04/03/2019
USAR E PARTILHAR OS BENS MATERIAIS COM OS NECESSITADOS, SEM SER
POSSUIDO POR ELES, SIGNIFICA VOLTAR PARA DEUS
Segunda-Feira da VIII Semana Comum
20 Aos arrependidos Deus concede o caminho de regresso, e conforta aqueles
que perderam a esperança, e lhes dá a alegria da verdade. 21 Volta ao Senhor e deixa os teus pecados,
22 suplica em sua presença e diminui as
tuas ofensas. 23 Volta ao Altíssimo,
desvia-te da injustiça e detesta firmemente a iniquidade. 24 Conhece a
justiça e os juízos de Deus e permanece constante no estado em que ele te
colocou, e na oração ao Deus altíssimo. 25 Anda na companhia do povo santo, com
aqueles que vivem e proclamam a glória de Deus. 26 Não te demores no erro dos
ímpios, louva a Deus antes da morte; o morto, como quem não existe, já não
louva. 27 Louva a Deus enquanto vives; glorifica-o enquanto tens vida e saúde,
louva a Deus e glorifica-o nas suas misericórdias. 28 Quão grande é a misericórdia do Senhor, e o seu perdão para com todos
aqueles que a ele se convertem!
Evangelho: Mc 10,17-27
Naquele
tempo, 17Ao retomar seu caminho, alguém correu e ajoelhou-se diante
de Jesus, perguntando: “Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” 18Jesus
respondeu: “Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão só Deus.19Tu
conheces os mandamentos: não mates; não cometas adultério; não roubes; não
levantes falso testemunho; não defraudes ninguém; honra teu pai e tua mãe!” 20Entao,
ele replicou: “Mestre, tudo isso eu tenho guardado desde minha juventude”. 21Fitando-o,
Jesus o amou e disse: “Uma só coisa te falta: vai, vende o que tens, dá aos
pobres, e terás um tesouro no céu. Depois vem e segue-me!” 22Ele,
porém, contristado com essa palavra, saiu pesaroso, pois era possuidor de
muitos bens. 23Entao Jesus, olhando em torno, disse a seus
discípulos: “Como é difícil a quem tem riquezas entrar no Reino de Deus!” 24Os
discípulos ficaram admirados com essas palavras. Jesus, porém, continuou a
dizer: “Filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! 25É mais
fácil um camelo passar pelo fundo da agulha do que um rico entrar no Reino de
Deus!” 26Eles ficaram muito espantados e disseram uns aos outros:
“Então, quem pode ser salvo?” 27Jesus, fitando-os, disse: “Aos
homens é impossível, mas não a Deus, pois para Deus tudo é possível”.
------------------------------
Somos
Chamados a Voltar Para Deus (Conversão)
“Volta ao Senhor e deixa os teus pecados, suplica em sua
presença e diminui as tuas ofensas. Volta ao Altíssimo, desvia-te da injustiça
e detesta firmemente a iniquidade”. É uma exortação a converter-se a Deus.
O sábio, Ben Sirac, neste breve texto, que
lemos na Primeira Leitura, cheio de ternura, nos convida a nos converter a
Deus, enquanto tiver tempo: segundo Ben Sirac, depois da morte já não poderemos
louvar a Deus nem dar-Lhe graças nem nos converter: “Não te demores no erro dos ímpios, louva a Deus antes da morte; o
morto, como quem não existe, já não louva. Louva a Deus enquanto vives;
glorifica-o enquanto tens vida e saúde, louva a Deus e glorifica-o nas suas
misericórdias” (Eclo 17,26-27). Convém recordar que no Antigo Testamento não
tinha ideia clara da outra vida: tudo se resolve nesta vida.
“Volta ao Senhor e deixa os teus pecados, suplica em sua
presença e diminui as tuas ofensas. Volta ao Altíssimo, desvia-te da injustiça
e detesta firmemente a iniquidade”.
