sábado, 2 de março de 2019

05/03/2019
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SEGUIR JESUS COM GENEROSIDADE PARA FORMAR UMA COMUNIDADE DE IRMÃOS
Terça-Feira Da VIII Semana Comum


Primeira Leitura: Eclo 35,1-15
1 Aquele que guarda a lei faz muitas oferendas; 2 aquele que cumpre os preceitos oferece um sacrifício salutar (3). 4 Aquele que mostra agradecimento, oferece flor de farinha, e o que pratica a beneficência oferece um sacrifício de louvor. 5 O que agrada ao Senhor é afastar-se do mal, e o que o aplaca é deixar a injustiça. 6 Não te apresentes na presença de Deus de mãos vazias, 7 porque tudo isso se faz em virtude do preceito. 8 O sacrifício do justo enriquece o altar, o seu perfume sobe ao Altíssimo. 9 A oblação do justo é aceitável, e sua memória não cairá no esquecimento. 10 Honra ao Senhor com coração generoso e não regateies as primícias que apresentares. 11 Faze todas as tuas oferendas com semblante sereno, e com alegria consagra o teu dízimo. 12 Dá a Deus segundo a doação que ele te fez, e com generosidade, conforme as tuas posses; 13 porque ele é um Deus retribuidor, e te recompensará sete vezes mais. 14 Não tentes corrompê-lo com presentes: ele não os aceita; 15 nem confies em sacrifício injusto, porque o Senhor é um juiz que não faz discriminação de pessoas.


Evangelho: Mc 10,28-31
Naquele tempo, 28começou Pedro a dizer a Jesus: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”. 29Respondeu Jesus: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, 30receberá cem vezes mais agora, durante esta vida — casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições — e, no mundo futuro, a vida eterna. 31Muitos que agora são os primeiros serão os últimos. E muitos que agora são os últimos serão os primeiros”.
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Viver Na Justiça e Na Gratidão


“O que agrada ao Senhor é afastar-se do mal, e o que o aplaca é deixar a injustiça. Não te apresentes na presença de Deus de mãos vazias, porque tudo isso se faz em virtude do preceito. Dá a Deus segundo a doação que ele te fez, e com generosidade, conforme as tuas posses; porque ele é um Deus retribuidor, e te recompensará sete vezes mais”, escreveu Ben Sirac que lemos na Primeira Leitura.


Ben Sirac, o autor do Eclesiástico é também um entusiasta da liturgia e um fiel observante da lei. O texto de hoje (Primeira Leitura) unifica essas duas tendências do pensamento do Ben Sirac.


A questão essencial é: O que é mais importante, os sacrifícios rituais do Templo ou uma vida segundo a vontade de Deus? A comparação entre a “liturgia” e a “caridade”, muitas vezes, é muito enfatizada tanto no AT como no NT. Aqui Ben Sirac trata de conseguir um equilíbrio entre as duas dimensões na vida do crente.


Os sacrifícios no Templo têm, sim, sentido. O sábio enumera diversos tipos de sacrifícios: os de comunhão, os de flor de farinha, os de louvor, os de expiação.


Recomenda que se façam as oferendas que manda a Lei: “Não te apresentes na presença de Deus de mãos vazias, porque tudo isso se faz em virtude do preceito”, “O sacrifício do justo enriquece o altar, o seu perfume sobe ao Altíssimo”.


Estas ofertas não têm que ser mesquinhas e, além disso, valem o dobro se forem feitas de bom grado: “Honra ao Senhor com coração generoso e não regateies as primícias que apresentares. Faze todas as tuas oferendas com semblante sereno, e com alegria consagra o teu dízimo”. Porque Deus é generoso. “Dá a Deus segundo a doação que ele te fez, e com generosidade, conforme as tuas posses; porque ele é um Deus retribuidor, e te recompensará sete vezes mais”.


Porém, Ben Sirac afirma que o principal não são os sacrifícios rituais, externos, e sim a oferenda (sacrifício) interna, total do crente. Deus não pede os resultados agradáveis dos ritos externos e sim Ele pede que guardemos seus mandamentos: ação de graças, dar esmola, fazer favores aos demais, especialmente aos necessitados (praticar a justiça), afastar do mal e da injustiça. Se crermos que com umas oferendas podemos comprar Deus, estaremos equivocados: “Não tentes corrompê-lo com presentes”.


