quinta-feira, 2 de julho de 2020

07/07/2020
É PRECISO CAMINHARÉ PRECISO CAMINHAR
SOMOS PROLONGAMENTO DO AMOR MISERICORDIOS DE DEUS
Terça-Feira da XIV Semana Comum


Primeira Leitura: Os 8,4-7.11- 13
Assim fala o Senhor: 4 Eles constituíram reis sem minha vontade; constituíram príncipes sem meu consentimento; sua prata e seu ouro serviram para fazer ídolos e para sua perdição. 5 Teu bezerro, ó Samaria, foi jogado ao chão; minha cólera inflamou-se contra eles. Até quando ficarão sem purificar-se? 6 Esse bezerro provém de Israel; um artesão fabricou-o, isso não é um Deus; será feito em pedaços esse bezerro da Samaria. 7 Semeiam ventos, colherão tempestades; se não há espiga, o grão não dará farinha; e, mesmo que dê, estranhos a comerão. 11 Efraim ergueu muitos altares em expiação do pecado, mas seus altares resultaram-lhe em pecado. 12 Eu lhes deixei, por escrito, grande número de preceitos, mas estes foram considerados coisa que não lhes toca. 13 Gostam de oferecer sacrifícios, imolam carnes e comem; mas o Senhor não os recebe. Antes, o Senhor lembra seus pecados e castiga suas culpas: eles deverão voltar para o Egito.


Evangelho: Mt 9,32-38
Naquele tempo, 32 apresentaram a Jesus um homem mudo, que estava possuído pelo demônio. 33 Quando o demônio foi expulso, o mudo começou a falar. As multidões ficaram admiradas e diziam: “Nunca se viu coisa igual em Israel”. 34 Os fariseus, porém, diziam: “É pelo chefe dos demônios que ele expulsa os demônios”. 35 Jesus percorria todas as cidades e povoados, ensinando em suas sinagogas, pregando o Evangelho do Reino, e curando todo o tipo de doença e enfermidade. 36 Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor. Então disse a seus discípulos: 37 “A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. 38 Pedi pois ao dono da messe que envie trabalhadores para a sua colheita!”
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Para Viver Feliz e Com Sentido É Preciso Voltar a Adorar o Verdadeiro Deus


No texto da Primeira Leitura de hoje, o profeta Oséias interpreta o sentido teológico dos grandes acontecimentos que afetam interna e externamente a vida do pequeno reino de Israel. Suas palavras explicam a iminente chegada do exército do rei assírio, Tiglat-Píleser III (subiu ao trono em 745 a.C), excelente militar e desejoso de ampliar seu império, e que vai exigir de Israel o pagamento de imposto anual.


Para o profeta Oséias tudo isso é o fruto do pecado da idolatria, tanto religiosa (cultual) como política, do povo de Israel. Israel busca sua segurança e seu apoio fora de Deus: no Egito, lugar de sua escravidão. E a idolatria religiosa/cultual (adoração a Baal) é praticada pelo povo de Israel. Segundo Oséias o castigo é apresentado como consequência natural do pecado e não como resultado de um juízo externo e arbitrário. Israel recusa o Senhor porque recusa o bem (Os 8,2). Para Oséias, o culto se torna vão se não é acompanhado pela prática do bem. As discrepâncias entre o culto e a moral/ética são provocativas: “Efraim ergueu muitos altares em expiação do pecado, mas seus altares resultaram-lhe em pecado. Gostam de oferecer sacrifícios, imolam carnes e comem; mas o Senhor não os recebe” (Os 8,11.13). É a mesma denúncio de Jesus na conclusão do Sermão da Montanha: “Nem todo o que diz: ‘Senhor, Senhor!, entrará no Reino dos céus, e sim o que faz a vontade de meu Pai que está nos céus” (Mt 7,21). Mas o Deus de ira que Oseias apresenta é também um Deus de amor e de misericórdia, que trata a seu povo como o pai trata a seu filhinho: “Não darei curso ao ardor de minha cólera, já não destruirei Efraim, porque sou Deus e não um homem, sou o Santo no meio de ti, e não gosto de destruir" (Os 11,9).


Quando falamos de idolatria, espontaneamente se pensa em algumas estatuetas de madeira, barro ou pedra, às quais os idólatras adoram, apesar de saberem que não são deuses, mas são feitas por suas próprias mãos. Mas, na verdade, todos somos idólatras quando erguemos altares e prestamos atenção aos deuses que criamos para nós mesmos. Não serão estatuetas, mas serão dinheiro, poder, prazer, o êxito, uma ideologia ... Somos idólatras quando damos aos valores secundários a importância que somente merecem os últimos lugares na nossa vida e então, falta-nos o primeiro e principal mandamento: "Você não terá outro deus além de Mim", diz o Senhor.


