quinta-feira, 7 de março de 2019

09/03/2019
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CONVERTER-SE É ABANDONAR OS INSTRUMENTOS DE OPRESSÃO E DE PREPOTÊNCIA PARA SE TORNAR DOM PARA OS DEMAIS HOMENS
Sábado Depois Das Cinzas


Primeira Leitura: Is 58,9b-14
Assim fala o Senhor, 9b se destruíres teus instrumentos de opressão, e deixares os hábitos autoritários e a linguagem maldosa; 10 se acolheres de coração aberto o indigente e prestares todo socorro ao necessitado, nascerá nas trevas a tua luz e tua vida obscura será como o meio-dia. 11 O Senhor te conduzirá sempre e saciará tua sede na aridez da vida, e renovará o vigor do teu corpo; serás como um jardim bem regado, como uma fonte de águas que jamais secarão. 12 Teu povo reconstruirá as ruínas antigas; tu levantarás os fundamentos das gerações passadas: serás chamado reconstrutor de ruínas, restaurador de caminhos, nas terras a povoar. 13 Se não puseres o pé fora de casa no sábado, nem tratares de negócios em meu dia santo, se considerares o sábado teu dia favorito, o dia glorioso, consagrado ao Senhor, se o honrares, pondo de lado atividades, negócios e conversações, 14 então te deleitarás no Senhor; eu te farei transportar sobre as alturas da terra e desfrutar a herança de Jacó, teu pai. Falou a boca do Senhor.


Evangelho: Lc 5,27-32
Naquele tempo, 27Jesus viu um cobrador de impostos, chamado Levi, sentado na coletoria. Jesus lhe disse: “Segue-me”. 28Levi deixou tudo, levantou-se e o seguiu. 29Depois, Levi preparou em casa um grande banquete para Jesus. Estava grande número de cobradores de impostos e outras pessoas sentadas à mesa com eles. 30Os fariseus e seus mestres da Lei murmuravam e diziam aos discípulos de Jesus: “Por que vós comeis e bebeis com os cobradores de impostos e com os pecadores?” 31Jesus respondeu: “Os que são sadios não precisam de médico, mas sim os que estão doentes. 32Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores para a conversão”.
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Para Ser Feliz e Fazer o Outro Feliz É Preciso Destruir Todos Os Instrumentos da Opressão E Do Autoritarismo


Se destruíres teus instrumentos de opressão, e deixares os hábitos autoritários e a linguagem maldosa; se acolheres de coração aberto o indigente e prestares todo socorro ao necessitado, nascerá nas trevas a tua luz e tua vida obscura será como o meio-dia”.


Segundo o profeta Isaías, que lemos na Primeira Leitura de hoje, as exigências de Deus têm a ver com a ação de abandonar: opressão, prepotência e calúnia, e tem a ver com a partilha: repartir o pão com o necessitado e saciar a alma sedenta. Na conversão, o ponto de partida é a conversão pessoal, mas o ponto de chegada é o serviço ao irmão necessitado. Somente a solidariedade realizará o sonho evangélico da justiça social.


Ser cristão é ser homens e mulheres de portas abertas e de coração aberto que não discriminam nem excluem e sim que acolhem, partilham e compartilham, partem e repartem com os mais necessitados, pois é ali que reconhecemos e encontramos o Senhor (cf. Mt 25,40.45).


Por isso, uma pergunta importante para refletir e melhorar nosso cristianismo nesta Quaresma: Como está a solidariedade com os mais necessitados em minha família, em meu trabalho ou estudo/escola, em minha comunidade, em minha paróquia e assim por diante.


Se destruíres teus instrumentos de opressão, e deixares os hábitos autoritários e a linguagem maldosa; se acolheres de coração aberto o indigente e prestares todo socorro ao necessitado, nascerá nas trevas a tua luz e tua vida obscura será como o meio-dia”.


Como a Primeira Leitura do dia anterior, as palavras do profeta Isaias na Primeira Leitura de hoje são umas sugestões muito concretas que podem nos ajudar no esforço que a Quaresma nos pede: pôr suavidade e bondade em todas as nossas falas, conversas e relações: “Uma palavra amena multiplica os amigos e acalma os inimigos; uma língua afável multiplica as saudações” (Eclo 6,5), e estar atentos aos desejos dos demais e às necessidades dos indigentes para torná-los mais felizes.


Só se chega a Deus pela justiça praticada para com os irmãos, pelo compromisso de fazer os irmãos mais livres, pela aceitação de todos como irmãos e pela comunicação ou partilha dos bens. Afinal, para que acumular os bens materiais? Não é para acumular os bens materiais é que estamos no mundo, e sim para partilhar a bondade, a felicidade para quem carece delas. Somente desta maneira é que a pessoa é transformada e se realiza de acordo com os desígnios de Deus. É a maneira de reconstruir o povo do Senhor.


