Domingo,29/03/2020
COM CRISTO É GARANTIDA A VITÓRIA
DA VIDA SOBRE A MORTE
V DOMINGO DA QUARESMA DO ANO “A”
12 Assim fala o Senhor
Deus: “Ó meu povo, vou abrir as vossas sepulturas e conduzir-vos para a terra
de Israel; 13 e quando eu abrir as vossas sepulturas e vos fizer sair delas,
sabereis que eu sou o Senhor. 14 Porei em vós o meu espírito, para que vivais e
vos colocarei em vossa terra. Então sabereis que eu, o Senhor, digo e faço —
oráculo do Senhor”.
II Leitura: Rm 8,8-11
Irmãos: 8Os que vivem segundo a carne não
podem agradar a Deus. 9Vós não viveis segundo a carne, mas segundo o Espírito,
se realmente o Espírito de Deus mora em vós. Se alguém não tem o Espírito de
Cristo, não pertence a Cristo. 10Se, porém, Cristo está em vós, embora vosso
corpo esteja ferido de morte por causa do pecado, vosso espírito está cheio de
vida, graças à justiça. 11E, se o Espírito daquele que ressuscitou Jesus dentre
os mortos mora em vós, então aquele que ressuscitou Jesus Cristo dentre os
mortos vivificará também vossos corpos mortais por meio do seu Espírito que
mora em vós.
Evangelho: Jo 11,1-45
Naquele
tempo: 1 Havia um doente, Lázaro, que era de Betânia, o povoado de Maria e de
Marta, sua irmã. 2 Maria era aquela que ungira o Senhor com perfume e enxugara
os pés dele com seus cabelos. O irmão dela, Lázaro, é que estava doente. 3 As
irmãs mandaram então dizer a Jesus: 'Senhor, aquele que amas está doente.' 4
Ouvindo isto, Jesus disse: 'Esta doença não leva à morte; ela serve para a glória
de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela.' 5 Jesus era muito
amigo de Marta, de sua irmã Maria e de Lázaro. 6 Quando ouviu que este estava
doente, Jesus ficou ainda dois dias no lugar onde se encontrava. 7 Então, disse
aos discípulos: 'Vamos de novo à Judéia.' 8 Os discípulos disseram-lhe: Mestre,
ainda há pouco os judeus queriam apedrejar-te, e agora vais outra vez para lá?'
9 Jesus respondeu: 'O dia não tem doze horas? Se alguém caminha de dia, não
tropeça, porque vê a luz deste mundo. 10 Mas se alguém caminha de noite,
tropeça, porque lhe falta a luz'. 11 Depois acrescentou: 'O nosso amigo Lázaro
dorme. Mas eu vou acordá-lo.' 12 Os discípulos disseram: 'Senhor, se ele dorme,
vai ficar bom.' 13 Jesus falava da morte de Lázaro, mas os discípulos pensaram
que falasse do sono mesmo. 14 Então Jesus disse abertamente: 'Lázaro está
morto. 15 Mas por causa de vós, alegro-me por não ter estado lá, para que
creiais. Mas vamos para junto dele'. 16 Então Tomé, cujo nome significa Gêmeo,
disse aos companheiros: 'Vamos nós também para morrermos com ele'. 17 Quando
Jesus chegou, encontrou Lázaro sepultado havia quatro dias. 18 Betânia ficava a
uns três quilômetros de Jerusalém. 19Muitos judeus tinham vindo à casa de Marta
e Maria para as consolar por causa do irmão. 20 Quando Marta soube que Jesus
tinha chegado, foi ao encontro dele. Maria ficou sentada em casa. 21 Então
Marta disse a Jesus: 'Senhor, se tivesses estado aqui, meu irmão não teria
morrido. 22 Mas mesmo assim, eu sei que o que pedires a Deus, ele to
concederá.' 23 Respondeu-lhe Jesus: 'Teu irmão ressuscitará.' 24 Disse Marta:
'Eu sei que ele ressuscitará na ressurreição, no último dia.' 25 Então Jesus
disse: 'Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, mesmo que morra,
viverá. 26E todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais. Crês isto?'
