13/03/2020
É
PRECISO VOLTAR PARA DEUS (CONVERSÃO) PORQUE ELE NOS AMA E NOS ESPERA ATÉ O
ÚLTIMO MINUTO DE NOSSA VIDA
Sexta-Feira da II Semana
da Quaresma
3 Israel amava mais a José do que a todos os outros
filhos, porque lhe tinha nascido na velhice. E por isso mandou fazer para ele
uma túnica de mangas longas. 4 Vendo os irmãos que o pai o amava mais do que a
todos eles, odiavam-no e já não lhe podiam falar pacificamente. 12 Ora, como os
irmãos de José tinham ido apascentar o rebanho do pai em Siquém, 13 adisse
Israel a José: “Teus irmãos devem estar com os rebanhos em Siquém. Vem, vou
enviar-te a eles”. 17b Partiu, pois, José atrás de seus irmãos e encontrou-os
em Dotaim. 18 Eles, porém, tendo-o visto ao longe, antes que se aproximasse,
tramaram a sua morte. 19 Disseram entre si: “Aí vem o sonhador! 20 Vamos
matá-lo e lançá-lo numa cisterna, depois diremos que um animal feroz o devorou.
Assim veremos de que lhe servem os sonhos”. 21 Rúben, porém, ouvindo isto,
disse-lhes: 22 “Não lhe tiremos a vida”! E acrescentou: “Não derrameis sangue,
mas lançai-o naquela cisterna do deserto, e não o toqueis com as vossas mãos”.
Dizia isto, porque queria livrá-lo das mãos deles e devolvê-lo ao pai. 23 Assim
que José chegou perto dos irmãos, estes despojaram-no da túnica de mangas
longas, pegaram nele 24 e lançaram-no numa cisterna que não tinha água. 25
Depois, sentaram-se para comer. Levantando os olhos, avistaram uma caravana de
ismaelitas, que se aproximava, proveniente de Galaad. Os camelos iam carregados
de especiarias, bálsamo e resina, que transportavam para o Egito. 26 E Judá
disse aos irmãos: “Que proveito teríamos em matar nosso irmão e ocultar o seu
sangue? 27 É melhor vendê-lo a esses ismaelitas e não manchar nossas mãos, pois
ele é nosso irmão e nossa carne”. Concordaram os irmãos com o que dizia. 28 Ao
passarem os comerciantes madianitas, tiraram José da cisterna, e por vinte
moedas de prata o venderam aos ismaelitas: e estes o levaram para o Egito.
Evangelho: Mt 21,33-46
Naquele tempo , dirigindo-se Jesus
aos chefes dos sacerdotes
e aos anciãos do povo ,
disse-lhes: 33“Escutai esta outra
parábola : Certo
proprietário plantou uma vinha , pôs uma cerca
em volta ,
fez nela um lagar
para esmagar as uvas e construiu uma torre
de guarda . Depois
arrendou-a a vinhateiros, e viajou para o estrangeiro . 34Quando
chegou o tempo da colheita ,
o proprietário mandou seus empregados
aos vinhateiros para receber
seus frutos .
35Os vinhateiros, porém ,
agarraram os empregados , espancaram a um , mataram a outro ,
e ao terceiro apedrejaram. 36O
proprietário mandou de novo
outros empregados ,
em maior
número do que
os primeiros . Mas
eles os trataram da mesma
forma . 37Finalmente ,
o proprietário enviou-lhes o seu filho ,
pensando: ‘Ao meu filho
eles vão
respeitar ’. 38Os vinhateiros, porém , ao verem o filho ,
disseram entre si :
‘Este é o herdeiro .
Vinde, vamos matá-lo e tomar posse
da sua herança !’
39Então agarraram o filho , jogaram-no para fora da vinha e
o mataram. 40Pois bem ,
quando o dono
da vinha voltar ,
que fará com
esses vinhateiros?” 41Os sumos sacerdotes
e os anciãos do povo
responderam: “Com certeza
mandará matar de modo
violento esses
perversos e arrendará a vinha a outros
vinhateiros, que lhe
entregarão os frutos no tempo certo ”. 42Então
Jesus lhes disse: “Vós
nunca lestes
nas Escrituras : ‘A pedra
que os construtores rejeitaram tornou-se
a pedra angular ;
isto foi feito
pelo Senhor e é maravilhoso aos nossos
olhos ?” 43Por isso eu vos digo: o Reino de Deus vos será tirado e será entregue
a um povo
que produzirá frutos .
