sábado, 23 de março de 2019

25/03/2019
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ANUNCIAÇÃO DO SENHOR A MARIA
25 de Março


Primeira Leitura: Is 7,10-14;8,10
Naqueles dias, 10o Senhor falou com Acaz, dizendo: 11“Pede ao Senhor teu Deus que te faça ver um sinal, quer provenha da profundeza da terra, quer venha das alturas do céu”. 12Mas Acaz respondeu: “Não pedirei nem tentarei o Senhor”. 13Disse o profeta: “Ouvi então, vós, casa de Davi; será que achais pouco incomodar os homens e passais a incomodar até o meu Deus? 14Pois bem, o próprio Senhor vos dará um sinal. Eis que uma virgem conceberá e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Emanuel, 8,10porque Deus está conosco.


Segunda Leitura: Hb 10,4-10
Irmãos, 4 é impossível eliminar os pecados com o sangue de touros e bodes. 5 Por isso, ao entrar no mundo, Cristo afirma: “Tu não quiseste vítima nem oferenda, mas formaste-me um corpo. 6 Não foram do teu agrado holocaustos nem sacrifícios pelo pecado.7 Por isso eu disse: Eis que eu venho. No livro está escrito a meu respeito: Eu vim, ó Deus, para fazer a tua vontade”. 8 Depois de dizer: “Tu não quiseste nem te agradaram vítimas, oferendas, holocaustos, sacrifícios pelo pecado” — coisas oferecidas segundo a Lei — 9 ele acrescenta: “Eu vim para fazer a tua vontade”. Com isso, suprime o primeiro sacrifício, para estabelecer o segundo. 10 É graças a esta vontade que somos santificados pela oferenda do corpo de Jesus Cristo, realizada uma vez por todas.


Evangelho: Lc 1,26-38
Naquele tempo, 26o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré, 27a uma virgem, prometida em casamento a um homem chamado José. Ele era descendente de Davi e o nome da Virgem era Maria. 28O anjo entrou onde ela estava e disse: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” 29Maria ficou perturbada com estas palavras e começou a pensar qual seria o significado da saudação. 30O anjo, então, disse-lhe: “Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus. 31Eis que conceberás e darás à luz um filho, a quem porás o nome de Jesus. 32Ele será grande, será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi. 33Ele reinará para sempre sobre os descendentes de Jacó, e o seu reino não terá fim”. 34Maria perguntou ao anjo: “Como acontecerá isso, se eu não conheço homem algum?” 35O anjo respondeu: “O Espírito virá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso, o menino que vai nascer será chamado Santo, Filho de Deus. 36Também Isabel, tua parenta, concebeu um filho na velhice. Este já é o sexto mês daquela que era considerada estéril, 37porque para Deus nada é impossível”. 38Maria, então, disse: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra!” E o anjo retirou-se.


Através da cena da anunciação do Senhor a Maria o evangelista Lucas nos mostra um Deus revolucionário e libertador. A sua manifestação, nesta cena, não acontece no Templo, lugar considerado sagrado, como aconteceu com o anúncio do nascimento de João Batista e sim num lugar desconhecido: Nazaré. Deus é que faz um lugar importante. Nazaré é um lugar jamais mencionado no AT. Esse Deus não se manifestou a um sacerdote no templo durante o culto, como aconteceu com Zacarias, e sim no cotidiano a uma pessoa simples, pequena, a uma mulher: Maria. Na opção de Deus Maria se torna uma privilegiada.


A Virgem Maria, da perspectiva do evangelista Lucas é uma mulher que aceita a proposta revolucionária de que Deus possa nascer de seu ventre virgem, de seu corpo jovem, de seu coração feminino. A mulher, naqueles tempos, não tinha acesso à Palavra escrita da Tora ou dos profetas. Na época tinha um dito: “É melhor queimar a Bíblia do que entregá-la nas mãos de uma mulher”. Agora Maria, uma mulher, tem em seu ventre materno a mesma Palavra de Deus feita carne: o Emanuel, Deus-Conosco.