27 Respondeu ela: 'Sim, Senhor, eu creio firmemente que tu és o Messias, o
Filho de Deus, que devia vir ao mundo.' 28 Depois de ter dito isto, ela foi
chamar a sua irmã, Maria, dizendo baixinho: 'O Mestre está aí e te chama'. 29
Quando Maria ouviu isso, levantou-se depressa e foi ao encontro de Jesus.
30Jesus estava ainda fora do povoado, no mesmo lugar onde Marta se tinha
encontrado com ele. 31 Os judeus que estavam em casa consolando-a, quando a
viram levantar-se depressa e sair, foram atrás dela, pensando que fosse ao
túmulo para ali chorar. 32 Indo para o lugar onde estava Jesus, quando o viu,
caiu de joelhos diante dele e disse-lhe: 'Senhor, se tivesses estado aqui, o
meu irmão não teria morrido.' 33 Quando Jesus a viu chorar, e também os que
estavam com ela, estremeceu interiormente, ficou profundamente comovido, 34 e
perguntou: 'Onde o colocastes?' Responderam: 'Vem ver, Senhor.' 35 E Jesus
chorou. 36 Então os judeus disseram: 'Vede como ele o amava!' 37 Alguns deles,
porém, diziam: 'Este, que abriu os olhos ao cego, não podia também ter feito
com que Lázaro não morresse?' 38 De novo, Jesus ficou interiormente comovido.
Chegou ao túmulo. Era uma caverna, fechada com uma pedra. 39 Disse Jesus:
'Tirai a pedra'! Marta, a irmã do morto, interveio: 'Senhor, já cheira mal.
Está morto há quatro dias.' 40 Jesus lhe respondeu: 'Não te disse que, se
creres, verás a glória de Deus?' 41 Tiraram então a pedra. Jesus levantou os
olhos para o alto e disse: 'Pai, eu te dou graças porque me ouviste. 42 Eu sei
que sempre me escutas. Mas digo isto por causa do povo que me rodeia, para que
creia que tu me enviaste.' 43 Tendo dito isso, exclamou com voz forte: 'Lázaro,
vem para fora!' 44 O morto saiu, atado de mãos e pés com os lençóis mortuários
e o rosto coberto com um pano. Então Jesus lhes disse: 'Desatai-o e deixai-o
caminhar!' 45 Então, muitos dos judeus que tinham ido à casa de Maria e viram o
que Jesus fizera, creram nele.
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V
Domingo Da Quaresma e Catecumenato: Terceiro Escrutínio
Os três momentos da fé da caminhada do
catecumenato: Conversão, Iluminação e Comunhão, ficam claramente destacados
através dos três Domingos de Escrutínio (III, IV e V Domingo da Quaresma). A Samaritana
(Evangelho do III Domingo da Quaresma) é, sobretudo, Conversão; o Cego de
nascença é Iluminação (IV Domingo da
Quaresma) e a ressureição
de Lázaro destaca a vida nova que nos vem da Comunhão com o Senhor morto e
ressuscitado (V Domingo da
Quaresma).
A característica desta quinzena que se inicia
com o Quinto Domingo da Quaresma na liturgia romana é a atenção intensificada
para o mistério da Paixãao do Senhor. A Cruz de Cristo vai se convertendo
progressivamente no único centro de atenção, seja nas leituras da semana, seja
nos textos eucológicos (conjunto de orações presidenciais: veja, por exemplo, a
coleta deste domingo), seja na Liturgia das Horas, seja no uso do prefácio I da
Paixão.
Da perspectiva do itinerário catecumenal,
esta contemplação da Cruz de Cristo é decididamente vivificante: pela comunhão
com a Cruz e o Sepultamento de Cristo, realizada sacramentalmente no Batismo, o
neófito entra na vida nova, escondida com Cristo em Deus.
Portanto, do ponto de vista catecumenal, o
tema sacramental é tão intenso como o tema da Cruz, e isso faz que os dois se
iluminem mutuamente.
Como podemos aplicar tudo isso concretamente?
Uma
primeira aplicação é esta: refazer o itinerário de nossa iniciação
cristã comporta dar-se conta em profunda e sincera ação de graças do que
significa o dom da vida nova em Cristo, que Ele nos comunica pelos sacramentos
da Igreja. Em primeiro lugar, a Eucaristia. Um comentário para a pós-comunhão
deste Domingo nos ajuda a visibilizar a força transformadora no Corpo de Cristo
que nos vem da comunhão com seu Corpo: “Demos
graças ao Pai pela morte e ressurreição de seu Filho Jesus Cristo, nossa vida. Ele
prometeu ressuscitar no último dia os que comem sua Carne e bebem seu Sangue: ‘Todo
aquele que vive e crê em mim não morrerá para sempre’”.
