso Deus —. 2 Falai ao coração de Jerusalém e dizei em
alta voz que sua servidão acabou e a expiação de suas culpas foi cumprida; ela
recebeu das mãos do Senhor o dobro por todos os seus pecados”. 3 Grita uma voz:
“Preparai no deserto o caminho do Senhor, aplainai na solidão a estrada de
nosso Deus. 4 Nivelem-se todos os vales, rebaixem-se todos os montes e colinas;
endireite-se o que é torto e alisem-se as asperezas: 5 a glória do Senhor então
se manifestará, e todos os homens verão juntamente o que a boca do Senhor
falou. 9 Sobe a um alto monte, tu, que trazes a boa-nova a Sião; levanta com
força a tua voz, tu, que trazes a boa-nova a Jerusalém, ergue a voz, não temas;
dize às cidades de Judá: ‘Eis o vosso Deus, 10 eis que o Senhor Deus vem com
poder, seu braço tudo domina: eis, com ele, sua conquista, eis à sua frente a
vitória. 11 Como um pastor, ele apascenta o rebanho, reúne, com a força dos
braços, os cordeiros e carrega-os ao colo; ele mesmo tange as ovelhas-mães’”.
II Leitura: 2Pd 3,8-14
8 Uma coisa vós não
podeis desconhecer, caríssimos: para o Senhor, um dia é como mil anos e mil
anos como um dia. 9 O Senhor não tarda a cumprir sua promessa, como pensam
alguns, achando que demora. Ele está usando de paciência para convosco. Pois
não deseja que alguém se perca. Ao contrário, quer que todos venham a
converter-se. 10 O dia do Senhor chegará como um ladrão, e então os céus
acabarão com barulho espantoso; os elementos, devorados pelas chamas, se
dissolverão, e a terra será consumida com tudo o que nela se fez. 11 Se desse
modo tudo se vai desintegrar, qual não deve ser o vosso empenho numa vida santa
e piedosa, 12 enquanto esperais com anseio a vinda do Dia de Deus, quando os
céus em chama se vão derreter, e os elementos, consumidos pelo fogo, se
fundirão? 13 O que nós esperamos, de acordo com a sua promessa, são novos céus
e uma nova terra, onde habitará a justiça. 14 Caríssimos, vivendo nessa
esperança, esforçai-vos para que ele vos encontre numa vida pura e sem mancha e
em paz.
Evangelho: Mc 13,33-37
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 33 Cuidado! Ficai atentos, porque não
sabeis quando chegará o momento. 34 É como um
homem que, ao partir para o estrangeiro, deixou sua casa sob a responsabilidade
de seus empregados, distribuindo a cada um sua tarefa. E mandou o porteiro
ficar vigiando. 35 Vigiai, portanto,
porque não sabeis quando o dono da casa vem: à tarde, à meia-noite, de
madrugada ou ao amanhecer. 36 Para que não
suceda que, vindo de repente, ele vos encontre dormindo. 37O que vos digo, digo a todos: Vigiai!”
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Mc 13,1-37, onde se encontra o texto
evangélico deste domingo primeiro domingo do Advento do Ano litúrgico “B”, é
conhecido como “Apocalipse de Marcos” ou “discurso escatológico”. É um discurso
mais amplo de Jesus de todo o evangelho de Mc. Mc abre a seção com a admiração
dos discípulos pelo esplendor do Templo(v.1), que recebe a resposta de Jesus
sobre o desaparecimento iminente de todo esse esplendor(v.2). Por isso, surge a
pergunta dos discípulos sobre o tempo em que tudo isso acontecerá e os sinais
que anunciarão isso (vv. 3-4). Percebemos na seqüência da narrativa que a
pergunta não se faz a respeito da destruição do templo, e sim a respeito dos
últimos dias, pois o discurso vai falar dos acontecimentos dos últimos dias e
dos sinais que precederão, e não da destruição de Jerusalém e do templo.
Neste capítulo 13, Mc une diversas matérias:
algumas são propriamente apocalípticas que descrevem os acontecimentos dos
últimos dias e a atitude requerida perante os mesmos (vv.7-8.14-20.24-27; e
outro bloco: vv.5-6.21-23); outras têm o tom de consolação e conforto para os
cristãos nos momentos de perseguição(vv.9-13). E no fim do discurso
encontram-se outras matérias diversas: a parábola da figueira(vv.28-29); o
momento da parusia(vv.30-32) e termina com a exortação para a
vigilância(vv.33-37).