Quem semeia ventos, colhe tempestades, a curto ou longo prazo. O Salmo Responsorial (Sl 113B), não sem ironia, descreve esta falha básica: "São os deuses pagãos ouro e prata, todos eles são obras humanas. Têm boca e não podem falar, têm olhos e não podem ver; têm nariz e não podem cheirar, tendo ouvidos, não podem ouvir. Têm mãos e não podem pegar, têm pés e não podem andar. Como eles serão seus autores, que os fabricam e neles confiam”. Eles são ídolos que são inúteis e, no entanto, existem pessoas que continuam a adorá-los e a confiar neles.


Assim fala o Senhor: Eles constituíram reis sem minha vontade; constituíram príncipes sem meu consentimento... “. Os reis não são mais por dinastia e sim por assassinatos.


O profeta Oseias nos propõe uma série de perguntas que nos ajudam a olharmos para nossa realidade atual. Quem detecta a autoridade em nosso povo? Temos eleito os poderes da sociedade pensando em suas capacidades para governar nosso povo segundo o plano de Deus ou segundo o plano ético? O que prevalece na nossa Igreja de hoje, autoridades que se preocupam pelos pobres, pelos que sofrem, seguindo a opção de Deus e de Jesus Cristo, ou poderíamos dizer que foram eleitas sem contar com o Senhor? Em que se utiliza o dinheiro, em construir novos altares, em fabricar novos ídolos? Nós nos apoiamos nas coisas que fabricamos ou no Senhor? Estas e muitas perguntas que nos propõe o texto de Oseias que lemos hoje servem para nos ajudar a esclarecer se rompemos a aliança com Deus ou se permanecemos nela.


Sua prata e seu ouro serviram para fazer ídolos e para sua perdição... Até quando ficarão sem purificar-se?”, assim continua a denúncia de Oseias.


O povo de Isarel, apesar de todas as manifestações de amor que recebeu de Deus, rompeu sua aliança. O povo se torna idólatra. Com sua prata e seu ouro, eles se tornaram ídolos para sua destruição. O profeta Oseias considera que os valores do povo estão se perdendo e Deus perde também seu lugar no povo.


Gostam de oferecer sacrifícios, imolam carnes e comem; mas o Senhor não os recebe”. Este é o problema de um culto que não transcende na vida, uma religiosidade popular vazia de conteúdo. Os altares se tornam um lugar para pecar, porque em seus cultos o povo está traindo seu Deus. uma fé que não se traduz na prática da justiça e da caridade fraterna. Trata-se de um culto alienado de uma vida ética e de uma caridade fraterna.


O profeta fala em nome de Deus para condenar a contaminação da religião autêntica pela idolatria e pelos demais pecados sociais. O estrito monoteísmo pouco a pouco vai se misturando com as práticas pagãs. Pelo fato de viver entre populações cananeias os hebreus consentem no que vão introduzindo elementos do culto de Baal.


O profeta Oseias enumera alguns dos grandes pecados de Israel em sua infidelidade à Aliança com Deus: não contam com Deus; não pedem conselho; constroem-se ídolos, touros e bezerros como no tempo de Jeroboão, para adorá-los em vez de adorar ao verdadeiro Deus; decadência moral (“prostituição sagrada”).


Por isso, o profeta Oseias anuncia o castigo: “Semeiam ventos, colherão tempestades... Efraim ergueu muitos altares em expiação do pecado, mas seus altares resultaram-lhe em pecado”.


Baal era um deus da fecundidade da natureza simbolizado por um touro. Em sua honra tinham lugar frenéticos de ritos sexuais (a “prostituição sagrada”). Essas concepções religiosas naturalistas eram, por desgraça, muito populares porque davam a impressão de ser uma súplica ao deus da fecundidade para obter abundantes colheitas e rebanhos saudáveis assim como o nascimento de muitos filhos nas famílias como sinal da benção de Deus. Com efeito, a esterilidade era sinal da maldição de Deus pelos supostos pecados cometidos. Os sacerdotes de Javé, do Deus verdadeiro e único, estavam tentados de consentir essas práticas, explorando assim as tendências populares mais elementares.