Uma segundo aplicação pode ser o convite a
contemplar a força vital da Cruz de Cristo. Durante esta semana, no prefácio
(Paixão I), repetiremos as palavras tomadas de uma homilia de São Leão Magno: “Pelo
poder radiante da Cruz, vemos com clareza o julgamento do mundo e a vitória de
Jesus crucificado”. Ou “Pela força da Cruz, o mundo é julgado como réu e o
Crucificado exaltado como Juiz poderoso”. A Cruz para os cristãos é, sobretudo,
a “Árvore da vida”. É muito importante que não separemos a Cruz da vitória nem
a vitória da Cruz. A Páscoa é todo o mistério.
“Eu
Sou a Ressurreição e a Vida”, diz o Senhor
A maioria dos seres humanos estão mortos em
um ou em outro grau. De uma ou de outra forma perderam seus sonhos, suas
ambições, seu desejo de uma vida melhor. Eles se estabeleceram em uma vida de
mediocridade, dias de desespero e noites de insônias e de lagrimas. Não são
mais que mortos viventes confinados a cemitérios de sua escolha. Mas eles
necessitam sair deste estado. A exemplo de Lázaro que voltou a viver depois de
quatro dias dentro do túmulo, todos podem regressar da morte para a vida.
Através do evangelho deste V Domingo da
Quaresma em que o Senhor ressuscitou Lázaro, Jesus quer que optemos pela vida.
Optar pela vida significa dizer não à morte em qualquer instância e em qualquer
de suas formas; significa dizer não: ao aborto provocado, à violência, ao
assassinato, à agressividade verbal e física, a uma vida deteriorada em sua
qualidade, ao desespero e à desesperança, à contaminação e destruição da
natureza e assim por diante. Optar pela vida significa dizer sim ao homem como
valor supremo, a uma paternidade ou maternidade responsável, a uma distribuição
justa dos bens da terra, a um progresso que melhore a qualidade de vida, aos
movimentos pacifistas e ecologistas, a Deus e à vida que não termina com a
morte, pois Deus é a Vida, por excelência.
Estendamos um pouco mais nossa reflexão
através dos seguintes tópicos: ressurreição e retorno à vida, Jesus é nosso Amigo que nos ama, Jesus é a Ressurreição e a Vida, oração de
ação de graças de Jesus, e com Jesus somos capazes de tirar nossas pedras de
nosso caminho de crescimento na direção de Deus.
Ressurreição
e Retorno À Vida
A ressurreição (reanimação/retorno à vida) de
Lázaro é o sétimo sinal realizado por Jesus no Evangelho de João. A
“reanimação” /o retorno de Lázaro à vida é o último e maior dos “sinais”
realizados pelo Jesus joanino. O retorno
de Lázaro à vida é o mais alto dos sinais (milagres) porque aqui não se trata
da cura de uma doença, mas da “ressurreição” de um morto que já havia sido
enterrado há quatro dias. Estamos, sem dúvida nenhuma, diante do sinal mais
importante, porque ele toca o cerne da fé, já que mostra a vitória da vida sobre
a morte, a última inimiga (cf. 1Cor 15,26). Este último sinal ocupa o centro do
evangelho de João. Ele encerra o Livro dos sinais (a primeira parte do
evangelho de Jo: Jo 1,19-12,50) e abre o Livro da glória (a segunda
parte do evangelho de Jo: Jo 13,1-20,29).
Nota-se facilmente um crescendo destes sinais
que vai desde o primeiro até o último sinal. Neste sétimo ou último sinal
alcançam os sinais sua cota mais elevada. O primeiro sinal tem como base os
elementos materiais, água e vinho,(Jo 2,1-11); o segundo acentua a cura a
distância(Jo 4,46-54); o terceiro insiste na infusão de uma vida nova no
organismo paralisado(Jo 5,1ss); no
quarto e no quinto vem a continuação a saciedade da fome profunda do homem por
aquele que se apresenta como “Eu Sou”(Jo 6); no sexto, põe-se em cena a
iluminação da existência humana, em que Jesus se autodefine como Luz (Jo 9,1ss)
para chegar à proclamação da vida sobre a morte(sétimo sinal), a vitória da
vida sobre a morte(Jo 11,1ss), “o último inimigo a ser derrotado” (1Cor 15,26).
