quarta-feira, 24 de junho de 2020


XIII Domingo Comum,28/06/2020

Para os lugares que celebram a solenidade de São Pedro e São Paulo no dia 29 de Junho.


AS EXIGÊNCIAS  E AS RECOMPENSAS DO SEGUIMENTO
XIII Domingo Comum “A”
Relationships We Keep, Bound in Jesus Christ -LEITURA ORANTE: Mt 10,37-42 - Deus quer exclusividade
 
I Leitura: 2Re 4,8-11.14-16ª
Certo dia, o profeta Eliseu passou por Sunam. Vivia lá uma distinta senhora, que o convidou com insistência a comer em sua casa. A partir de então, sempre que por ali passava, era em sua casa que ia tomar a refeição. A senhora disse ao marido: “Estou convencida de que este homem, que passa frequentemente pela nossa casa, é um santo homem de Deus. Mandemos-lhe fazer no terraço um pequeno quarto com paredes de tijolo, com uma cama, uma mesa, uma cadeira e uma lâmpada. Quando ele vier a nossa casa, poderá lá ficar”. Um dia, chegou Eliseu e recolheu-se ao quarto para descansar. Depois perguntou ao seu servo Giezi: “Que podemos fazer por esta senhora?” Giezi respondeu: “Na verdade, ela não tem filhos e o seu marido é de idade avançada”. “Chama-a” – disse Eliseu. O servo foi chamá-la e ela apareceu à porta. Disse-lhe o profeta: “No próximo ano, por esta época, terás um filho nos braços”.


II Leitura: Rom 6,3-4. 8-11
Irmãos: Todos nós que fomos baptizados em Jesus Cristo fomos baptizados na sua morte. Fomos sepultados com Ele na sua morte, para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos, para glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova. Se morremos com Cristo, acreditamos que também com Ele viveremos, sabendo que, uma vez ressuscitado dos mortos, Cristo já não pode morrer; a morte já não tem domínio sobre Ele. Porque na morte que sofreu, Cristo morreu para o pecado de uma vez para sempre; mas a sua vida, é uma vida para Deus. Assim, vós também, considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus, em Cristo Jesus.


Evangelho:  Mt 10,37-42
Naquele tempo, disse Jesus aos seus apóstolos: “Quem ama o pai ou a mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim; e quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim, não é digno de Mim. Quem não toma a sua cruz para Me seguir, não é digno de Mim. Quem encontrar a sua vida há-de perdê-la; e quem perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la. Quem vos recebe, a Mim recebe; e quem Me recebe, recebe Aquele que Me enviou. Quem recebe um profeta por ele ser profeta, receberá a recompensa de profeta; e quem recebe um justo por ele ser justo, receberá a recompensa de justo. E se alguém der de beber, nem que seja um copo de água fresca, a um destes pequeninos, por ele ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa”.
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A HOSPITALIDADE constitui o tema principal da Primeira Leitura (2Re 4,8-11.14-16ª) deste XIII Domingo Comum, e o Evangelho fala também deste tema nos seus últimos versículos: “Quem recebe um profeta por ele ser profeta, receberá a recompensa de profeta; e quem recebe um justo por ele ser justo, receberá a recompensa de justo. E se alguém der de beber, nem que seja um copo de água fresca, a um destes pequeninos, por ele ser meu discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa”.


Lemos na Primeira Leitura que o servo do profeta Eliseu, chamado Giezi adverte ao profeta que a mulher com seu marido que os acolhe em casa não tem nenhum filho e  que seu marido é um ancião (idoso). Para uma mulher judaica não existia pena maior que a de não dar a seu marido um descendente varão. O primogênito era o futuro da família, e as famílias de Israel viviam para o futuro, no qual iam cumprir-se as promessas feitas a Abraão.