Confiar no “Baal” ou no “bezerro de ouro” é fiar-se em ídolos que “têm boca e não falam, têm olhos e não veem” (Sl 115). Na verdade, a atitude de fundo não é de fé, uma vez que só são dignas de fé as pessoas e um Deus pessoal. Ou melhor dizer que é uma atitude de busca de segurança para a qual seria preciso “manipular” o deus correspondente, neste caso, o deus da fertilidade, para que lhes mandasse a chuva ou protegesse suas colheitas e seus rebanhos, a atitude que reflete uma relação com Deus de tipo mercantil: “dou-te para que me dês, dá-me para que eu creia”.


Como na época do profeta Oseias, um dos problemas de nosso tempo é a contaminação da fé autêntica pelo materialismo: o ouro, a prata, a sexualidade, que são ídolos também em nosso tempo; são ídolos ilusórios  incapazes de satisfazer a fome profunda do homem e no homem. Quem sabe se nossa sociedade de “consumismo” que é também uma sociedade de “prazer” não contém em seu seio sua própria destruição. As pessoas carentes de todo ideal nobre e profundo vão se destruindo aos poucos para desaparecer um dia sem deixar nada de bom que possa se perpetuar nos que ficam.


Viver De Acordo Com A Palavra de Deus


1. Palavra Na Nossa Vida Cotidiana


A primeira parte do evangelho de hoje fala da cura de um mudo que logo em seguida ele começou a falar.


Deus criou o homem dotado de fala. A palavra é um dos grandes meios de comunicar-se com os irmãos. A palavra é um dos meios que nos vincula aos outros. A palavra pontua nossa vida cotidiana. A palavra é também algo que nos liga a nós mesmos. Quantas vezes, ao acordar de manhã ou em determinadas situações na nossa vida cotidiana, nós falamos a nós mesmos, pelo menos mentalmente. A palavra nos acompanha quase o tempo todo, até mesmo, paradoxalmente, o silêncio, que se tornou tão raro no mundo moderno, tem significado por causa dela. Há profissões que usam menos palavra. Mas há também profissões que trabalham com palavra e dependem da palavra para transmitir sua mensagem ou seu ponto de vista sobre algo na vida ou na sociedade. A palavra está no âmago de nossa vida pessoal, familiar, social e profissional. Já imaginou se você pudesse contar quantas palavras ditas diariamente por você? Creio que você mesmo ficaria assustado ou admirado por tantas palavras ditas em vão, ao mesmo tempo por tantas palavras que saíram de sua boca que ajudaram tantas pessoas por terem sido boas! Milhares e milhares de pessoas mudaram de qualidade de vida por causa da palavra ouvida de outras pessoas ou lida em um bom livro. Cada palavra representa uma realidade ou um mundo contido nela. Você já pensou quantos mundos contidos numa frase que pronunciamos ou escrevemos? Mas será que cada frase pronunciada ou escrita representa mesmo a realidade ou inventamos frases e frases para enganar os outros? Será que em cada frase contém a verdade? Será que levamos em conta a caridade e a fraternidade ao soltar/pronunciar ou ao escrever alguma frase?


2. Cada Batizado Deve Ser Prolongamento da Palavra de Deus Encarnada


Deus quer que o homem se comunique. Se alguém não se comunicar, se está sempre quieto ou mudo, é sinal de que alguma coisa está errada nele fisicamente, ou psiquicamente ou espiritualmente. A fala é dom de Deus, tanto que São João, no Prólogo de seu evangelho dá um título muito significativo a Jesus: Palavra ou Verbo (Jo 1,1-14). Jesus é a Palavra de Deus para nós; é a comunicação de Deus para nós. Através de Jesus é que Deus fala conosco: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14).  O próprio Pedro, no seu discurso no livro dos Atos dos Apóstolos, nos disse: “Deus enviou a sua palavra aos filhos de Israel, anunciando-lhes a boa nova da paz, por meio de Jesus Cristo. Este é o Senhor de todos” (At 10,36). Como é que opera a Palavra de Deus na vida do homem? O autor da Carta aos Hebreus responde: “A palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois gumes e atinge até a divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração. Nenhuma criatura lhe é invisível. Tudo é nu e descoberto aos olhos daquele a quem havemos de prestar contas” (Hb 4,12-13).  Mas nem a boca santa de Jesus que emite a Palavra de Deus terá qualquer efeito na nossa vida, se nós estivermos surdos a ela.