Muitos autores concordam que neste sétimo
sinal não se trata da ressurreição, mas de “reanimação de Lázaro” ou de
“retorno” de Lázaro à vida”, pois ele, de fato, apenas volta à vida terrena, e
já deverá morrer de novo (leia também outros relatos similares: 1Rs 17,17-24: Elias reanima o filho da viúva de Sarepta;
2Rs 4,18-37: Eliseu reanima o filho da
Sunamita; Mc 5,22-43 par.: Jesus
reanima a filha de Jairo; Lc
7,11-17: Jesus reanima o filho da viúva
de Naim; At 9,36-42: Pedro reanima a
Tabita; 20,9ss: Paulo reanima Eutico).
O termo “ressurreição”
é impróprio usado neste relato porque, segundo o dado bíblico, é reservado à
passagem da morte ocorrida para a vida que não mais termina; não pode designar
a volta à vida deste mundo. Teologicamente, a ressurreição é um fato
definitivo.
O motivo teológico dos relatos de
ressurreição de mortos é evidentemente o de assinalar a Jesus como Vencedor do
poder da morte. A fé atribui esse poder a Jesus. Acreditar ou permanecer em
Jesus significa viver para sempre. A morte é apenas uma passagem para uma vida
de alta qualidade: estar eternamente com o Deus da Vida eterna.
Neste relato percebe-se a fé das comunidades
joaninas em Jesus que é a Ressurreição e a Vida. Por trás do relato da
“ressurreição” de Lázaro está a primitiva fé pascal dos cristãos, a confissão
de fé no Ressuscitado e em sua presença permanente na Igreja e a participação
dos cristãos na ressurreição pela fé no Ressuscitado. A ressurreição de Jesus
é, por isso, a pedra angular de toda a fé cristã (leia 1Cor 15).
A narração da ressurreição de Lazaro é um
verdadeiro prelúdio para a Paixão de Jesus. O evangelista João quer dizer aos
leitores, com esta narração, que o caminho de Jesus não é definitivamente um
caminho para a morte e sim um caminho, que através da morte, conduz para a
glorificação, à ressurreição e à vida. A ressurreição de Lazaro antecipa a
ressurreição de Jesus e sinaliza para todos os cristãos que a vida não termina
com a morte, pois Jesus Cristo em quem acreditamos é a “Ressurreição e Vida”.
O que é proposto pelo evangelista João ao
leitor, ao apresentar esse episódio, não é crer em Jesus grande taumaturgo, e
sim crer em Cristo que é para todos os homens “a ressurreição e a vida”, e que
ele o é por sua própria passagem pela morte. Jesus em pessoa é a ressurreição e
a vida. Ele é quem dá a vida eterna àqueles que creem nele. A vida que ele dá,
então, não é a vida humana comum; é a vida de Deus, a vida eterna, transmitida
no presente aos crentes que aceitam Jesus, o Cristo, o Filho de Deus (cf. Jo
20,31; veja também Jo 10,10). Esta vida de Deus, a vida eterna passa a ser dada
diretamente e por inteiro no nível físico a quem crê, graças à presença de
Jesus, Ressurreição e Vida. Por isso, este último sinal é qualificado como o
maior, o mais extraordinário símbolo da vida divina de Jesus que se oferece
àquele que crê nele.
“Desatai-o e deixai-o caminhar” (v.44). Com
esta ordem de Jesus termina o relato. As ataduras nas mãos e nos pés e sobre o
sudário no rosto acentuam o significado da morte. A morte mantém os homens
cegos, mudos e surdos, atados e asfixiados. É a missão da comunidade cristã,
dos que estão ao redor de Jesus, cumprir o seu mandato de libertar os que estão
impedidos de ver e de andar e fazer com que as pessoas vivam livremente. Para
isso, os discípulos têm de entregar voluntariamente sua vida por amor a Deus e
aos homens, como Jesus a entregou e permanecer em Jesus em todos os momentos de
sua vida.