A mulher, que não podia conversar com outro homem que não fosse seu marido, agora dialoga com sua consciência e toma decisão de ser a Mãe do Senhor. A mulher que vivia dependente de uma estrutura familiar rígida, agora escolhe, opta por ficar embaraçada ou grávida milagrosamente. A mulher que tinha um acesso restringido ao culto, agora dialoga diretamente, cara a cara, com Deus. A mulher que devia cuidar de sua imagem de moralidade, sua virgindade até o matrimonio, agora decide enfrentar a sociedade de seu tempo e o mais importante: quem decide é ela.


Por isso, não podemos imaginar que Maria seja uma mulher passiva, imóvel e submissa. Ela é corajosa, valente e revolucionária. E sua força vem de Deus. Ela se compromete a partir de sua própria liberdade e libertação com a libertação de Deus. Ela é revolucionária com o Deus revolucionário. Quem tem sua força em Deus, quem acredita incondicionalmente em Deus tem força suficiente até mais do que suficiente para encarar tudo na vida porque ele sabe que a palavra final é a Palavra de Deus e não a do homem. Quem é devoto de Maria deve ser uma pessoa valente, corajosa e revolucionária como Maria. “Para Deus e com Deus nada é impossível”.


A partir da cena da anunciação não há que buscar Deus no ar, nas ideias, nos sonhos. Maria o encontra no seu ventre, no seu coração. O Deus que está no coração de Maria transforma seu corpo em instrumento para fazer Deus visível aos homens. Sua maternidade aproxima Deus ao ser humano para compartilhar a experiência de salvação. Para cada um de nós Maria quer mostrar que é possível ser instrumento para fazer visível Deus aos outros através de cada um de nós. Para cada cristão trata-se de uma missão a ser cumprida neste mundo: fazer Deus visível através de nossa vida e de nosso modo de viver. “Vós sois a carta de Cristo”, relembra-nos São Paulo.


Outros Pensamentos Para Nossa Reflexão Nesta Solenidade


1. Na Anunciação, o Anjo de Deus não chama Maria pelo nome, mas chama-a simplesmente de “Cheia de graça”. O termo ‘graça’ significa benefício absolutamente gratuito, livre e sem motivo. Também tem outro significado: um efeito do favor divino que torna alguém belo, amável e encantador. A graça da criatura depende da graça de Deus, e não vice-versa.


As grandes promessas de Deus passam pela mulher que é Maria. Por isso, ela faz possível a esperança. Quando o homem sofre crises de morte, aparece uma mulher em estado da graça, como anúncio e promessa.


Na graça reside a completa explicação de Maria, a sua grandeza e a sua beleza. Maria encontrou graça, isto é, favor, junto de Deus; ela é cheia do favor divino. Como as águas preenchem o mar, assim a graça preenche a alma de Maria. Maria é cheia de graça também em outro sentido: ela é bela, daquela beleza que chamamos de santidade. Sendo agraciada, Maria é também graciosa.


Esta graça, que consiste na santidade de Maria, tem também uma característica que a coloca acima da graça de qualquer outra pessoa. A Igreja latina expressa isso com o título de “Imaculada” que significa a ausência de qualquer pecado.


Que significa para a Igreja, e para cada um de nós, o fato de a história de Maria começar com a palavra ‘graça’? Significa que, para nós também, no começo de tudo, está a graça, a livre e gratuita eleição de Deus, o seu inexplicável favor, o seu vir ao nosso encontro em Cristo e doar-se a nós por puro amor. Significa que a graça é “primeiro princípio do cristianismo”. Cada um de nós tem a explicação de seu próprio ser unicamente no amor com que Deus o amou e amando criou. A salvação, em sua raiz, é graça e não resultado da vontade do homem, como diz S. Paulo: “É pela graça que fostes salvos, mediante a fé. E isto não é a vós que se deve; é dom de Deus” (Ef 2,8). Na fé cristã, antes do mandamento vem o dom. O dom que gera o dever, não vice-versa. Não é a lei que gera a graça, mas é a graça que gera a lei. A graça, de fato, é a nova lei do cristão, a lei do Espírito.


Maria lembra cada um de nós que tudo é graça. A graça é a característica do cristianismo, que por ela se diferencia de qualquer outra religião. A graça é a presença de Deus. As duas expressões: “cheia de graça” e “o Senhor está contigo são quase a mesma coisa. Esta presença de Deus no homem realiza-se agora em Cristo e por Cristo. De fato ele é o Emanuel, o Deus-Conosco.