Aqui aparece a CARIDADE como pedra de toque para saber se os sacrifícios são somente aparência ou ele saem do mais profundo de nosso coração, isto é, a liturgia e a caridade fraterna são inseparáveis.


Podemos pensar equivocadamente que com umas orações ou umas esmolas ou ofertas nos Templo já agradamos a Deus e achamos que sejamos bons cristãos com tudo isso. Mas tudo isso é insuficiente; deve ser acompanhado daquilo que o sábio afirma como a verdadeira religião: cumprir a vontade de Deus (seus mandamentos), fazer favores ao próximo, especialmente, aos necessitados, dar esmola aos pobres, afastar-se do mal, fazer o bem, ser justo. É bom que ofereçamos coisas. Mas, sobretudo, devemos nos oferecer a nós mesmos. Como fez Jesus, que não oferecia no Templo dinheiro ou cordeiros e sim que se entregou a si mesmo no altar da cruz.


Ir e partipar da missa, sim! Rezar muito, sim! Mas, ao mesmo tempo, ter bom coração com o próximo. É viver em atitude de humilde louvor a Deus.  Os sacrifícios “rituais” inseparáveis do sacrifício “vital” de nossa pessoa.


Recordemos os conselhos de Jesus no Sermão da Montanha quando nos dizia que tanto a oração, como a esmola como o jejum devemos realizar sem buscar os aplausos dos homens e sim com simplicidade e autenticidade interior: o Pai que vê no escondido, nos premiará. Este conselho ouviremos no Evangelho da Quarta-feira de Cinzas.


Seguis a Jesus Com Generosidade


O texto do evangelho de hoje, como também o do dia anterior, se encontra na parte central do evangelho de Marcos (Mc 8,22-10,52). Este conjunto começa com a cura do cego (8,22-26) e termina com a mesma (10,46-52). Com isso Marcos quer nos mostrar que os discípulos continuam com sua incompreensão diante da missão de Jesus.


No início e no fim desta seção, Marcos coloca o tema de fé como dom de Deus. A fé faz ver quem é Jesus e faz entender o sentido da vida e de nossa presença neste mundo. Desde o começo da atividade pública de Jesus, Marcos mostrou-nos a cegueira dos discípulos. Mas Jesus fará tudo para, pouco a pouco, tirar a cegueira dos discípulos. A visão clara que se tem de Jesus não vem de uma só vez. Mas, aos poucos, com a ajuda de Jesus, vamos vendo com mais clareza e com maior nitidez quem é Jesus e o que significa seguir a este Jesus neste mundo. A fé também faz ver o caminho que Jesus trilhou e que devemos trilhar. Assim a seção começa e termina com a cura de um cego (8,22-26; 10,46-52). E essas duas curas têm uma função simbólica: para mostrar a cegueira dos discípulos. Elas também lembram o leitor de que é Jesus quem faz possível a fé daqueles que acreditam nele e O seguem no caminho.


No evangelho do dia anterior (Mc 10,17-27) o jovem rico recusou o convite de Jesus para que ele vendesse tudo que tinha para depois dar tudo aos pobres. Em vez de seguir a Jesus, Àquele que tem “as palavras da vida eterna” (Jo 6,68b), o jovem rico foi embora triste porque tinha muitos bens e não quis partilhá-los nem com os necessitados (pobres). Depois que ele foi embora, Jesus pronunciou esta frase para os discípulos: “Meus filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! É mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino de Deus!”.


Os discípulos ficaram espantados diante da afirmação de Jesus. Para os discípulos seguir a Jesus significa enriquecer-se de bens materiais. Por isso ficaram assustados com as palavras de Jesus: “Então, quem pode ser salvo?” (Mc 10,26). Ao que Jesus respondeu: Aos homens é impossível, mas não a Deus, pois para Deus tudo é possível” (Mc 10,27). Para Jesus o caminho da vida consiste em enriquecer-se diante de Deus. Só quem sabe perder a vida neste mundo por causa do evangelho vai recuperá-la na vida eterna. Salvar-se não está nas mãos do homem, mas é um dom gratuito de Deus e não pode merecer-se. Somente quando for acolhido o evangelho e viver-se na graça é que conduz a pessoa à vida eterna. Trata-se de uma vida sustentada pela força de Deus.


Ao ouvir a afirmação de Jesus, Pedro também perguntou a Jesus: “Eis que nós deixamos tudo e te seguimos”. E o evangelista Mateus explicita ou acrescenta a seguinte frase: “O que é que vamos receber?” (Mt 19,27). Pedro já abandonou tudo, desapegou-se de tudo para se aderir a Jesus e quer saber de Jesus qual será a recompensa do seguimento.