Apesar das matérias diversas, Mc consegue
colocar todas elas dentro duma inclusão literária constituída pelos vv.5 e 37
que enfatiza a importância da vigilância. Na exortação inicial fala-se do
perigo dos falsos messias que surgem sempre quando a sociedade passa por uma
crise profunda o que leva a tomar uma atitude de vigilância(vv.5-6). E na
última exortação fala-se da falsa segurança. Daí percebemos a intenção de Mc em
alertar os cristãos para que estejam vigilantes constantemente, pois ninguém
sabe quando chegará o “momento” (v.33). O que o mais importante, então, não é o
momento em que isso acontecerá, e sim o que deve-se fazer para que ninguém se
pegue de surpresa.
O ensinamento que nos oferece esta unidade
narrativa tem como destinatários a um grupo restringido de discípulos (cf. Mc
13,3). Esta unidade se situa imediatamente antes dos acontecimentos da paixão e
da morte de Jesus que pode nos induzir a pensar que nos encontramos diante de
um discurso de despedida. Em seus últimos dias em Jerusalém, Jesus revelaria
aos mais íntimos os sofrimentos e perigos que lhes aguardavam, exortando-lhes a
fidelidade e a perseverança na missão que lhes havia confiada. Sem dúvida,
neste discurso faltam as marcas características dos discursos de despedida (cf.
Jo 13-17). Por isso, este discurso deve-se considerar muito mais como um
discurso escatológico, do que um simples discurso de despedida, que com uma
linguagem profético- apocalíptica, descreve a missão da comunidade cristã no
período intermédio, isto é, no presente.
A missão
confiada à comunidade cristã não é fácil. Ela tem que seguir fielmente os
ensinamentos de Jesus Cristo a ponto de ser crucificada como ele. Da comunidade
cristã exigem-se a fidelidade, a coragem e a vigilância no presente,
sublinhando o futuro que lhe aguarda. A vitória que lhe aguarda faz a comunidade
lutar sem medo apesar de dificuldades que ela encontra no caminho.
Mensagem do texto de Mc 13,33-37
Não é difícil descobrir o tema central do
Evangelho deste Domingo: basta observar qual é a palavra que aparece mais
vezes. É o verbo “vigiar” que em cinco versículos é repetido com uma
insistência quase excessiva.
Por que temos que vigiar?
Jesus nos dá este motivo: “Prestai atenção,
vigiai, pois não sabeis quando será o tempo/momento” (v.33). “Tempo” ou
“momento” é uma tradução da palavra grega “kairós”. “Kairós” indica um tempo
determinado e tem aqui uma conotação escatológica de tempo determinado por Deus
para a vinda gloriosa do Cristo. Esse “tempo determinado” é desconhecido dos
homens. Daí a necessidade de estar sempre vigilante à espera desse tempo
determinado por Deus.
A exortação de Jesus à vigilância visa criar
no nosso coração a atitude correta de quem deseja acolher o Senhor que vem ao
nosso encontro. A exortação não fornece o temor e a angústia, pois, de fato,
nós esperamos o que já temos garantido pela fé que é o fundamento de nossa
esperança. E por sua vez, a esperança mantém e reaviva o nosso amor por Cristo
que vem. Por isso, a espera cristã deve ser produtiva, alegre e serena.
Mas o que é vigiar?
Vigiar, no sentido próprio, significa renunciar ao sono da noite;
pode-se fazê-lo para prolongar o trabalho (Sb 6,15) ou para evitar ser apanhado
de surpresa por um inimigo (Sl 127,1s). Daí o sentido metafórico: vigiar é
lutar contra o torpor e a negligência a fim de se chegar à meta visada (Pv
8,34). Para o crente/cristão a meta é estar pronto para receber o Senhor,
quando chegar o seu Dia; é por isso que ele vigia e está vigilante, a fim de
viver na noite sem ser da noite.