Jesus - Amigo Que Nos Ama
No texto do evangelho de hoje são
apresentados Lázaro, Marta e Maria como personagens conhecidos do leitor. Eles
também são amigos de Jesus, pois frequentemente Jesus se hospeda em Betânia
onde os três moram (cf. Mc 11,11;14,3; Lc 10,38-42). E Jesus se encontra na Transjordânia,
a uma jornada de caminho de Betânia.
A mensagem das irmãs de Lázaro endereçada ao
“Senhor”, mostra que elas são discípulas de Jesus; limitando-se a informá-lo: “Senhor, aquele que Tu amas está doente”
(Jo 2,3). Através desta informação sabemos que Lázaro é amigo de Jesus: “Aquele
que Tu amas está doente”. É um pedido
semelhante ao que mãe de Jesus fez em Caná:
“Eles não têm mais vinho” (Jo 2,3). Implicitamente, elas queriam que Jesus
fosse logo visitar o doente para curá-lo (Jo 11,21.32). Mas, ao mesmo tempo,
elas confiam e esperam, deixando que o próprio Jesus decida o que fazer, o
quando e o como. Entre amigos sempre tem uma mútua compreensão sem nenhuma
necessidade de muitos detalhes ou explicações.
“Esta doença não leva à morte, mas é para a
glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela”, afirma
Jesus diante da morte de Lázaro. Este sinal (milagre) glorificará a Jesus não
no sentido de que o povo se sentirá admirado, e sim porque provocará a morte de
Jesus que é um passo necessário para chegar à sua glorificação (Jo
12,23s;17,1).
Isto quer nos dizer que a doença de Lázaro
(e, depois, sua morte e “ressurreição”) é destinada a se tornar lugar de
revelação, lugar no qual o poder de Deus se manifesta como ressurreição, como
vitória da vida sobre a morte. A doença não somente é destinada a revelar o
Pai, mas ainda a revelar a glória do Filho, isto é, sua vitória sobre a morte.
Para João, Jesus parece esperar que seu amigo doente esteja realmente morto
(vv.5.17.39). Deste modo, ele quer revelar seu domínio sobre a morte no momento
em que esta vai apoderar-se de Lázaro. O sinal do retorno de Lázaro à vida tem
lugar não somente em razão do amor de Jesus por seus amigos, mas para
manifestar a glória de Deus e suscitar a fé naquele que enfrenta a morte (cf.
v.45) e que tem o poder de renunciar à vida e o poder de retomá-la para
comunicá-la aos homens que acreditam nele. Para Jesus a morte não tem a última
palavra, porque Jesus é a vida e a ressurreição. Ao realizar o sinal de
devolução da vida a Lázaro, o Pai é glorificado através da glorificação do
Filho e da fé dos discípulos e de todos que creem nele.
A mensagem das irmãs de Lázaro dirigida a
Jesus pode ser também a nossa oração: “Senhor
Jesus, aquele que tu amas está doente, aquele tu amas está drogado; aquele
casal está sem nenhuma harmonia; aquela família está cheia de brigas e de
desunião; aquele meu irmão, meu filho, meu marido, minha esposa, que tu amas
está sem muito ânimo e está deprimido, está nervoso...” e assim por diante.
Estamos doentes de muitas maneiras, com muitas enfermidades, fraquezas,
impotência etc.... Precisamos ser curados pelo Senhor Jesus. Ao terminar este
tipo de pedido, vamos confiar e esperar em Jesus que dá a vida de Deus para
quem crê nele, e vamos deixar Jesus decidir o que fazer, o quando e o como.
Muitas vezes temos tentação de ter pressa. Mas a nossa pressa não resolve nada.
Jesus sabe de tudo, por que não seguimos ao ritmo dele? Esta é a única solução:
esperar no Senhor apesar da aparência e circunstâncias desfavoráveis e sem
esperança nenhuma. Acreditemos em Deus e não nas circunstâncias. Jesus é o
Salvador não só do Lázaro, mas de todos nós. Nossa total confiança no tempo
quaresmal é esta: Jesus nos ama. Somos enfermos, sim, mas somos amados por ele.