A primeira coisa que cada um de nós deve fazer como resposta à graça de Deus é dar graças. A graça de Deus tem de ser acompanhada pelo agradecimento do homem. Dar graças significa, antes de tudo, reconhecer a graça, aceitar a gratuidade da mesma. Dar graças significa aceitar-se como devedor, como dependente; deixar que Deus seja Deus. É preciso fazer o possível para renovar cada dia o contato com a graça de Deus que está em nós. Pela graça podemos manter, desde esta vida, o contato com Deus. Precisamos crer na graça, crer que Deus nos ama, que nos é favorável de verdade, pela graça fomos salvos.


2. Maria é a primeira cristã por causa do seu sim a Deus para que possa nascer para a humanidade Jesus Cristo, nosso Salvador. Não era nenhuma princesa nem nenhuma patroa na sociedade do seu tempo. Era uma mulher simples do povo, uma moça pobre. Mas Deus se compadece dos humildes e dos simples. Para Deus tudo é simples, e para o simples tudo é divino. A simplicidade atrai a bênção de Deus e a simpatia humana. O simples, o humilde é o terreno fértil onde a graça de Deus encontra seu lugar e através do qual Deus fala para o mundo.


3. Maria é a primeira discípula-modelo. Lucas apresenta Maria como a primeira a ouvir e a aceitar a mensagem, para depois proclamá-la (Lc 1, 39-45). Sua condição de discípula realiza-se quando ela diz “sim” à vontade de Deus a respeito de Jesus. Mas tal prontidão lhe é possível porque Maria já dispõe da graça de Deus pelo seu modo de vida. Desta maneira não há exagero ao dizer-se que Maria ouviu o Evangelho de Jesus Cristo e de fato, foi a primeira a fazê-lo. Assim Lucas eleva Maria à condição de primeira discípula-modelo e Lucas fornece aqui a mais forte evidência para o fato importantíssimo de que ela é discípula de Jesus.


Para que possamos dizer “sim” à vontade de Deus, devemos viver na graça e com a graça de Deus, como Maria, pois a pessoa que Deus escolhe para exercer a sua vontade é alguém que já dispõe de sua graça pelo seu modo de vida. Sem a graça de Deus a nossa própria vontade se tornará mais importante do que a de Deus. Não é por acaso que São Paulo afirma: “Pela graça de Deus eu sou o que sou e a graça que ele me deu não tem sido inútil” (1Cor 15,10).


4. Maria é modelo de nossa vocação cristã. Como ela, um dia, aceitou a Palavra de Deus e acolheu em si o Espírito de Deus e gerou Cristo de sua carne, assim também cada um de nós, seguidores de Cristo há de realizar sua vocação aceitando docilmente a Palavra de Deus, acolhendo em sua vida o Espírito de Deus e continuando no tempo a encarnação de Cristo. Cada um tem a missão de levar Jesus e dá-lo ao mundo, pois o mundo espera pela salvação apesar de sua resistência.


5. Maria é modelo de fé. Diante da proposta de Deus, Maria responde prontamente. O seu “sim” ecoa forte e sem dúvida e cheio de generosidade. Ela une a liberdade com a vontade: “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a Sua Palavra”. Com essas palavras Maria abriu seu espaço interior para deixar Deus entrar. Uma vez que reconheceu o chamamento de Deus, já não fez qualquer reserva e entrega-se a Ele totalmente. Essa entrega do coração a Deus tem um nome muito simples: FÉ. Fé quer dizer arriscar-se e jogar-se nas mãos do Senhor com confiança, pois ele nos vê desde o início de nossa vida até o seu fim. Lucas nos conserva o testemunho de Isabel acerca da fé de Maria ao dizer: “Feliz aquela que acreditou” (Lc 1,45). Crer significa confiar apesar da obscuridade; acolher apesar de não ver claro porque é Deus que está falando e convidando. E crer supõe uma atitude que exige uma pobreza interior e desapego das próprias seguranças, que muitas vezes são falsas.


O compromisso da vida cristã é deixar-se fecundar pelo Espírito de Deus, como Maria, escutando a Palavra de Deus que vem por meio de mensageiros, tendo em conta nossa situação e nossas forças, mas respondendo a Deus com confiança e interesse. O cristão deve deixar-se encarnar pela Palavra de Deus.
P. Vitus Gustama,svd

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