22/07/2020
MARIA
MADALENA
22 de Julho
Primeira Leitura: Ct 3,1-4a
Eis o
que diz a noiva: 1Em meu leito, durante a noite, busquei o amor de minha vida:
procurei-o, e não o encontrei. 2Vou levantar-me e percorrer a cidade,
procurando pelas ruas e praças, o amor de minha vida: procurei-o, e não o
encontrei. 3Encontraram-me os guardas que faziam a ronda pela cidade. “Vistes
porventura o amor de minha vida?” 4aE logo que passei por eles, encontrei o
amor de minha vida.
1 No primeiro
dia da semana ,
Maria Madalena foi ao túmulo de Jesus, bem de madrugada , quando ainda
estava escuro , e viu que a pedra tinha sido retirada do túmulo . 2 Então
ela saiu correndo e foi encontrar
Simão Pedro e o outro discípulo , aquele
que Jesus amava, e lhes
disse: “Tiraram o Senhor do túmulo ,
e não sabemos onde
o colocaram”. 11 Maria estava do lado
de fora do túmulo ,
chorando. Enquanto chorava, inclinou-se
e olhou para dentro
do túmulo . 12 Viu, então , dois anjos vestidos
de branco , sentados onde
tinha sido posto
o corpo de Jesus, um
à cabeceira e outro
aos pés . 13 Os anjos perguntaram: “Mulher ,
por que
choras?” Ela respondeu: “Levaram o meu Senhor e não sei onde o
colocaram”. 14 Tendo dito isto , Maria voltou-se para trás e viu Jesus, de pé .
Mas não
sabia que era
Jesus. 15 Jesus perguntou-lhe: Mulher ,
por que
choras? A quem procuras ?”
Pensando que era
o jardineiro , Maria disse: “Senhor , se foste tu que o levaste dize-me onde
o colocaste, e eu o irei buscar ”.
16 Então Jesus disse: “Maria!” Ela voltou-se e exclamou, em
hebraico: “Rabunni” (que quer dizer : Mestre ). 17 Jesus disse: “Não
me segures. Ainda
não subi para
junto do Pai .
Mas vai dizer
aos meus irmãos :
subo para junto
do meu Pai
e vosso Pai ,
meu Deus
e vosso Deus ”.
18 Então Maria Madalena foi anunciar aos discípulos :
“Eu vi o Senhor ”,
e contou o que Jesus lhe tinha dito .
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Maria
Madalena: Do Seu Primeiro
Encontro com
Jesus.
Este é um
dos personagens bíblicos escritos pelo famoso escritor
libanês, Khalil Gibran, no seu livro : Jesus,
o Filho do Homem .
No encontro com
Maria Madalena, Khalil Gibran colocou na boca
de Jesus as seguintes palavras dirigidas a Maria Madalena: “Tu tens muitos
amantes ; entretanto
só eu
te amo .
Os outros homens
amam a si mesmos
quando te
procuram. Eu ti amo
por ti mesma .
Os outros homens
veem em ti uma beleza
que desaparecerá mais
cedo do que
seus próprios
anos . Mas
eu vejo em
ti uma beleza que
não esmaecerá e, no outono
dos teus dias ,
esta beleza não
terá receio de olhar-se no espelho ,
e não será ofendida. Somente
eu amo
o que não
se vê em
ti”.
Khalil Gibran colocou na boca
de Maria Madalena as seguintes palavras como sua reação diante da pessoa e das palavras de Jesus: “Então ,
levantou-se e olhou-me como as estações devem olhar para os campos , e
sorriu. E disse novamente : ‘Todos os homens
te amam por
si mesmos .
Eu te
amo por
ti mesma ’. E afastou-se, caminhando. Eu não sabia, mas naquele dia
o poente de Seus
olhos matou o dragão
que havia em
mim , e tornei-me uma mulher , tornei-me Miriam”.
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Celebramos no dia
22 de julho a festa
de Maria Madalena. “Maria” significa “preferida por
Deus ”. Seu
sobrenome “Madalena” é o nome da cidade onde ela
nasceu, situada na orla do mar da Galiléia.
Maria
Madalena
(Magdalena), assim com seu nome completo, aparece em várias cenas evangélicas. Ocupa
o primeiro lugar entre as mulheres que acompanham a Jesus (Mt 27,56; Mc 15,47;
Lc 8,2). Ela está presente durante a Paixão (Mc 15,40) e ao pé da Cruz com a Mãe
de Jesus (Jo 19,25); ela observa como sepultam o Senhor (Mc 15,47); chega antes
que Pedro e João ao sepulcro, na manhã da Páscoa (Jo 20,1-2); é a primeira a
quem Jesus ressuscitado aparece (Mt 28,1-10; Mc 16,9; Jo 20,14); é enviada a sr
apóstolo dos apóstolos (Jo 20,18). Tanto Marcos como Lucas nos informam que
Jesus expusou dela “sete demônios” (Lc 8,2; Mc 16,9).