Quando Jesus chegou a Betânia fazia já quatro
dias que Lázaro havia sido sepultado. Segundo uma crença dos rabinos,
amplamente difundida entre o povo, a alma do defunto permanecia durante três
dias rodando o sepulcro; depois ia embora e não havia mais esperança alguma de
vida. O quarto dia depois da morte representa, então, o fim de todas as
esperanças de vida, pois o cadáver iniciava a decomposição; é preciso
adaptar-se à situação: “Senhor, já cheira mal. Está morto há quatro dias”, diz
Marta (v.39).
O que quer nos dizer esta passagem? As
situações em que se encontram os homens, em que se encontra o homem, em que às
vezes nos encontramos como mentira, escravidão, condicionamentos,
inautenticidade, desorientação, morte que sempre nos ameaçam, como medo da
morte e como possibilidade de nos revoltarmos contra a morte, são em si mesmas
situações insuperáveis. Um só vem ao nosso encontro, inesperada e
gratuitamente, como amigo, tomando a iniciativa: é o Verbo de Deus feito homem,
que amigavelmente, vem a nós para socorrer-nos, elevar-nos, purificar-nos; ele
nos toma ali onde estamos, e conosco aquele pouco que podemos dar-lhe naquele
momento, e de maneira superabundante e régia, nos transforma.
Jesus
É A Ressurreição E A Vida
Ao saber que Jesus estava chegando, Marta sai
ao encontro de Jesus, enquanto Maria fica em casa. Marta reafirma sua fé na
ressurreição, que é obra de Deus, porém, a um futuro longínquo. Jesus aproveita
a afirmação de Marta para fazer uma nova revelação de si próprio: “Eu sou a ressurreição e a vida” (v.25).
“Eu sou
a ressurreição e a vida”. Este é o ponto alto do trecho. Nesta resposta
está condensado o conteúdo central da fé cristã que todo o relato quer
transmitir: a vida eterna que Marta espera para a ressurreição dos últimos
tempos já chegou com e em Jesus. As
palavras de Jesus começam com o “Eu sou” (Ego
eimi), característico das afirmações de revelação (cf. Ex 3,14).
Jesus não promete: eu darei a ressurreição.
Mas é muito mais o que ele diz. Ele é, em
si mesmo, a causa da nossa fé, a meta da nossa esperança, a felicidade do
nosso amor que nunca mais morre. A
“ressurreição” de Lázaro quer tornar visível o mistério imortal do Deus feito
homem. Jesus não veio para impedir a morte corporal. Mas neste sinal (milagre)
e na sua palavra torna-se visível que ele quer e pode dar uma outra vida, uma existência eterna com
Deus. Jesus como Filho de Deus tem em si a vida e tem o poder de no-la dar. “Eu sou a Vida”, Jesus afirma. A vida
que se refere aqui (v.25) é a vida que procede do alto, gerada pelo Espírito,
que vence a morte física. Quem recebe o dom da vida pela fé em Jesus jamais
morrerá da morte espiritual, pois esta é uma vida eterna.
“Quem crê em mim, mesmo que morra, viverá. E
todo aquele que vive e crê em mim, não morrerá jamais” (vv.25-26). Quem crê em Jesus já entrou na vida
definitiva, tem já agora “a vida eterna” como uma realidade presente sobre a
qual a morte não tem poder algum. Esta realidade é chamada por alguns exegetas
a “escatologia presente”. Quem crê em Jesus, já “passou da morte à vida” (cf.
Jo 3,36;5,24;6,47). Porque Jesus é já agora “a Ressurreição e a Vida”. A morte
corporal não pode mais destruir a vida nova, o novo nascimento, a vida eterna
dada pela fé em Jesus. A vida recebida pela fé em Jesus Cristo é indestrutível
(cf. Jo 3,3ss;7,39;19,30;20,22). A
insaciável sede de vida eterna enraizada no mais fundo do coração de todos os
homens só pode ser saciada por aquele que ”a Ressurreição e a Vida”. A vida de
Deus não está mais fora de nosso mundo, porque o Filho de Deus veio no meio de
nós. A morte só tem poder quando Jesus está ausente de nossa vida. Jesus é a
ressurreição porque é a vida. Ele nos ressuscita dando-nos, pelo Espírito, a
vida eterna que ele tem, que ele é. A vida não é destruída pela morte, mas,
antes, simplesmente se serve desta. Jesus veio não para dar pêsames, mas para
dar a vida a quem crê nele.
