18/07/2020
JESUS
É O AMOR ENCARNADO DE DEUS PARA SALVAR A HUMANIDADE
Sábado
da XV Semana Comum
Primeira Leitura: Mq 2,1-5
1 “Ai dos que tramam a iniquidade e se ocupam de maldades ainda em seus
leitos! Ao amanhecer do dia, executam tudo o que está em poder de suas mãos. 2 Cobiçam
campos, e tomam-nos com violência, cobiçam casas, e roubam-nas. Oprimem o dono
e sua casa, o proprietário e seus bens. 3 Isto diz o Senhor: “Eis que tenciono
enviar sobre esta geração perversa uma desgraça de onde não livrareis vossos
pescoços; não podereis andar de cabeça erguida, porque serão tempos
desastrosos. 4 Naquele dia, sereis assunto de uma alegoria, de uma canção
triste que diz: ‘Fomos inteiramente devastados; a parte de meu povo que passou
a outro por ninguém lhe será restituída; os nossos campos são repartidos entre
infiéis’. 5 Por isso, não terás na assembleia do Senhor quem meça com cordel as
porções consignadas por sorte”.
Evangelho: Mt 12, 14-21
Naquele
tempo, 14 os fariseus saíram e fizeram um plano para matar Jesus. 15 Ao saber
disso, Jesus retirou-se dali. Grandes multidões o seguiram, e ele curou a
todos. 16 E ordenou-lhes que não dissessem quem ele era, 17 para se cumprir o
que foi dito pelo profeta Isaías: 18 “Eis o meu servo, que escolhi; o meu
amado, no qual ponho a minha afeição; porei sobre ele o meu Espírito, e ele
anunciará às nações o direito. 19 Ele não discutirá, nem gritará, e ninguém
ouvirá a sua voz nas praças. 20 Não quebrará o caniço rachado, nem apagará o
pavio que ainda fumega, até que faça triunfar o direito. 21 Em seu nome as
nações depositarão a sua esperança”.
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Praticamos a Justiça
Para Não Tratarmos Injustamente Nossos Irmãos
“Ai dos
que tramam a iniquidade e se ocupam de maldades ainda em seus leitos! Ao
amanhecer do dia, executam tudo o que está em poder de suas mãos. Cobiçam
campos, e tomam-nos com violência, cobiçam casas, e roubam-nas. Oprimem o dono
e sua casa, o proprietário e seus bens”.
Durante três dias, a partir de hoje, vamos
meditar sobre algumas passagens do livro do profeta Miqueias. Seu nome em hebraico
significa “Quem
é como Yahweh?”. Um nome semelhante é Micael: “Quem é como Elohim?”.
O nome é adequado para o homem que perguntou: “Quem, ó Deus, é semelhante a Ti,
que perdoas a iniquidade, Te esqueces da transgressão do restante da tua
herança?” (Mq 7,18). Em outras palavras, o Deus de Israel é
incomparável. Sobre esta ideia é que o profeta Miqueias constrói seu pensamento
e sua pregação no seu livro.
Miqueias atuou na primeira metade do século
VIII a.C no reino de Judá (reino do Sul) durante os reinados de Jotão, Acaz e
Ezequias. Foi, portanto, contemporâneo
de Isaías em Jerusalém e veio um pouco depois dos profetas Amós e
Oséias.
Como Amós, também oriundo de uma aldeia,
Miqueias utiliza imagens do campo, como os feixes trazidos para a eira e os
chacais uivando à noite. Miqueias detesta
as capaitais Samaria e Jerusalém. Sobre Jerusalém, ele diz: “Seus ricos estão cheios de violência, seus
habitantes mentem e sua língua é falsidade em suas bocas” (Mq 6,12). Por
causa disso, ele prediz a destruição da cidade de Jerusalém: “Por isso, por culpa vossa, Sião será arada
como um campo, Jerusalém se tornará um lugar de ruínas” (Mq 3,12). Do mesmo
modo, ele prediz a destruição da capital do reino de Norte, Samaria (Cf. Mq
1,6.7).
