16/07/2020
NOSSA SENHORA DO CARMO
16 de Julho
Primeira
Leitura: Zc 2,14-17
14 “Rejubila,
alegra-te, cidade de Sião, eis que venho para habitar no meio de ti, diz o
Senhor. 15 Muitas nações se aproximarão do Senhor, naquele dia, e serão o seu
povo. Habitarei no meio de ti, e saberás que o Senhor dos exércitos me enviou a
ti. 16 O Senhor entrará em posse de Judá, como sua porção na terra santa, e
escolherá de novo Jerusalém. 17 Emudeça todo mortal diante do Senhor, ele acaba
de levantar-se de sua santa habitação”.
Evangelho:
Mt 12, 45-50
Naquele tempo, 46
enquanto Jesus estava falando às multidões, sua mãe e seus irmãos ficaram do
lado de fora, procurando falar com ele. 47 Alguém disse a Jesus: “Olha! Tua mãe
e teus irmãos estão aí fora, e querem falar contigo”. 48 Jesus perguntou àquele
que tinha falado: “Quem é minha mãe, e quem são meus irmãos?” 49 E, estendendo
a mão para os discípulos, Jesus disse: “Eis minha mãe e meus irmãos. 50 Pois
todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu irmão,
minha irmã e minha mãe”.
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Nossa
Senhora Do Carmelo
Celebramos neste dia
(16 de julho) a festa de Nossa Senhora do Carmo (Carmelo). “Karmel”, em
hebraico significa “Jardim fértil”. “Carmelo” é uma elevação montanhosa que se
estende para além de 25 km do golfo de Haifa, no Mediterraneo, até a planície palestinense
de Esdrelon, atingindo os 456m de altitude. Aos olhos dos hebreus, acostumados com
as areias e as cores do deserto, o Carmelo se tornou de modo compreensível a
imagem da presença de Deus. O
Carmelo sempre foi um monte sagrado.
Por isso, esta festa
nos traslada espontaneamente para a terra da Bíblia, para o monte Carmelo (cf.
Is 35,2; Ct 7,6; Am 1,2). No Carmelo o profeta Elias tinha levado o povo a
descobrir a verdadeira fé, eliminando os cultos idolátricos de Baal e reconstruindo
o altar em honra de Javé, o Deus único (Cf. 1Rs 18,19-46). No século IX antes
de Cristo, o profeta Elias converteu esse lugar no refúgio da fidelidade ao
Deus único (monoteísmo) e no lugar dos encontros entre o Senhor e seu povo (cf.
1Rs 18,39). Durante as Cruzadas, os ermitãos cristãos se recolheram nas grutas
daquele monte emblemático, até que no século XIII formaram uma família
religiosa à qual o patriarca Alberto Avogadro de Jerusalém deu “uma regra de
vida” e congregando-os ao redor da mencionada igrejinha de “Nossa Senhora” em
1209. Sabemos de tudo isso por um documento do Papa Inocêncio IV, em 1552, que
estes ermitãos eram chamados “irmãos da ordem de santa Maria do monte Carmelo”
e se consideravam parte da família de Maria.
O Monte Carmelo está
situado na planície de Galileia, perto de Nazaré, onde viveu Maria, a Mãe do
Senhor que conservava tudo em seu coração (cf. Lc 2,51). Por isso, a Ordem do
Carmelo se põe desde suas origens sob a proteção da Mãe dos contemplativos. Do
Carmelo receberá São João da Cruz a inspiração para fazer de sua subida, o
Monte da Perfeição Evangelica, Monte repleto de paz e doçura e de santidade. É
natural que no século XVI, os dois doutores da Igreja e reformadores da Ordem,
Santa Teresa de Jesus e São João da Cruz converteram o Monte Carmelo no sinal
do caminho para Deus.
Desde aqueles
ermitãos que se estabeleceram no monte Carmelo, os carmelitas se distinguiram
por sua profunda devoção à Santíssima Virgem Maria.
