domingo, 3 de março de 2019

08/03/2019
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JEJUM QUE DEUS QUER
Sexta-Feira Após Quarta-Feira De Cinzas

Primeira Leitura: Is 58,1-9
Assim fala o Senhor Deus: 1“Grita forte, sem cessar, levanta a voz como trombeta e denuncia os crimes do meu povo e os pecados da casa de Jacó. 2Buscam-me cada dia e desejam conhecer meus propósitos, como gente que pratica a justiça e não abandonou a lei de Deus. Exigem de mim julgamentos justos e querem estar na proximidade de Deus: 3“Por que não te regozijaste, quando jejuávamos, e o ignorastes, quando nos humilhávamos?”. É porque no dia do vosso jejum tratais de negócios e oprimis os vossos empregados. 4 É porque, ao mesmo tempo que jejuais, fazeis litígios e brigas e agressões impiedosas. Não façais jejum com esse espírito, se quereis que vosso pedido seja ouvido no céu. 5 Acaso é esse jejum que aprecio, o dia em que uma pessoa se mortifica? Trata-se talvez de curvar a cabeça como junco, e de deitar-se em saco e sobre cinza? Acaso chamas a isso jejum, dia grato ao Senhor? 6 Acaso o jejum que prefiro não é outro: quebrar as cadeias injustas, desligar as amarras do jugo, tornar livres os que estão detidos, enfim, romper todo tipo de sujeição? 7 Não é repartir o pão com o faminto, acolher em casa os pobres e peregrinos? Quando encontrares um nu, cobre-o, e não desprezes a tua carne. 8 Então, brilhará tua luz como a aurora e tua saúde há de recuperar-se mais depressa; à frente caminhará tua justiça e a glória do Senhor te seguirá. 9ª Então invocarás o Senhor e ele te atenderá, pedirás socorro, e ele dirá: “Eis-me aqui”.


Evangelho: Mt 9, 14-15
Naquele tempo, 14os discípulos de João aproximaram-se de Jesus e perguntaram: “Por que razão nós e os fariseus praticamos jejuns, mas os teus discípulos não?” 15Disse-lhes Jesus: “Por acaso, os amigos do noivo podem estar de luto enquanto o noivo está com eles? Dias virão em que o noivo será tirado do meio deles. Então, sim, eles jejuarão”.
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As leituras de hoje nos falam do jejum. O jejum sempre tem sentido de “privaçãoou de “renúncia”. Jejuar consiste essencialmente em nos privar de alimento pelo sentido da palavra, mas em geral é referido a qualquer tipo de privação. O jejum começa a reentrar na nossa cultura atual por razões de dieta e de estética, ou aconselhado por certas formas de religiosidade, com origem no Oriente.


O jejum é um dos componentes fundamentais da Quaresma. Mas podemos entender mal as suas motivações ou até cair no egoísmo e no orgulho. Por isso, a Igreja nos alerta para duas dimensões essenciais do jejum: a sua referência a Cristo e a sua dimensão de solidariedade. Mais que a privação de alimentos, é o espírito com que se realiza o jejum que determina o verdadeiro sentido do jejum. O jejum deve ser uma expressão do desejo profundo de conversão. Santo Agostinho dizia: “Para jejuar deveras há que abster-se, antes de mais, de todo pecado”.


Fazer jejum significa saber renunciar a algo e dá-lo aos demais; é saber controlar nossas apetências; é saber nos defender com liberdade interior das contínuas urgências do mundo de consumismo. Jejuar é purificador. Jejuar não seria privar-se de tudo e sim usar moderação em tudo, isto é, ser sóbrios. Jejum supõe um grande domínio de si, de disciplina de olhos, da mente e da imaginação. A falta de sobriedade é uma das causas pelas quais se obscurecem e se debilitam as melhores iniciativas e decisões de um cristão. A sobriedade é certamente uma garantia da capacidade de orar e de apreciar o Espírito Santo. Com a renúncia às coisas Cristo nos chama à alegria, a uma alegria profunda, nascida da paz da alma. Fazer jejum é renunciar a algo para dá-lo aos necessitados. O jejum com uma dimensão de solidariedade nos tira do egoísmo, nos tira de uma vida vazia. Paradoxalmente a vida vazia é pesada para quem a tem. Sou livre quando a graça pesa mais do que as regras e não o contrário.