Miqueias é um camponês de Moreset Gat (mais ou menos 35 km a
sudoeste de Jerusalém). Foi chamado por Deus para fazer ouvir Sua palavra nos
tempos difíceis anteriores à ruina de Judá. Na sua época os poderosos praticam
as injustiças com a cumplicidade dos juízes. Há a falsa pidedade que encobre a
injustiça com o culto provocador de falsa segurança. O abismo entre os ricos e
os pobres fica cada vez maior. Há a idolatria que se expressa no compromisso
com os cultos estrangeiros. Miqueias enfrenta os poderosos de sua época e
denuncia com valentiaos abusos dos poderosos, dos que praticam a iniquidade,
que cobiçam os bens alheios, que roubam sempre que podem, que oprimem os
demais.
A partir dessa situação o profeta Miqueias
anuncia o castigo devastador do Senhor
contra Samaria e Jerusalém. Apesar disso, Miqueias vislumbra a esperança. O
castigo tem função para provocar a conversão. Por isso, o profeta percebe
sinais de um futuro diferente: surgirá o rei messiânico, descedente de Davi, do
humilde clã de Efrata. O pequeno resto será instrumento de Deus para a
purificação. Deste profeta conhecemos, sobretudo, sua oráculo sobre Belém: “Mas
tu, Belém-Efrata, tão pequena entre os clãs de Judá, é de ti sairá para mim
aquele que governará Israel” (Mq 5,1), que lemos no Adviento, porque anuncia
que deste pequeno povo sairá aquele que apascentará
todo o povo de Israel (Mt 2, 6).
Miqueias é um profeta do protesta social, o
porta-voz do homem pobre e comum, explorado pelas classes superiores. Ele
denuncia o sistem ganancioso e hipócrita: “Seus
chefes julgam por suborno, seus sacerdotes ensinam por salário e seus profetas
vaticinam (profetizam) por dinheiro. E, contudo, se apoiam em Iahweh, dizendo: ‘Não
está Iahweh em nosso meio? Não virá sobre nós a desgraça’” (Mq 3,11). Ele vitupera
contra os mercadores trapaceiros, com suas balanças e pesos fraudados, e
encontra os proprietários de terras que “cobiçam campos e os roubam” (Mq 2,2).
Como os demais profetas, Miqueias é, ao mesmo
tempo, violento e pacífico nas suas denúncias. É ameaçador quando denuncia a
injustiça ou idolatria, como lemos no texto da Primeira Leitura de hoje. Apesar
disso, ele é um profeta cheio de esperança para consolar o povo. Miqueias
acredita que a verdadeira fé vem do coração e não de sacrifícios formais: “Terá Iahweh prazer nos milhares de carbeiros
ou nas libações de torrentes de óleo? ... O que Iahweh exige de ti: nada mais
do que praticar o direito, gostar do amor e caminhar humildemente com o teu
Deus” (Mq 6,7.8).
Apesar de tudo isso, o profeta Miqueias
consegue vislumbrar-se a esperança. O castigo serve para provocar a conversão. O profeta percebe sinais de um futuro diferente: o surgimento do rei messiânico,
descendente de Davi que une todas as tribos dispersas e ele imagina a paz
reinante até os confins da terra.
Diante daquilo que está por ver e por vir, no
horizonte da esperança, não cabem medos nem chantagens de segurança nem
conservadorismo. Paradoxalmente, pode-se dizer que o único seguro diante da
vinda do Senhor (rei messiânico) é o êxodo, a aventura do êxodo, é ser missionário.
Como dizem os profetas e os poetas, há que fazer caminho andando. A fé é
confiança na promessa de Deus. É esperança. E a esperança está sempre na nossa
frente que nos chama a caminhar e a sair de nosso cantinho para sermos
missionários da esperança. É sais de nosso pecado ao encontro da salvação
oferecida por Deus. é sair de nossa mesquinhez ao encontro do horizonte maior. O
homem de esperança sempre acredita que tudo pode. Nesse “poder” há força. A
esperança sempre repousa num poder que possibilita a transformação da
existência de si e dos outros ao redor. Afinal, não podemos esquecer esta verdade:
“Quando tudo desmorona ao nosso redor ou dentro de nós, Cristo permanece
firmemente ao nosso lado para nos sustentar”. São Paulo tem razão ao nos dizer:
“Cristo é nossa esperança” (Col 1,27).
