XIII Domingo Comum,28/06/2020
Para os lugares que celebram a solenidade de São Pedro e São Paulo no dia 29 de Junho.
AS
EXIGÊNCIAS E AS RECOMPENSAS DO
SEGUIMENTO
XIII Domingo Comum “A”
I Leitura: 2Re 4,8-11.14-16ª
Certo dia, o profeta Eliseu passou por Sunam. Vivia
lá uma distinta senhora, que o convidou com insistência a comer em sua casa. A
partir de então, sempre que por ali passava, era em sua casa que ia tomar a
refeição. A senhora disse ao marido: “Estou convencida de que este homem, que
passa frequentemente pela nossa casa, é um santo homem de Deus. Mandemos-lhe
fazer no terraço um pequeno quarto com paredes de tijolo, com uma cama, uma mesa,
uma cadeira e uma lâmpada. Quando ele vier a nossa casa, poderá lá ficar”. Um
dia, chegou Eliseu e recolheu-se ao quarto para descansar. Depois perguntou ao
seu servo Giezi: “Que podemos fazer por esta senhora?” Giezi respondeu: “Na
verdade, ela não tem filhos e o seu marido é de idade avançada”. “Chama-a” –
disse Eliseu. O servo foi chamá-la e ela apareceu à porta. Disse-lhe o profeta:
“No próximo ano, por esta época, terás um filho nos braços”.
II Leitura: Rom 6,3-4. 8-11
Irmãos: Todos nós que fomos baptizados em Jesus
Cristo fomos baptizados na sua morte. Fomos sepultados com Ele na sua morte,
para que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos, para glória do Pai, também
nós vivamos uma vida nova. Se morremos com Cristo, acreditamos que também com Ele
viveremos, sabendo que, uma vez ressuscitado dos mortos, Cristo já não pode
morrer; a morte já não tem domínio sobre Ele. Porque na morte que sofreu,
Cristo morreu para o pecado de uma vez para sempre; mas a sua vida, é uma vida
para Deus. Assim, vós também, considerai-vos mortos para o pecado e vivos para
Deus, em Cristo Jesus.
Evangelho: Mt 10,37-42
Naquele tempo, disse Jesus aos seus apóstolos: “Quem
ama o pai ou a mãe mais do que a Mim, não é digno de Mim; e quem ama o filho ou
a filha mais do que a Mim, não é digno de Mim. Quem não toma a sua cruz para Me
seguir, não é digno de Mim. Quem encontrar a sua vida há-de perdê-la; e quem
perder a sua vida por minha causa, há-de encontrá-la. Quem vos recebe, a Mim
recebe; e quem Me recebe, recebe Aquele que Me enviou. Quem recebe um profeta
por ele ser profeta, receberá a recompensa de profeta; e quem recebe um justo
por ele ser justo, receberá a recompensa de justo. E se alguém der de beber,
nem que seja um copo de água fresca, a um destes pequeninos, por ele ser meu
discípulo, em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa”.
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A HOSPITALIDADE constitui o tema principal da Primeira Leitura (2Re 4,8-11.14-16ª) deste
XIII Domingo Comum, e o Evangelho fala também deste tema nos seus últimos
versículos: “Quem recebe um profeta por
ele ser profeta, receberá a recompensa de profeta; e quem recebe um justo por
ele ser justo, receberá a recompensa de justo. E se alguém der de beber, nem
que seja um copo de água fresca, a um destes pequeninos, por ele ser meu discípulo,
em verdade vos digo: não perderá a sua recompensa”.
Lemos na Primeira
Leitura que o servo do profeta Eliseu, chamado Giezi adverte ao profeta que a mulher com seu marido
que os acolhe em casa não tem nenhum filho e que seu marido é um ancião (idoso). Para uma
mulher judaica não existia pena maior que a de não dar a seu marido um
descendente varão. O primogênito era o futuro da família, e as famílias de
Israel viviam para o futuro, no qual iam cumprir-se as promessas feitas a Abraão.
