EPIFANIA DO SENHOR NA NOSSA VIDA DIÁRIA
08 de Janeiro
Textos de Leitura: Is 60,1-6; Ef 3,2-3a. 5-6; Mt 2,1-12
Celebramos a festa da Epifania do Senhor neste domingo. No ambiente religioso, o termo epifania se usa para denotar alguma manifestação do poder divino em benefício dos homens. Dentro do uso religioso do termo estamos próximos do uso litúrgico da epifania, pois através da encarnação de Jesus, o Verbo divino, Deus manifesta seu poder benevolente para os homens.
A partir do significado do termo, a epifania é uma festa de cada dia porque não há momento nem acontecimento que não tragam uma revelação do Senhor para cada um de nós. Para poder captar a manifestação divina e as novidades de Deus em cada momento e acontecimento nós necessitamos ser pobres no espírito e estar abertos à novidade. Devemos nos desfazer da velhice dos costumes e dos hábitos e dispor todo nosso ser à novidade de Deus em cada momento de nossa vida.
O Natal de Jesus é, na verdade, uma epifania porque através dele Deus quer manifestar ao mundo a misericórdia de Deus com que nos ama. O amor de Deus não tem limites e alcança a todos. Mateus coloca, certamente, essa passagem no seu evangelho para expor a tese da universalidade da salvação e do amor de Deus. Ninguém está excluído do amor de Deus.
E a Palavra de Deus nesta solenidade está concentrada toda sobre Jesus Messias, Rei e Salvador da família humana. A vinda dos Magos é o inicio da unidade das nações, que se realizará na fé em Jesus, quando todos os homens se sentem filhos do mesmo Pai e irmãos entre eles. Em Jesus todos podem ser uma só família e descobrir que a plenitude da vida consiste em entregar-se a Cristo e aos irmãos. Isto é amar na unidade.
Um dos elementos da narração de Mateus é a estrela que guia os Magos a Belém. Efetivamente, a estrela é um elemento indispensável na narração de São Mateus, porém a tradição cristã a interpreta não como um fenômeno natural, e sim como um símbolo de fé.
A fé é a luz pela qual reconhecemos a Deus. Não se pode chegar à luz da verdade revelada mediante o recurso exclusivo da razão humana. Deus é quem revela; ele é quem “reluziu em nossos corações, para fazer brilhar o conhecimento da glória de Deus, que resplandece na face de Cristo” (2Cor 4,6). É um dom de Deus, uma iluminação, não uma propriedade nossa.
Através da fé conhecemos realmente a Deus, ainda que este conhecimento seja obscuro. É um conhecimento que nos une a Deus e leva consigo, inclusive na terra, a substância das coisas esperadas: “A fé é uma posse antecipada do que se espera, um meio de demonstrar as realidades que não se vêem” (Hb 11,1). A fé nos situa em nosso rumo, em nossa direção que nos mostra o caminho que temos que percorrer.
É claro que em determinadas ocasiões podemos chegar a perder nossa direção. Talvez a estrela de nossa fé, que nos iluminou com tanto brilho, desapareça momentaneamente. Mas isto não significa que estejamos perdidos, como aconteceu com os magos no relato (Mt 2,9-10). Esta obscuridade é temporária e serve de prova de nossa fé. Paradoxalmente, quando dissermos que não temos mais fé é porque ainda a temos. Mesma coisa quando alguém se diz que é humilde é porque não o é mais. Quem se diz que não é inteligente porque ele é, pois para distinguir o que é inteligente e o que não é inteligente é porque é inteligente.
Mas a luz da fé é algo que pode e deve ser partilhado. Necessitamos do testemunho dos outros e somos chamados a dar testemunho da luz. É ser luz, ser calor, ser vida para os demais. É ser estrela que sempre na escuridão de nossa vida. Como cristãos, seguidores da Luz Divina que é Cristo (Jo 8,12), somos chamados não somente a brilhar mais, e sim a brilhar sempre. O cristão existe para ser a luz: “Vós sois a luz do mundo.
Os Magos são verdadeiramente nossos pais e nossos mestres na fé. O caminho dos Magos em busca de um Salvador é uma história de fé. Destaquemos alguns ensinamentos dos Magos:
Primeiro, a capacidade para ver a estrela, abertos para a chamada de Deus, vigilantes, homens de oração. Sabem distinguir os sinais dos tempos. Não são homens distraídos nem sonolentos nem fechados. Eles escutam a voz do céu e a voz de seu próprio coração. Eles escutam seu Eu profundo. Somente aquele que está aberto a Deus tem capacidade de captar os sinais de Deus na vida.