O profeta Eliseu (discípulo do profeta Elias) anuncia profeticamente à mulher hospitaleira que no ano seguinte terá o filho desejado: “No próximo ano, por esta época, terás um filho nos braços”. O mesmo que Sara, a mãe de Isaac (Gn 18,3), esta mulher recebe o anúncio com ceticismo. Mas a Palavra de Deus através do seu profeta será cumprida. Em ambos os casos, o nascimento do filho prometido será uma recompensa de Deus à hospitalidade para seus enviados. Séculos depois, Jesus estabelecerá esta lei recompensa divina: “Quem recebe um profeta por ele ser profeta, receberá a recompensa de profeta”.


A palavra “HOSPITALIDADE” vem do latim “hospitalitas, atis”. É uma virtude que se pratica para peregrinos, necessitados, e desamparados ou desprotegidos prestando-lhes a devida assistência em suas necessidades. A hospitalidade é a obra de misericórdia. É ato de hospedar; acolhida de hóspedes; é boa acolhida. É recepção ou tratamento afável, cortês; amabilidade, gentileza. Hospitaleiro é aquele que oferece hospedagem por bondade ou caridade.


Para os homens da antiguidade a hospitalidade era sagrada. Gregos, judeus e romanos praticavam, da mesma maneira, a hospitalidade, pois acreditavam que, no visitante, o próprio Deus batia à sua porta para entrar. E acreditavam que Deus presentearia o anfitrião com dádivas divinas. Nisto entendemos a mensagem da Primeira Leitura de hoje.


Os cristãos primitivos praticavam a hospitalidade. Sem essa virtude, o cristianismo provavelmente teria dificuldades para se expandir no mundo romano. Até a Carta aos Hebreus admoesta ou alerta os cristãos: “Não esqueçais a hospitalidade, pois, graças a ela, alguns, sem saber, acolheram anjos” (Hb 13,2). O que tem por traz desse alerta é a experiência de Abraão que hospedou três pessoas em sua casa sem saber que eram os três anjos para anunciar que Sara, apesar de sua velhice, geraria um filho chamado Isaac (Gn 18,3; 19,1-2: Lot convida os dois anjos para sua casa). Por isso, antigamente tratava o estrangeiro como sagrado.


Não será inútil escutar o convite que estes textos dirigem aos cristãos de hoje. No mundo desumanizado e muito urbanizado em que vivemos, sem contar outras discriminações e exclusões, o testemunho da hospitalidade adquire uma dimensão profética. Com a hospitalidade nasce uma rede de amor entre as pessoas, derruba preconceitos e produz a alegria mútua e a convivência fraterna. A hospitalidade possibilita o encontro e o diálogo e transforma o estrangeiro em amigo e irmão.


Dentro deste tema podemos também entender o recado de São Paulo na Segunda Leitura  (Rom 6,3-4. 8-11). São Paulo nos diz que o Batismo recebido por nós faz que vivamos uma vida nova: “Fomos sepultados com Ele na sua morte, para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos, para glória do Pai, também nós vivamos uma vida nova”.


A ideia essencial da Segunda Leitura é a “morte com Cristo”. Para a Bíblia, Deus é a vida e seu plano é um plano de vida. A morte física é um acidente que a mentalidade judaica atribui ao pecado (Gn 3; Ez 18). Herdeiro desse conceito judaico, São Paulo liga a morte natural e a morte espiritual do pecado.


Podemos entender esse elo com precisão: não se trata de dizer que a morte física foi um castigo externo estabelecido por Deus pelo pecado do homem. Pelo contrário, é uma questão de entender que, ao encerrar-se no pecado, ou seja, contando apenas consigo para realizar o futuro, o homem se trancou fatalmente na morte, uma vez que apenas uma iniciativa de Deus e, conseqüentemente, uma conversão a Deus pelo homem pode tirá-lo disso. Nesse sentido, São Paulo tem razão ao relacionar o pecado à morte.


Agora, Cristo é o primeiro a penetrar na morte não com o pecado, ou seja, a vontade de viver por si mesmo, mas, pelo contrário, com absoluta fidelidade e total adesão ao Pai, confiando que o Pai salvaria o Filho. Assim, a morte de Cristo suprime o elo que existia até então entre a morte e o pecado; assim, sua morte é verdadeiramente libertadora do pecado, pois ele descobre um homem capaz de ser libertado da morte e ressuscitar simplesmente porque se coloca totalmente nas mãos de seu Pai. Assim, a morte não é um acidente no plano divino da difusão da vida, e sim precisamente aquilo pelo qual Deus dá sua vida ao homem.