O jejum deve conduzir o cristão para uma abertura maior para com os demais, especialmente para os necessitados. É Jejuar para poder dar mais aos pobres. Se a falta da caridade continuar, se a injustiça estiver presente em nosso modo de atuar com os demais, pouco poderá agradar a Deus nosso jejum e nossa Quaresma. Poderemos queixar, como os judeus do tempo do profeta Isaías, de que Deus não nos escuta, se não cuidarmos os filhos e filhas de Deus que estão passando por necessidade pelo básico?


O profeta Isaias, na Primeira Leitura de hoje, descreve qual é o verdadeiro jejum que agrada a Deus (Is 58,6-9).  Deus não quer o jejum formalista que não tem em conta a vida do outro, e muito menos a justiça. Nada valem as ações que excluem o amor ao próximo. O verdadeiro jejum, no pensamento do profeta, remete ao comportamento capaz de renunciar à ganância, à avareza para começar a ser generoso e solidário; capaz de renunciar ao tempo pessoal para ir ao encontro do necessitado (doente, prisioneiro, idoso etc.) para estar com ele a fim de aliviar uma parte de sua dor. O jejum verdadeiro consiste em quebrar todas as cadeias injustas, em repartir o pão com o faminto. Segundo o profeta Isaias, o culto deve estar unido à solidariedade com os necessitados. Caso contrário, não agrada a Deus e é estéril. As manifestações exteriores de conversão têm a sua prova real na caridade e na misericórdia para com os necessitados, com os pobres, com os carentes do essencial como um ser humano para viver. O verdadeiro jejum é um verdadeiro compromisso com os irmãos necessitados e empobrecidos ou injustamente são presos.


Segundo o profeta Isaias, o culto deve estar unido à solidariedade com os necessitados. O jejum que Deus quer é a conversão a Ele e ao amor dos irmãos; é o jejum do egoísmo, partilhando com os necessitados o que se tem. Jejuar é bom, diz Deus, mas não é o essencial. O essencial é respeitar o próximo, não explorá-lo, não considerá-lo como um objeto para nosso proveito. Jejum sem amor carece de sentido, não agrada a Deus e é estéril. As manifestações exteriores de conversão têm a sua prova real na caridade e na misericórdia para com os necessitados, com os pobres, com os carentes do essencial como um ser humano para viver.


O texto do qual foram extraídos os dois versículos do Evangelho de hoje descreve a refeição que Mateus, o publicano, ofereceu a Jesus e a seus discípulos depois de ter recebido o convite de seguir o Messias.


Os discípulos de João Batista ficaram admirados pelo fato de que Jesus e seus discípulos não jejuem como eles, de maneira rigorosa. Na sua resposta Jesus diz que os discípulos de João Batista não viram ainda em Jesus “o esposo” messiânico. Se tivessem visto, compreenderiam que então o jejum não tinha o mesmo significado.


Jejum está relacionado com o tempo da espera. O próprio Jesus jejuou no deserto resumindo em sua pessoa a longa preparação da humanidade em vista da instauração do Reino de Deus. Mas quando começa seu ministério público, Jesus pode dizer com pleno direito que o Reino está presente, que o Esposo chegou e que não é conveniente aos amigos do Esposo jejuarem enquanto o Esposo está com eles. O jejum não tem mais sentido no tempo de realização. Somente depois da Ressurreição, o jejum retomará sua significação na medida em que o tempo da Igreja deverá ainda integrar a dimensão da preparação e construção do Reino de Deus.


Este é o ritmo da Igreja: o que ela já possui, dá o verdadeiro sentido àquilo que ainda está construindo e o que ela ainda constrói lhe dá consciência daquilo que já possui. Neste ritmo é que tem lugar o jejum: ele está ligado pela Igreja aos dias dedicados à espera e à preparação.