Em Hebraico como em Latim, converter-se
significa voltar-se, voltar: o homem volta para Deus, porque Deus o chama. É uma
voz que salva a distância e e supera os obstáculos para voltar a criar presença
e intimidade. A conversão é um retorno. Jesus ilustra demaneira inolvidável (inesquecível)
essa imagem do retorno com a maravilhosa parábola do filho pródigo (cf. Lc 15,11-32).
Converter-se significa mudar de direção, voltar para a face de Deus, não cair
na mideicridade, narotina do pecado e na decadência espiritual. Volta-te! Deixa
de viver por ti e para ti!
O pecado é sempre um isolamento. O pecado
estabelece distâncias; abandona-se a casa paterna. Por Jesus podemos saber,
através da parábola do filho pródigo, que o Pai fica na espera de nossa volta.
A conversão implica um duplo movimento. O movimento
do pecador que se “volta” para Deus. Isso se chama a liberdade. O movimento de
Deus que “abre o caminho do retorno”. Isso se chama a Graça.
Na próximo Quarta-feira começaremos a
Quaresma, a preparação para a Páscoa. Essa vida ressuscitada, livre do pecado e
do egoísmo, que Deus quer nos comunicar mediante seu Espirito.
Nenhum cristão é totalmente convertido e o
esforço para chegar a ser convertido constitui, junto com a fé, umesforço
constante da vida cristã.
O motivo fundamental com o qual Ben Sirac
quer animar os pecadores a se converterem é a bondade de Deus: "Aos
arrependidos Deus concede o caminho de regresso, e conforta aqueles que
perderam a esperança, e lhes dá a alegria da verdade. Quão
grande é a misericórdia do Senhor, e o seu perdão para com todos aqueles que a
ele se convertem!”.
Também hoje Jesus nos olha com carinho, a
cada um de nós, e nos diz o mesmo: “Siga-me!”. Uma coisa te falta porque uma
coisa é que te impede, te estorva, te dificulta, te embraça: vendê-la, abandoná-la.
Portanto, nossa atitude mais sábia é “retornar
a Deus”, “abandonar o pecado”, “afastar-se da injustiça e da idolatria”.
A celebração da Eucaristia sempre começa com
um breve ato penitencial, reconhecendo diante de Deus nossa debilidade e
pedindo-Lhe que nos purifique interiormente.
Mas temos outro sacramento, o da Reconciliação,
especificamente destinado a celebrara esta conversão e este perdão: por parte
de Deus é o perdão; por nossa parte é a conversão, para que continuamente
trilhemos uma vida nova que vai amadurecendo nossa comunhão com Deus.
Uma
Só Coisa Te Falta Ainda!
Lemos no evangelho deste dia que “alguém”
(sem nome, que pode ser qualquer um de nós) correu ao encontro de Jesus para
fazer a seguinte pergunta: “Bom mestre, que farei para herdar a vida eterna?”
É uma pergunta que jovens faziam aos rabis, quando se apresentavam para
iniciarem a formação acadêmica nas escolas hebraicas: que devo fazer? No
evangelho de Mateus o jovem rico diz: “Mestre, que farei de bom para ter a vida
eterna?” (Mt 19,16).
Antes de responder à pergunta desse rico,
Jesus se cautela diante do apelativo “bom”: “Por que me chamas bom? Ninguém é bom senão só Deus”. Essa
precisão servirá para se compreender a resposta que Jesus fará a esse rico.
Esta observação de Jesus corresponde perfeitamente à concepção bíblica e
judaica segundo a qual só Deus é chamado bom, porque ele usa de misericórdia, socorre os pobres e defende os fracos
(cf. Dt 10,18). Por isso, a única condição para entrar na vida eterna é imitar
o único bom, Deus. A fidelidade a Deus é exercida no amor ao próximo, síntese
dos mandamentos (cf. Rm 13,8-10).
