terça-feira, 17 de março de 2020

20/03/2020
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AMAR COM CORAÇÃO, COM ALMA, COM ENTENDIMENTO E COM TODA FORÇA
Sexta-Feira da III Semana da Quaresma

I Leitura: Os 14,2-10
Assim fala o Senhor Deus, 2Volta, Israel, para o Senhor, teu Deus, porque estavas caído em teu pecado. 3 Vós todos, encontrai palavras e voltai para o Senhor; dizei-lhe: 'Livra-nos de todo o mal e aceita este bem que oferecemos; o fruto de nossos lábios. 4 A Assíria não nos salvará; não queremos montar nossos cavalos, não chamaremos mais 'Deuses nossos' a produtos de nossas mãos; em ti encontrará o órfão misericórdia.' 5'Hei de curar sua perversidade e me será fácil amá-los, deles afastou-se a minha cólera. Serei como orvalho para Israel; ele florescerá como o lírio e lançará raízes como plantas do Líbano. 7 Seus ramos hão de estender-se; será seu esplendor como o da oliveira, e seu perfume como o do Líbano. 8Voltarão a sentar-se à minha sombra e a cultivar o trigo, e florescerão como a videira, cuja fama se iguala à do vinho do Líbano. 9 Que tem ainda Efraim a ver com ídolos? Sou eu que o atendo e que olho por ele. Sou como o cipreste sempre verde: de mim procede o teu fruto. 10 Compreenda estas palavras o homem sábio, reflita sobre elas o bom entendedor! São retos os caminhos do Senhor e, por eles, andarão os justos, enquanto os maus ali tropeçam e caem.


Evangelho: Mc 12, 28-34
Naquele tempo, 28bum escriba aproximou-se de Jesus e perguntou:  “Qual é o primeiro de todos os mandamentos?” 29Jesus respondeu: “O primeiro é este: Ouve, ó Israel! O Senhor nosso Deus é o único Senhor. 30Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força! 31O segundo mandamento é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo! Não existe outro mandamento maior do que estes”.32O mestre da Lei disse a Jesus: “Muito bem, Mestre! Na verdade, é como disseste: Ele é o único Deus e não existe outro além dele. 33Amá-lo de todo o coração, de toda a mente, e com toda a força, e amar o próximo como a si mesmo é melhor do que todos os holocaustos e sacrifícios”. 34Jesus viu que ele tinha respondido com inteligência, e disse: “Tu não estás longe do Reino de Deus”. E ninguém mais tinha coragem de fazer perguntas a Jesus.
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Converter-se É Reconhecer os Pecados e Voltar Para o Deus de Amor


Volta, Israel, para o Senhor, teu Deus, porque estavas caído em teu pecado. Vós todos, encontrai palavras e voltai para o Senhor”.


O texto da Primeira Leitura fala das palavras finais do livro do profeta Oseías. Oséias se casou com uma mulher a quem ele amava muito. Mas, infelizmente, ela foi infiel e fugiu com o outro homem. Mesmo assim Oséias continuava a amá-la e foi atrás dela para tomá-la de volta como esposa.


O profeta Oseías converte este episódio dolorosa em símbolo do amor que Deus tem ao seu povo. Israel, com quem Deus tinha se desposado, estava vivendo como uma mulher infiel, como prostituta que provocou o furor e os zelos de seu esposo divino. Mas Deus continuava a querê-la, e quando a castigava era para atraí-la para Si e para devolver-lhe a alegria do primeiro amor.
O Deus de Oséias, tão ferido, tão maltratado por seu povo, não se consome em lamentos estéreis e rancorosos e sim que o povo se converta: “Volta, Israel, para o Senhor, teu Deus, porque estavas caído em teu pecado. Vós todos, encontrai palavras e voltai para o Senhor. 'Hei de curar sua perversidade e me será fácil amá-los, deles afastou-se a minha cólera’, disse o Senhor”. Isto significa que o retorno a Deus não pode ser alcançada sem esta confissão humilde de caminhos errados que foram seguidos pelo povo. O reconhecimento dos pecados cometidos é o primeiro passo para a conversão. Este reconhecimento tem que ser acompanhado pelo arrependimento profundo seguido pelos propósitos claros e firme para viver segundo os mandamentos de Deus. O mesmo aconteceu com o filho mais novo da parábola do filho pródigo que devemos seguir: “Vou me Levantar e irei a meu pai, e vou dizer-lhe: Meu pai, pequei contra o céu e contra ti; já não sou digno de ser chamado teu filho. Trata-me como a um dos teus empregados” (Lc 15,18-19).


O livro de Oséias comoveu profundamente os homens do AT. Não é de estranhar que os evangelistas se inspirem nele e o citem com frequência. A comunidade cristã viu em suas páginas a imagem do amor que Cristo tem à Sua Igreja.