O texto da Primeira Leitura de hoje (Mq
2,1-5) é uma denúncia direita contra os opressores. Miqueias, como os outros
profetas, não deixam de denunciar a exploração, a opressão e o acúmulo de bens
mediante processos ilegais.
Os perigos do poder e do dinheiro continuam
sendo atuais. Também em nosso mundo na atualidade muitos cometem a mesma coisa:
as injustiças flagrantes, os abusos cínicos do poder contra os pobres e
inocentes, a roubalheira sem escrúpulos, o desvio do dinheiro público para o
próprio interesse e assim por diante. Todos os corruptos, no fundo, são
preguiçosos, pois não querem trabalhar. Eles se aproveitam do poder para ser
rico rapidamente de maneira desonesta. “Esta é uma das tentações constantes da
humanidade: apegando-se ao dinheiro por considerar que está dotado de uma força
invencível, cai-se na ilusão de poder ‘comprar também a morte’, distanciando-a
de si mesmo”, dizia o Papa João Paulo II em sua audencia no dia 28 de Outubro
de 2004. Deus não quer que separemos o culto litúrgico da justiça social.
O espírito de cobiça contrista os corações,
dificulta as relações com os demais, esfria a fraternidade humana, cria
conflitos com os demais, despersonaliza o indivíduo ao torná-lo escravo e não o
senhor de seu dinheiro e torna impossível o seguimento de Cristo. O dinheiro
merece ser conquistado, mas sempre no
poder do Espírito de Deus. Assim o dinheiro torna-se um instrumento útil de
serviço. Portanto, se você tem dinheiro acumulado, pergunte-se como o ganhou e
como o usa. Se você continua acumulando mais dinheiro do que precisa para
viver, sabe para que o faz?
Viver Para Amar e Amar
Para Salvar
Continuamos com as controvérsias entre Jesus
e as autoridades do seu tempo. Nos versículos anteriores do texto do evangelho
deste dia Mt relatou a atividade de Jesus de curar muitos doentes no Sábado,
dia sagrado para os judeus. Relatou-se que Jesus curou um homem de mão seca
dentro da sinagoga (cf. Mt 12,9-13). Era proibido curar no Sábado, o dia
sagrado. Para Jesus o sagrado é o ser humano (cf. 1Cor 3,16-17) e não o dia.
Por isso, para Jesus salvar um ser humano está acima de qualquer lei religiosa,
por mais sagrada que ela pareça ser. A lei religiosa existe em função do ser
humano. Naturalmente os dirigentes do povo desaprovaram a atividade de Jesus.
Por isso, decidiram matá-lo.
A hostilidade dos fariseus (Mt 12,14) é o
ponto terminal do relato referido à atividade de Jesus durante o Sábado numa
sinagoga. Diante da hostilidade, Jesus muda seu espaço: “Ao saber disso, Jesus
retirou-se dali”, mas continua curando a todos. Sua tarefa é ajudar, socorrer e
reviver a todos aqueles que se encontram ameaçadas na sua dignidade.
A maneira de atuar de Jesus é totalmente
contrária à maneira de atuar dos fariseus. Observemos o contraste nesta
controvérsia entre Jesus e seus adversários: Os adversários planejam matar
Jesus, e Jesus planeja um serviço de caridade, de amor e de proximidade dos
necessidades. Os adversários tomam atitudes violentas, e Jesus cumpre a visão
profética de bendizer e de apreciar todos os detalhes da bondade que estão ao
Seu alcance. O mal e o bem, chocando-se mutuamente, caminham em paralelo. O
objeto da ação é o mesmo homem tanto para o bem como para o mal. Um coração que
ama se enfrenta com um coração maldoso. Jesus será vítima disso, mas Deus bota
a vida onde o homem põe a morte. Por isso, Jesus será ressuscitado por Deus,
Seu Pai.