Quando Palestina foi
invadida pelos sarracenos (árabes), os Carmelitas tiveram que abandonar o Monte
Carmelo. Enquanto cantavam o cântico Salve apareceu lhes a Virgem Maria e lhes
prometeu que seria sua Estrela do Mar, pela analogia da beleza do Monte Carmelo
que se alça como uma estrela junto ao mar Mediterrâneo. Do Monte Carmelo os
carmelitas migraram para o Ocidente. A ordem carmelita implorou a proteção e a
defesa de Maria. Por isso, apesar das
contraposições, a ordem carmelita foi reconhecida, de alguma maneira, pelo Concílio
de Lião em 17 de julho de 1274 e mais tarde aprovado por Bonifacio VIII em
1298. A ordem se difundiu pela Europa, e a Estrela do Mar lhe acompanhou e a
Ordem foi se propagando pelo mundo e eram chamados de “Irmãos de Nossa Senhora
do Monte Carmelo”. Em sua profissão religiosa se consagravam a Deus e a Maria,
e tomavam o habito em sua honra, como lembrança (aviso) de que suas vidas
pertencem a ela, e por ela a Cristo.
A
busca da sabedoria, a escuta da Palavra de Deus e o cumprimento da vontade de
Deus são temas que iluminam o sentido mais verdadeiro da devoção à Virgem do
Carmelo segundo a mais pura e genuína tradição da Ordem do Carmelo.
Simon Stock, nomeado
superior da Ordem dos Carmelitas (1245), compreendeu que sem a intervenção da
Virgem Maria, a Ordem teria vida curta. Recorreu a Maria a qual chamou de “Flor
do Carmelo” e “Estrela do Mar” e pus a Ordem sob seu amparo, suplicando-lhe sua
proteção para toda a comunidade. Na resposta à sua oração, no dia 16 de Julho
de 1251 apareceu-lhe a Virgem Maria (em Cambridge na Inglaterra) e deu-lhe o escapulário
para a Ordem com a seguinte promessa: “Este deve ser um sinal e privilégio para ti e para todos
os Carmelitas: quem morre com o escapulário não sofrerá o fogo eterno”.
Nós nos comunicamos
por símbolos, bandeiras, emblemas, escudos e uniformes que nos identificam. As
comunidades religiosas levam seu habito ou outro sinal ou símbolo como sinal de
sua consagração a Deus. Os leigos que desejam associar-se aos religiosos no
caminho da santidade podem usar escapulários, miniatura de habito, com rosário
e a medalha milagrosa. São Afonso Ligório disse: “Os homens se orgulham quando
os outros usam sua uniforme, e a Virgem está satisfeita quando seus servidores
usam seu escapulário como prova de que se dedicaram a seu serviço, e são
membros da família da Mãe de Deus”. O escapulário foi instituído pela Igreja
como sacramental e sinal que nos ajuda a viver santamente e a aumentar nossa
devoção e que propicia a renúncia ao pecado.
Por isso, é preciso que estejamos conscientes
de que o escapulário de Nossa Senhora do Carmo, como qualquer outro, não é um
objeto para uma proteção mágica (um amuleto); nem uma garantia automática de
salvação; nem uma dispensa para não ouvir as exigências da vida cristã. O
escapulário é um sinal “forte” aprovado pela Igreja desde séculos que
representa nosso compromisso de seguir a Jesus como Maria: abertos a Deus e a
sua vontade, guiados pela fé, pela esperança e pelo amor, ser próximos dos
necessitados, orando constantemente e descobrindo Deus presente em todas as
circunstâncias, ser um sinal que alimenta a esperança do encontro com Deus na
vida eterna.
Quem usa o escapulário deve estar consciente
de sua consagração a Deus e à Virgem Maria e ser consciente em seus
pensamentos, palavras e obras. Maria, a Mãe do Senhor foi a primeira
discípula de Jesus Cristo, pois ela viveu segundo a Palavra de Deus: “Eis
me aqui a Serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a Tua Palavra” (Lc
1,38). Para são João da Cruz a Virgem Maria foi sempre dócil aos impulsos do
Espírito Santo, pois “jamais teve
impressa na alma forma de alguma criatura, nem se moveu por ela; mas sempre
agiu sob a moção do Espírito Santo” (III Subida 2,10). E
para Santa Teresa de Jesus Maria “estava sempre firme na fé” (VI Moradas 7,14),
cheia de “tão grande fé e sabedoria” que sempre aceitou em sua vida os caminhos
de Deus, escutando humildemente a Palavra (cf. Conceitos do Amor de Deus 6,7).
Mensagem
Do Evangelho
O evangelho lido neste
dia é escolhido em função da festa de Nossa Senhora do Carmo. No episódio do
Evangelho de hoje é revelada a passagem da fraternidade-familiaridade puramente
natural para a espiritual que Maria vive já, pois ela é Aquela que afirma: “Eis
aqui a Serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a Tua Palavra” (Lc 1,38).