Segundo, sua disponibilidade para deixar tudo e pôr-se em caminho. Os Magos não são homens instalados nem apegados a coisas e lugares, porque vivem de esperança. Eles fazem parte daqueles que buscam a terra prometida. São homens livres de toda atadura e livres para toda aventura, famintos de luz e de Deus. Somente quem é livre de tudo pode libertar os outros. Quem vive instalado e isolado não pode ver a novidade da caminhada e as novidades da vida.
Terceiro, sua constância no seguimento da estrela. Não lhes faltaram dúvidas e provações no caminho. Às vezes a estrela desapareceu e sentiram a tentação de voltar ao conhecido, como os hebreus no deserto que queriam voltar para a escravidão no Egito. Os Magos passaram pela experiência da escuridão na vida, quando não se vê nada nem se entende nada. Mas na sua dúvida os Magos não têm vergonha de perguntar a quem sabe melhor como se deve viver a vida de melhor maneira. Assim pode acontecer também na nossa vida. Às vezes perdemos o guia de nossa vida ou alguma referência para nossa caminhada. Os Magos nos ensinaram a ter humildade em pedir socorro aos que tem mais conhecimento e experiência na vida para que possamos continuar com nossa missão neste mundo.
Quarto, sua responsabilidade na busca. A fé é dom de Deus, mas exige nossa colaboração continuada. A fé não está renhida com a reflexão, o diálogo e a oração. Até dos incrédulos se pode receber alguma luz.
Quinto, a generosidade dos Magos na oferta ou na oferenda. Eles compreenderam a necessidade de compartilhar. Escolheram presentes significativos, porque esperavam encontrar um Rei dos reis.
Sexto, sua capacidade da leitura dos fatos. Quando a estrela pára diante da casa pobre, onde se encontra o Menino Jesus, os Magos não se escandalizam. Ao contrário, eles O reconheceram como Messias. A maioria do povo eleito não tinha capacidade de fazer este tipo de leitura. Deus é sempre surpreendente: se veste de simplicidade e somente se manifesta aos humildes e aos pequenos.
Sétimo, diante do Messias os Magos se ajoelharam e O adoraram. Não basta ver. A fé é entrega e amor. Eles, mais que o ouro, o incenso e a mirra, ofereceram seu coração. Creram e adoraram: esse é o melhor perfume. Adoraram: essa será nossa definitiva vocação.
Oitavo, a capacidade de mudança dos magos. Eles foram capazes de voltar por outro caminho, pois foram avisados por Deus para fazer isso. É coisa segura que Deus muda sempre nossos planos. Crer é viver confiados na insegurança, é estar dispostos a iniciar sempre um novo caminho, é ter capacidade de renovação constante. No final, essa capacidade de renovação produz sempre uma imensa alegria.
Por fim, a transformação na vida dos Magos. Na viagem de volta já não necessitavam mais de estrela porque eles levavam a estrela dentro de seu coração. Era tal a luz e a alegria que receberam, que eles mesmos se converteram em estrelas. Voltaram com o rosto resplandecente, como Moisés depois que falou com Deus, como Jesus que foi transfigurado no monte Tabor. Por isso, os Magos se tornaram missionários de alegria e de amor. Desde então, as estrelas já não se encontraram no céu e sim entre nós, entre todos aqueles que de uma ou de outra maneira se encontraram profundamente com Deus. Quem contempla Deus profundamente se torna reflexo de Deus para os demais.
Cada um tem sua luz própria. Por isso, não precisa nem deve apagar a luz dos outros. Juntar duas ou mais estrelas só resulta na claridade maior. Por isso, tem toda a razão aquilo que o ditado popular diz: “Para que a sua estrela brilhe, não é preciso apagar a minha”. Cada um tem sua luz dentro de si e é preciso que brilhe para iluminar a vida dos outros. Isto se chama amor na unidade, amor fraterno. Se realmente somos crentes, não podemos continuar dissimulando nossa fé.
Vitus Gustama,svd
2 comentários:
Querido Pe. Vitus, sua bênção.
Que sua estrela continue brilhando com todo fulgor neste ano 2012, iluminando-nos com suas palavras cheias de luz.
Somos-lhe MUITO GRATAS!
Abraços carinhosos, com as orações de suas Irmãs Carmelitas.
Bananeiras-PB
Pe. Vitus. A sua reflexão é realmente muito profunda. Obrigada pela partilha d sua fé neste blog. Sua benção.
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