O profeta Eliseu (discípulo
do profeta Elias) anuncia profeticamente à mulher hospitaleira que no ano
seguinte terá o filho desejado: “No
próximo ano, por esta época, terás um filho nos braços”. O mesmo que
Sara, a mãe de Isaac (Gn 18,3), esta mulher recebe o anúncio com ceticismo. Mas
a Palavra de Deus através do seu profeta será cumprida. Em ambos os casos, o
nascimento do filho prometido será uma recompensa de Deus à hospitalidade para
seus enviados. Séculos depois, Jesus estabelecerá esta lei recompensa divina: “Quem recebe um profeta por ele ser profeta,
receberá a recompensa de profeta”.
A palavra “HOSPITALIDADE”
vem do latim “hospitalitas, atis”. É
uma virtude que se pratica para peregrinos, necessitados, e desamparados ou
desprotegidos prestando-lhes a devida assistência em suas necessidades. A
hospitalidade é a obra de misericórdia. É ato de hospedar; acolhida de
hóspedes; é boa acolhida. É recepção ou tratamento afável, cortês; amabilidade,
gentileza. Hospitaleiro é aquele que oferece hospedagem por bondade ou
caridade.
Para os homens da
antiguidade a hospitalidade era sagrada. Gregos, judeus e romanos praticavam,
da mesma maneira, a hospitalidade, pois acreditavam que, no visitante, o
próprio Deus batia à sua porta para entrar. E acreditavam que Deus presentearia
o anfitrião com dádivas divinas. Nisto entendemos a mensagem da Primeira
Leitura de hoje.
Os cristãos
primitivos praticavam a hospitalidade. Sem essa virtude, o cristianismo
provavelmente teria dificuldades para se expandir no mundo romano. Até a Carta aos Hebreus admoesta
ou alerta os cristãos: “Não esqueçais
a hospitalidade, pois, graças a ela, alguns, sem saber, acolheram anjos”
(Hb 13,2). O que tem
por traz desse alerta é a experiência de Abraão que hospedou três pessoas em
sua casa sem saber que eram os três anjos para anunciar que Sara, apesar de sua
velhice, geraria um filho chamado Isaac (Gn 18,3; 19,1-2: Lot convida os dois
anjos para sua casa). Por isso, antigamente tratava o estrangeiro como sagrado.
Não será inútil
escutar o convite que estes textos dirigem aos cristãos de hoje. No mundo
desumanizado e muito urbanizado em que vivemos, sem contar outras discriminações
e exclusões, o testemunho da hospitalidade adquire uma dimensão profética. Com a hospitalidade nasce uma
rede de amor entre as pessoas, derruba preconceitos e produz a alegria mútua e
a convivência fraterna. A hospitalidade possibilita o encontro e o diálogo e
transforma o estrangeiro em amigo e irmão.
Dentro deste tema
podemos também entender o recado de São Paulo na Segunda
Leitura (Rom 6,3-4. 8-11). São
Paulo nos diz que o Batismo recebido por nós faz que vivamos uma vida nova: “Fomos sepultados com Ele na sua morte, para
que, assim como Cristo ressuscitou dos mortos, para glória do Pai, também nós
vivamos uma vida nova”.
A ideia essencial
da Segunda Leitura é a “morte com Cristo”. Para a Bíblia, Deus é a vida e seu
plano é um plano de vida. A morte física é um acidente que a mentalidade
judaica atribui ao pecado (Gn 3; Ez 18). Herdeiro desse conceito judaico, São
Paulo liga a morte natural e a morte espiritual do pecado.
Podemos entender
esse elo com precisão: não se trata de dizer que a morte física foi um castigo
externo estabelecido por Deus pelo pecado do homem. Pelo contrário, é uma
questão de entender que, ao encerrar-se no pecado, ou seja, contando apenas consigo
para realizar o futuro, o homem se trancou fatalmente na morte, uma vez que
apenas uma iniciativa de Deus e, conseqüentemente, uma conversão a Deus pelo
homem pode tirá-lo disso. Nesse sentido, São Paulo tem razão ao relacionar o
pecado à morte.
Agora, Cristo é o
primeiro a penetrar na morte não com o pecado, ou seja, a vontade de viver por
si mesmo, mas, pelo contrário, com absoluta fidelidade e total adesão ao Pai,
confiando que o Pai salvaria o Filho. Assim, a morte de Cristo suprime o elo
que existia até então entre a morte e o pecado; assim, sua morte é
verdadeiramente libertadora do pecado, pois ele descobre um homem capaz de ser
libertado da morte e ressuscitar simplesmente porque se coloca totalmente nas mãos
de seu Pai. Assim, a morte não é um acidente no plano divino da difusão da
vida, e sim precisamente aquilo pelo qual Deus dá sua vida ao homem.