Na passagem do
evangelho de hoje Jesus pergunta e afirma: “Quem é minha mãe? Quem são meus
irmãos. Todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é meu
irmão, minha irmã e minha mãe” (Mt 12,50). Trata-se de uma família ou uma
comunidade de Deus, e por isso, de uma comunidade de salvação. A pergunta não
significa um desprezo de Jesus aos seus parentes ou familiares. Ninguém amou
Sua mãe melhor do que o próprio Jesus. E nenhuma mãe amou melhor seu Filho,
Jesus, do que a própria Maria. Jesus oferece aos homens a qualitativa
intimidade de sua família. A família humana de Jesus viveu conforme a vontade
de Deus: José que criou Jesus era chamado de “o justo”, aquele que vive segundo
os mandamentos de Deus (cf. Mt 1,19). Maria, a Mãe de Jesus foi chamada pelo
anjo do Senhor “cheia de graça” (cf. Lc 1,28) e “Bendita entre as mulheres” e a
“Mãe do meu Senhor” por Isabel (Lc 1,42-43).
Por isso, a família
humana de Jesus serve de exemplo para todas as famílias humanas. Que é possível
formar uma família de Deus nesta terra. Que é possível viver no céu aqui na
terra através da vivência da Palavra de Deus. A única maneira de salvar a
família humana é transformá-la em família de Deus, família que vive de acordo
com os mandamentos de Deus, família que coloca Deus como o centro de sua vida e
a família que se funda sobre a rocha da Palavra de Deus (cf. Mt 7,24-25).
“Todo aquele que faz a vontade do meu Pai, que está nos céus, esse é
meu irmão, minha irmã e minha mãe”, disse Jesus. A nova
família formada por Jesus supera as medidas da família natural por causa da
vivência da Palavra de Deus. Maria, a Serva (Lc 1,38), a discípula que se
entrega por completo a fim de que se cumpra a vontade de Deus é o grande
exemplo desta comunhão familiar com Jesus através do vínculo da Palavra divina
escutada e vivida. O ciristão gera em si mesmo Jesus mediante o cumprimento da
Palavra de Deus. Os frutos da participação no Reino anunciado por Jesus são: a
fraternidade, a maternidade, comunhão de todos na mesma fé, na mesma esperança
e no mesmo amor.
Maria concebeu Jesus
antes com a fé que em seu seio virginal. Maria acreditou e logo foi mãe. Todos
nós, cristãos, temos algo de filhos gerados no amor e algo de mães e irmãos
gerados na fé que nos faz filhos no Filho de Deus, Jesus Cristo. Vivamos como
Maria: creiamos em Cristo, vivamos com Ele e n’Ele, e assim contribuiremos a
gerar filhos para Deus.
A Virgem Maria, Nossa
Senhora do Carmo, nos ensina a vivermos abertos diante de Deus e de Sua
vontade, manifestada nos acontecimentos da vida; a escutarmos a voz ou a
Palavra de Deus na Bíblia e na vida, para meditá-la, pondo depois em prática as
exigências desta voz; a orarmos fielmente sentindo Deus presente em todos os
acontecimentos; a vivermos próximos de nossos irmãos e a sermos solidários com
eles em suas necessidades. A Mãe do Senhor e nossa mãe (cf. Jo 19,26-27) jamais
nos abandona, pois somos seus filhos no seu Filho Jesus Cristo. Nenhuma mãe
normal é capaz de abandonar seu filho. Imagine a Mãe do Senhor!
“QUE FIZESTE, MARIA para valer tanto diante
de Deus? Foi tua beleza, ou tua inteligência ou tua bondade que venceu o
Criador e Pai, a ponto de te tornares participante direta e pessoal de todos os
mistérios divinos? Quem não conhece a resposta cantada no Magnificat? O Pai viu
que ninguém seria tão simples continuaria tão humilde, sendo Cheia de Graça e Mãe
de Deus. ... Estás tão cheia que, a cada passo, a cada gesto, a cada
pensamento, transbordas e derramas sobre os homens a Graça que é perene em Ti”
(Dom Helder
Câmara: Nossa Senhora No
Meu Caminho, Ed. Paulus 7ª edição,2005 p.75 e 93).
“Santa Maria, Mãe de
Deus, rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte. Amém!”.
P. Vitus Gustama, SVD
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