É bom notar que seremos também julgados pelas palavras que dizemos ou pronunciamos sobre os outros, além dos atos que praticamos. O livro de Provérbio nos alerta: “Nas muitas palavras não falta ofensas; quem retém os lábios é prudente” (Pr 10,19). “A boca dos justos é fonte de vida, mas a boca dos ímpios encobre violência” (Pr 10,11). Da mesma forma são Tiago nos diz: “Aquele que não peca no falar é realmente um homem perfeito, capaz de frear todo o seu corpo” (Tg 3,2b). Que nossas palavras não ultrapassem nossos atos para não sermos chamados de mentirosos ou falsos. Por isso, São Tiago nos alerta: “Tornai-vos praticantes da Palavra(de Deus) e não simples ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg 1,22).


A cura do mudo no texto do evangelho de hoje se refere àquele que não quer escutar a voz de Deus, que não quer seguir Seu projeto porque há outras coisas que o ensurdecem. Biblicamente o surdo-mudo (o termo grego “kôphos” significa surdo, mudo e surdo-mudo) é aquele que perde o contato com sua própria realidade de filho de Deus. Ele vive paralisado porque está privado da comunicação com o único que o faz livre: Deus (através de Sua Palavra).


A Igreja, isto é, todo batizado, é responsável pelo Evangelho de Jesus no mundo (cf. Mt 28,18-20). O anúncio da Palavra de Deus define sua missão no mundo. Todos os batizados hão de realizar sua vida na fidelidade à Palavra de Deus. Todos os batizados devem construir a casa de sua vida sobre a Palavra de Deus para que ela seja firme como construir uma casa sobre a rocha (cf. Mt 7,24-25). Cada batizado deve ser pessoa da palavra de Deus, isto é, sua palavra deve ser palavra que edifica e leva os outros para Deus. Cada batizado deve ser encarnação da Palavra de Deus.


3. Até Para Fazer o Bem Encontramos Dificuldades


Jesus veio ao mundo unicamente para fazer o bem, como pregou o Apóstolo Pedro: “Vós sabeis como Deus ungiu a Jesus de Nazaré com o Espírito Santo e com o poder, como ele andou fazendo o bem e curando todos os oprimidos do demônio, porque Deus estava com ele” (At 10,38). Mas sabemos muito bem que até para fazer o bem encontramos dificuldades e críticas como aconteceu com Jesus no texto do evangelho de hoje. Jesus libertou um surdo de sua mudez e começou a falar. Jesus foi criticado por causa disso: “Os fariseus, porém, diziam: É pelo príncipe dos demônios que ele expulsa os demônios” (Mt 9,34). Mas “a acusação teológica (dos fariseus) não é mais que um pretexto que apenas dissimula sua sede de autoridade sobre o povo”, comentou P. Bonnard. Atrás de uma acusação ou crítica há interesse. Mas a questão é esta: que tipo de interesse?


4. Ser Compassivo Como Cristo


A segunda parte do texto do evangelho de hoje (Mt 9,35-38), na verdade, é uma introdução para o discurso de Jesus sobre a missão  (Mt 9,35-10,16).


Esta segunda parte fala da compaixão de Jesus pela multidão: “Vendo Jesus as multidões, compadeceu-se delas...”. Jesus sempre se compadece pelos que sofrem como o mudo no evangelho de hoje. A compaixão é uma das características de Deus.


Uma verdadeira compaixão não olha o necessitado de cima para baixo (sentimento de superioridade), mas é capaz de padecer-com, sentir-com para daí atuar. Cada compaixão sempre tem a ver com o deixar aproximar-se, prestar atenção, sentar-se à mesma mesa, chamar pelo nome, perceber a necessidade, oferecer a ajuda. A compaixão é comover-se até as entranhas, solidarizar-se profundamente, sentir-se a partir de outrem; é sofrer com (Latim: pati + cum, compaixão = sofrer com). A compaixão requer que estejamos com as pessoas que sofrem e dispostos a partilhar nosso tempo com elas. É estar no lugar do outro para sentirmos o que ele sente e ajudar no que puder dentro do limite da capacidade. Por isso, pode-se dizer que a verdadeira compaixão é muito humana e divina simultaneamente. Quando compartilhamos nosso coração e tempo com uma pessoa que sofre, uma parte do sofrimento dela será aliviada. Vamos deixar o resto com Deus desde que façamos nossa parte até o limite de nossa capacidade. Somos seguidores do Deus da Compaixão que se tornou carne em Jesus Cristo. A compaixão deve se tornar carne também em nós.
P. Vitus Gustama,svd

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