O que é que tem no fundo ou por trás da frase de Pedro? Está seu conceito político e interesseiro do Messianismo. Os discípulos buscam postos de honra, recompensas humanas, soluções econômicas e políticas. Eles querem transformar Jesus em empresário para resolver sua carência econômica.


Jesus, com sua paciência, continua educando os discípulos e lhes garante: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida — casa, irmãos, irmãs, mães, filhos e campos, com perseguições — e, no mundo futuro, a vida eterna”. A afirmação de Jesus vale para qualquer pessoa que se adere a Jesus e que se dedica à propagação do evangelho de Jesus. Jesus assegura que no Reino ou na nova sociedade, na nova família não haverá miséria, pois vivem na partilha, na solidariedade, na compaixão, na fraternidade. Nessa nova família não haverá domínio, nem desigualdade nem superioridade nem poder. Por isso, na segunda afirmação de Jesus a palavra “pai” não se menciona que é símbolo do poder ou de autoridade. Em Mateus podemos entender o sentido dessa afirmação quando Jesus disse: “Quanto a vós, não permitais que vos chamem ‘Rabi’, pois um só é o vosso Mestre e todos vós sois irmãos. A ninguém na terra chameis ‘Pai’, pois um só é o vosso Pai, o celeste” (Mt 23,8-9). Chamar Deus de Pai leva a pessoa a viver a fraternidade na convivência com os demais, pois todos são filhos e filhas de Deus (cf. 1Jo 3,1-2).


Necessitamos dos bens materiais como meio na nossa vida, pois uma pessoa pode rezar ou meditar durante horas, mas no fim ela precisará dum pedaço de pão e dum copo de água. Mas reparamos que os bens materiais sempre são alheios a nós. Eles nunca serão nossos amigos. A vida feliz está na partilha, na solidariedade, na fraternidade, na compaixão, no amor mútuo, na caridade e assim por diante. A partilha é a alma do projeto de Jesus Cristo. Ele nos chama para segui-lo nessa direção. No evangelho de Marcos Jesus e seu Espírito vão ajudando os discípulos para que cheguem à maturidade de sua fé. Somente depois da ressurreição (Páscoa) eles vão se entregar também gratuito e generosamente ao serviço de Jesus Cristo e da comunidade até sua morte, pois eles captaram o sentido da mensagem de Jesus.


A resposta de Jesus diante da pergunta de Pedro é esperançosa e misteriosa, ao mesmo tempo: “Em verdade vos digo, quem tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos, campos, por causa de mim e do Evangelho, receberá cem vezes mais agora, durante esta vida e, no mundo futuro, a vida eterna”. Não se trata de quantidades aritméticas (cem vezes). A resposta se refere à nova família que se cria em torno de Jesus: deixamos um irmão e encontramos cem irmãos (irmãs). O laço desta nova família está na prática da vontade de Deus que consiste na prática do bem e na vivência do amor fraterno: “Quem fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe” (Mc 3,35).


Quantos irmãos e irmãs leigos, quantos pastores, quantos médicos e enfermeiros sem fronteiras e as demais pessoas de boa vontade que entregam sua melhor força e tempo para trabalhar pelo bem dos irmãos da comunidade e fora da comunidade e para ajudar os sofredores em todos os sentidos! Quantos sacerdotes, quantos religiosos e religiosas, quantas pessoas consagradas que não formaram a própria família, mas não por isso que deixaram de amar. Ao contrário, eles estão plenamente disponíveis para todos, movidos de um amor universal. Todos esses irmãos e irmãs são reflexos da generosidade de Jesus Cristo neste mundo. Jesus está presente nesses irmãos e irmãs, se quisermos perguntar onde está Jesus Cristo (cf. Mt 25,31-46). Jesus promete já desde agora uma grande satisfação e promete a vida eterna: “receberá cem vezes mais agora, durante esta vida e, no mundo futuro, a vida eterna”. Mas o verdadeiro amor supõe sacrifício, cruz e perseguição, porém, vale a pena! A Páscoa salvadora passa pelo caminho da Cruz da Sexta-Feira Santa. A vida do cristão não termina na Sexta-Feira Santa. Ela termina na ressurreição. A força da ressurreição dá força e anima o cristão para encarar a cruz da Sexta-Feira Santa. Jesus nos mostrou isso.
P. Vitus Gustama,svd

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