Cada Domingo, na
celebração da Eucaristia, renovamos o que começamos no Batismo. Cada batizado é
enviado a ser irmão da humanidade. Ainda assim, a experiência comumnos mostra que
nossa vida, por muito que tenhamos recebido os sacramentos, tem poucas
novidades, poucas mudanças, poucas renovações e inovações no Senhor, está
instalada em umas formas habituais de atuar, de pensar que nada demonstram a
mudança na vida prática e na convivência fraterna.
O evangelho de hoje é
a parte final do discurso de Jesus sobre a missão. Mt colocou aqui diversos
elementos que ele tomou de diferentes contextos. Dividimos o texto em duas
partes. A primeira parte (vv.37-39) apresenta as exigências que Jesus
propõe para quem quer segui-lo. Na segunda parte (vv.40-42) Jesus promete recompensar todos
aqueles que acolherem os seus enviados.
I. AS EXIGÊNCIAS DE JESUS (vv.37-49)
Jesus é
terrivelmente exigente. Ele exige renúncia de uma radicalidade inaudita e
conclui cada exigência com o mesmo refrão: “não é digno de mim!” Ele pede uma
adesão total e indivisível à sua pessoa.
1. A primeira exigência: Jesus deve ser preferido aos vínculos humanos
mais sagrados
“Aquele que ama pai e mãe mais do que a mim,
não é digno de mim. Aquele que ama o filho ou filha mais do que a mim, não é
digno de mim” (v.37).
Jesus usa aqui a
palavra mais sagrada: “amar”. Certamente a primeira das renúncias se refere ao
que há de mais caro a Deus e aos homens: o amor. O mundo inteiro é fruto do
amor de Deus. O amor é o porquê da encarnação de Jesus Cristo. A redenção
encontra sua resposta no amor de Deus pela humanidade. Todo o NT se fundamenta
no amor. E todos nós reconhecemos que nascemos de um momento fecundo do amor.
Nenhum preceito que fira o amor tem legitimidade para Jesus e para os cristãos.
No entanto, o primeiro e maior amor se deve a Deus (Mt 22,38), porque de Deus
provêm todas as expressões do amor e a Deus retornam todos os nossos gestos de
amor. Portanto, Jesus não manda não amar pai e mãe e filhos, mas deve amá-los
dentro do grande amor que devemos a Deus e devemos renunciá-los sempre que
forem empecilho. Trata-se, então, de estruturar a vida inteira a partir desse
amor maior que dá sentido a todos os outros. A partir desse amor maior todos os
outros amores se enriquecem. Se amarmos os pais e irmãos com o coração cheio do
amor de Deus, esse amor se torna digno de confiança. Por isso, embora Jesus
insista nas obrigações de seus seguidores aos pais (Mt 15,3ss) e à família (cf.
Mt 5,27ss;19,1ss), contudo esse relacionamento não pode, de modo algum, impedir
ou prejudicar a obediência do homem diante das exigências de Deus, o Bem
Absoluto, o Maior Amor (cf. Mt 8,21s). Todos devem ser dispostos a qualquer
sacrifício quando está em jogo a causa de Deus e a própria salvação. Precisamos
estar conscientes de que há amores familiares que matam, principalmente do
ponto de vista espiritual. Portanto, vivemos em contínua renúncia e permanente
abertura às manifestações do amor de Deus.
Mas cada um de nós,
a partir desta exigência, precisa se perguntar: Que lugar ocupa Jesus na sua
vida? Ele ocupa o primeiro lugar ou em segundo lugar na sua vida?
2. A segunda exigência é carregar a cruz e renunciar à própria vida
“Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é
digno de mim”.
“Tomar sua cruz” é
uma expressão metafórica para a prontidão para a morte, para o movimento de
partida de si mesmo em direção a Deus. Cada partida em direção a Deus sempre
representa uma morte de si mesmo. A vida que se entrega a Deus tem algo desse
morrer em si e será uma nota característica de nossas mais sinceras intenções
em seguir a Jesus. Não se ama a cruz em si mesmo, mas ao seguir a Jesus
incondicionalmente encontra-se a cruz.