45Os sumos
sacerdotes e fariseus
ouviram as parábolas de Jesus, e
compreenderam que estava falando deles. 46Procuraram
prendê-lo, mas ficaram com medo das multidões , pois elas consideravam Jesus um
profeta .
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As leitura de hoje nos apresentam explicitamente
o destino de cruz e morte que espera Jesus ao final de seu caminho. Busca-se no
AT uma figura entranhável: José, traído por seus próprios irmãos.
A narração na Primeira
Leitura de hoje quer explicar simbolicamente a história da tribo de
José e de sua preeminência sobre as demais tribos, e como nos planos de Deus,
José estava destinado a ser a salvação do povo. E tudo tem que passar pela
prova e pela mortificação. A Igreja também terá acesso à glória pelas provas,
como Cristo, o Novo José, verificou com sua própria vida.
A história de José é uma história de novela
edificante que expressa as infidelidades de Israel e sobretudo, do estilo que
tem Deus de tirar bem do mal. A história de José se repete em Jesus.
José é apresentado com as virtudes típicas do
sábio: a humildade, a magnanimidade, a prudência, o domínio de si, o temor de
Deus, etc. Deus é também aqui o Supremo Condutor dos acontecimentos. Além
disso, a história de José tem a função de unir a história patriarcal com o
Êxodo.
A Inveja Intoxica As
Relações e Mata a Convivência Fraterna
A história de José, filho do patriarca Jacó,
que narra o ódio mortal entre irmãos é conectada com os relatos de Caim e Abel
e de Jacó e Esaú. Este ódio mortal é o fruto de uma raiz interior que é a
vaidade e o sonho da grandeza. Trata-se de uma história novelada e edificante
que expressa as infidelidades de Israel, mas sobretudo, do estilo que tem Deus
de tirar o bem do mal.
Os irmãos de José têm a inveja mortal dele
porque “Israel (Jacó) amava mais a José
do que a todos os outros filhos, porque lhe tinha nascido na velhice. E por
isso mandou fazer para ele uma túnica de mangas longas. Vendo os irmãos que o
pai o amava mais do que a todos eles, odiavam-no e já não lhe podiam falar
pacificamente”.
Invejar é querer o que a outra pessoa tem, é
sentir dor e raiva porque o outro conseguiu o que você ainda alcançou. A inveja
é uma profunda raiva produzida pela conquista dos outros. A inveja é um desejo
de destruição, de ódio. As mortes, as violações, os calotes, os enganos, os
maus-tratos nascem da inveja por ambicionar o que o outro tem. A inveja nos
tira do foco e conduz a nossa força ou energia para o lado errado.
O invejoso vive amargurado porque não tolera
que o outro tenha sucesso. Qualquer invejoso tem
uma grande dificuldade para celebrar o sucesso dos outros. As pessoas invejosas
gostam de jogar uma palavra negativa atrás da outra. O invejoso vive fofocando
e se metendo na vida de todo mundo. Sem perceber que quanto mais uma pessoa
falar dos outros, mais quer falar de si mesma. Quanto menos uma pessoa quiser
falar de si mesma, é porque tem mais para esconder. E quanto mais uma pessoa se
intrometer na vida dos outros, menos coisa vai conseguir, pois ela não focaliza
sua força para o ideal a ser alcançado.
A inveja é uma emoção que intoxica nossas
relações interpessoais, nossa forma de nos conectar com quem nos rodeia. Em vez
disso, é preciso buscar dentro de nós mesmos as melhores oportunidades para
crescer na vida.
A história de José, apesar da inveja dos
irmãos que o venderam como escravo, tem um fio teológico que lhe dá sentido e
unidade: a providência divina.
Por José o povo eleito será salvo como ele próprio disse: “O mal que tínheis intenção de fazer-me,
o desígnio de Deus o mudou em bem, a fim de cumprir o que se realiza hoje:
salvar a vida a um povo numeroso” (Gn 50,20).
Existe a inveja dos irmãos de José, mas o
caminho que traça o ódio é também caminho providente pelo qual Deus salva toda
a família de José. Não é que Deus necessite e atue nisso. Mas apesar disso Deus
atua para o bem do seu povo. Neste sentido Deus é também, aqui, o Supremo Condutor
dos acontecimentos.
A tradição cristã sempre viu na história de
José um símbolo da história de Jesus. O “predileto entre todos os irmãos” é
tirado para fora, despojados de seus vestidos e vendido. A parábola do
evangelho de hoje vai na mesma direção. Os lavradores homicidas se comportam
como os irmãos de José. Por ter muitos pontos comuns nestas duas histórias, a
liturgia as propõe juntas. Em ambos casos, se narra a sorte de um personagem
(José num caso e o primogênito do dono da vinha em outro) que, por inveja é
eliminado: mediante sua venda como escravo (José) ou diretamente por
assassinato (Jesus). Para seus irmãos, José era um sonhador, um iludido. Para
os lavradores, o filho do dono era um obstáculo.
