07/03/2020
PARA
AMAR A JESUS VERDADEIRAMENTE E AO PRÓXIMO TEMOS QUE APRENDER A PERDOAR, ATÉ OS
INIMIGOS
Moisés dirigiu a palavra ao povo de Israel e
lhe disse: 16 “Hoje, o Senhor teu
Deus te manda cumprir esses preceitos e decretos. Guarda-os e observa-os com
todo o teu coração e com toda a tua alma. 17 Tu escolheste hoje o Senhor para ser o teu Deus, para
seguires os seus caminhos, e guardares seus preceitos, mandamentos e decretos,
e para obedecerdes à sua voz. 18 E o Senhor te escolheu, hoje, para que sejas para ele um povo
particular, como te prometeu, a fim de observares todos os seus mandamentos. 19
Assim ele te fará ilustre entre todas as nações que criou, e te tornará
superior em honra e glória, a fim de que sejas o povo santo do Senhor teu Deus,
como ele disse”.
Evangelho: Mt 5,43-48
Naquele tempo,
disse Jesus aos seus discípulos: 43 Vós
ouvistes o que foi dito:
'Amarás o teu próximo
e odiarás o teu inimigo!'
44 Eu, porém,
vos digo: Amai os vossos inimigos e rezai por
aqueles que
vos perseguem! 45 Assim, vos
tornareis filhos do vosso
Pai que
está nos céus,
porque ele
faz nascer o sol
sobre maus
e bons, e faz cair
a chuva sobre
justos e injustos.
46 Porque, se amais somente aqueles que vos amam, que recompensa tereis? Os cobradores de impostos
não fazem a mesma
coisa? 47 E se saudais somente
os vossos irmãos,
o que fazeis de extraordinário?
Os pagãos não
fazem a mesma coisa?
48 Portanto, sede perfeitos
como o vosso
Pai celeste é
perfeito.'
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O Senhor é Nosso Deus e Nós Somos Seu
Povo
“Tu
escolheste hoje o Senhor para ser o teu Deus, para seguires os seus caminhos, e
guardares seus preceitos, mandamentos e decretos, e para obedecerdes à sua voz.
E o Senhor te escolheu, hoje, para que sejas para ele um povo particular, como
te prometeu, a fim de observares todos os seus mandamentos”.
O Deuteronômio, o último livro do Pentateuco,
de onde foi tirada a Primeira Leitura de hoje, é, paradoxalmente,
apesar da extensa parte legislativa que contém, um dos menos jurídicos. Sua
finalidade é mais homilética do que legislativa e seu senso aguçado de história
e das relações pessoais com Deus fazem dele, acima de tudo, um livro religioso.
O texto de hoje recorda o conteúdo da Aliança
e sublinha seu caráter espiritual. E a Aliança é uma realidade sempre atual. O
Deuteronômio insistiu fortemente sobre este valor e por isso, se usa a palavra
“hoje” (“hoje”
nos vv. 16-18; cf. Dt 5,3; 6,10-13). Por isso, não se trata de viver de uma
economia antiga; o passado não serve mais que para definir melhor o presente, e
as maravilhas passadas não cessam de renovar-se na atualidade. Sem a renovação
e a inovação a humanidade não avança. A vida feliz e a glória (v.19) são a
recompensa prometida por Deus para aqueles que observam a Aliança. Com efeito,
a lei não é uma simples nomenclatura de preceitos impostos ao homem e sim que
compromete muito mais uma atitude religiosa: “Eu serei teu Deus (v.17) e tu
serás meu próprio povo” (vv.18-19).
Esta frase “Eu serei teu Deus e tu serás meu
próprio povo” é para ser recordado por qualquer um de nós em todos os momentos
de nossa vida, especialmente nos momentos de prova.
Viver Cristãmente É
Caminhar Na Direção Do Bem e Da Salvação
“Tu
escolheste hoje o Senhor para ser o teu Deus, para seguires os seus caminhos, e guardares seus preceitos,
mandamentos e decretos, e para obedecerdes à sua voz. E o Senhor te escolheu,
hoje, para que sejas para ele um povo particular, como te prometeu, a fim de
observares todos os seus mandamentos”.
O antigo semita é nômada. A estrutura do êxodo de Israel
possui três momentos: saída, caminho no deserto e a chegada à Terra prometida.