Jesus não lhes responde com ações violentas.
Como verdadeiro Servidor de Deus, Jesus busca que a verdade brilhe sobre as
trevas da morte e da miséria. A missão de Jesus é pacifista, solidária e
defensora da justiça e do direito. Somente de um homem assim, sem pretensões
mundanas é que o povo pode esperar a salvação.
Por que os dirigentes do povo defendem tanto
a lei supostamente sagrada e não defende o ser humano, que é o filho de Deus,
templo do Espírito Santo, segundo São Paulo? (cf.1Cor 3,16-17). É por causa do
império dos interesses econômicos e sociais. Quando o dinheiro se torna o
objetivo da vida de uma pessoa, ela não admite rivais. E se tiver rivais, será eliminado. Quem se
entrega ao dinheiro, não consegue ver mais ninguém senão a si mesmo. O dinheiro
se revela uma arma mais letal do que as armas nucleares, quando usado
unicamente em vista dos interesses de alguns. É por isso que Jesus disse que,
ou se serve a Deus, ou se serve ao dinheiro (cf. Mt 6,24). Quem se preocupa com
a própria glória não se preocupa com o bem do outro.
Jesus age como um profeta: falar em nome de
Deus na defesa da igualdade e da fraternidade, embora Jesus seja mais do que um
profeta, pois ele é a encarnação do amor de Deus, Deus-Conosco. Os profetas do
Antigo Testamento com muita freqüência se atiram contra as prepotências dos
ricos em relação aos pobres, por sensibilidade social, mas, sobretudo, por
sensibilidade teológica no sentido de que as injustiças entre os homens quebram
a relação com Deus. O mal que se faz ao homem é mal feito a Deus (cf. Mt
25,40.45).
O verdadeiro objetivo da vida de Jesus é amar
para salvar (Jo 3,16). Esse objetivo se expressa da seguinte maneira: “Não
quebrará o caniço rachado, nem apagará o pavio que ainda fumega, até que faça
triunfar o direito”. Jesus veio não para desencorajar e sim para encorajar.
Ele veio não para ameaçar o fraco com condenação e sim com a compreensão. Jesus
veio não para apagar “o pavio que ainda fumega” e sim para fortalecer sua luz a
fim de clarear mais. Por isso, “Em seu nome as nações depositarão a sua
esperança”. Tudo em Jesus era manifestar o amor de Deus para os homens.
Logo, tudo na vida de cada cristão deve ser a manifestação do amor de Deus,
porque o amor humaniza e diviniza, cria a fraternidade e a comunhão, pois “Deus
é amor” (1Jo 4,8.16).
Como cristãos seguidores de Cristo, nós temos
em Jesus nosso espelho para podermos nos ver melhor ou para comprovar se
aprendemos ou não as principais lições de nosso Mestre Jesus. Temos que fazer
chegar para as pessoas a mensagem de amor de Jesus. Mas não devemos impor, e
sim propor, não gritar e sim anunciar motivando, respeitando a situação de cada
pessoa.
Por isso, como cristãos, nós devemos ser
contrários a toda a forma de luta violenta, mas também devemos agir
energicamente com todas as iniciativas e meios não violentos, para afirmar a
justiça, o respeito pelos direitos humanos, pela fraternidade, pela dignidade
de cada pessoa e pela caridade no mundo. Podemos combater o pecado sem eliminar
o pecador, pois Deus odeia o pecado, mas não se cansa de perdoar quem se
converte: “Porventura, tenho Eu prazer na morte do ímpio? Porventura, não
alcançará ele a vida se ele se converter de seus maus caminhos?” (Ez
18,23). A missão de cada cristão, a exemplo do mestre Jesus, é pacifista,
solidária e defensora da justiça e do direito. É “Não quebrar o caniço
rachado, nem apagar o pavio que ainda fumega, até que faça triunfar o direito”.
P. Vitus
Gustama,svd
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