Dela sabemos muito
pouco , além das informações acima
mencionada, mas os traços ,
que nos
oferece o evangelho , apoiado pelo texto
da Primeira Leitura, nos permitem
adentrarmos no mistério de “um
amor muito
mais forte
do que a morte ”
encontrado em Maria Madalena.
Ao incluir o livro do Cântico dos Cânticos,
de onde foi tirado o texto da Primeira Leitura, no Cânon dos Livros inspirados,
que fala bastante sobre o amor humano, Israel, e depois a Igreja, reconheceu
que não se trata somente da consagração do amor entre o homem e a mulher, e sim
muito mais do que isto: trata-se da expressão simbólica do amor de Deus por seu
povo. Também a alma sedenta de Deus conhece as longas noites de silêncio de
Deus e de sua incompreensível ausência, mas que purificam a alma humana: “Em
meu leito, durante a noite, busquei o amor de minha vida: procurei-o, e não o
encontrei” (Ct 3,1).
Na inquietude desperta-se o desejo do Senhor
e volta a busca apaixonada e vital: “Vou levantar-me e percorrer a cidade,
procurando pelas ruas e praças, o amor de minha vida” (Ct 3,2ª). É preciso
perseverar nesta tensão: “Encontraram-me os guardas que faziam a ronda
pela cidade. ‘Vistes porventura o amor de minha vida?’”. E depois é
preciso ir além, na consciência de que Deus pode nos orientar a Ele. Então, Ele
próprio se fará presente a quem não se cansa de procurá-Lo na noite da vida com
coração ardente: “E logo que passei por eles, encontrei o amor de minha vida” (Ct
3,4ª).
E o texto do Evangelho de hoje nos mostra que o
amor de Maria Madalena não morre sob a Cruz. Jesus tinha devolvido a vida em
plenitude para Maria Madalena e a partir daquele momento, ela começou a viver
para o Senhor (Cf. Lc 8,2).
Na hora trágica d Sexta-Feira Santa, Maria
Madalena permanece fiel Àquele que salvou sua dignidade. Nada pode afastar
Maria Madalena de seu objetivo nem sequer o descrimento do túmulo vazio.
Maria Madalena é figura da Igreja-esposa e de
toda alma que busca a Cristo e não tem outra coisa para oferecer que as lágrimas
do amor. E o Senhor se deixa encontrar por quem O busca deste modo. Ressuscitado
e vivo, o Senhor se aproxima de quem sabe permanecer na solidão junto ao mistério
incompreensível: “Maria estava do lado de fora do túmulo, chorando” (Jo 20,11ª). No
entanto, somente podemos reconhecer o Senhor quando Ele nos chama por nosso
nome e nos faz sentir que Ele nos conhece profundamente. Nosso nome está
realmente tatuado na palma da mão do Senhor, segundo o profeta Isaías (Cf. Is
49,16).
Em Maria Madalena vemos o luminoso testemunho
de quem, perseverando-se na busca de Deus, ainda que seja na obscuridade da fé
e na prova da esperança, encontra, por fim, Aquele a quem ama, ou melhos dizer,
foi encontrado por Aquele que nos ama até o fim (Cf. Jo 13,1).
A frase
“Encontrei o
amor de minha
vida ” que
nos diz o Livro
do Cântico dos Cânticos
parece-nos apropriada para
resumir a trajetória
pessoal de Maria Madalena. Quem experimenta
o amor de Cristo
vê as coisas
de outra maneira ,
vê a morte da
vida velha
ou vê
a morte da vida
passada para experimentar a vida nova . Por causa dessa nova visão a pessoa acaba
mudando de vida (maneira
de viver ). Maria Madalena viveu essa experiência em seu encontro pessoal com
Jesus. Tão profundo
e tão decisivo
foi o primeiro encontro
com Jesus que
tornou a vida de Maria Madalena uma busca incessante
do Bem Maior que é Jesus Cristo
como relatou o evangelho
deste dia . Somente
busca o Bem Maior aquele que foi encontrado pelo Bem Maior . Parece-nos
que o Salmo
responsorial foi feito para
esse fim :
“A minha alma
tem sede de vos ,
Senhor , minha
carne também
vos deseja
como terra sedenta e sem água ! ... Vosso amor vale mais do que a vida , e por isso , meus lábios vos louvam” (Sl 62/63,1-2).
O pranto
de Maria Madalena, como o de Pedro durante a Paixão
é fruto de uma descoberta
da verdade . Por
isso , trata-se de um
pranto salutar ,
de um pranto
que exprime o que
não pode ser expresso por
nenhuma palavra humana .
O pranto de Maria Madalena nasce do sentimento de pertença .
Ela chora
por estar em relação com Jesus que em determinado momento desaparece. Ela
tem sentimento de pertencer
a Cristo , a relação
com define sua
vida . Ela
é como é agora
por causa de Cristo que devolveu
sua dignidade .
A segunda
coisa que chama atenção é
a mudança de termos .
Para o pranto
se busca uma causa :
“Por que
choras?”. Ou “Por
qual razão
tu choras”. O que
se busca na pergunta
é a causa do pranto .
Mas para a busca
se faz referência a uma pessoa :
“A quem procuras ?”.