O êxodo de Israel constitui um processo de libertação feliz: libertado da
escravidão do Egito à Terra prometida, uma “terra que mana leite e mel” (Ex
3,8). O caminho é seco e duro como o deserto, mas ao mesmo tempo não faltam as
bênçãos de Deus durante essa caminhada. Neste contexto, o êxodo é entendido
como marcha de um povo ou de um grupo de pessoas em busca de algum lugar melhor
para se estabelecer, mas sempre com a ajuda divina. “Quem não contar com Deus
não sabe contar” (Pascal). Caminho, via e sendas desempenham um papel essencial
em sua existência. Como a coisa muito normal utiliza este mesmo vocabulário para
falar da vida moral e religiosa e tal uso se manteve na língua hebraica.
E o êxodo existencial de um ser humano possui três fases: iniciar,
transitar e terminar. A vida terrena de um ser humano tem, então, seu início,
faz-se no pleno desenvolvimento e aponta para seu término inevitável. O êxodo
da vida humana é sempre um caminho de crescimento, uma saída da “própria
terra”, de si mesmo. Neste caminho de crescimento suscitam inevitáveis
interrogações sobre o próprio homem, sua condição e destino: “Quem sou eu? Que
sentido tem a vida? Qual é o sentido da minha vida? O que estou procurando
nesta vida? Para onde a vida vai me levar?”. Sem uma resposta a estas
perguntas, o itinerário ou o êxodo que conduz para o crescimento ou à plena
realização pode terminar em um beco sem saída. Quem tem um porquê para viver, encontrará frequentemente
o como viver.
Caminho, em sentido figurado, tem na Bíblia
várias acepções. Fala-se de dois caminhos: o caminho da vida e o da morte que
Deus põe diante do homem
(Jr 21,8);
o caminho bom (1Sam 12,13) e o caminho mau (Jr 18,11); o caminho dos justos
e o dos pecadores (Sl
1,6). Os
caminhos de Deus são distintos dos caminhos dos homens (Is 55,8-9). Os caminhos de
Deus conduzem à paz (Is
59,6; Lc 1,79)
e à vida (Mt 7,14). Os caminhos dos
homens, ao contrário, levam à morte (Pr
14,12) e
à perdição (Mt 7,13). Os caminhos de Deus
são Sua própria vontade, as normas de conduta sempre retas, verdadeiras e
justas (Ap 15,3). A missão fundamental
de Jesus Cristo foi ensinar para o homem estes caminhos (Mt 22,16). O próprio Jesus é o
Caminho, a Verdade e a Vida (Jo
14,6). Nos
Atos dos Apóstolos, o conjunto dos ensinamentos cristãos é chamado caminho, o
caminho do Senhor (At
9,2; 18,25-26; 19,9.23; 22,4; 24,14-22).
A ideia do caminho descreve muito bem nossa
vida. Moisés falou sobre isso para seu povo. Na Quaresma nos é recordado ou
lembrado de maneira mais explicita que nós cristãos temos um caminho próprio,
um estilo de vida que nos traça a Palavra revelada por Deus. A Palavra de Deus
nos direciona para a vida em plenitude. Basta ler e meditá-la diariamente,
especialmente durante a Quaresma, para que possamos caminhar bem na vida. Temos
que nos comportar como o povo da Aliança: continuar a seguir somente Deus e Sua
Palavra, palavras que têm vida eterna (Jo 6,68). Deus, por sua parte, nos
promete ser nosso Deus, ajudar-nos, fazer de nós o “o povo consagrado”, eleito
que dá testemunho de sua salvação em meio do mundo. Deus e Sua Palavra são o
único caminho que leva à salvação, à felicidade, à Páscoa definitiva. Deus nos
é sempre fiel. Por nossa vez, devemos ser fieis a Ele e cumprir Sua vontade
“com todo o coração e com toda a alma”.
Somos o povo em peregrinação para a
eternidade, para a comunhão plena com Deus. Por isso, o apego, a ganância, o
materialismo se tornam inúteis, pois nada se levará. Precisamos de pão, mas
“não só de pão o homem vive” (Dt 8,3; Lc 4,4). É preciso viver muito além do
pão, pois a nossa fome não é só de pão, mas de outros valores que nos dão o
sentido da vida.
Para Estar No Caminho Do
Senhor É Preciso a Aprender a Perdoar e Reconciliar-se
O Evangelho de hoje nos põe diante de um
exemplo muito concreto deste estilo de vida que Deus quer de nós. Jesus nos
apresenta seu programa como estilo de vida cristã: amar inclusive nossos
inimigos. É o programa árduo. Mas a Páscoa a que nos preparamos é a celebração
de um Cristo Jesus que se entregou totalmente pelos demais. Ele morreu
perdoando todos os que O crucificaram.
Ser seguidores do Senhor Jesus é assumir seu
estilo de vida. O modelo deste estilo de vida é o próprio Jesus, Deus-Conosco e
o próprio Pai do céu que “faz nascer o sol para os bons e maus e faz cair a
chuva para os justos e injustos”, pois Deus é o Pai de todos.
