AMOR É E DEVE SER O
FUNDAMENTO DE TODA A ATIVIDADE PASTORAL
Sexta-feira da VII Semana da Páscoa
19 de Maio de 2013
Texto de Leitura: Jo 21,15-19
Jesus manifestou-se aos seus
discípulos 15e, depois de comerem, perguntou a Simão Pedro: “Simão,
filho de João, tu me amas mais do que estes?” Pedro respondeu: “Sim, Senhor, tu
sabes que eu te amo”. Jesus disse: “Apascenta os meus cordeiros”. 16E disse de novo a Pedro: “Simão, filho de João, tu me amas?” Pedro
disse: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo”. Jesus disse-lhe: “Apascenta as minhas
ovelhas”. 17Pela terceira vez, perguntou a Pedro: “Simão, filho de
João, tu me amas?” Pedro ficou triste, porque Jesus perguntou três vezes se ele
o amava. Respondeu: “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que eu te amo”. Jesus
disse-lhe: “Apascenta as minhas ovelhas. 18Em verdade, em verdade te
digo: quando eras jovem, tu te cingias e ias para onde querias. Quando fores
velho, estenderás as mãos e outro te cingirá e te levará para onde não queres
ir”.19Jesus disse isso, significando com que morte Pedro iria
glorificar a Deus. E acrescentou: “Segue-me”.
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O Jo 21 foi acrescentado ao
evangelho de João provavelmente depois de uma primeira redação deste evangelho.
As dificuldades de ordem literária e exegética são bastante importantes, mas
cabe a possibilidade de não se afastar da realidade, figurando-se que este
capítulo foi estruturado depois da morte de Pedro, e antes da morte de João, no
momento em que o tema da sucessão já foi plantado.
Cada aparição de Cristo
Ressuscitado aos seus apóstolos, especialmente em São João, sempre termina com
uma “transmissão de poderes”. São João coloca intencionalmente esta transmissão
depois da ressurreição (ao contrario de Mt 16,13-20) para deixar bem claro que
os poderes missionários da Igreja é a irradiação da gloria do ressuscitado ( “todo poder foi me
dado... ide, pois”: Mt 28,18-19), e não para o uso próprio ou para dominar os demais.
O diálogo do Senhor Ressuscitado
com Pedro enfatiza três assuntos ligados entre si: o amor, o pastoreio e o seguimento
até o martírio. E esse diálogo acontece logo depois da refeição comunitária.
Nesse diálogo Jesus se dirige ao Pedro chamando-o pelo nome de sua ascendência:
“Simão de João”. Ao usar o nome de Pedro Jesus dirige-lhe três perguntas num
tom pessoal e solene: “Simão, filho de João, tu me amas?”. Santo Agostinho
comentou: “O Senhor perguntou três vezes para que a tríplice confissão apagasse
a tríplice negação”. Jesus ressuscitado cura no mais fundo da alma de Pedro as
feridas causadas nele pela sua tríplice negação (cf. Jo 18,17.25.27). Ao ser
perguntado “pela terceira vez” por Jesus se Pedro O amava, Pedro ficou triste.
Pedro reconhece sua infidelidade, mas não pode negar a existência de seu amor
por Jesus: “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te amo”. Ao responder na
terceira vez, Pedro mostra que não se apóia mais nas suas forças, no seu saber
e na sua vontade e sim no saber e na bondade do Senhor: “Tu sabes tudo”. Ao
mesmo tempo Pedro afirma a verdade do seu amor ao Senhor e se deixa verificar
seu amor por aquele que “sabe tudo”: “Senhor, tu sabes tudo; tu sabes que te
amo”.
Somente depois da purificação de
seu amor é que Jesus confere a Pedro o ofício de pastor de toda a Igreja: um
ofício feito no amor e por amor ao Senhor e às ovelhas do Senhor (povo de
Deus). As ovelhas das quais Pedro deve cuidar são as ovelhas de Jesus: “minhas
ovelhas”. “Apascenta minhas ovelhas como
minhas, não como tuas”, comentou Santo Agostinho.
Então, antes de transmitir o “poder
de apascentar” o povo de Deus (“minhas ovelhas”) Cristo Ressuscitado pergunta a
Pedro se ele ama a Jesus com o amor ágape. “Ágape” é uma palavra grega que
significa o amor que se dirige unicamente para o outro, incondicional, e que
não espera nada em troca. É uma doação pura de si mesmo. Para servir e
trabalhar com e para o Senhor pelo bem dos demais é necessário ter amor puro no
coração. Jesus morreu por amor aos homens (Jo 13,1; 15,14). A Igreja de Cristo
conduzida por Pedro e seus sucessores deve se converter em sacramento visível
do ágape, do amor fraterno, de doção de si. Cada líder na Igreja do Senhor,
desde o Papa até aos agentes pastorais, deve ser transformado em líder de amor.