Cada Domingo, na celebração da Eucaristia, renovamos o que começamos no Batismo. Cada batizado é enviado a ser irmão da humanidade. Ainda assim, a experiência comumnos mostra que nossa vida, por muito que tenhamos recebido os sacramentos, tem poucas novidades, poucas mudanças, poucas renovações e inovações no Senhor, está instalada em umas formas habituais de atuar, de pensar que nada demonstram a mudança na vida prática e na convivência fraterna.


O evangelho de hoje é a parte final do discurso de Jesus sobre a missão. Mt colocou aqui diversos elementos que ele tomou de diferentes contextos. Dividimos o texto em duas partes. A primeira parte (vv.37-39) apresenta as exigências que Jesus propõe para quem quer segui-lo. Na segunda parte (vv.40-42) Jesus promete recompensar todos aqueles que acolherem os seus enviados.


I. AS EXIGÊNCIAS DE JESUS (vv.37-49)


Jesus é terrivelmente exigente. Ele exige renúncia de uma radicalidade inaudita e conclui cada exigência com o mesmo refrão: “não é digno de mim!” Ele pede uma adesão total e indivisível à sua pessoa.


1. A primeira exigência: Jesus deve ser preferido aos vínculos humanos mais sagrados


Aquele que ama pai e mãe mais do que a mim, não é digno de mim. Aquele que ama o filho ou filha mais do que a mim, não é digno de mim” (v.37).


Jesus usa aqui a palavra mais sagrada: “amar”. Certamente a primeira das renúncias se refere ao que há de mais caro a Deus e aos homens: o amor. O mundo inteiro é fruto do amor de Deus. O amor é o porquê da encarnação de Jesus Cristo. A redenção encontra sua resposta no amor de Deus pela humanidade. Todo o NT se fundamenta no amor. E todos nós reconhecemos que nascemos de um momento fecundo do amor. Nenhum preceito que fira o amor tem legitimidade para Jesus e para os cristãos. No entanto, o primeiro e maior amor se deve a Deus (Mt 22,38), porque de Deus provêm todas as expressões do amor e a Deus retornam todos os nossos gestos de amor. Portanto, Jesus não manda não amar pai e mãe e filhos, mas deve amá-los dentro do grande amor que devemos a Deus e devemos renunciá-los sempre que forem empecilho. Trata-se, então, de estruturar a vida inteira a partir desse amor maior que dá sentido a todos os outros. A partir desse amor maior todos os outros amores se enriquecem. Se amarmos os pais e irmãos com o coração cheio do amor de Deus, esse amor se torna digno de confiança. Por isso, embora Jesus insista nas obrigações de seus seguidores aos pais (Mt 15,3ss) e à família (cf. Mt 5,27ss;19,1ss), contudo esse relacionamento não pode, de modo algum, impedir ou prejudicar a obediência do homem diante das exigências de Deus, o Bem Absoluto, o Maior Amor (cf. Mt 8,21s). Todos devem ser dispostos a qualquer sacrifício quando está em jogo a causa de Deus e a própria salvação. Precisamos estar conscientes de que há amores familiares que matam, principalmente do ponto de vista espiritual. Portanto, vivemos em contínua renúncia e permanente abertura às manifestações do amor de Deus.


Mas cada um de nós, a partir desta exigência, precisa se perguntar: Que lugar ocupa Jesus na sua vida? Ele ocupa o primeiro lugar ou em segundo lugar na sua vida?


2. A segunda exigência é carregar a cruz e renunciar à própria vida


“Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim”.


“Tomar sua cruz” é uma expressão metafórica para a prontidão para a morte, para o movimento de partida de si mesmo em direção a Deus. Cada partida em direção a Deus sempre representa uma morte de si mesmo. A vida que se entrega a Deus tem algo desse morrer em si e será uma nota característica de nossas mais sinceras intenções em seguir a Jesus. Não se ama a cruz em si mesmo, mas ao seguir a Jesus incondicionalmente encontra-se a cruz.