Oração De Ação De Graças Reflete a Ação De Deus Na
Nossa Vida
Diante do túmulo Jesus reza: “Pai,
eu te dou graças porque me ouviste. Eu sei que sempre me escutas. Mas digo isto
por causa do povo que me rodeia, para que creia que tu me enviaste”. A
oração de Jesus na beira do túmulo não é uma oração de petição, mas de ação de
graças. Jesus que está sempre em comunhão com o Pai, restabelece com a sua
oração a comunhão entre o céu e a terra. Jesus no quarto evangelho está sempre
orando porque está sempre unido ao Pai, porque o Pai nunca o deixa só (Jo
8,29), porque ele e o Pai são um (Jo 10,30).
Sua oração “abre os céus” e essa abertura chega até as profundezas da
terra, até o reino da morte. E pede aos seus seguidores que orem com a mesma
confiança (cf. Jo 14,12-13;15,16;16,23.16).
A oração de ação de graças supõe a capacidade
de perceber as maravilhas de Deus na nossa vida cotidiana. Quem tem o olhar da
fé contempla as maravilhas de Deus diariamente e sempre tem motivo para
agradecer a Deus. Quem sabe agradecer vive com entusiasmo, pois ele reconhece
que Deus está dentro dele ou melhor dizer ele está dentro da vida de Deus, e
contagia os outros com o mesmo entusiasmo.
Com
Jesus Somos Capazes De Tirar Pedras De Nossa Vida
Diante do túmulo de Lázaro Jesus ordena:
“Levanta a pedra!” (v.39).
“Tira a pedra!” A pedra sobre o túmulo é o
símbolo da separação entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos. Ela não
deixa entrar quem está fora e não deixa sair quem está dentro. Ao devolver a
vida a Lázaro, Jesus vai mostrar que tem o poder de abrir as portas da morte,
de libertar os mortos, e depois de fechá-las definitivamente, instaurar a
comunhão definitiva dos homens com Deus e dos homens entre si.
Perante este Jesus que se revelou diante do
túmulo de Lázaro, aprendemos a “tirar a imensa pedra da nossa vida”. A pedra de
nossa incapacidade de crer em profundidade, a pedra de nossas dúvidas sobre o
poder de Deus na nossa vida, a pedra das nossas culpas, tão pesadas para nós, e
mais ainda para os outros, a pedra da nossa impermeável autocomplacência.
“Tirai a pedra!”
“Desatai-o e deixai-o caminhar” é a outra
ordem de Jesus (v.44). Com esta ordem termina o relato. As ataduras nas mãos e
nos pés e sobre o sudário no rosto acentuam o significado da morte. A morte
mantém os homens cegos, mudos e surdos, atados e asfixiados. É a missão da
comunidade cristã, dos que estão ao redor de Jesus, cumprir o seu mandato de
libertar os que estão impedidos de verem e de andarem e de fazerem com que as
pessoas vivam livremente. Para isso, os discípulos têm de entregar
voluntariamente sua vida por amor a Deus e aos homens, como Jesus a entregou.
“Quem crê em mim, ainda que morra, viverá”
(v.25). Esta é a mensagem central que o evangelista quer nos transmitir. A
verdadeira vida consiste em ouvir a voz do Filho, do Enviado pelo Pai para dar
a vida ao mundo. Só a fé em Jesus Cristo pode vencer o medo da morte porque foi
o próprio Jesus quem a venceu e destruiu total e definitivamente.
“Cristo é tudo
para nós.
Se queres curar
tuas feridas, Ele é Médico.
Se a febre te
abrasa, Ele é a Fonte de Água fresca.
Se te oprime o peso
da culpa, Ele é a Justiça.
Se necessitas de
ajuda, Ele é a Força
Se temes a
morte, Ele é a Vida.
Se desejas o céu,
Ele é o Caminho.
Se foges das
trevas, Ele é a Luz.
Se buscas comida,
Ele é o Alimento.
Buscai e vede quão
bom é o Senhor.
Bem-aventurado o
homem que espera por ele.
(Santo Ambrósio)
P. Vitus Gustama,svd
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