Maria Madalena não busca
um ideal ,
não uma causa
pela qual
lutar , não busca um sentido , pois tudo isto vem por acréscimo .
Maria Madalena busca Aquele que ,
olhando-a de outra maneira ,
restituiu-a em sua
dignidade de mulher .
Ela busca
Aquele a Quem
seguia pelos caminhos
da Galiléia em companhia
de outros homens
e mulheres . Ela
busca Aquele
que foi cravado em
uma madeira e abandonado quase por todos , exceto ela e a própria
mãe de Jesus e algumas outras pessoas (cf. Jo 19,25). Ela
busca Aquele
que lhe
garante um futuro
seguro . Ela busca Aquele que tem a ultima palavra
para sua vida e sua morte . Ela busca Aquele que é capaz de lhe dar a serenidade apesar
de estar no meio
das tempestades desta vida .
“Jesus lhe
disse: ‘Maria’”. Jesus escolhe a maneira
mais pessoal
e a mais imediata :
chama-a pelo nome
“Maria”. Para cada
um de nós
Deus tem nome ,
por anônima
que seja uma pessoa
na sociedade . E Deus
nos chama
pelo nome : “Eu te
chamo pelo nome ,
és meu ”, disse Deus
para cada um de nós (Is
43,1). “Eis que estás gravada na palma
de minhas mãos ,
tenho sempre sob
os olhos tuas muralhas ”,
acrescentou Deus (Is 49,16). Quando estivermos dominados pelas preocupações ,
pelo medo , pela tristeza , pelo desespero , pela confusão ; quando trilharmos pelo caminho errado, quando
compactuarmos com o mal
ou com
a maldade ; quando
ficamos irritados, nervosos com a vontade
de destruir tudo ,
Deus nos
chama pelo nome : Maria, Valéria, Mônica, Bernardo, Lucas, João,
José...! Deus quer
nos dizer : “Ei ...Estou aqui !
Não estás Me
vendo? Dirige teus olhos
para Mim , e não para o túmulo de tua vida !”.
Merecem nossa
atenção e nossa
meditação para
duas perguntas essenciais
encontradas no evangelho de João para nossa vida e nossa peregrinação neste mundo :
“O que realmente
você está procurando neste mundo ?”.
Esta pergunta é feita por Jesus logo
no inicio do evangelho de João: “Que estais procurando?”. É a pergunta
dirigida aos primeiros discípulos no evangelho
de João (Jo 1,37).
Parece-me que
dedicamos bastante tempo
de nossa vida
em função
da procura do “o quê ”
de nossa vida .
Uma vez Oscar Wilde escreveu: “Neste mundo
só há duas tragédias :
uma é não se conseguir
o que se quer ,
a outra é conseguir ”.
Mas no fim
confessamos que o dinheiro
e o poder não
satisfazem aquela fome sem nome que temos na alma .
Carl Gustav Jung escreveu no seu livro : O Homem Moderno à
Procura de Uma alma ,
escreveu: “O problema de cerca de um terço de meus pacientes não é
diagnosticado clinicamente como neurose , mas resulta
da falta de sentido
de suas vidas
vazias. Isto pode ser
definido como
a neurose geral
de nossa época ”.
O que nos
frustra e tira nossa
alegria de viver
é a ausência do significado
de nossa vida .
Nossa alma
não está sedenta
de poder , de fama , de popularidade , de conforto ,
de propriedades e assim
por diante .
Nossa alma
tem fome do significado
da vida , ou
de aprendermos a viver de tal
modo que
nossa existência
ou nossa
passagem neste mundo
tenha importância ou
significado capaz
de modificar ou
de melhorar o mundo ,
pelo menos ,
ao nosso redor .
“O que
estais procurando?” e “A quem estais
procurando?”. Como é que você pode colocar em equilíbrio estas duas perguntas
na sua vida
cotidiana para
que sua
vida realmente
tenha sentido ? Você
enfatiza mais na pergunta
“O que estais procurando?” ou “A quem
estais procurando?”.
“Onde
é que Te
encontrei para poder
conhecer-Te (Senhor )? Não
estavas na minha memória
antes de eu
Te conhecer .
Onde , então ,
Te encontrei, para
conhecer-Te, senão em
Ti mesmo , acima
de mim ? Eis
que habitavas dentro
de mim e eu
Te procurava do lado
de fora ! Tu
me chamaste, e Teu
grito rompeu a minha
surdez . Fulguraste e brilhaste e Tua luz afugentou a minha
cegueira . Espargiste tua fragrância
e, respirando-a, suspirei por Ti. Eu Te saboreei,
e agora tenho fome
e sede de Ti. Tu
me tocaste, e agora
estou ardendo no desejo de Tua paz . Fizeste-nos para Ti, e
inquieto está o nosso coração , enquanto
não repousa em
Ti. Dá-me, Senhor , saber
e compreender qual
seja o primeiro : invocar-Te ou
louvar-Te... Quem O procura
O encontra , e, tendo-O encontrado, O
louvará. (Santo
Agostinho. Confissões , X,26-27;
I,1).
P. Vitus Gustama,svd
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