Cada história tem sua própria cruz e cada cruz tem sua própria história. Todos nós, de alguma forma, carregamos alguma cruz na nossa vida. Mas existe cruz com Cristo, como também existe cruz sem Cristo. Para alguns, a cruz pode ser vivida como tribulação, para os outros ela pode ser vivida como libertação. A cruz sem Cristo é a cruz-condenação. É a cruz de quem deseja ser um deus. É a cruz que não tem finalidade em si mesmo. É a cruz sem fé, sem amor, sem sentido da vida, sem renúncia por amor. É a cruz de quem deseja viver numa liberdade sem responsabilidade. Jesus Cristo, que foi crucificado, transformou a cruz de castigo em bênção. Por isso, se procuramos Cristo sem sua cruz acabamos encontrando a cruz sem Cristo. Mas se procuramos Cristo com sua cruz acabamos encontrando a salvação. Que tipo de cruz que você carrega: com Cristo ou sem Cristo?


E Jesus acrescenta: “Quem procura conservar a sua vida, vai perde-la. E quem perde a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la” (v.39). Buscar a vida era o ideal dos sábios do Antigo Testamento. Mas Jesus convida a mudar esta sabedoria por outra mais profunda que consiste em imitar sua entrega a fim de alcançar a vida em plenitude: a vida sem fim com Deus. A vida vem de Deus e somente ele é capaz de dar a vida. Se a vida é totalmente de Deus e para Deus, então, todas as vezes que o homem se fecha em si mesmo, ele se desliga da sua fonte, da sua razão de ser e da sua única meta possível. Só salva sua vida quem não confia na sua mortalidade, mas se inclui na imortalidade de Deus; mas isto significa morrer para viver eternamente. Certamente, aqui é que está a grandeza maior do homem. A proposta de Jesus é levar a vida a sério, enfrentar com dignidade os desafios, mas sempre se abrir à fonte da vida: Deus. É preciso sair de si mesmo, ultrapassar-se a si mesmo em direção à vida por excelência: Deus. Se renunciarmos aos nossos interesses pessoais, acolheremos os interesses de Deus. Se renunciarmos às falsas propostas da vida, acolheremos a cruz redentora de cada dia, que nos traz consigo o Cristo Salvador.


II. A PROMESSA DE JESUS A QUEM ACOLHE SEUS ENVIADOS/MISSIONÁRIOS (vv.40-42)


 Quem recebe um profeta, por ser profeta, receberá a recompensa de profeta. E quem recebe um justo, por ser justo, receberá a recompensa de justo... até um copo de água fresca dada a um dos pequeninos não perderá a sua recompensa” (vv.41-42).


Encontramos aqui, pelo menos, três grupos na comunidade de Mateus. Os profetas exerciam um ministério itinerante que consistia, sobretudo, na pregação; eram homens suscitados por Deus. Os justos eram homens de virtude comprovada na comunidade, quer pela sua vida exemplar, quer pela fé praticada na caridade. Eram homens fiéis aos mandamentos de Deus. Os pequeninos eram os simples discípulos de Jesus, não ocupavam nenhuma posição destacada na comunidade.


Qual será a recompensa prometida por Jesus? O texto não especifica a recompensa. Mas se olharmos para o cap. 25 de Mateus, saberemos que uma obra boa feita para os mais insignificantes, mesmo sem consideração de quem ele é ou sem saber se está servindo a Cristo nele, a recompensa será grande: a alegria eterna (Mt 25,31-46). Na atitude adotada diante de um pobre, mostramos a verdadeira generosidade de nosso coração. Partilhar o que temos para os mais pobres é uma forma de prolongar a generosidade do Deus-Criador que criou tudo gratuitamente para os homens. Nós que acreditamos no Deus-Criador devemos manter viva esta generosidade através da partilha daquilo que temos e somos.


Que as pessoas percebam a marca do amor de Deus nos nossos gestos, palavras e obras para que possam acreditar que Deus existe e que esse Deus é Amor. Assim seja.
P. Vitus Gustama,SVD

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