Por isso, é sempre um desafio de todos os dias.
O amor é o fundamento de toda
pastoral. Por isso, Jesus não pergunta a Pedro se ele superou sua crise, se foi
submetido a uma terapia psicológica para recuperar a auto-estima, se fez algum
curso de liderança, se sabe manejar situações de conflito, se domina as
dinâmicas de animação comunitária, se domina as técnicas pastorais, e sim Jesus
o confronta com o fundamento de todo seguimento e de todo cuidado pastoral: o
amor a Jesus e a sua comunidade, a decisão de entregar a própria vida para que
os outros tenham vida (cf. Jo 10,10). Quem ama de verdade não compactua com a maldade,
com a injustiça, etc., porque amor é responsabilidade. Todas as injustiças são
conseqüências da falta de amor.
“Sim, Senhor, eu te amo”, responde
Pedro. “Apascenta as minhas ovelhas”, diz Jesus a Pedro. A intimidade da fé e a
resposta de amor de Pedro não são escritas para ser saboreadas sentimentalmente,
e sim para ser transformadas em responsabilidade. “Se me amas, Pedro, então,
apascenta as minhas ovelhas”. O amor a Jesus se transforma em responsabilidade
de cuidar dos demais, pois eles são de Jesus (“minhas ovelhas”). Ao dizer que
ama a Deus, o homem se transforma em responsável pelos outros. Amor e
responsabilidade são, para Jesus, uma moeda de dois lados.
Jesus chama Pedro por seu nome
original “Simão, filho de João”. E Pedro escuta atentamente a voz do Senhor.
Seu coração foi crescendo em maturidade e agora compreende que Jesus não é o
Messias político que ele esperava (Jo 13,37; 18,10) e sim o ser humano generoso
que dá sua vida em serviço à humanidade deprimida e abandonada (Jo 15,13.15). Agora
Pedro se encontra disponível para seguir a Jesus, o Caminho, não sob seus
próprios interesses e sim animado pelo Espírito do Ressuscitado. A tríplice
pergunta e afirmação são uma rememoração do itinerário do discípulo. Pedro
partiu de uma adesão fervorosa, chegou à negação (Jo 18,27), passou pela dura
experiência da morte de Jesus e agora chega a um novo ponto de partida. A
adesão de Pedro não é simples militância e sim é amor entranhável por um ser
humano que lhes ensinou o verdadeiro caminho para Deus: o caminho de amor que
se transforma em serviço à comunidade: “Apascenta minhas ovelhas”.
As perguntas feitas a Pedro são
dirigidas a toda a Igreja, a cada cristão e, portanto, a mim e a você. “Quando
é lida esta leitura, cada cristão sofre o interrogatório no coração”, dizia
Santo Agostinho. "Tu me amas mais do que estes?". O amor é a única realidade consistente, que permanece e dá
consistência a tudo. Aquele que foi enviado por amor e para amar a humanidade
(Jo 3,16) e que nos ama até o fim (Jo 13,1) nos pergunta sobre nosso amor ao Senhor
e às ovelhas do Senhor. Tendo amor no coração ao Senhor e às ovelhas do Senhor,
tudo se tornará obra prima e tudo se elevará até Deus.
Em silêncio neste dia Jesus chama
cada um de nós por nosso nome original e pergunta: “Você me ama mais do que
qualquer pessoa e qualquer coisa do mundo e em qualquer situação?”. Ele não nos
pergunta se temos condições de assumir uma tarefa ou não, e sim se amamos
verdadeiramente o Senhor que se expressa no amor às ovelhas do Senhor (toda
pessoa humana). Primeiro é amar. Depois é servir. Servir sem amor transforma
qualquer um em escravo. Servir com amor transforma cada um de nós em parceiro
do Senhor. Podemos dar sem amar, mas não podemos amar sem dar. Aquele que
semeia cortesia colhe amizade, e aquele que planta delicadeza colhe amor. O
amor é firme como rocha em que as ondas do ódio batem em vão. O verdadeiro amor
nos eleva até Deus, pois “Deus é amor” (1Jo 4,8.16). “Quanto mais amas, mais
alto tu sobes” (Santo Agostinho).
P. Vitus Gustama,svd
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