Reconhecemos que a falta maior de todos nós é a resistência a nos encontrar com Deus diariamente que nos ama incondicionalmente (cf. Jo 3,16). Por causa de nossos pecados acabamos não vendo Deus na nossa história. O pecado nos afasta de Deus e do próximo, e acabamos vivendo no isolamento mortal. Sem querer querendo negamos ver Deus na história e nos acontecimentos de cada dia. Por isso, a conversão essencial não consiste em fazer coisas e sim que vivamos cada acontecimento de cada dia profundamente, pois nele Deus nos convida a vivermos n’Ele e com Ele para que possamos viver no amor e por amor. Em cada acontecimento, Deus sempre tem seu apelo para todos nós, em geral e para cada um de nós, em particular. Através da reflexão conseguiremos decifrar este apelo.


O mal não tem rosto porque ele pode tomar o ser de qualquer um de nós. Ninguém está isento da possibilidade do mal. O mal é tudo que serve à morte; tudo que sufoca a vida, estreita-a, e corta-a em pedaços. Por isso, a realidade do mal exige vigilância. A conversão se torna, assim, um trabalho silencioso e permanente de cada dia. O pecado é um dos acontecimentos diários que todos temos em comum, algo com que todos nós podemos nos identificar. É uma batalha para vencer ou perder. Mas se confiarmos na misericórdia de Deus, seremos vencedores de qualquer batalha.


Amar Com Coração, Com Alma, Com Entendimento e Com Toda a Força


“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força! Amarás o teu próximo como a ti mesmo!”


O texto do evangelho deste dia fala do mandamento de amor. Sem dúvida nenhuma, todos, sem exceção, dão ao mandamento de amor uma prioridade quase exclusiva. Em várias ocasiões Jesus recordou que o preceito sabático era secundário em relação ao mandamento de amor (Mc 3,4; Lc 13,16). O amor relativiza a lei e a eleva sobre si mesma. Sobre o amor seremos julgados (cf. Mt 25,40.45). Quem não encontra o caminho do amor, quem não se deixa conduzir pelo mandamento de amor, perde o sentido da vida.


O escriba do Evangelho de Marcos se apresenta a Jesus com uma pergunta autêntica e não para pôr Jesus à prova: “Qual é o primeiro de todos os mandamentos?”.  Por isso, no fim do texto Jesus elogiou o escriba: “Tu não estás longe do Reino de Deus”.


Nas escolas rabínicas se distinguia entre mandamentos “graves” ou de peso e mandamentos “leves”. Tinham 248 preceitos positivos (de acordo com o número de órgãos do corpo) e 365 proibições legais (de acordo com o número dos dias do ano). Os rabinos investigaram qual de todos esses mandamentos era realmente importante; qual era o primeiro e principal que serve como resumo de todos os mandamentos.


Jesus responde citando ao pé de letra a passagem do Dt 6,4-5 (amar a Deus), mas acrescenta imediatamente o mandamento do amor ao próximo que se encontra em outro contexto em Lv 19,18. Para Jesus os dois mandamentos são como um só: “Não há mandamento maior que estes”. Não se pode amar a Deus sem amar ao próximo (cf. 1Jo 4,20). Neste mandamento de amor se funda a única piedade verdadeira. O verdadeiro culto não pode se separar da atenção aos mais necessitados. Nesta mesma linha São Tiago afirma rotundamente: “A religião pura e sem mácula diante de Deus, nosso Pai, consiste nisso: visitar os órfãos e as viúvas em suas tribulações e guardar-se livre da corrupção do mundo” (Tg 1,27). 


Amar! Este é o mandamento do Senhor. A acumulação dos termos: “coração, alma, mente, força” quer significar uma plenitude de amor que compreende todas as nossas faculdades de amar. É preciso que o amor arda em nossos pés à cabeça, em nosso espírito ao corpo, em nossa manhã até a noite, em nossa infância à velhice, em nosso mundo à eternidade. O amor não é horizontal nem vertical. Só conhece a dimensão da profundidade e da totalidade.


Amor é a essência para qualquer relacionamento com suas três direções: a Deus, ao próximo e a mim mesmo. Amor é relação, comunicação, encontro. Para eu poder valorizar o outro eu preciso saber me valorizar. Para eu poder amar o outro, eu preciso saber me amar. Para eu poder compreender o outro, eu preciso me compreender. Para eu poder fazer o encontro com o outro, eu preciso fazer o encontro comigo mesmo, reconhecendo tantos minhas capacidades e virtudes como também meus defeitos e limitações.


Não basta amar a Deus, alguém tem que amar também o próximo. Não basta amar o outro, mas tem que saber se amar: “Amar a Deus com toda força e o próximo como a ti mesmo”. Não faça do outro como objeto de sua carência de amor. Isto não é amor. É exploração. Para amar tem que ser livre. O amor verdadeiro se direciona unicamente ao outro, sem esperar recompensa. O amor liberta, dá segurança e possibilita o crescimento. Quando uma pessoa começar a sufocar a outra pessoa é porque está faltando amor. Amar a Deus somente é possível amando o próximo. O amor que se pratica com Deus deve ser igual ao amor que se pratica com o próximo. Como isso, Jesus destaca a importância de um ser humano e não as leis que matam as pessoas para render um culto errado para um deus falso.