O texto do evangelho lido neste dia faz parte
do Sermão da Montanha (Mt 5-7). Estamos na seção chamada de antíteses (Mt
5,21-48) conhecidas pelo uso da seguinte expressão: “Ouvistes... Porém eu
vos digo...”.
Jesus continua analisando a lei antiga (“Ouvistes...”)
e dá uma nova ênfase
(“Porém eu
vos digo...). Ele
sabe que o único
que pode salvar
o ser humano
é entender que
se não se tem o perdão
como ponto de
partida , jamais
se poderá alcançar uma convivência
digna entre
os seres humanos .
Daqui sua grande
preocupação pela
busca desses valores
que o Pai
quer para a humanidade , valores
que farão que
o ser humano
se aproxime da mesma perfeição
de Deus (cf. Mt 5,48). Para aprender a
amar verdadeiramente, o cristão tem que aprender a perdoar, pois perdão é a
expressão máxima do amor. Perdão é o último testamento de Jesus
Cristo da cruz para todos os cristão (cf. Lc 23,34).
A palavra “perdão” provém do latim “per”:
intensificação e “donare”: doar, dar. Assim o perdão é um ato de
doação, tanto para aquele que o recebe como para aquele que o brinda. Ambos se
enriquecem com o benefício da paz; ambos se libertam do cárcere que os
aprisiona. Por isso, o perdão é seguir avançando; é amparo e encontro. O perdão
revela a graça. O ato de perdoar é um ato da misericórdia de Deus que apaga os
pecados (Am 7; Ex
32,12.14; Jr 26,19; Ez 36,29.33). Perdoar é estar com Deus que perdoa sem
medida. Perdoar é estar do lado de Deus.
“Amai vossos
inimigos , fazei bem
aos que vos
odeiam, orai pelos que
vos maltratam e perseguem. Deste modo sereis os filhos
de vosso Pai
do céu , pois ele faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons , e faz chover sobre os justos
e sobre os injustos ”.
Como é difícil amar os que destruíram ou
acabaram com nossa vida ou nossa família, e ainda rezar por eles!? No nosso
inconsciente, como seres humanos, sempre resta algum sentimento vingativo.
Trata-se de um sentimento com o intuito de acabar com a vida dos que nos
fizeram algum mal, mas, infelizmente, resulta em acabar com a nossa própria
vida por causa do mesmo sentimento: “O ódio que se opõe ao ódio consegue apenas aumentar a
superfície e também a profundeza do ódio” (Mahatma Gandhi). Repito: O ódio é igual a
beber o veneno e espera-se que o outro morra. Mas aquele que bebe o
veneno é que morre. Daí lança-se a pergunta: vale a pena seguir o mesmo caminho
(violência, vingança)? Não se trata de acariciar a cabeça de quem pratica a
violência. Trata-se de procurar alguma alternativa. Nisto percebemos que ser
cristão é o grande desafio diariamente. Todo dia devemos renovar o nosso ser de
cristãos ao contemplar permanentemente Jesus Cristo, o amor misericordioso de
Deus feito homem.
As sociedades
humanas ao longo da história
foram construídas a partir do princípio
de interesses de grupos
determinados que
excluam todos aqueles
que são
vistos como
ameaça à existência
própria de ditos
grupos . A comunidade
cristã se encontra também
a cada passo
com pessoas
que ameaçam sua
existência . O inimigo
está no horizonte de sua existência
e frequentemente, esse inimigo pode ser
qualificado de perseguidor. No entanto , para ela Jesus propõe
uma nova lei
que é a culminação de todas as contraposições mencionadas previamente. O “mandamento de amar ” a todos deve converter-se em
marca distintiva
da comunidade de seguidores
de Cristo , capaz
de expressar sua
originalidade na história
humana , pois eles são filhos de Deus
no Filho Jesus Cristo . “Ser filhos de Deus ”,
segundo Jesus, significa parecer-se a Ele ou com Ele no modo de fazer e de viver .
"Sede
perfeitos como
o vosso Pai
celeste é perfeito ", assim
Jesus concluiu. A perfeição é o horizonte
de nossa existência .
Como horizonte
ela não
é alcançável, mas serve como guia para nossa existência diária .
“O fraco
jamais perdoa: o perdão
é uma das características do forte”. (Mahatma Gandhi).
Para pensar:
“As três coisas mais
difíceis do mundo são: guardar um segredo, perdoar uma ofensa e aproveitar o
tempo.” (Benjamin Franklin).
P. Vitus Gustama,svd
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