A partir das sugestões do profeta Isaias nós podemos lançar perguntas: A quem eu posso dar uma alegria? Quem do meu redor está esperando minha ajuda? Quem está precisando de minha ajuda na rua/avenida onde eu moro ou no trabalho ou na comunidade? se eu não sair de mim ao encontro do outro, jamais poderei identificar quem está em necessidade da minha ajuda. Amar é sair de si. Amar é um êxodo rumo à pátria celeste, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16).


No evangelho deste dia, Jesus convida o publicano Levi (Mateus) a segui-Lo. Convidar aqui tem um sentido de abandonar a vida passada escura para viver uma vida com sentido sendo parceiro do bem. O coração de Levi sente tocado pelo convite de uma pessoa que o quer bem: o convite do próprio Salvador, Jesus Cristo.  E o publicano se levanta, abandona tudo e vai seguir a Jesus. Levi oferece um grande banquete para celebrar sua conversão. Conversão e alegria andam juntas. É a alegria de ser livre dos apegos. É a alegria de ser libertado das garras do poder e da ganância. Este tema é enfatizado também pelo profeta Isaias na primeira leitura (Is 58,9-14): “Se destruíres teus instrumentos de opressão, e deixares os hábitos autoritários e a linguagem maldosa; se acolheres de coração aberto o indigente e prestares todo socorro ao necessitado, nascerá nas trevas a tua luz e tua vida obscura será como o meio-dia. Essas palavras se tornaram realidade para Levi.


Nas palavras do profeta Isaias podemos dizer que é necessário esquecer um pouco nossas preocupações, nossos assuntos, demasiado humanos e egocêntricos para considerar os assuntos de Deus que são assuntos para o bem da humanidade. É abandonar nossa vontade de mandar nos outros para começar a dialogar sobre o que é digno para ser vivido em conjunto como irmãos e irmãs da mesma família de Deus. É parar de explorar o outro, pois faço parte também da humanidade. É parar de cobrar dos outros tudo que não devia ser cobrado para aprender a viver na honestidade. É ser “novo Levi” capaz de ver a vida num horizonte novo, de ver o outro como irmão.


Jesus Chama Cada Um Para Levar Adiante Tudo Que Salva a Humanidade


No evangelho deste dia Jesus convida o publicano Levi (Mateus) a segui-Lo: “Segue-me”.  E o publicano se levantou, deixou tudo e seguiu a Jesus.


Seguir significa “ir atrás”. Esteir atrás” significa adotar a atitude do Mestre. É viver uma dedicada para o bem de todos. É escutar as lições do Mestre e imitar seu exemplo de vida. Para isso, o discípulo tem que estar ligado totalmente ao Mestre. É preciso estar no lugar de discípulo (atrás) para poder aprender.  Simão Pedro chamado de Satanás (tentador) porque estava querendo ficar na frente do Mestre, isto é, atrapalhar o projeto de Deus em Jesus (cf. Mc 8,32b-33). É preciso aderir a Jesus e ao seu projeto. Essa adesão total ao Mestre pode ser chamada de “inseparável da conversão. Ser verdadeiro seguidor é aquele que sempre deixa Jesus na frente para não ficar perdido na vida e na missão. No momento em que deixamos Jesus de lado ou de trás, perderemos o horizonte de nossa vida e missão. Devemos estar conectados permanentemente a Jesus.


Jesus chama cada um no lugar onde se encontra, no lugar onde trabalha como Levi. Jesus chama as pessoas normais. Levi não é uma pessoa perfeita nem um super-homem. Ele é um cobrador de impostos e por isso, é um ladrão público. Um publicano é uma pessoa desclassificada e considerada como pecador. Por isso, ele é excluído da vida social. Todos odiavam essa profissão, pois explorava o povo para se enriquecer ilicitamente.


Mas Jesus é o Deus-Conosco. Ao chamar Levi para segui-lo, Jesus se apresenta como Aquele que veio não para os justos, mas para todos os que pecaram para que estes se convertam. Jesus é Aquele que vai ao encontro dos que são excluídos por causa do seu presumível pecado. Não só vai ao encontro deles, mas também come com eles. Comer junto significa nivelar os relacionamentos. Porque Jesus veio para os pecadores, em vez de se afastar de Levi Jesus se aproxima dele, pois para Deus nãofilhos de segunda classe. Todos são iguais. Deus se aproxima de cada um, pois para cada um de nós Deus tem alguma proposta ou alguma missão neste mundo.


Ao ouvir atentamente a Palavra da vida eterna (cf. Jo 6,68) Levi não resiste, pois a salvação é muito mais importante do que qualquer riqueza e profissão no mundo. Levi deixa o poder divino operar na sua fraqueza de pecado sem temor. Aqui se traça o caminho do verdadeiro discípulo: encontrar-se pessoalmente com o Senhor, ouvir atentamente sua Palavra e ir atrás do Senhor incondicionalmente que supõe o abandono da maneira de viver anterior. Levi abandonou tudo, pois encontrou tudo e permaneceu com o Tudo que é o Senhor do Universo. Levi ganhou tudo em Jesus Cristo. Depois que conheceu Jesus Cristo, São Paulo escreveu: Por ele tudo desprezei e tenho em conta de esterco, a fim de ganhar Cristo” (Fl 3,8b).