Jesus prossegue, indicando ao seu
interlocutor o caminho para “herdar” a vida definitiva junto a Deus, e citou só
os mandamentos que se referem aos deveres para com o próximo (v.19). Jesus
omite os mandamentos referentes a Deus. Em vez disso, ele recorda os éticos, os que se referem ao próximos, que são
independentes de todo contexto religioso: Tu conheces os mandamentos: não
mates; não cometas adultério; não roubes; não levantes falso testemunho; não
defraudes ninguém; honra teu pai e tua mãe!”. O rico responde: “Mestre, tudo isso eu
tenho guardado desde a minha juventude” (v.20).
O texto prossegue: “Fitando-o, Jesus o amou e disse:
’uma só coisa te falta: vai, vende o que tens, dá aos pobres e terás um tesouro
no céu. Depois, vem e segue-me’” (v.21).
“Fitar” é o mesmo que cravar, admirar, fixar
a atenção e o pensamento, ficar imóvel. O sinal distintivo da identidade do
discípulo é seguir a Jesus, isto é, ficar envolvido em seu destino, seu modo de
amar e de ser fiel ao outro homem até o testemunho supremo da cruz (cf. Jo
13,1). A diferença entre a renúncia aos bens como estilo de vida e o seguimento
evangélico está nessas duas palavras de Jesus: “dá-os aos pobres”. Se nos
detivermos na primeira: “vai e vende tudo o que tens”, ainda nós estaremos no
limiar do evangelho que para termos liberdade interior, devemos nos afastar
(longe de cobiça ou ganância) de todas as coisas e preocupações materiais.
A
novidade evangélica
é o convite: “dá aos pobres, porque
assim tu imitas o único bom, Deus; depois vem e segue-me”. Trata-se de
seguir aquele que, pelos pobres, deixou não só sua atividade, a segurança
social e os laços de parentesco, mas também entrega sua própria existência como
dom de amor pelos muitos, pela libertação deles (cf. Mc 10,45).
O homem rico, pelo seu apego à riqueza, não
aceita o convite de Jesus. Seu amor aos outros é relativo, não chega ao nível
necessário para um cristão. Não está disposto a trabalhar por uma mudança
social, por uma sociedade justa; a antiga lhe basta. Prefere o dinheiro ao bem
do homem.
A cena do evangelho de hoje é simpática: uma
pessoa (jovem) inquieta que busca caminhos e quer dar um sentido mais pleno
para sua vida. Mas o diálogo, que prometeu muito, acaba em fracasso. Tampouco
Jesus consegue tudo o que quer em sua pregação, pois ele respeita, com
delicadeza, a liberdade das pessoas. Alguns lhe seguem, deixando tudo para
trás, como os apóstolos. Outros, como o homem rico no evangelho de hoje, ficam
para trás, pois seus bens estão na sua frente que acabam não vendo mais nada
senão os bens.
O jovem rico se converteu em símbolo de
qualquer cristão que quando chegou o momento não quis aceitar a mensagem de
Jesus. Jesus não pede “coisas” e sim a entrega total. Não se trata de “ter”,
mas trata-se de “ser” e de “seguir” vitalmente a Jesus: “Quem quer me
seguir, carregue sua cruz de cada dia e me siga. Quem quer guardar sua vida,
vai perdê-la”. Para todos nós custa muito renunciar ao que estamos
apegados: as riquezas ou ideias ou a família, ou os projetos individuais ou a
mentalidade. Quando estamos cheios de coisas, menos agilidade para avançarmos
pelo caminho de vida e de Deus. Um atleta que quer correr, mas com uma mala às
costas, será difícil conseguir medalha.
Jesus pede a todos os seus seguidores que
tenham o desprendimento que sabe se conformar com o necessário e compartilhar
com os outros o que se tem, sem entesourar nem incorrer na idolatria do
dinheiro como bem supremo. Um dia seremos obrigados a largar tudo quando chegar
nosso momento para partir deste mundo. De fato, temos apenas o usufruto das
coisas criadas por Deus para nossa felicidade neste mundo e não para
possuí-las.
P. Vitus Gustama,svd
Nenhum comentário:
Postar um comentário