Cada história tem
sua própria cruz e cada cruz tem sua própria história. Todos nós, de alguma
forma, carregamos alguma cruz na nossa vida. Mas existe cruz com Cristo, como
também existe cruz sem Cristo. Para alguns, a cruz pode ser vivida como
tribulação, para os outros ela pode ser vivida como libertação. A cruz sem
Cristo é a cruz-condenação. É a cruz de quem deseja ser um deus. É a cruz que
não tem finalidade em si mesmo. É a cruz sem fé, sem amor, sem sentido da vida,
sem renúncia por amor. É a cruz de quem deseja viver numa liberdade sem
responsabilidade. Jesus Cristo, que foi crucificado, transformou a cruz de
castigo em bênção. Por isso, se procuramos Cristo sem sua cruz acabamos
encontrando a cruz sem Cristo. Mas se procuramos Cristo com sua cruz acabamos
encontrando a salvação. Que tipo de cruz que você carrega: com Cristo ou sem Cristo?
E Jesus acrescenta:
“Quem procura conservar a sua vida, vai perde-la. E quem perde a sua vida por
causa de mim, vai encontrá-la” (v.39). Buscar a vida era o ideal dos sábios do
Antigo Testamento. Mas Jesus convida a mudar esta sabedoria por outra mais
profunda que consiste em imitar sua entrega a fim de alcançar a vida em
plenitude: a vida sem fim com Deus. A vida vem de Deus e somente ele é capaz de
dar a vida. Se a vida é totalmente de Deus e para Deus, então, todas as vezes
que o homem se fecha em si mesmo, ele se desliga da sua fonte, da sua razão de
ser e da sua única meta possível. Só salva sua vida quem não confia na sua
mortalidade, mas se inclui na imortalidade de Deus; mas isto significa morrer
para viver eternamente. Certamente, aqui é que está a grandeza maior do homem.
A proposta de Jesus é levar a vida a sério, enfrentar com dignidade os
desafios, mas sempre se abrir à fonte da vida: Deus. É preciso sair de si
mesmo, ultrapassar-se a si mesmo em direção à vida por excelência: Deus. Se
renunciarmos aos nossos interesses pessoais, acolheremos os interesses de Deus.
Se renunciarmos às falsas propostas da vida, acolheremos a cruz redentora de
cada dia, que nos traz consigo o Cristo Salvador.
II. A PROMESSA DE JESUS A QUEM ACOLHE SEUS ENVIADOS/MISSIONÁRIOS (vv.40-42)
“Quem
recebe um profeta, por ser profeta, receberá a recompensa de profeta. E quem
recebe um justo, por ser justo, receberá a recompensa de justo... até um copo
de água fresca dada a um dos pequeninos não perderá a sua recompensa”
(vv.41-42).
Encontramos aqui,
pelo menos, três grupos na comunidade de Mateus. Os profetas exerciam um
ministério itinerante que consistia, sobretudo, na pregação; eram homens
suscitados por Deus. Os justos eram homens de virtude comprovada na comunidade,
quer pela sua vida exemplar, quer pela fé praticada na caridade. Eram homens
fiéis aos mandamentos de Deus. Os pequeninos eram os simples discípulos de
Jesus, não ocupavam nenhuma posição destacada na comunidade.
Qual será a
recompensa prometida por Jesus? O texto não especifica a recompensa. Mas se
olharmos para o cap. 25 de Mateus, saberemos que uma obra boa feita para os
mais insignificantes, mesmo sem consideração de quem ele é ou sem saber se está
servindo a Cristo nele, a recompensa será grande: a alegria eterna (Mt
25,31-46). Na atitude adotada diante de um pobre, mostramos a verdadeira
generosidade de nosso coração. Partilhar o que temos para os mais pobres é uma
forma de prolongar a generosidade do Deus-Criador que criou tudo gratuitamente
para os homens. Nós que acreditamos no Deus-Criador devemos manter viva esta
generosidade através da partilha daquilo que temos e somos.
Que as pessoas
percebam a marca do amor de Deus nos nossos gestos, palavras e obras para que
possam acreditar que Deus existe e que esse Deus é Amor. Assim seja.
P. Vitus Gustama,SVD
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