No caminho da Quaresma, os relatos bíblicos
nos falam de Jesus. Também Jesus é um sonhador. Amado pelo Pai, Jesus sonha em
criar para todos uma fraternidade na condição de filhos e filhas de Deus. Sonha
com um mundo em que o Reinado de Deus acabe com a violência, a injustiça, a
desumanidade. Mas ele não se limita em sonhar. Ele aceita visitar a vinha de
seu Pai. Ao chegar a ela ele se dá conta de que não é bem recebido pelos
lavradores.
Deus Nos Ama Até o Fim
Incondicionalmente
A parábola sobre os vinhateiros violentos
(assassinos) fala da história da salvação (cf. Is 5, 2-5). Na história da
salvação Deus se mostra paciente com o homem até o último minuto da vida do
homem sobre a terra, pois Deus não exclui nenhum homem da salvação (cf. Lc
23,39-43). Ser excluído é a opção do próprio homem, pois Deus não se cansa de
perdoar o homem toda vez que este se arrepender. Diante do Deus que não se
cansa de perdoar, também o homem não pode se cansar de se converter.
Um Deus Que Confia Na Minha
Capacidade
A parábola
lida neste dia
tem muita coisa
para nos dizer. Ela quer nos falar, primeiramente,
da confiança que
Deus deposita em
cada um
de nós. O Deus
revelado por Jesus, nesta parábola é Aquele
que confia totalmente
no homem, nos
seus talentos,
na sua liberdade
responsável, na sua
capacidade de ser
melhor cada
momento e assim
por diante.
Para isso, Deus possibilita tudo
ou facilita tudo:
“Certo proprietário
plantou uma vinha, pôs uma cerca em volta, fez nela um
lagar para esmagar as uvas e
construiu uma torre de guarda”. Este
Deus não
fica policiando se o homem faz ou não faz sua missão, porque ele
acredita na capacidade que cada homem tem. Por isso, o texto
diz: “O proprietário arrendou uma vinha a vinhateiros e viajou para o
estrangeiro” (Mt 21,33). Deus acredita na capacidade que cada homem tem
para produzir algo de bom durante a vida. Para isso é que Ele criou cada homem
e o colocou aqui neste mundo. Cada tarefa ou missão que o homem recebe é a
tarefa ou missão dada por Deus. Sou o “gerente” de uma porção do Reino de Deus.
É bom cada um descobrir a própria missão dada por Deus.
Merece cada um
fazer esta pergunta: “Qual missão que recebi de Deus
durante a minha
vida neste mundo?”.
“Será que acredito no Deus que
acredita em mim?”.
“Deus não
condena quem não
pode fazer o que
quer, mas
quem não
quer fazer o que pode”, dizia Santo
Agostinho(Serm.54,2).
O Deus
revelado nesta parábola não só acredita
em cada
um de nós
para cumprir a missão, mas também dá-nos todos
os meios para
facilitar o cumprimento
da missão dada.
Por isso
o texto diz: “O proprietário
pôs uma cerca em
volta da vinha,
fez nela um lagar
para esmagar as uvas e construiu uma torre
de guarda. Depois,
arrendou a vinha a vinhateiros” (Mt
21,33).
Um Deus Que Tem Paciência
Até O Último Minuto Da Vida Do Homem Neste Mundo
A parábola
fala também
da paciência de Deus. Deus não se
cansa em enviar
seus mensageiros
e suas mensagens
todos os dias
para os homens. Ele
não vem logo
para se vingar contra o homem mau ou contra quem que errou, pois “Deus é amor”
(1Jo 4,8.16). Ele dá avisos um após outro e todos
os dias. Esse
Deus confia totalmente
no homem e por
isso, ele
acredita na recuperação do homem. Esta é uma das razões
pela qual
Deus tem paciência
para com o homem.
Ser cristão
é, por isso,
ser recomeço permanente, pois Deus sempre dá oportunidade para cada um recomeçar sua caminhada e sua
missão. Deus
dá tempo para
cada um
corrigir o corrigível, recuperar
o recuperável para que
sua vida
faça um salto
de qualidade com
Deus.
Merece também
cada um
responder estas perguntas:
Deus não
se cansa em enviar
seus mensageiros
e suas mensagens
todos os dias
para o homem.