Nos evangelhos sinóticos, a exortação à
vigilância é a principal recomendação de Jesus a seus discípulos como conclusão
do seu discurso escatológico. A vigilância caracteriza, portanto, a atitude do
cristão/discípulo que espera e aguarda a volta do Senhor: ela consiste antes de
tudo em manter-se em estado de alerta, e com isso mesmo exige o desprendimento
dos prazeres e dos bens da terra (Lc 21,34ss). A Igreja é a assembléia que
sempre deve estar em estado de vigilância, lendo a vinda do Senhor nos acontecimentos,
para permitir-lhe um encontro feliz com o Senhor glorioso.
Concretamente podemos dizer que vigiar
significa pôr em prática as palavra de Jesus, especialmente o mandamento do
amor. Significa enfrentar a tentação do egoísmo, que nos leva a convencer-nos
da inutilidade de fazer o bem. Significa acreditar que vale a pena lutar para
construir o Reino de Deus, a exemplo de Jesus, num mundo onde a injustiça e a
maldade parecem falar mais alto. Significa estar sempre disposto a perdoar e a
se reconciliar, revertendo a espiral da violência que assume proporções sempre
maiores. Significa ser capaz de detectar tudo quanto possa desviar nossa
atenção do convite de Deus para o encontro definitivo com Ele. Significa estar
vigilante no que se deve falar e no que não se deve: ser vigilante nos
comentários, nos julgamentos etc....Vigiar é aprender a falar o
necessário. É aprender a ficar em
silêncio para avaliar as palavras soltas sem reflexão para não repeti-las
novamente.
A vigilância é a atitude própria do amor que
vela. O amor sempre mantém o coração alerta. A chegada de Cristo exclui todo
temor, pois não há temor no amor. A vigilância nos ensina a ler a vinda do
Senhor nos acontecimentos e nas pessoas.
Para manter este estado de vigilância é
necessário lutar porque temos a tendência de vivermos de olhos cravados nas
coisas da terra. O dono da casa, na parábola, é Jesus Cristo. Isto quer dizer
que Ele é o sentido da nossa vida. É a razão de ser da Igreja. Trabalhemos para
que na chegada do Senhor a justiça, a misericórdia, o perdão e obras de
caridade estejam bem cultivados entre nós.
Mas a vigilância cristã é sempre
perseverante e se alimenta da esperança. Por isso, a pessoa vigilante não se
abate, ainda que a realidade seja desesperadora porque ele sabe em quem
acredita: em Deus que transforma o impossível no possível. Um cristão vigilante
sabe olhar para além da História do horizonte material e contemplá-la na
perspectiva de Deus, segundo o ensinamento de Jesus. A vigilância permite o
cristão descobrir nela uma lógica inacessível para quem não tem fé. Por isso,
um cristão verdadeiro nunca será esmagado pelo peso da história e pela situação
desesperadora.
Portanto, celebrar o Advento não significa
celebrar só as coisas do passado, pois este Advento está sempre em andamento. É
o Filho de Deus que continuamente visita e freqüenta o coração daqueles que
sabem crer, amar e esperar. Cristo está em contínuo advento, sempre e
incansavelmente a caminho de nossa casa. E o lugar que Ele mais ambiciona é um
coração convertido, que tenha a coragem de se “reformar” e de se abrir ao amor,
à fraternidade, à justiça e ao perdão. Por isso, não tenhamos medo de
oferecer-lhe nosso ódio, amargura, desapontamento, mágoa, rancor, tristeza,
desespero etc. porque o Senhor se revela como AMOR. Só criando espaço para
Cristo num coração convertido é que conseguiremos chegar à meta e Cristo virá
morar conosco.
Por isso, o Advento é o tempo de
purificação, de revermos nossa vida: nossos gestos, nosso lar pois é Deus que
se aproxima. Mais do que de flores, de lâmpadas coloridas ou de pinheiros
verdes, vamos enfeitar o nosso coração daquilo que não se encontra nas lojas: a
paz e a alegria no lar e o amor no coração: o amor é uma “carta” aberta, um
presente sem embalagem, pois o amor é a abertura para com os outros. Vamos
fazer presépio vivo no nosso coração, um presépio construído com toda a
sensibilidade, com a arte de amar, de perdoar, um presépio de carinho. E este
presépio vivo dentro de nosso coração se expressa através de amor e de alegria
nos cartões, nas cartas e nos telefonemas. Este presépio vivo dentro de nós
deve ser eterno, não é preciso acabá-lo dentro de alguns dias durante o Natal.