Tendo presentes estas dimensões, entendemos melhor o sentido do jejum que nos é recomendado e pedido pela Igreja, e mais facilmente evitamos cair na busca de uma perfeição individualista e fechada, sem nos preocuparmos com Cristo presente nos outros irmãos necessitados (Mt 25,40.45) como bem enfatizou o profeta Isaías na Primeira Leitura.


Em outras palavras, o verdadeiro jejum consiste em que cessam as palavras, mas que falem os fatos e as obras de caridade; que cale o entendimento, mas que grite o coração. Não há nada que seja mais eloquente do que um minuto de silêncio. Um minuto de silêncio pode ser um minuto de escuta, um minuto de reflexão, um minuto de compromisso, um minuto de amor, um minuto solidariedade, um minuto de ação compassiva para o necessitado. Um dia de jejum deve ser também um dia de amor e uma semente de esperança. Cada dia de jejum deve ser traduzido em um passo contra o egoísmo, um esforço de compreensão, um compromisso pela justiça, um trabalho pela paz, uma força irresistível de amor para amar quem não merece ser amado.


Um dia de jejum não nos converte, mas nos faz conscientes da necessidade de nos convertermos; não soluciona o problema da fome, mas nos solidariza com os famintos; não nos liberta do consumo, mas nos inicia no exercício da liberdade. É protesto contra a injustiça e o consumismo desenfreado; é chamada à conversão, é grito profético. Se alguém se castiga a si mesmo através do jejum é para que os outros não sejam castigados de fome pelo básico. Quando fazemos parar o estomago é para que o espírito trabalhe em nós. Quando nos privamos de alimentos é para que nos privemos dos vícios.


Por isso, o jejum cristão não consiste apenas em abster-se de alimentos. Consiste, sobretudo, em desejar o encontro com Jesus salvador e o encontro com irmão, especialmente com irmão carente do básico para viver e sobreviver como um ser humano. Jejuamos para nos tornarmos sensíveis à fome e à sede de tantos irmãos e para assumirmos a nossa responsabilidade na resolução dos problemas dos pobres e carentes. A memória da paixão de Jesus não é um simples ritual, mas um ato de misericórdia, no sentido da palavra do Senhor: «Prefiro a misericórdia ao sacrifício» (cf. Mt 9, 13). A sua paixão é obediência ao Pai, mas também um gesto de extrema caridade, de solidariedade com todos nós. Não podemos restringir o jejum em não comer a carne. A maioria de nossa gente nem arroz tem e muito menos a carne. O verdadeiro jejum é dividir o que temos para oferecer a quem nada tem para viver. É dar nossas roupas não mais usadas para cobrir quem está sem nada para se vestir (cf. Mt 25,31-46). Sabemos que jamais podemos arrancar totalmente o sofrimento alheio, mas uma parte dele pode ser aliviada com nossa solidariedade e compaixão. Ninguém pode entrar no céu feliz deixando o irmão passando fome e outras necessidades básicas para um ser humano viver dignamente.


Por isso, podemos dizer que o que importa no jejum não é somente a privação de alimento e sim a seriedade da nas tarefas da vida para que sejam a expressão mais viva do serviço de Deus e dos homens ao mesmo tempo. O jejum não se concebe sem caridade e sem uma mudança de vida para uma vida mais fraterna. O jejum que Deus quer é o cumprimento dos deveres morais e humanos com o próximo na vivência do amor fraterno.


A febre do consumismo hoje em dia é um grande desafio para praticar um profundo jejum, isto é, o verdadeiro encontro com Deus e com o próximo. Jejum é um dos caminhos da libertação.


Não podemos nos esquecer que a Quaresma que agrada a Deus e que nos traz a paz é: Quebrar as cadeias injustas; Libertar os oprimidos; Repartir o pão com o faminto; Acolher em casa os pobres e peregrinos; Cobrir ou vestir os nus; Não desprezar o próximo.


Somente então, “invocarás o Senhor e ele te atenderá, pedirás socorro, e ele dirá: “Eis-me aqui” (Is 58,9ª). É preciso levar à oração essas palavras que nos queimam como as brasas.
 
P. Vitus Gustama,svd

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