Qual é a mensagem
de Deus para mim hoje? qual recado que Deus quer dar hoje para minha família? Você encontrou algum mensageiro de Deus
hoje seja durante
a celebração, seja fora
da celebração? Se esse
Deus tem muita
paciência para
com você
acreditando na sua recuperação,
no seu novo começo, por qual razão você não acredita em si mesmo para você
começar tudo
de novo? Você tem paciência suficiente
com os outros.
O amor nos
torna pacientes!
Um Deus Que Nos Ama
Incondicionalmente
“Finalmente, o proprietário enviou-lhes o
seu filho, pensando: ‘Ao meu filho eles vão respeitar’. Os vinhateiros, porém,
ao verem o filho, disseram entre si: ‘Este é o herdeiro. Vinde, vamos matá-lo e
tomar posse da sua herança!’ Então agarraram o filho, jogaram-no para fora da
vinha e o mataram”.
Por causa dos homens e por causa do Seu amor
sem limites pelos homens Deus usa todos os recursos e todas as possibilidades
para salvá-los. Os recursos se esgotaram (Mt 21,34-36). Agora resta apenas seu
Filho. Deus é verdadeiramente “o pobre” por excelência, porque nos deu tudo.
Até seu próprio Filho, o ultimo que restou. Em sua incurável paixão pelos
homens Deus não ficou com nada, nem com o seu próprio Filho. Significa que Deus
nos toma a sério e deixa o campo livre para que atuemos com plena
responsabilidade. Mas Deus é impotente diante da liberdade do homem. O homem é
responsável pela sua própria escolha. No momento em que o homem não respeitar
as regras e as placas da vida que apontam para sua plena realização e para a
eternidade, ele perderá sua liberdade e cairá em uma série de prisões e
escravidões.
É um Deus que pretende atuar exclusivamente
através do amor, pois este caminho é que leva o homem à sua plenitude, à
eternidade. Cristo morreu perdoando o homem.
Cada um precisa entrar no silêncio sagrado
para meditar sobre o amor de Deus por cada um e a resposta de cada um diante
desse amor. Será que sou ingrato diante do amor de Deus? Será que sou
irresponsável na minha atuação como pessoa amada de Deus? Será que eu vivo de
acordo com o amor com que Deus me ama? Será que sou capaz de dar tudo por
amor?
Como Será Minha Vida No
Encontro Derradeiro Com Deus?
A parábola
também fala
do juízo final
de Deus. A vida tem seu fim. Se ela tem
o fim, então
todos os nossos
atos diários
pesam para este
fim. Durante
o curso desta vida
Deus se mostra
paciente para
qualquer um
de nós. Ele
acredita no homem e inspira o homem com seu santo
Espírito, mas respeita
sua liberdade. A liberdade
é como uma faca
que pode ajudar
na suas tarefas,
mas também
pode cortar seus
dedos, se não
usá-la corretamente. “Uma liberdade sem controle, mais que liberais,
faz libertinos”, dizia Santo Agostinho (Epist.157,16). Deus nos
julgará quando ele
tirar de nós
a tarefa ou
a missão que
não quisemos cumprir.
“O Reino de Deus
vos será tirado e será entregue a um povo que produzirá
muitos frutos”,
assim Jesus concluiu a parábola.
O que
tem por trás
da parábola no evangelho
de hoje é a chamada
do Senhor para a conversão. O esforço
de conversão, que
o Senhor nos
pede, devemos exercitá-lo todos os dias de nossa vida. Mas em determinadas épocas
e situações, como a Quaresma, recebemos
graças especiais que devemos aproveitar. Para compreender melhor a malícia do
pecado devemos contemplar o que Jesus Cristo sofreu por nós na cruz, pois a
cruz é o fruto do pecado do homem e ao mesmo tempo, é uma prova do amor
incondicional do Senhor por nós todos. Para compreender o peso do pecado
devemos olhar para os inocentes, que são vítimas de injustiça ao longo da
história da humanidade. Por isso, devemos estar atentos, pois a maldade pode
morar dentro de nós. No momento em que ficarmos sem vigilância ela aparece com
uma força destruidora até fatal. Todos os dias o Senhor nos chama à santidade,
a sermos misericordiosos, a amar com obras, a estarmos vigilantes. A falta de conversão debilita a vida da graça
em nós e se torna difícil o exercício das virtudes.
Quais são
atos que
pesam muito para
a minha vida
e para o fim
da minha vida
neste mundo?
P. Vitus Gustama,SVD
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