Temos uma vida para aperfeiçoá-la. Vamos fazer de nossa vida um eterno Natal de
amor e de alegria.
Portanto, a palavra “vigiar” que aparece
várias vezes no Evangelho deste primeiro Domingo do Advento é para a gente
vigiar mesmo. Porque quando chega o Natal, as propagandas comerciais, a
arrumação da casa e a preocupação dos cartões e dos presentes podem desviar
nossa atenção do dono da festa: Jesus Cristo.
Advento Na Celebração Do
Natal No Tempo e Natal Na Eternidade
O termo “Advento” significa “vinda” ou “chegada”. O “Advento” indicava, na linguagem pagã, a vinda periódica de Deus e sua presença teofánica no templo. Equivale a “retorno” ou “aniversário”. Do ponto de vista cristão, Advento era a última vinda do Senhor no final dos tempos. Mas, ao se instaurarem as festas do Natal e da Epifania, o Advento significou também a vinda de Jesus na humildade da carne.
A partir desse sentido, o Advento é tempo de
fé na esperança, que nos prepara para a dupla vinda do Senhor: a vinda
histórica, na encarnação, por meio de Maria (Natal), e a vinda escatológica, ao
final dos tempos (Parusia). Essas duas vindas são consideradas como uma só,
desdobrada em duas etapas. Essa dupla dimensão caracteriza todo o Advento. São
Bernardo acrescentou uma vinda: a vinda do Senhor às almas pela graça. Essa é a
vinda principal, sem a qual as outras duas nos resultariam inúteis ou perigosas.
Sem a graça na alma, torna-se inútil a primeira vinda de Cristo para nos
redimir, pois a graça é o fruto da redenção. E sem a graça na alma, será
terrível a segunda vinda de Cristo para nos julgar, porque seria, então, como
uma vinda para nos condenar.
Quando se fala da vinda, fala-se também da
espera. Esperar é situar-se em estado de receptividade. Mas a nossa espera deve
ser acompanhada com esperança. Esperar com esperança é estar convencido de que,
pela fidelidade de Deus, vai nos chegar algo que supera nossas forças e que
deve vir: o Reino de Deus em sua plenitude. O estado de receptividade exige
outra atitude: vigilância. “Vigiar” equivale a velar solicitamente sobre algo
ou sobre alguém durante um tempo, até alcançar o final desejado. A vigilância
diante da chegada de Deus equivale a estar desperto, em disposição de serviço,
com uma atitude atenta diante do futuro, sem evasão do presente, apesar da
indiferença encontrada neste mundo. A vigilância consiste em discernir os
sinais dos tempos para reconhecer a presença de Deus e do seu reino nos
acontecimentos. Preciso descobrir o que Deus quer de mim e o que Ele quer me
falar através de tudo isso. Mas, se converter um processo religioso da espera
em algo comercial que logo pode converter-se em qualquer coisa, o cristão não
espera mais em nada e a esperança cristã será uma palavra vazia e que,
precisamente por isso, segue a lei do vazio de deixar-se preencher por outras
esperanças caducas.
É preciso esperar a chegada do Senhor com
humildade. Ser humilde significa aceitar a parte terrena que todos temos;
significa descer, buscar e encontrar tudo o que somos, aceitando-nos tal como
somos. Quando o coração se faz humilde, ele é capaz de amar em abundância. Ser
humilde é deixar a luz de Deus entrar no nosso coração para fazer desaparecer
os maus sentimentos que produzem nossas misérias. Nunca serei compassivo, se eu
não admitir minha dureza interior. Nunca chegarei a ser criativo, se eu não for
capaz de reconhecer toda a minha mesquinhez que se esconde no meu coração.
“Humildade é a honesta confissão do ser pecador. É melhor um pecador humilde
que um beato orgulhoso” (Santo Agostinho).
Portanto, aproveitemos o Advento para dar um
bom passo ao nosso interior. Façamo-nos humildes e teremos a grande felicidade
de viver plenamente o Natal no tempo e Natal na eternidade. Que cada um de nós
seja capaz de dizer e de viver esta frase: “Quero neste Natal ser rico por
dentro. Não quero ter apenas embalagem, quero ter um coração como o de Cristo,
cheio de amor e de justiça e de perdão.” FELIZ ADVENTO!!! SHALOM !!!
P. Vitus Gustama,svd
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