Banquete É O Momento Da Comunhão, Do Amor Fraterno


Levi oferece um grande banquete para celebrar sua volta para o caminho da felicidade com Deus (conversão). O banquete é o momento familiar onde todos se igualam e se alimentam da mesma refeição. É o momento de fraternidade e de alegria em conjunto.


Para a mentalidade judaica, o banquete é o lugar do encontro, da fraternidade, da igualdade onde os convivas estabelecem laços de família e de comunhão mais profundos e íntimos. Todos os pactos no AT sempre terminam com o banquete. Para os judeus, como para os orientais, em geral, na época, comer juntos constituía o sinal evidente e mais valioso de amizade e comunhão, não somente num nível simplesmente humano, mas também no plano religioso. Por isso, os judeus evitavam o contato na refeição com os membros pecadores de seu povo.


Jesus se comportou de forma diferente: não somente chamou Levi, o publicano; não somente ofereceu o perdão aos que, até então, eram pecadores, mas também fez refeição com eles e compartilhou sua amizade.


Mas por muito humana que pareça a atitude de Jesus, por misericordioso que seu gesto possa apresentar-se, constitui diante dos olhos dos seus contemporâneos causa de escândalo. Na verdade, ao fazer isso, Jesus se colocou no lugar de Deus, levando o sinal de sua graça e comunhão aos perdidos e culpáveis deste mundo: “Os que são sadios não precisam de médico, mas sim os que estão doentes. Eu não vim chamar os justos, mas sim os pecadores para a conversão”.


É preciso nos recordar que as refeições de Jesus com os homens, especialmente com os pecadores convertidos são um sinal e antecipação do banquete pleno no Reino.


O símbolo mais apropriado do Reino de Deus é o banquete, pois se estabelecem a fraternidade, a comunhão e o amor sem limites. Não é por acaso que um dos sacramentos instituídos por Jesus é o Sacramento da Eucaristia (da refeição). A Eucaristia é a celebração da comunhão, da fraternidade, da igualdade, da família. É um dos momentos de nossa humanização, isto é, para nos tornarmos mais humanos, mais fraternos, mais familiares. Somente por este caminho é que podemos entrar no processo da divinização de nossa vida.  Ao sair de cada celebração eucarística devemos ser mais humanos, mais fraternos a ponto de sermos reflexos de Deus e devemos pensar mais no outro, pois o outro é o nosso irmão, ovelha do Senhor que devemos apascentar (cf. Jo 21,15-17).


Os fariseus não entendem isso e criticam o comportamento de Jesus que se aproxima do publicano e faz banquete com ele. Como os fariseus nós também podemos ficar numa atitude de autossuficiência, achando que não precisamos do dom de Deus porque cumprimos os mandamentos, as regras rituais e achamos que Deus não tenha outra solução senão salvar-nos. E nos esquecemos de que a conversão é uma carreira inacabada. Além disso, quem não tem o amor fraterno no coração, como os fariseus, jamais entende o que é o Reino de Deus e desprezará a importância da conversão. A conversão é o encontro de dois amores: o amor eterno de Deus por mim e eu voltei a amar esse Amor eterno que me faz feliz neste mundo e me devolve na minha dignidade como filho amado de Deus. A conversão é o início do caminho da felicidade.


A quaresma é o tempo forte liturgicamente para dedicar um tempo para a reflexão e a oração. É o tempo para ouvir um pouco nossas preocupações, nossos assuntos demasiados humanos para levar em consideração os assuntos de Deus para nossa própria salvação.


“Ensinai-me os vossos caminhos e na vossa verdade andarei” é o refrão do Salmo Responsorial de hoje. Sempre temos algo a aprender na vida. Dentro do contexto da Palavra de Deus sabemos que somos débeis e nunca estamos prontos completamente para estar no caminho da Páscoa. A conversão é uma tarefa inacabada e silenciosa de cada dia e somente terminará no momento em que nossa respiração terminar aqui neste mundo. Quem deixar de aprender nunca será um bom evangelizador.


Ajude-me, Senhor, a destruir meus instrumentos de opressão e de prepotência, e a deixar os meus hábitos autoritários, a linguagem maldosa que sempre eu emiti, e o meu olhar que condena. Dê-me um pouco de Sua força para acolher de coração aberto o indigente e prestar todo socorro ao necessitado, para que possa nascer na minha vida a Vossa Luz. Que minha mão seja Sua mão estendida para todas as pessoas em cujo caminho eu me coloco. Que Seu convite para abandonar tudo que não presta para o bem comum ressoe permanentemente no meu coração, e que não perca tempo nem demore em seguir Sua voz, Senhor. Dê-me, Senhor, a força para seguir adiante atrás de Seus passos para que um dia possa experimentar também Sua Ressurreição. Amém!”.
P. Vitus Gustama,svd

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