Por isso é que Jesus não fala de qualquer amor. Ele fala do amor ágape. Ágape é uma palavra grega que significa o amor que se dirige unicamente para o outro, incondicional, e que não espera nada em troca. É uma doação pura de si mesmo. Por isso, Jesus chegou a fazer uma afirmação muito extrema: “Amai vossos inimigos e rezai por aqueles que vos perseguem” (Mt 5,43-44). A única coisa que se espera dos inimigos é o bem deles. Este é o amor-ágape. É o amor que salva e liberta. Com efeito, a atitude de fé é procurar descobrir o projeto de amor de Deus e corresponder a ele. Amar a Deus significa escutá-Lo, adorá-Lo, encontrar-nos com ele na oração e na vida e amar o que ele ama. Amar o próximo não apenas significa deixar de fazer o mal, e sim estar pronto para ajudá-lo, acolhê-lo e perdoá-lo. Amor é o único meio que em si tem capacidade de convencer o outro, até os ateus de que somos cristãos.


Portanto, hoje Jesus nos oferece a chave fundamental para cumprir a vontade de Deus: o amor íntegro a Deus como único Senhor e o amor ativo e efetivo e desinteressado para próximo. São Paulo nos relembra através da Carta aos romanos: “Não fiqueis devendo nada a ninguém… a não ser o amor que deveis uns aos outros, pois quem ama o próximo cumpre plenamente a Lei. De fato, os mandamentos: ‘Não cometerás adultério’, ‘Não matarás’, ‘Não roubarás’, ‘Não cobiçarás’, e qualquer outro mandamento, se resumem neste: ‘Amarás o próximo como a ti mesmo’. O amor não faz nenhum mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento perfeito da Lei (Rm 13,8-10).


É tão importante o mandamento de amor a ponto de Marcos colocar a palavra “ouvir”: “Ouve, ó Israel!”. “Ouve, ó Israel” são as mesmas palavras que todo judeu fiel pronunciava cada manhã como oração matinal. É preciso que prestemos nossa atenção para esse mandamento para que possamos ser elevados até Deus.Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força! E amarás o teu próximo como a ti mesmo! Não existe outro mandamento maior do que estes”. Toda a lei se resume no amor. “O amor é a única dívida que mesmo depois de paga nos mantém como devedores”, dizia Santo Agostinho (Epist. 192,2).


Neste sentido a conversão significa voltar a amar a Deus e ao próximo e à própria vida de todo o coração. O caminho do Senhor é o caminho de amor. “São retos os caminhos do Senhor e por eles andarão os justos, enquanto os maus ali tropeçam e caem” (Os 14,10b). Trilhar por este caminho significa estar com Deus de amor. “Quanto mais amas, mais alto tu sobes” (Santo Agostinho).


Todo ato de amor vem de Deus, tem sua fonte e origem no coração de Deus (cf. 1Jo 4,19). Por isso, Deus pode ser contemplado em:


·        O amor de uma mãe que ama seu filhinho e de um filho que ama seus pais.
·        O amor de um prometido a sua prometida, de um esposo para sua esposa.
·        O amor de um homem ou de um patrão que se desvela por seus companheiros de trabalho.
·        O amor de um pastor para seu rebanho. E assim por diante.


O amor faz qualquer um feliz e leva alguém à alegria completa. É a promessa do Senhor: “Disse-vos essas coisas (mandamento do amor) para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa” (Jo 15,11). “Não há felicidade onde não há amor” (Santo Agostinho).


O amor autêntico exige sempre o sacrifício e o total esquecimento de si. É amar por amor.  São Bernardo afirma: “O amor basta por si só e por causa de si. Seu prêmio e seu mérito se identifica com ele mesmo. O amor não requer outro motivo fora de si mesmo. Amo porque amo; amo para amar”. Se Deus é Amor (1Jo 4,8.16), logo, você vive não quando respira, mas quando ama. Do ponto de vista cristão a capacidade de viver o amor fraterno é o critério de maturidade cristã. Amar é estar em comunhão plena com o Deus de amor.


O amor é essencial do Evangelho e da vida evangélica, da vida cristã. É a Boa Nova que minha vida toda deve estar proclamando. Eu devo me perguntar diariamente: Será que eu amo efetivamente? A quem eu amo. A quem eu deixo de amar? Como se traduz este amor na minha atitude diária? Quem é meu próximo? Como eu me amo a mim mesmo? Amar a Deus somente é possível amando ao próximo (cf. Jo 15,12).


“Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e com toda a tua força! Amarás o teu próximo como a ti mesmo!”. Amor sem limite a Deus e ao irmão é a plenitude da lei de Cristo. São Paulo escreveu aos romanos: “Amar é cumprir a lei inteira” (Rm 13,10). Todas as celebrações e todas as atividades na Igreja de Cristo têm só uma função: para que todos cresçam cada vez mais no amor fraterno. Sem o amor fraterno tudo careceria de sentido.
P. Vitus Gustama,svd

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